RESUMOS DA FÉ CRISTÃ
TEMA 9 A Encarnação
5.
Cristo é o único Mediador perfeito entre Deus e os homens. É Mestre, Sacerdote
e Rei.
«Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem,
na unidade da sua Pessoa divina; por essa razão, Ele é o único Mediador entre
Deus e os homens» [i].
A expressão mais profunda do Novo Testamento
sobre a mediação de Cristo encontra-se na primeira carta a Timóteo:
«Há um
só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo homem, que
se entregou a Si mesmo para redenção de todos» [ii].
Apresentam-se aqui a pessoa do Mediador e a
acção do Mediador.
E na carta aos Hebreus apresenta-se Cristo
como o mediador de uma Nova Aliança [iii].
Jesus Cristo é mediador porque é perfeito
Deus e perfeito homem, mas é mediador na e pela sua humanidade.
Esses textos do Novo Testamento apresentam
Cristo como profeta e revelador, como sumo-sacerdote e como Senhor de toda a
criação.
Não se trata de três ministérios distintos,
mas de três aspectos diversos da função salvífica do único mediador.
Cristo é o profeta anunciado no Deuteronómio [iv].
O povo tinha Jesus por profeta [v].
O próprio início da carta aos Hebreus é
paradigmático a este respeito. Mas Cristo é mais do que profeta: Ele é o
Mestre, quer dizer, o que ensina por autoridade própria, uma autoridade
desconhecida até então, que deixava surpreendidos os que o escutavam.
O carácter supremo dos ensinamentos de Jesus
fundamenta-se no facto de ser Deus e homem.
Jesus não só ensina a verdade, mas Ele é a
Verdade tornada visível na carne. Cristo, Verbo eterno do Pai, «é a Palavra
única, perfeita e insuperável do Pai. N’Ele o Pai disse tudo.
Não haverá outra palavra além dessa» [vi].
O ensinamento de Cristo é definitivo, também
no sentido de que, com ele, a Revelação de Deus aos homens na história teve o
seu último cumprimento. Cristo é sacerdote.
A
mediação de Jesus Cristo é uma mediação sacerdotal.
Na carta aos Hebreus, que tem como tema
central o sacerdócio de Cristo, Jesus Cristo é apresentado como o Sumo
Sacerdote da Nova Aliança, «único “Sumo Sacerdote, segundo a ordem de
Melquisedec” [vii], “santo, inocente,
imaculado” [viii], que, “com uma única
oblação, tornou perfeitos para sempre os que foram santificados” [ix], isto é, pelo único
sacrifício da sua Cruz» [x].
Do mesmo modo que o sacrifício de Cristo – a
sua morte na Cruz – é único pela unidade que existe entre o sacerdote e a
vítima – de valor infinito – assim também o seu sacerdócio é único.
Ele é a única vítima e o único sacerdote.
Os sacrifícios do Antigo Testamento eram
representação do de Cristo e recebiam o seu valor precisamente pela sua
ordenação ao de Cristo. O sacerdócio de Cristo, sacerdócio eterno, é
participado pelo sacerdócio ministerial e pelo sacerdócio dos fiéis, que nem se
acrescentam nem se sucedem ao de Cristo [xi].
Cristo
é Rei.
É-o não só enquanto Deus, mas também enquanto
homem.
A soberania de Cristo é um aspecto
fundamental da sua mediação salvífica. Cristo salva porque tem o poder efectivo
para o fazer.
A fé da Igreja afirma a realeza de Cristo e
professa no Credo que «o seu reino não
terá fim», repetindo, assim, o que o arcanjo Gabriel disse a Maria [xii].
A dignidade real de Cristo já tinha sido
anunciada no Antigo Testamento [xiii].
No entanto, Cristo, não falou muito da sua
realeza, pois entre os judeus do seu tempo estava muito difundida uma concepção
material e terrena do Reino messiânico.
Reconheceu-o sim num momento particularmente
solene quando, respondendo a uma pergunta de Pilatos, respondeu: «Tu o dizes. Sou Rei» [xiv].
A realeza de Cristo não é metafórica, é real
e comporta o poder de legislar e de julgar.
É uma realeza que se fundamenta no facto de
ser o Verbo encarnado e o nosso Redentor [xv].
O seu reino é espiritual e eterno.
É um reino de santidade e de justiça, de
amor, de verdade e de paz [xvi].
Cristo exerce a sua realeza atraindo a si
todos os homens pela sua morte e ressurreição [xvii].
Cristo, Rei e Senhor do universo, fez-se o
servidor de todos, não «veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida
para resgate pela multidão [xviii]» [xix].
Todos os fiéis participam «destas três
funções de Cristo, com as responsabilidades de missão e de serviço que delas
resultam» [xx].
6. Toda
a vida de Cristo é redentora
Pelo que se refere à vida de Cristo, «o
Símbolo da fé apenas fala dos mistérios da Encarnação (conceição e nascimento)
e da Páscoa (paixão, crucifixão, morte, sepultura, descida à mansão dos mortos,
ressurreição, ascensão).
Nada diz explicitamente dos mistérios da vida
oculta e pública de Jesus. Mas os artigos da fé que dizem respeito à Encarnação
e à Páscoa de Jesus iluminam toda a vida terrena de Cristo» [xxi].
Toda a vida de Cristo é redentora e qualquer
acto humano seu possui um valor transcendente de salvação.
Inclusive nos actos mais simples e
aparentemente menos importantes de Jesus há um exercício eficaz da sua mediação
entre Deus e os homens, pois são sempre acções do Verbo encarnado.
São Josemaria entendeu esta doutrina com
especial profundidade, que ensinou a transformar todos os caminhos da terra em
caminhos divinos de santificação:
«chega a plenitude dos tempos e, para cumprir
essa missão (…) nasce um Menino em Belém. É o Redentor do mundo; mas, antes de
falar, demonstra o seu amor com obras. Não é portador de nenhuma fórmula
mágica, porque sabe que a salvação que nos traz há-de passar pelo coração do
homem. As suas primeiras acções são risos e choros de criança, o sono inerme de
um Deus humanado; para que fiquemos tomados de amor, para que saibamos
acolhê-Lo nos nossos braços» [xxii].
Os anos da vida oculta de Cristo não são uma
simples preparação para o seu ministério público, mas autênticos actos
redentores, orientados para a consumação do Mistério Pascal.
Tem grande relevância teológica o facto de
que Jesus tivesse partilhado, durante a maior parte da sua vida, a condição da imensa
maioria dos homens: a vida quotidiana de família e de trabalho em Nazaré, lugar
que se torna uma lição de vida familiar, uma lição de trabalho [xxiii].
Cristo realiza também a nossa redenção
durante os muitos anos de trabalho da sua vida oculta, dando, assim, todo o
sentido divino na história da salvação ao trabalho quotidiano do cristão e de
milhões de homens de boa vontade:
«Jesus, crescendo e vivendo como um de nós,
revela que a existência humana, os afazeres correntes e habituais, têm um
sentido divino» [xxiv].
José Antonio Riestra
Bibliografia básica:
Catecismo da Igreja Católica, 484-570,
720-726 e 963-975. Bento XVI-Joseph Ratzinger, Jesus de Nazaré, A Esfera dos
Livros, Lisboa 2007, 27-35; 395-435 (Introdução e cap. 10). Leituras recomendadas J.L. Bastero de Eleizalde,
María, Madre del Redentor, 2ª ed., Eunsa, Pamplona 2004. M. Ponce Cuéllar,
María, Madre del redentor y Madre de la Iglesia, 2ª ed., Herder, Barcelona
2001. F. Ocáriz – L.F. Mateo Seco – J.A. Riestra, El misterio de Jesucristo, 3ª
ed., EUNSA, Pamplona 2004.
[iii] cf. Heb 8, 6; 9, 15;
12, 24
[v] cf. Mt 16, 14; Mc 6,
14-16; Lc 24, 19
[xi] cf. Catecismo,
1544-1547
[xiii] cf. Sl 2, 6; Is 7, 6; 11. 1-9; Dn 7, 14
[xv] Cf. Pio XI, Enc. Quas
Primas, 11-XI-1925, AS 17 (195) 599.
[xvi] Cf. Missal Romano,
Prefácio da Missa de Jesus Cristo , Rei do Universo
[xxii] São Josemaria, Cristo
que Passa, 36.
[xxiii] Cf. Paulo VI,
Alocução em Nazaré, 5-I-1964: Insegnamenti di Paolo VI 2 (1964) 25.
[xxiv] São Josemaria, Cristo
que Passa, 14.