14/11/2015

NUNC COEPI o que pode ver em 14 de Nov

Publicações em Nov 14

São Josemaria – Textos

AMA - Comentários ao Evangelho Lc 18 1-8, Francisco Faus, Leitura espiritual - A Paciência

São Tomás de Aquino – Suma Teológica, Suma Teológica - Tratado da Vida de Cristo - Quest 36 - Art 6

AT - Salmos - 14

Leitura espiritual


Agenda Sábado

Sobre leitura espiritual - 1

O que é a “leitura espiritual”?

Há muitos tipos de leitura religiosa, mas não vou falar agora de todos nem de vários deles. Apenas falarei de um: daquele que, na linguagem clássica cristã, se chama «leitura espiritual», em sentido estrito, e que costuma fazer parte do programa diário das pessoas que querem levar a sério a sua vida interior.

Consiste na leitura atenta e bem assimilada de um livro que trate de assuntos de «vida espiritual», com seriedade e boa doutrina, e que os focalize de maneira prática, de modo que nos ajude a aplicá-los à nossa vida diária.

Tenha em conta que, dentro do conceito estrito de «vida espiritual» ou de «vida interior», não só entram as práticas de oração, de adoração, a Eucaristia, o amor a Nossa Senhora e outras devoções… – que são, sem dúvida, elementos básicos de uma vida espiritual autêntica -, mas entram também as virtudes e o modo de melhorá-las (fé, caridade, paciência, firmeza, temperança, constância, etc.), bem como os defeitos (vaidade, preguiça, ira, inveja, desordem sensual, etc.) e o modo de vencê-los; e ainda o esforço por santificar a família, por achar Deus no trabalho, por levar Deus a outras almas, etc, etc. Em suma, entra tudo quanto nos ajuda a procurar a santidade e o apostolado no dia-a-dia.


(cont)

Antigo testamento / Salmos

Salmo 14



1 Diz o tolo em seu coração: "Deus não existe". Corromperam-se e cometeram actos detestáveis; não há ninguém que faça o bem.

2 O Senhor olha dos céus para os filhos dos homens, para ver se há alguém que tenha entendimento, alguém que busque a Deus.

3 Todos se desviaram, igualmente se corromperam; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer.

4 Será que nenhum dos malfeitores aprende? Eles devoram o meu povo como quem come pão e não clamam pelo Senhor!

5 Olhem! Estão tomados de pavor! Pois Deus está presente no meio dos justos.

6 Vocês, malfeitores, frustram os planos dos pobres, mas o refúgio deles é o Senhor.


7 Ah, se de Sião viesse a salvação para Israel! Quando o Senhor restaurar o seu povo, Jacob exultará! Israel se regozijará!

Tratado da vida de Cristo 50

Questão 36: Da manifestação de Cristo nascido
Art. 6 — Se a natividade de Cristo foi manifestada na ordem conveniente.

O sexto discute-se assim. — Parece que a natividade de Cristo foi manifestada numa ordem inconveniente.

1. — Pois, a natividade de Cristo devia ser manifestada primeiro aos mais chegados a ele e que mais o desejavam, conforme o lugar da Escritura: Ela se antecipa aos que a cobiçam, de tal sorte que se lhes patenteia primeiro. Ora, os justos eram os mais chegados a Cristo pela fé e os que mais lhe desejavam o advento. Por isso, diz o Evangelho, de Simeão, que era homem justo e timorato e esperava a redenção de Israel. Logo, a natividade de Cristo devia ser manifestado primeiro a Simeão, que aos pastores ou magos.

2. Demais. — Os Magos eram as primícias dos gentios, que haviam de crer em Cristo. Ora, primeiro, a multidão das gentes recebe a fé e depois todo Israel há-de salvar-se, como ensina o Apóstolo. Logo, a natividade de Cristo devia manifestar-se primeiro aos Magos, que aos pastores.

3. Demais. — O Evangelho diz: Herodes mandou matar todos os meninos que havia em Belém e em todo o seu termo, que tivessem dois anos e daí para baixo, regulando-se nisto pelo tempo que tinha exatamente averiguado dos Magos. Donde se conclui que dois anos depois da natividade de Cristo é que os Magos chegavam a Cristo: Logo, a natividade de Cristo foi inconvenientemente, só depois de tanto tempo, manifestada aos gentios.

Mas em contrário, a Escritura: E ele mesmo é o que muda os tempos e os séculos. E assim, o tempo da manifestação da natividade de Cristo foi disposto na ordem conveniente.

A natividade de Cristo foi primeiro manifestada aos Pastores, no próprio dia da natividade de Cristo. Assim, diz o Evangelho: Naquela mesma comarca havia uns pastores que vigiavam e revezavam entre si as vigílias da noite para guardarem o seu rebanho. E aconteceu que, depois que os anjos se retiravam deles para o céu falavam entre si os pastores dizendo: Passemos até Belém. E foram com grande pressa. - Em segundo lugar, os Magos vieram adorar a Cristo, no décimo terceiro dia da sua natividade, dia em que se celebra a festa da Epifania. Assim que, se tivessem vindo depois de passado um ano, ou ainda dois, não o teriam já encontrado em Belém, pois, como se lê no Evangelho, depois que eles deram fim a tudo, segundo o que mandava a lei do Senhor, isto é tendo apresentado o menino Jesus no templo, voltaram à Galileia para a sua cidade de Nazaré. — Em terceiro lugar manifestou-se aos justos no templo, no quadragésimo dia da natividade, como se lê no Evangelho.

A razão dessa ordem é, que os Pastores significavam os Apóstolos e os outros judeus crentes, a quem primeiro foi revelada a fé de Cristo; e entre esses não houve muitos poderosos nem muitos nobres, segundo o Apóstolo. - Em segundo lugar a fé de Cristo chegou à plenitude das gentes, prefigurada pelos Magos - Enfim, em terceiro, à plenitude dos judeus, prefigurada pelos justos. Por isso, no Templo dos judeus é que Cristo se lhes manifestou.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO — Como diz o Apóstolo, Israel, que seguia a lei da justiça, não chegou à lei da justiça; ao passo que os gentios, que não seguiam a justiça, em geral preveniram os judeus na justiça da fé. E na figura, destes, Simeão, que esperava a consolação de Israel, foi o último a saber do nascimento de Cristo; e foi procedido pelos Magos e pelos Pastores, que não esperavam essa natividade tão solicitamente.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora a plenitude dos gentios recebesse a fé primeiro que a plenitude dos judeus, contudo as primícias dos judeus preveniram na fé as primícias dos gentios. Por isso aos Pastores foi-lhes manifestada a natividade de Cristo, antes de o ser aos Magos.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Há duas opiniões a respeito da estrela que apareceu aos Magos. - Crisóstomo e Agostinho dizem que a estrela apareceu aos Magos dois anos antes da natividade de Cristo. E só então, começando a meditar na viagem e a preparar-se para ela, das remotíssimas partes do Oriente chegaram até Cristo no décimo terceiro dia da sua natividade. E por isso Herodes, logo depois da partida dos Magos, vendo-se iludido por eles, mandou matar os meninos que tivessem dois anos e daí para baixo, estando na dúvida se Cristo nasceu quando apareceu a estrela, conforme ouvira dos Magos. - Mas outros dizem, que a estrela apareceu só quando Cristo nasceu; e desde então os Magos, ao verem a estrela pondo-se a caminho, realizaram a longuíssima jornada em treze dias, em parte ajudados do poder divino, e em parte pela velocidade dos dromedários. E isto, digo, no caso em que tivessem vindo das extremas partes do Oriente. Mas outros são de opinião que eles vieram de uma região próxima, donde era Balaão, de cuja doutrina eram os sucessores. E só o Evangelho diz que vieram do Oriente, é que essa terra está na parte oriental da terra dos judeus. E então, Herodes mandou matar os meninos, não logo depois da partida dos Magos, mas depois de um biénio. E isso, ou porque, como se diz, tendo sido acusado, foi durante esse tempo a Roma; ou porque, agitado pelo terror de certos perigos, desistiu por enquanto da ideia de matar o menino. Ou por ter sido levado a crer, que os Magos, enganados pela visão falaz da estrela, tiveram vergonha de voltarem a ele, depois de não terem encontrado o recém-nascido que procuravam, como opina Agostinho. E por isso, não só mandou matar os meninos de dois anos, mas ainda daí para baixo; porque, como diz Agostinho, temia que o menino, a quem as estrelas serviam, transformasse o seu corpo no de idade superior ou inferior.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



Em que devemos esperar?

Ante um panorama de homens sem fé e sem esperança; ante cérebros que se agitam, à beira da angústia, buscando uma razão de ser para a vida, tu encontraste uma meta: Ele! E esta descoberta injectará permanentemente na tua existência uma alegria nova, transformar-te-á e apresentar-te-á uma imensidão diária de coisas formosas que te eram desconhecidas, e que mostram a jubilosa amplidão desse caminho amplo que te conduz a Deus. (Sulco, 83)

Dado que o mundo oferece muitos bens, apetecíveis para este nosso coração, que reclama felicidade e busca ansiosamente o amor, talvez alguns perguntem: nós, os cristãos, em que devemos esperar? Além disso, queremos semear a paz e a alegria às mãos cheias, não ficamos satisfeitos com a consecução da prosperidade pessoal e procuramos que estejam contentes todos os que nos rodeiam.


Por desgraça, alguns, com uma visão digna mas rasteira, com ideais exclusivamente caducos e fugazes, esquecem que os anelos do cristão se hão-de orientar para cumes mais elevados: infinitos. O que nos interessa é o próprio Amor de Deus, é gozá-lo plenamente, com um júbilo sem fim. Temos comprovado, de muitas maneiras, que as coisas da terra hão-de passar para todos, quando este mundo acabar; e já antes, para cada um, com a morte, porque nem as riquezas nem as honras acompanham ninguém ao sepulcro. Por isso, com as asas da esperança, que anima os nossos corações a levantarem-se para Deus, aprendemos a rezar: in te Domine speravi, non confundar in æternum, espero em Ti, Senhor, para que me dirijas com as tuas mãos agora e em todos os momentos pelos séculos dos séculos. (Amigos de Deus, 209)

Pequena agenda do cristão



SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?


Evangelho, comentário, L. espiritual




Tempo comum XXXII Semana


Evangelho: Lc 18, 1-8

1 Disse-lhes também uma parábola, para mostrar que importa orar sempre e não cessar de o fazer: 2 «Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. 3 Havia também na mesma cidade uma viúva, que ia ter com ele, dizendo: Faz-me justiça contra o meu adversário. 4 Ele, durante muito tempo, não a quis atender. Mas, depois disse consigo: Ainda que eu não tema a Deus nem respeite os homens, 5 todavia, visto que esta viúva me importuna, far-lhe-ei justiça, para que não venha continuamente importunar-me». 6 Então o Senhor acrescentou: «Ouvi o que diz este juiz iníquo. 7 E Deus não fará justiça aos Seus escolhidos, que a Ele clamam dia e noite, e tardará em socorrê-los? 8 Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Mas, quando vier o Filho do Homem, julgais vós que encontrará fé sobre a terra?».

Comentário:

Muitos autores espirituais têm versado este tema da oração perseverante e fazem-no, na convicção íntima e na certeza absoluta que o Senhor não Se engana nem pode enganar-nos.

Ele próprio insistiu nesta necessidade de orar sem descanso e, mais, garantindo que Deus, que gosta de ser instado, não deixará nunca de atender ao que pedimos.

Parece, contudo, que há alguma tendência, absolutamente natural, para considerar que essa perseverança se aplica, sobretudo, à petição quando, na verdade, temos muito mais a agradecer do que pedir.

Talvez que, para “resolver” o assunto, devamos pedir perseverantemente ao Senhor que nos ajude a ser agradecidos e, Ele, com a nossa atitude, não deixará de nos dar o que necessitamos.

(ama comentário sobre Lc 18, 1-8, 2013.10.20)



Leitura espiritual



A PACIÊNCIA
…/6

Como vemos, nem essa boa mãe, nem as outras pessoas acima evocadas como exemplo, conseguiam viver a paciência à base de truques de “pensamento positivo”, mas de esforços de fé e de amor cristão. De maneira que, sem terem a mínima noção disso, todas elas estavam dando a razão a São Tomás de Aquino que, com o seu habitual laconismo, sintetizou assim a questão:
Manifestum est quod patientia a caritate causatur – “é evidente que a paciência é causada pelo amor”, ou, por outras palavras que traduzem com igual precisão as do santo: “Só o amor é causa da paciência” [i]

HISTÓRIAS DE AMOR PACIENTE

O AMOR QUE SABE SOFRER

Víamos no começo que a paciência é a arte de sofrer.
Depois das considerações que acabamos de fazer, pode-se modificar um pouco esse enunciado e dizer que a paciência é o amor que sabe sofrer.

Uma das coisas mais comoventes e edificantes do mundo é ter conhecido uma pessoa que, durante longo tempo, soube sofrer com amor.
Nenhuma teoria, nenhuma ciência, nenhum livro nos pode ensinar melhor do que ela o que é a beleza e a grandeza da paciência.
É bem certo que poucas realidades mostram tão bem a presença de Deus e a marca da sua graça num ser humano como o faz – quase que por transparência – o bom sofredor, o sofredor amoroso, sereno e esquecido de si mesmo.

Não é por acaso que São Paulo, quando começa a enumerar as qualidades do amor cristão, como quem apresenta as facetas de uma pedra preciosa, menciona em primeiro lugar que a caridade é paciente, e remata os elogios dizendo que a caridade tudo sofre [ii].
A vida dos santos, ou simplesmente a vida dos homens e mulheres bons, que optaram por transformar a sua existência numa amorosa tarefa de edificar, confirma o que Deus nos diz por meio de São Paulo.

Por isso, como o exemplo é o melhor livro e o testemunho vivido a mais pedagógica das escolas, vamos adentrar neste novo capítulo em quatro histórias de amor paciente ou, para sermos mais precisos, vamos relatar numas poucas pinceladas alguns episódios significativos de quatro vidas que souberam encarnar o amor paciente.

Dos dois primeiros casos, quem escreve estas páginas foi, em parte, testemunha presencial.

Os outros dois, conhece-os pela tocante narração de um médico.

UM MESTRE DE BOM HUMOR

Durante dois anos, tive o privilégio – seria mais exato dizer a graça – de conviver em Roma com o Fundador do Opus Dei, o Bem-aventurado Josemaría Escrivá.

Muito alegre e desportivamente, uns cento e vinte alunos do Colégio Romano da Santa Cruz acomodávamo-nos como podíamos nos escassos e surrealistas espaços de um prédio ainda em construção. Mas, para nós, o sol raiava todos os dias, mesmo quando a Cidade Eterna se cobria de nuvens, porque saboreávamos a experiência de estar convivendo com um santo.

Todos os biógrafos de Mons. Escrivá, hoje já numerosos, coincidem em afirmar que uma das características da sua personalidade era a alegria, patenteada num constante bom humor. Um desses biógrafos dá justamente o título de Mestre de bom humor à obra de recordações pessoais que lhe dedica. [iii]

Os que convivemos durante algum tempo com ele somos testemunhas de que esse título é exacto.

Quase diariamente, os alunos do Colégio Romano da Santa Cruz, anexo então à sede central do Opus Dei em Roma, tínhamos a feliz oportunidade de estar e de conversar uns bons momentos com Mons. Escrivá.
Eu, que chegara a Roma em Outubro de 1953 e só sairia de lá no fim do ano lectivo de 1955, guardo a viva lembrança do Fundador do Opus Dei como um sacerdote inflamado em amor de Deus, amor que fundia maravilhosamente com um enorme carinho humano, sempre sorridente, sempre otimista, sempre vibrante, sempre bem- disposto.

Todos os que o conhecíamos de perto víamos nele a extraordinária harmonia das diversas virtudes cristãs – mesmo das aparentemente contraditórias, como a mais terna compreensão e a firmeza mais exigente –, a erguer-se como picos elevados na cordilheira compacta da sua vida santa.
Pois bem, um desses cumes elevados era, sem dúvida alguma, a paciência.
Esta virtude manifestava-se, no dia-a-dia, de diversas formas; uma das mais patentes era a equanimidade que se percebia a todas as horas e em todas as circunstâncias.
Equanimidade, ou seja, igualdade de ânimo, boa disposição permanente, que atraía com força irradiante e estimulava a imitá-lo.

Não é que tudo fosse um mar calmo à sua volta, nem que ele – homem de temperamento vivo, sensível e ardente – fosse impassível. Mesmo sem conhecermos muitos detalhes, todos nós tínhamos noção das dificuldades grandes que o Padre – assim o chamávamos – tivera e tinha que enfrentar para levar a Obra de Deus para a frente. Sabíamos em parte, ou imaginávamos saber, o calibre das provações e sofrimentos por que Deus permitiu que passasse, forjando-lhe assim a têmpera do santo: incompreensões dolorosas, incríveis calúnias, perseguições, carência absoluta de meios materiais...
Contradições brutais, que acabaram por deixar a sua farpa na saúde do Padre.

Desde os anos quarenta, de facto, padecia de uma séria diabete mellitus.
Mas, se alguém nos perguntasse:
– ‘Como vai a saúde do Padre?’, teríamos respondido, com a maior naturalidade: – ‘Ora, graças a Deus, vai muito bem’.

E, com efeito, era assim mesmo que víamos o Fundador: muito bem.
Todos os dias nos deixava a imagem de um homem cheio de Deus e plectórico de humanidade, transbordante de alegria e de dinamismo.

TUDO CABE NUM SORRISO POR AMOR A DEUS

Por isso, a todos nos surpreendeu, como um choque inesperado, a notícia de que tivemos conhecimento na primavera de 1954.
O Padre, no dia 27 de Abril, estivera a ponto de morrer. Uma crise de saúde muito forte só não o levara por um triz.

Perguntávamo-nos, no primeiro momento, que tipo de achaque podia tê-lo acometido.
Nem nos passava pela mente a ideia de que poderia ter sido – como de facto foi – uma crise devida à própria diabetes.
Para nós, “diabetes” era uma palavra ouvida alguma vez, mas já arquivada no esquecimento.
Nada notávamos, o Padre de nada se queixava nem com a palavra nem com a expressão do rosto e, por isso, nada nos preocupava.
Não sabíamos que, na verdade, durante todos aqueles meses felizes, vividos junto de um Padre que irradiava dinamismo e felicidade, Mons. Escrivá estivera atravessando uma das piores fases da sua doença.

Assim descreve Vázquez de Prada o que na realidade se estava passando naquele período:
“Trabalhava e mexia-se como se estivesse bem de saúde: sem o cansaço que o medo produz, livre da psicose de febre que amiúde excita os enfermos ou os deprime. Para o caso de que chegasse em qualquer momento a sua hora, tinha tomado precauções. Fez colocar uma campainha junto da cabeceira da sua cama, para pedir os sacramentos. Deitava-se com a mente posta em Deus:
Senhor – dizia –, não sei se me levantarei amanhã; dou-te graças pela vida que me deres e estou contente de morrer em teus braços. Espero na tua misericórdia.

“Custava-lhe sorrir; mas os seus filhos recordam-no sempre com o sorriso nos lábios. A doença deparava-lhe surpresas variadas: um dia, não se tinha em pé; outro, sobrevinha-lhe uma infecção furibunda; na semana seguinte, falhava-lhe o olho direito...

“Tomava com alegria e paciência as peças que lhe pregavam as suas indisposições [...]. Nas viagens, não tinha outro remédio senão carregar com o seu pequeno arsenal de botica. Assim andaram as coisas, até que o Dr. Faelli resolveu tentar uma variante no tipo de medicação, prescrevendo-lhe insulina retardada. O P. Álvaro, que conhecia perfeitamente o tratamento, as quantidades e o seu efeito, acertou a nova dose.
Tudo andou bem por dois ou três dias, embora seja possível que o enfermo se tivesse sensibilizado com a mudança”[iv]

(cont.)

FRANCISCO FAUS, [v] A PACIÊNCIA, 2ª edição, QUADRANTE, São Paulo 1998

(Revisão da versão portuguesa por ama)




[i] Suma Teológica, II-II, q. 136, a. 3, c.].
[ii] cf. 1 Cor 13, 4.7
[iii] José Luis Soria, Maestro de buen humor, Rialp, Madrid, 1994.
[iv] andrés vázquez de prada, O Fundador do Opus Dei, Quadrante, São Paulo, 1989, págs. 325-326.

[v] Francisco Faus é licenciado em Direito pela Universidade de Barcelona e Doutor em Direito Canônico pela Universidade de São Tomás de Aquino de Roma. Ordenado sacerdote em 1955, reside em São Paulo, onde exerce uma intensa atividade de atenção espiritual entre estudantes universitários e profissionais. Autor de diversas obras literárias, algumas delas premiadas, já publicou na coleção Temas Cristãos, entre outros, os títulos O valor das dificuldades, O homem bom, Lágrimas de Cristo, lágrimas dos homens, Maria, a mãe de Jesus, A voz da consciência e A paz na família.