07/01/2015

Apoiar-vos-eis uns aos outros

Se souberes querer aos outros e difundir, entre todos, esse carinho – caridade de Cristo, fina, delicada –, apoiar-vos-eis uns aos outros, e o que for a cair sentir-se-á amparado – e urgido – com essa fortaleza fraterna, para ser fiel a Deus. (Forja, 148)

Chega a plenitude dos tempos e, para cumprir essa missão, não aparece um génio filosófico, como Sócrates ou Platão; não se instala na terra um conquistador poderoso, como Alexandre Magno. Nasce um Menino em Belém. É o Redentor do mundo; mas, antes de começar a falar, demonstra o seu amor com obras. Não é portador de nenhuma fórmula mágica, porque sabe que a salvação que nos traz há-de passar pelo coração do homem. As suas primeiras acções são risos e choros de criança, o sono inerme de um Deus humanado; para que fiquemos tomados de amor, para que saibamos acolhê-Lo nos nossos braços.

Uma vez mais consciencializamos que isto é que é o Cristianismo. Se o cristão não ama com obras, fracassa como cristão, o que significa fracassar também como pessoa. Não podes pensar nos outros homens como se fossem números, ou degraus para tu subires; como se fossem massa, para ser exaltada ou humilhada, adulada ou desprezada, conforme os casos. Tens de pensar nos outros – antes de mais, nos que estão ao teu lado – vendo neles o que na verdade são: filhos de Deus, com toda a dignidade que esse título maravilhoso lhes confere.

Com os filhos de Deus, temos de comportar-nos como filhos de Deus: o nosso amor há-de ser abnegado, diário, tecido de mil e um pormenores de compreensão, de sacrifício calado, de entrega silenciosa. Este é o bonus odor Christi que arrancava uma exclamação aos que conviviam com os primeiros cristãos: Vede como se amam! (Cristo que passa, 36)


A tarefa dos pais de família é importantíssima

Admira a bondade do nosso Pai Deus: não te enche de alegria a certeza de que o teu lar, a tua família, o teu país, que amas com loucura, são matéria de santidade? (Forja, 689)

Comove-me que o Apóstolo qualifique o matrimónio cristão como "sacramentum magnum", sacramento grande. Também daqui deduzo que o trabalho dos pais de família é importantíssimo.

– Participais do poder criador de Deus e, por isso, o amor humano é santo, nobre e bom: uma alegria do coração, à qual Nosso Senhor, na sua providência amorosa, quer que outros livremente renunciemos.

Cada filho que Deus vos concede é uma grande bênção divina: não tenhais medo aos filhos! (Forja, 691)

Nas minhas conversas com tantos casais, insisto em que, enquanto eles viverem e os filhos também viverem, devem ajudá-los a ser santos, sabendo que na terra ninguém será santo. Não faremos mais que lutar, lutar e lutar.

E acrescento: – Vós, mães e pais cristãos, sois um grande motor espiritual, que manda aos vossos filhos fortaleza de Deus para essa luta, para vencer, para que sejam santos. Não os defraudeis! (Forja, 692)

Não tenhas medo de querer bem às almas, por Ele; e não te importes de amar ainda mais aos teus, sempre que, querendo-lhes muito, o ames a Ele milhões de vezes mais. (Sulco, 693)

Pela tua intimidade com Cristo, estás obrigado a dar fruto: Fruto que sacie a fome das almas, quando se aproximarem de ti, no trabalho, no convívio, no ambiente familiar... (Forja, 981)


Humildade de Jesus: em Belém, em Nazaré, no Calvário...

Humildade de Jesus: em Belém, em Nazaré, no Calvário... Porém, mais humilhação e mais aniquilamento na Hóstia Santíssima; mais que no estábulo, e que em Nazaré, e que na Cruz. Por isso, que obrigação tenho de amar a Missa! (A "nossa" Missa, Jesus...) (Caminho, 533)

Meus filhos, pasmai agradecidos ante este mistério e aprendei: todo o poder, toda a formosura, toda a majestade, toda a harmonia infinita de Deus, com as suas grandes e incomensuráveis riquezas – todo um Deus – ficou escondido na Humanidade de Cristo para nos servir. O Omnipotente apresenta-se decidido a ocultar por algum tempo a sua glória, para facilitar o encontro redentor com as suas criaturas.

Escreve o evangelista S. João: ninguém jamais viu Deus; o Filho Unigénito que está no seio do Pai é que o deu a conhecer, comparecendo ante o olhar atónito dos homens: primeiro, como um recém-nascido, em Belém; depois, como um menino igual aos outros; mais tarde, no Templo, como um adolescente, inteligente e vivo; e, por fim, com aquela figura amável e atraente do Mestre que movia os corações das multidões que o acompanhavam entusiasmadas. (Amigos de Deus, 111)

Fez-se Homem para nos redimir

Pasma ante a magnanimidade de Deus: fez-se Homem para nos redimir, para que tu e eu – que não valemos nada, reconhece-o! – o tratemos com confiança. (Forja, 30)

Lux fulgebit hodie super nos, quia natus est nobis Dominus – Hoje brilhará sobre nós a luz, porque nos nasceu o Senhor! Eis a grande novidade que comove os cristãos e que, através deles, se dirige à Humanidade inteira. Deus está aqui! Esta verdade deve encher as nossas vidas. Cada Natal deve ser para nós um novo encontro especial com Deus, deixando que a sua luz e a sua graça entrem até ao fundo da nossa alma.

Detemo-nos diante do Menino, de Maria e de José; estamos contemplando o Filho de Deus revestido da nossa carne... Vem-me à lembrança a viagem que fiz a Loreto, em 15 de Agosto de 1951, para visitar a Santa Casa por motivo muito íntimo. Celebrei lá a Santa Missa. Queria dizê-la com recolhimento mas não tinha contado com o fervor da multidão. Não tinha calculado que nesse grande dia de festa muitas pessoas dos arredores viriam a Loreto – com a bendita fé dessa terra e com o amor que têm à Madona. E a sua piedade, considerando as coisas – como diria? – só do ponto de vista das leis rituais da Igreja, levava-as a manifestações não muito correctas.


E assim, enquanto eu beijava o altar, nos momentos prescritos pelas rubricas da Missa, três ou quatro camponeses beijavam-no ao mesmo tempo. Distraía-me mas estava emocionado. E também me atraía a atenção a lembrança de que naquela Santa Casa – que a tradição assegura ser o lugar onde viveram Jesus, Maria e José – na mesa do altar tinham gravado estas palavras: Hic Verbum caro factum est. Aqui, numa casa construída pelas mãos dos homens, num pedaço de terra em que vivemos, habitou Deus! (Cristo que passa, 12)

Temas para meditar - 327


Conhecimento


Quando começamos a compreender o sentido interior das Escrituras e a força dos mistérios e dos desígnios de Deus, não somente compreendemos mais, mas produz-se um conhecimento experimental da consciência, que lê em si própria e percebe a bondade e o poder de Deus.
Renova-se em nós o texto de João: “O que nós vimos e entendemos, o que as nossas mãos tocaram do Verbo da Vida”.
A experiência espiritual tona-nos, de algum modo, em “contemporâneos” de Cristo e provamos também o sabor da Sua divindade.


(GUILLERMO DE SAINT-THIERRY, trad. AMA)

Ev. diário, coment. e L. esp. (Amigos de Deus)

Epifania
        
Evangelho: Mc 6 45-52

45 Imediatamente Jesus obrigou Seus discípulos a embarcar, para chegarem primeiro que Ele à outra margem do lago, a Betsaida, enquanto Ele despedia o povo.46 Depois de os ter despedido, retirou-Se para um monte a fazer oração.47 Chegada a noite, encontrava-se a barca no meio do mar, e Ele só em terra.48 Vendo-os cansados de remar, porque o vento lhes era contrário, cerca da quarta vigília da noite, foi ter com eles andando sobre o mar; e fez menção de lhes passar adiante.49 Quando eles O viram caminhar sobre o mar, julgaram que era um fantasma e gritaram;50 porque todos O viram e se assustaram. Mas logo Ele lhes falou e disse: «Tende confiança, sou Eu, não temais».51 Subiu em seguida para junto deles na barca, e o vento cessou. Ficaram extremamente estupefactos, 52 pois não se tinham dado conta do que se tinha passado com os pães; a sua inteligência estava obscurecida.

Comentário

Tantas vezes Jesus repetirá estas palavras tranquilizadoras!
Perante as dúvidas e receios que assolam as pessoas perante algo novo e, aparentemente, inesperado ou, até, insólito, Jesus Cristo apressa-se a assegurar: «Não temais».
O Evangelista São Marcos escreve o que ouviu contar, principalmente, ao Apóstolo Pedro e, este, com a extrema humildade que o caracteriza, como que “faz questão” de que fique bem vincada a fragilidade dos espíritos dos discípulos e dos futuros Apóstolos.
Realmente, ficaram assustados ao ver o Senhor caminhar sobre as águas do mar revolto porque: «não se tinham dado conta do que se tinha passado com os pães; a sua inteligência estava obscurecida.»

(ama, comentário sobre Mc 6, 45-52, 2014.01.09)


Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá

Amigos de Deus 279 a 287

279         
Em mim encontra-se toda a graça de doutrina e de verdade, em mim toda a esperança de vida e de virtude. Com quanta sabedoria pôs a Igreja estas palavras na boca da nossa Mãe, para que nós, os cristãos, não as esqueçamos. Ela é a segurança, o Amor que nunca nos abandona, o abrigo constantemente aberto, a mão que acaricia e consola sempre.

Um antigo Padre da Igreja escreve que devemos procurar conservar na nossa mente e na nossa memória um resumo ordenado da vida da Mãe de Deus. Tereis folheado muitas vezes prontuários de Medicina, de Matemática ou de outras matérias. Aí se enumeram, para casos de necessidade urgente, os remédios imediatos, as medidas que se devem adoptar, com o fim de não nos perdermos nessas ciências.

280          
Meditemos frequentemente tudo o que temos ouvido sobre a nossa Mãe numa oração sossegada e tranquila. E, como resultado, ir-se-á gravando na nossa alma uma espécie de compêndio, para recorrermos a Ela sem vacilar, especialmente quando não tivermos outro apoio. Não será isto interesse pessoal da nossa parte? Certamente que o é. Mas, porventura, não sabem as mães que os filhos são geralmente um pouco interesseiros e que com frequência se dirigem a elas como último remédio? Sabem-no e não se importam. Por isso são mães e o seu amor desinteressado percebe - no nosso aparente egoísmo - o nosso afecto filial, a nossa confiança inabalável.

Não pretendo - nem para mim, nem para vós - que a nossa devoção a Santa Maria se limite a estas invocações prementes. Acho, no entanto, que não deve humilhar-nos que nos aconteça isso alguma vez. As mães não contabilizam os pormenores de carinho que os seus filhos lhes demonstram, não pesam nem medem com critérios mesquinhos. Uma pequena demonstração de amor, saboreiam-na como se fosse mel e acabam por conceder muito mais do que receberam. Se assim fazem as mães boas da terra, imaginai o que poderemos esperar da nossa Mãe, Santa Maria!

281         
Mãe da Igreja

Agrada-me voltar, em pensamento, àqueles anos em que Jesus permaneceu junto de sua Mãe e que abarcam quase toda a vida de Nosso Senhor neste mundo. Vê-lo pequeno quando Maria cuida d'Ele e o beija e o entretém... Vê-lo crescer diante dos olhos enamorados de sua Mãe e de José, seu pai na terra... Com quanta ternura e com quanta delicadeza Maria e o Santo Patriarca se preocupariam com Jesus durante a sua infância! E, em silêncio, aprenderiam muito e constantemente d'Ele. As suas almas ir-se-iam afazendo à alma daquele Filho, Homem e Deus. Por isso, a Mãe - e, depois dela, José - conhece como ninguém os sentimentos do coração de Cristo e os dois são o caminho melhor, diria até que o único, para chegar ao Salvador.

Que em cada um de vós, escrevia Santo Ambrósio, esteja a alma de Maria, para louvar o Senhor; que em cada um esteja o espírito de Maria, para se regozijar em Deus. E este Padre da Igreja acrescenta umas considerações, que à primeira vista parecem atrevidas, mas que têm um sentido espiritual claro para a vida do cristão: Segundo a carne, uma só é Mãe de Cristo; segundo a fé, Cristo é fruto de todos nós.

Se nos identificarmos com Maria, se imitarmos as suas virtudes, poderemos conseguir que Cristo nasça, pela graça, na alma de muitos que se identificarão com Ele pela acção do Espírito Santo. Se imitarmos Maria, participaremos de algum modo na sua maternidade espiritual: em silêncio, como Nossa Senhora, sem que se note, quase sem palavras, com o testemunho íntegro e coerente de uma conduta cristã, com a generosidade de repetir sem cessar um fiat que se renova como algo íntimo entre Deus e nós.

282         
O muito amor a Nossa Senhora e a falta de cultura teológica levou um bom cristão a fazer um comentário que vos vou narrar, porque, com toda a ingenuidade, é lógico em pessoas de poucas letras.

Tome-o - dizia-me - como um desabafo; compreenda a minha tristeza perante algumas coisas que sucedem nestes tempos. Durante a preparação e o desenrolar do actual Concílio, propôs-se que fosse incluído o tema da Virgem. Assim mesmo: o tema. É deste modo que falam os filhos? É esta a fé que sempre professaram os fiéis? Desde quando é que o amor da Virgem é um tema, sobre o qual se admite entabular uma disputa a propósito da sua conveniência?

Se há alguma coisa contrária ao amor, é a mesquinhez. Não me importo de ser muito claro; se não o fosse - continuava ele - parecia-me uma ofensa à Nossa Santa Mãe. Discutiu-se se era ou não oportuno chamar a Maria Mãe da Igreja... Incomoda-me descer a mais pormenores, mas a Mãe de Deus e, por isso, Mãe de todos os cristãos, não será Mãe da Igreja, que é o conjunto dos que foram baptizados e renascem em Cristo, filho de Maria?

Não entendo - acrescentava - donde vem a mesquinhez de regatear esses títulos de louvor a Nossa Senhora. Que diferente é a fé da Igreja! O tema da Virgem! Pretendem os filhos discutir o tema do amor a sua mãe? Querem-lhe muito e basta! E amá-la-ão muito, se são bons filhos. Do tema - ou do esquema - falam os estranhos, os que estudam o caso com a frieza do enunciado de um problema. Até aqui, o desabafo recto e piedoso, mas injusto, daquela alma simples e devotíssima.

283         
Continuemos nós a considerar este mistério da Maternidade divina de Maria, numa oração calada, afirmando do fundo da alma: Virgem, Mãe de Deus: Aquele a quem os Céus não podem conter, encerrou-se no teu seio para tomar carne de homem.

Vede o que nos faz recitar hoje a liturgia: bem-aventuradas sejam as entranhas da Virgem Maria, que acolheram o Filho do Pai eterno. Uma exclamação velha e nova, humana e divina. É dizer ao Senhor o que se costuma dizer nalguns sítios para exaltar uma pessoa: bendita seja a mãe que te trouxe ao mundo!

284         
Mestra de Fé, de Esperança e de Caridade

Maria cooperou com a sua caridade para que nascessem na Igreja os fiéis membros da Cabeça de que é efectivamente mãe segundo o corpo. Como Mãe, ensina; e, também como Mãe, as suas lições não são ruidosas. É preciso ter na alma uma base de finura, um toque de delicadeza, para compreender o que nos manifesta, mais do que com promessas, com obras.

Mestra de fé! Bem-aventurada és tu, porque acreditaste! Assim a saúda Isabel, sua prima, quando Nossa Senhora sobe à montanha para a visitar. Tinha sido maravilhoso aquele acto de fé de Santa Maria: eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra. No nascimento de seu Filho contempla as grandezas de Deus na terra; há um coro de Anjos e tanto os pastores como os poderosos da terra vêm adorar o Menino. Mas depois a Sagrada Família tem de fugir para o Egipto, para escapar às intenções criminosas de Herodes. Depois, o silêncio; trinta longos anos de vida simples, vulgar, como a de qualquer lar, numa pequena povoação da Galileia.

285         
O Santo Evangelho facilita-nos rapidamente o caminho para entender o exemplo da Nossa Mãe: Maria conservava todas estas coisas dentro de si, ponderando-as no seu coração. Procuremos nós imitá-la, tratando com o Senhor, num diálogo cheio de amor, de tudo o que nos acontece, mesmo dos acontecimentos mais insignificantes. Não nos esqueçamos de que devemos pesá-los, avaliá-los, vê-los com olhos de fé, para descobrir a Vontade de Deus.

Se a nossa fé é débil, recorramos a Maria. Conta S. João que, devido ao milagre das bodas de Caná que Cristo realizou a pedido de sua Mãe, acreditaram n'Ele os seus discípulos. A Nossa Mãe intercede sempre diante de seu Filho para que nos atenda e se nos mostre de tal modo que possamos confessar: - Tu és o Filho de Deus.

286         
Mestra de esperança! Maria proclama que a chamarão bem-aventurada todas as gerações. Humanamente falando, em que motivos se apoiava essa esperança? Quem era Ela para os homens e mulheres de então? As grandes heroínas do Velho Testamento - Judite, Ester, Débora - conseguiram já na terra uma glória humana, foram aclamadas pelo povo, louvadas. O trono de Maria, como o de seu Filho é a Cruz. E durante o resto da sua existência, até que subiu ao Céu em corpo e alma, a sua silenciosa presença é o que nos impressiona mais. S. Lucas, que a conhecia bem, anota que Ela está junto dos primeiros discípulos, em oração. Assim termina os seus dias terrenos Aquela que havia de ser louvada pelas criaturas até à eternidade.

Como contrasta a esperança de Nossa Senhora com a nossa impaciência! Com frequência exigimos que Deus nos pague imediatamente o pouco bem que fizemos. Mal aflora a primeira dificuldade, queixamo-nos. Muitas vezes somos incapazes de aguentar o esforço, de manter a esperança, porque nos falta fé: bem-aventurada és tu, porque acreditaste que se cumpririam as coisas que te foram ditas da parte do Senhor.

287          
Mestra de caridade! Recordai aquele episódio da apresentação de Jesus no templo. O velho Simeão assegurou a Maria, sua Mãe: este Menino está destinado para ruína e para ressurreição de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; o que será para ti mesma uma espada que trespassará a tua alma, a fim de que sejam descobertos os pensamentos ocultos nos corações de muitos. A imensa caridade de Maria pela Humanidade faz com que se cumpra também n'Ela a afirmação de Cristo: ninguém tem mais amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos.

Com razão os Romanos Pontífices chamaram a Maria Corredentora: juntamente com o seu Filho paciente e agonizante, de tal modo padeceu e quase morreu e de tal modo abdicou, pela salvação dos homens, dos seus direitos maternos sobre o seu Filho e o imolou, na medida em que d'Ela dependia, para aplacar a justiça de Deus, que com razão se pode dizer que ela redimiu o género humano juntamente com Cristo. Assim entendemos melhor aquele momento da Paixão de Nosso Senhor, que nunca nos cansaremos de meditar: stabat autem iuxta crucem Jesu mater eius, junto da Cruz de Jesus estava a sua Mãe.

Tereis observado como algumas mães, movidas por um legítimo orgulho, se apressam a pôr-se ao lado dos seus filhos quando estes triunfam, quando recebem um reconhecimento público. Outras, pelo contrário, mesmo nesses momentos permanecem em segundo plano, amando em silêncio. Maria era assim e Jesus sabia-o.

288         
Agora, pelo contrário, no escândalo do sacrifício da Cruz, Santa Maria estava presente, ouvindo com tristeza os que passavam por ali e blasfemavam abanando a cabeça e gritando: Tu, que arrasas o templo de Deus e, em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz. Nossa Senhora escutava as palavras de seu Filho, unindo-se à sua dor; Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste? Que podia Ela fazer? Fundir-se com o amor Redentor de seu Filho, oferecer ao Pai a dor imensa - como uma espada afiada - que trespassava o seu Coração puro.

De novo Jesus se sente confortado com essa presença discreta e amorosa de sua Mãe. Maria não grita, não corre de um lado para outro... Stabat: está de pé, junto ao Filho. É então que Jesus olha para Ela, dirigindo depois o olhar para João. E exclama: - Mulher, aí tens o teu filho. Depois diz ao discípulo: Aí tens a tua Mãe. Em João, Cristo confia à sua Mãe todos os homens e especialmente os seus discípulos, os que haviam de acreditar n'Ele.

Felix culpa, canta a Igreja, feliz culpa, porque nos fez ter tal e tão grande Redentor! Feliz culpa, podemos acrescentar também, que nos mereceu receber por Mãe, Santa Maria! Já estamos seguros, já nada nos deve preocupar, porque Nossa Senhora, coroada Rainha dos Céus e da Terra, é a omnipotência suplicante diante de Deus. Jesus não pode negar nada a Maria, nem tão pouco a nós, filhos da sua própria Mãe.

(cont)






Tratado do verbo encarnado 83

Questão 12: Da ciência adquirida da alma de Cristo

Art. 2 — Se Cristo progredia nessa ciência.

O segundo discute-se assim. Parece que Cristo não progredia nessa ciência.

1 — Pois, assim como pela ciência habitual ou pela ciência infusa, Deus conhecia todas as coisas, assim também por essa ciência adquirida, como do sobredito resulta. Ora, naquelas ciências não progredia. Logo, nem nesta.

2. Demais. — Progredir implica imperfeição, porque o perfeito não é susceptível de adição. Ora, não podemos atribuir a Cristo uma ciência imperfeita. Logo, Cristo não progredia na referida ciência.

3. Demais. — Damasceno diz: Os que dizem ter Cristo progredido em sabedoria e em graça como acréscimos que assim recebia, não veneram a união. Ora, não venerar a união é ímpio. Logo, ímpio também o é dizer que a sua ciência era susceptível de acréscimo.

Mas, em contrário, o Evangelho diz, que Jesus crescia em sabedoria e em idade e em graça diante de Deus e dos homens. E, Ambrósio acrescenta, que progredia na sabedoria humana. Ora, a sabedoria humana é a adquirida de modo humano, isto é, pelo lume do intelecto agente. Logo, Cristo progredia na referida ciência.

O progresso na ciência é duplo. Um, segundo a essência enquanto o mesmo hábito da ciência aumenta. O outro, quanto ao efeito, por exemplo, quando alguém, pelo mesmo igual hábito da ciência, demonstra aos outros, primeiro, verdades menores, e depois, maiores e mais subtis. Ora, deste segundo modo, é manifesto que Cristo progredia em ciência e em graça, como em idade, pois, conforme crescia em idade, fazia maiores obras, reveladoras de maior ciência e graça.

Mas, quanto ao hábito próprio da ciência, é manifesto que o hábito da ciência nele infusa não aumentou, pois, toda a sua ciência infusa teve-a plenariamente desde o principio. E muito menos podia aumentar-lhe a ciência da visão beatífica. Quanto à ciência divina, que não pode aumentar, já tratamos na Primeira Parte. Se, pois, além do hábito da ciência infusa, não há na alma de Cristo outro hábito — o da ciência adquirida, como alguns pensam e como a mim também me parecia, nenhuma ciência, na sua essência, aumentou, em Cristo, mas só por experiência, isto é, pela aplicação das espécies inteligíveis infusas aos fantasmas. E, assim sendo, dizem que a ciência de Cristo aumentou quanto à experiência, isto é, aplicando as espécies inteligíveis infusas aos novos conhecimentos que pelos sentidos adquiria. Mas, sendo inadmissível que faltasse a Cristo qualquer acto natural inteligível pois que tirar as espécies inteligíveis, dos fantasmas é um acto natural do intelecto agente do homem - devemos atribuir também tal acto a Cristo. Donde resulta, que a alma de Cristo tinha um certo hábito da ciência, susceptível de aumento, mediante essa abstração, das espécies, isto é, por poder o intelecto agente, depois de ter abstraído, dos fantasmas, as primeiras espécies inteligíveis, abstrair ainda outras.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Tanto a ciência infusa da alma de Cristo, como a da visão beatífica, era efeito de uma virtude agente infinita, que pode obrar simultânea e totalmente, e assim, Cristo não progrediu em nenhuma dessas ciências, mas tinha-as perfeitas desde o princípio. Ora, a ciência adquirida é causada pelo intelecto agente, cuja acção não é simultânea e total, mas sucessiva. Donde, mediante essa ciência, Cristo não sabia tudo, desde o princípio, mas paulatinamente e depois de um certo tempo, isto é, na sua idade perfeita, o que se conclui de dizer o Evangelista, que ele simultaneamente progredia em ciência e em idade.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A referida ciência em Cristo também sempre foi perfeita no tempo, embora não a tivesse sempre sido, absolutamente falando e por natureza. Logo, era susceptível de aumento.

RESPOSTA À TERCEIRA. — As palavras de Damasceno entendem-se daqueles que dizem que a ciência de Cristo recebeu acréscimos absolutamente falando, isto é, relativamente a qualquer ciência sua, e sobretudo, à infusa, causada na alma de Cristo pela união com o Verbo. Mas, não se entende do aumento da ciência causada por um agente natural.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Pequena agenda do cristão


Quarta-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)





Propósito:

Simplicidade e modéstia.


Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.


Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.


Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?