Art.
5 — Se o sacerdócio de Cristo permanece eternamente.
O quinto discute-se assim. — Parece
que o sacerdócio de Cristo não permanece eternamente.
1. — Pois, como se disse, só precisam
do efeito do sacerdócio os contaminados pela enfermidade do pecado, que pode
ser expiada pelo sacrifício do sacerdote. Ora, isso não se dará nunca, porque
os santos não tem nenhum pecado, segundo a Escritura: O teu povo serão todos os justos; e quanto ao pecado dos pecadores será
inexpiável, porque não há para o inferno nenhuma redenção. Logo, o
sacerdócio de Cristo não é eterno.
2. Demais. — O sacerdócio de Cristo manifestou-se
sobretudo pela sua paixão e morte, quando pelo seu próprio sangue entrou no santuário,
como diz o Apóstolo. Ora, Cristo não sofrerá paixão nem morrerá eternamente,
segundo o Apóstolo: Tendo Cristo
ressurgido dos mortos, já não morre. Logo, o sacerdócio de Cristo não é
eterno.
3. Demais. — Cristo é sacerdote, não
enquanto Deus, mas enquanto homem. Ora, Cristo algum tempo não foi homem, isto
é, no tríduo da sua morte. Logo, o sacerdócio de Cristo não é eterno.
Mas, em contrário, a Escritura: Tu és sacerdote eternamente.
No ofício do sacerdote podemos
considerar duas coisas: primeiro, a própria oblacção; do sacrifício; segundo, a
consumação do sacrifício, consistente em lhe alcançarem o fim aqueles por quem
é oferecido. Ora, o fim do sacrifício que Cristo ofereceu não foram os bens
temporais, mas os eternos, que pela sua morte alcançamos. Por isso diz o
Apóstolo, que Cristo é o Pontífice presente dos bens vindouros; em razão do que
se diz ser eterno o sacerdócio de Cristo. E essa consumação do sacrifício de
Cristo foi prefigurada no próprio facto de que o pontífice da lei entrava uma
vez por ano no santo dos santos com o sangue de um bode e de um novilho, como
lemos na Escritura; embora o bode e o
novilho não os imolasse no santo dos santos, mas fora. Semelhantemente,
Cristo entrou no santo dos santos, isto é, no céu, e preparou-nos o caminho
para nele entrarmos por virtude do seu sangue, que por nós derramou na terra.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Os santos que estiverem na pátria, não precisam mais de expiar, pelo
sacerdócio de Cristo; mas, tendo já expiado, precisarão de consumar, mediante o
mesmo Cristo, de quem lhes depende a glória. Donde o dizer a Escritura: A claridade de Deus a alumia, isto é, a
cidade dos santos, e a lâmpada dela é o Cordeiro.
RESPOSTA À SEGUNDA· — Embora a paixão
e a morte de Cristo não devam renovar-se no futuro, contudo a virtude de uma
tal vítima, já oferecida, permanece eternamente; pois, como diz o Apóstolo, com uma só oferenda fez perfeitos para
sempre os que tem santificado.
Donde se deduz clara A RESPOSTA À
TERCEIRA OBJECÇÃO. — Mas a unidade dessa oblacção era figurada na lei pelo facto
de uma vez no ano o pontífice da lei entrar no santo dos santos com a solene
oblação, como se lê na Escritura. Mas a verdade da figuração não era completa
por essa vítima não ter uma virtude sempiterna, e por isso haver necessidade de
ser renovada anualmente.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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