Tempo comum XXII Semana
Evangelho:
Lc 11, 5-13
5 Disse-lhes mais:
«Se algum de vós tiver um amigo, e for ter com ele à meia-noite para lhe dizer:
Amigo, empresta-me três pães, 6 porque um meu amigo acaba de chegar
a minha casa de uma viagem e não tenho nada que lhe dar; 7 e ele,
respondendo lá de dentro, disser: Não me incomodes, a porta está agora fechada,
os meus filhos e eu estamos deitados; não me posso levantar para tos dar; 8
digo-vos que, ainda que ele não se levantasse a dar-lhos por ser seu amigo,
certamente pela sua impertinência se levantará e lhe dará tudo aquilo de que
precisar. 9 Eu digo-vos: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis;
batei, e abrir-se-vos-á. 10 Porque todo aquele que pede, recebe;
quem procura, encontra; e ao que bate, se lhe abrirá.11 «Qual de
entre vós é o pai que, se um filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se
lhe pedir um peixe, em vez de peixe, lhe dará uma serpente? 12 Ou,
se lhe pedir um ovo, porventura dar-lhe-á um escorpião? 13 Se pois
vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais o vosso
Pai celestial dará o Espírito Santo aos que Lho pedirem».
Comentário:
A perseverança na oração dá sempre
frutos. Por vezes somos levados pelo desânimo porque parece que o Senhor não
nos ouve nem Se interessa pelo que se passa connosco, as nossas necessidades, a
urgência que sentimos em que se resolva uma situação que nos preocupa.
Não desistamos nem esmoreçamos na oração. Ele acabará por nos dar, talvez não o
que pedimos mas, seguramente o que mais nos convenha.
(ama, comentário
sobre Lc 11, 5-13 2013.10.10)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
PRINCEPS PASTORUM
DO SUMO PONTÍFICE PAPA JOÃO XXIII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS, BISPOS
E AOS OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE AS MISSÕES CATÓLICAS
Metas
na formação do laicado em terra de missão
26.
Nas novas cristandades, não se trata somente de proporcionar, com as conversões
e os batismos, um grande número de cidadãos ao reino de Deus, mas também de os
tornar aptos, por uma adequada educação e formação cristã, a assumirem, cada um
segundo a sua condição e as suas possibilidades, as suas responsabilidades na
vida e no futuro da Igreja.
O
número dos cristãos pouco significaria se faltasse a qualidade, se faltasse a
solidez dos próprios fiéis na profissão cristã, e se faltasse o aprofundamento
da sua vida espiritual, e se, depois de haverem nascido para a fé e para a
graça, eles não fossem ajudados a progredir na juventude e na madureza do
espírito que dá impulso e prontidão para o bem. Com efeito, a profissão de fé
cristã não pode ser reduzida a um dado anagráfico, mas deve investir e
modificar o homem no profundo (cf. Ef 4, 24), dar significado e valor a todas
as suas manifestações.
Particulares
deveres do clero
27.
Os leigos não poderão chegar a essa meta de maturidade se o clero, quer
alienígena, quer nativo, não se propuser oportunamente o programa já sugerido,
nas suas linhas essenciais, pelo primeiro Papa: "Sois uma raça eleita, um
sacerdócio real, uma nação santa, o povo de sua particular propriedade, a fim
de que proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para a sua
luz maravilhosa" (1 Pd 2,9).
28.
Uma instrução e educação cristã que se considerasse satisfeita por haver
ensinado e feito aprender as fórmulas do catecismo e os preceitos fundamentais
da moral cristã com uma casuística sumária, sem envolver a conduta prática,
expor-se-ia ao risco de proporcionar à Igreja de Deus um rebanho por assim
dizer passivo. O rebanho de Cristo, ao invés, é formado de ovelhas que não só
escutam o seu Pastor, mas têm a capacidade de reconhecê-lo e de lhe
reconhecerem a voz (cf. Jo 10, 4, 14), de segui-lo fielmente, e com plena
consciência, aos pastos da vida eterna (Jo 10, 9, 10), para poderem merecer um
dia, do Príncipe dos Pastores, "a coroa imarcescível da glória" (1 Pd
5,4), ovelhas que, conhecendo e seguindo o Pastor que por elas deu a vida (cf.
Jo 10, 11), estejam prontas a dedicar-lhe a sua vida e a cumprirem a sua
vontade de levar a fazerem parte do único ovil as outras ovelhas que não o
seguem, mas vagueiam longe dele, que é caminho, verdade e vida (Jo 14, 6).
29.
O impulso apostólico pertence essencialmente à profissão de fé cristã: com
efeito, "cada um é obrigado a difundir no meio dos outros a sua fé, seja
para instruir ou confirmar os outros fiéis, seja ainda para repelir os ataques
dos infiéis", [33] especialmente nos tempos, como os nossos, em que o
apostolado é uma tarefa urgente para as difíceis circunstâncias em que se acham
a humanidade e a Igreja.
30.
A fim de que seja possível uma completa e intensa educação cristã, requer-se
que os educadores sejam capazes de achar as vias e os meios mais aptos para
penetrar nas várias psicologias, por onde facilitar ao máximo, nos novos
cristãos, a assimilação profunda da verdade com todas as suas exigências. O
nosso Salvador, com efeito, impôs a cada um de nós o cumprimento deste supremo
mandamento: "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a
tua alma, com toda a tua mente" (Mt 22, 37).
Aos
olhos dos fiéis deve bem depressa brilhar em todo o seu esplendor a sublimidade
da vocação cristã, a fim de que eficazmente se lhes acenda no coração o desejo
e o propósito de uma vida virtuosa e ativa, moldada na própria vida do Senhor
Jesus, que, tendo assumido a natureza humana, nos mandou seguir os seus
exemplos (cf.1 Pd 2, 21, Mt 11, 29, Jo 13, 15).
Deveres
do leigo de testemunhar a verdade
31.
Todo cristão deve estar convicto do seu fundamental e primordial dever de ser
testemunha da verdade em que crê e da graça que o transformou. "Cristo –
dizia um grande Padre da Igreja – deixou-nos na terra a fim de que nos
tornássemos faróis que iluminam, doutores que ensinam, a fim de que
cumpríssemos o nosso dever de fermento, a fim de que nos comportássemos como
anjos, como anunciadores entre os homens, a fim de que fôssemos adultos entre
os menores, homens espirituais entre os carnais a fim de os ganharmos, a fim de
que fôssemos semente e déssemos frutos numerosos.
Nem
sequer seria necessário expor a doutrina, se a nossa vida fosse irradiante a
esse ponto, não seria necessário recorrer às palavras, se as nossas obras
dessem um tal testemunho. Não haveria mais nenhum pagão, se nos comportássemos
como verdadeiros cristãos". [34]
32.
Como é fácil de compreender, este é o dever de todos os cristãos do mundo
inteiro.
Mas
é fácil compreender que, nos países de missão, ele poderia produzir frutos
especiais e particularmente preciosos para os fins da dilatação do reino de
Deus mesmo junto àqueles que não conhecem a beleza da nossa fé e o poder
sobrenatural da graça, como já nos exortava Jesus: "Assim brilhe a vossa
luz diante dos homens, a fim de que eles vejam as vossas boas obras e
glorifiquem vosso Pai que está nos céus" (Mt 5,16), e S. Pedro advertia
amorosamente os fiéis: "Exorto-vos, ó caros,... a que vos abstenhais dos
desejos carnais, que promovem a guerra contra alma. Seja bom o vosso
comportamento entre os gentios para que, mesmo que falem mal de vós, como se
fôsseis malfeitores, vendo as vossas boas obras glorifiquem a Deus, no dia da
Visitação" (1 Pd 2, 12).
Eficácia
do testemunho da caridade
33.
O testemunho dos indivíduos precisa ser confirmado e ampliado pelo da
comunidade cristã inteira, à semelhança do que acontecia na estação primaveril
da Igreja, quando a união compacta e perseverante de todos os fiéis "no
ensino dos Apóstolos e na comum fração do pão e nas orações" (At 2, 42) e
no exercício da mais generosa caridade, era motivo de satisfação profunda e de
mútua edificação, com efeito, eles "louvavam a Deus e eram bem vistos por
todo o povo. E o Senhor aumentava cada dia aqueles que vinham à salvação"
(At 2, 47).
34.
A união nas orações e na participação activa na celebração dos mistérios
divinos na liturgia da Igreja contribui de maneira particularmente eficaz para
a plenitude e riqueza da vida cristã dos indivíduos e da comunidade, e é um
meio admirável para educar naquela caridade que é o sinal distintivo do cristão,
uma caridade que foge de toda discriminação social linguística e racial, que
estende os braços e o coração a todos, irmãos e inimigos.
Sobre
este assunto apraz-nos fazer nossas as palavras do nosso predecessor S.
Clemente Romano: "Quando (os gentios) ouvem de nós que Deus diz: Não há
mérito para vós se amais aqueles que vos amam, mas há mérito se amais os
inimigos e os que vos odeiam (cf. Lc 6, 32-35), ao ouvirem estas palavras eles
admiram esse altíssimo grau de caridade. Mas, quando veem que nós não só não
amamos os que nos odeiam, mas nem sequer amamos aqueles que nos amam, eles riem
de nós, e o nome de Deus é blasfemado". [35]
O
maior dos missionários, s. Paulo Apóstolo, escrevendo aos Romanos no momento em
que se preparava para evangelizar o extremo Ocidente, exortava à "caridade
sem fingimento" (Rm 12, 9ss), depois de haver elevado um hino sublime a
esta virtude "sem a qual o cristão não é nada " (l Cor 13, 2).
Dever
de contribuir para as necessidades materiais da comunidade
35.
A caridade torna-se, outrossim, visível no socorro material, como afirmava o
nosso imortal predecessor Pio XII: "O corpo exige também uma multidão de
membros, unidos entre si para se prestarem mútuo auxílio.
Se
no nosso organismo mortal, quando um membro sofre, todos os outros sofrem com
ele, dando os membros sãos o próprio auxílio aos doentes, igualmente na Igreja
todo membro não vive unicamente para si, mas ajuda também os outros para a sua
mútua consolação, como também para um melhor desenvolvimento de todo o corpo místico".
[36]
36.
As necessidades materiais dos fiéis incluem também a do organismo eclesiástico,
e, para isso, é bom que os fiéis nativos se habituem a sustentar
espontaneamente, na medida das suas possibilidades, as suas Igrejas, as suas
instituições e o clero que a eles se dedicou completamente.
Não
importa se este contributo não pode ser notável, o importante é que seja
testemunho sensível de uma viva consciência cristã.
IV. DIRETRIZES PARA O
APOSTOLADO LEIGO NAS MISSÕES
Preparação
para o apostolado
37. Os fiéis cristãos, membros de um organismo
vivo, não podem ficar encerrados em si mesmos e acreditar que basta ter pensado
e providenciado sobre as próprias necessidades espirituais para ter cumprido
todo o seu dever.
Em
vez disso, cada um por sua própria parte deve contribuir para o incremento e
para a difusão do reino de Deus na terra.
O
nosso predecessor Pio XII lembrou a todos este dever universal: "A
catolicidade é uma nota essencial da verdadeira Igreja: a tal ponto que um
cristão não é verdadeiramente afeiçoado e devotado à Igreja se não é igualmente
afeiçoado e devotado à universalidade dela, desejando que ela lance raízes e
floresça em todos os lugares da terra". [37]
38.
Todos devem entrar numa porfia de santa emulação e dar assíduos testemunhos de
zelo para o bem espiritual do próximo, para a defesa da própria fé, para
fazê-la conhecer a quem a ignora completamente ou a quem mal a conhece e por
isto a julga mal.
Desde
a infância e desde a adolescência, mesmo nas mais jovens comunidades cristãs é
necessário que o clero, as famílias e as várias organizações locais de
apostolado inculquem este santo dever. Depois, há algumas ocasiões
particularmente felizes, em que tal educação no apostolado pode achar o lugar
mais adequado e a expressão mais convincente.
Tal
é, por exemplo, a preparação dos rapazes e dos neo-batizados para o sacramento
da Confirmação, com o qual "é infundida nos crentes uma nova força para
defenderem a santa mãe Igreja e a fé que dela receberam", [38] preparação
esta sumamente oportuna, especialmente lá onde existem nos costumes locais cerimónias
apropriadas de iniciação a fim de preparar os jovens para o ingresso oficial no
seu grupo social.
Os
catequistas
39.
Aqui não podemos deixar de dar o justo relevo à obra dos catequistas, que na
longa história das missões católicas se têm demonstrado de insubstituível
auxílio.
Eles
sempre foram o braço direito dos operários do Senhor, e lhes têm compartilhado
e aliviado as fadigas a ponto de os nossos predecessores terem podido
considerar seu recrutamento e sua formação cuidadosíssima entre os "pontos
importantíssimos para a difusão do Evangelho", [39] e os terem definido
como "o caso talvez mais clássico do apostolado leigo". [40]
A
eles renovamos os mais amplos elogios, e exortamo-los a meditarem sempre mais
na felicidade espiritual da sua condição e a nunca desistirem de todo esforço
para enriquecerem e aprofundarem, sob a guia da hierarquia, a sua instrução e
formação moral.
Os
catecúmenos devem aprender deles não somente os rudimentos da fé, mas também a
prática da virtude, o amor grande e sincero a Cristo e à sua Igreja.
Todo
cuidado dedicado ao aumento do número destes eficacíssimos auxiliares da
hierarquia e à sua adequada formação, e todo sacrifício dos catequistas para
cumprirem de modo mais apto e perfeito a sua tarefa, será um contributo de
imediata eficácia para a fundação e para o progresso das novas comunidades
cristãs.
(cont)
(revisão da versão portuguesa por ama)
_________________________________________
Notas:
[33]
S. Tomás. Summa Theol. II-II, q. 3, a. 2, ad 2.
[34]
S. João Chris. Hom. X in ITm., Migne, PG LXII, 551.
[35]
F.X. Funk, Patres Apostolici, vol. I, p. 201.
[36]
Carta enc. Mystici Corporis: AAS 35(1943), p. 200.
[37]
Carta enc. Fidei donum: AAS 49(1957), p. 237.
[38]
Pio XII, Carta enc. Mystici Corporis: AAS 35(1943), p. 201.
[39]
Cf. Pio XI, Carta enc. Rerum Ecclesiae: AAS 18(1926), p. 78.
[40]
Cf. Pio XII, Sermão do ano 1957 àqueles que participaram no II Congresso para o
apostolado dos leigos católicos de todo o mundo: AAS 49(1957), p. 937.