08/04/2019

Evangelho e comentário



TEMPO DA QUARESMA



Evangelho: Jo 8, 1-11

1 Jesus foi para o Monte das Oliveiras. 2 De madrugada, voltou outra vez para o templo e todo o povo vinha ter com Ele. Jesus sentou-se e pôs-se a ensinar. 3 Então, os doutores da Lei e os fariseus trouxeram-lhe certa mulher apanhada em adultério, colocaram-na no meio 4 e disseram-lhe: «Mestre, esta mulher foi apanhada a pecar em flagrante adultério. 5 Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres. E Tu que dizes?» 6 Faziam-lhe esta pergunta para o fazerem cair numa armadilha e terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra. 7 Como insistissem em interrogá-lo, ergueu-se e disse-lhes: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!» 8 E, inclinando-se novamente para o chão, continuou a escrever na terra. 9 Ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher que estava no meio deles. 10 Então, Jesus ergueu-se e perguntou-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?» 11 Ela respondeu: «Ninguém, Senhor.» Disse-lhe Jesus: «Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar»

Comentário:

Não nos admiremos com este texto de São João porque, se "pusermos a mão na consciência" estes "julgamentos" do próximo são mais frequentes que o que possamos imaginar.
Será que, nós próprios, não temos por vezes a mesma atitude?

A "trave no nosso olho" deve impedir-nos de “tirar o argueiro no olho do vizinho".

Sim, vemos os defeitos dos outros, mas, quantas vezes, isso não é exactamente o reflexo dos nossos próprios defeitos?

Tem de haver - temos de ter e praticar - uma honestidade a toda a prova porque, verdadeiramente, ninguém nos "investiu" e nada - absolutamente - nos concede o direito de julgar os outros.

Sejamos, antes, lestos e rigorosos em julgar-nos a nós próprios e - talvez com surpresa - encontremos muitos mais motivos de reprovação e reparação que o imaginamos.

(AMA, comentário sobre Jo 8 1-11, 03.04.2017)

Reflexão - Entendimento


Entendimento

Este dom do Espírito Santo que peço diariamente, talvez seja – pelo menos para mim – um dos mais importantes e necessários para a minha vida.

Sabedoria?

Sim, a sabedoria muitíssimo importante e muito provavelmente o mais “completo” dos Dons (lembremos Salomão).

Mas o entendimento é fundamental para compreender o que se passa, se lê, se ouve, se deseja ou quer.
Entendo o Evangelho quando o leio? Compreendo exactamente o que se relata e, mais, porque se relata?
Sobretudo as palavras de Cristo nas diversas intervenções que faz em numerosíssimas ocasiões são, para mim, claras, iniludíveis?
Realmente, eu não consigo compreender sem entender e, se não entendo ou não entendo completamente não posso acreditar totalmente. Só se acredita no que se compreende, no que se entende.

Entendo que muitas coisas estão como que reservadas, escondidas e que só com a fé posso acreditar nelas.
Mas, o dom de entendimento, não é só necessário para o que respeita à minha fé; também é fundamental para que possa decidir fazer uma coisa em vez de outra – escolher, portanto – porque vejo com clareza meridiana o que será melhor.
Evidentemente que, por mim, só, não chego a tal ponto de discernimento, logo, a solução está em pedir com perseverança e confiança, ao Divino Espírito Santo que me conceda este Dom.
Por isso Lhe peço: Divino Espírito Santo, concede-me o Teu Dom de Entendimento para que eu possa sempre escolher as coisas rectas.

AMA, reflexão, 10.12.2018



Vivei uma particular Comunhão dos Santos


Comunhão dos Santos. – Como to hei-de dizer? – Sabes o que são as transfusões de sangue para o corpo? Pois assim vem a ser a Comunhão dos Santos para a alma. (Caminho, 544)

Vivei uma particular Comunhão dos Santos: e cada um sentirá, à hora da luta interior, e à hora do trabalho profissional, a alegria e a força de não estar só. (Caminho, 545)

Aqui estamos, consummati in unum, em unidade de petição e de intenções, dispostos a começar este tempo de conversa com o Senhor com renovado desejo de sermos instrumentos eficazes nas suas mãos. Diante de Jesus Sacramentado – como gosto de fazer um acto de fé explícita na presença real do Senhor na Eucaristia! – fomentai nos vossos corações o desejo de transmitir, pela vossa oração, um impulso fortíssimo que chegue a todos os lugares da terra, até ao último recanto do planeta, onde houver alguém gastando a sua existência ao serviço de Deus e das almas. Com efeito, graças à inefável realidade da Comunhão dos Santos, somos solidários – cooperadores, diz S. João – na tarefa de difundir a verdade e a paz do Senhor. (Amigos de Deus, 154)

Pequena agenda do cristão

SeGUNDa-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça "boa cara" que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?








Leitura espiritual


EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL
AMORIS LÆTITIA
DO SANTO PADRE
FRANCISCO
AOS BISPOS AOS PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS AOS ESPOSOS CRISTÃOS E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS SOBRE O AMOR NA FAMÍLIA 

CAPÍTULO VII

REFORÇAR A EDUCAÇÃO DOS FILHOS.

Realismo paciente.

A educação moral implica pedir a uma criança ou a um jovem apenas aquelas coisas que não representem, para eles, um sacrifício desproporcionado, exigir-lhes apenas aquela dose de esforço que não provoque ressentimento ou acções puramente forçadas. O percurso normal é propor pequenos passos que possam ser compreendidos, aceites e apreciados, e impliquem uma renúncia proporcionada. Caso contrário, pedindo demasiado, nada se obtém. A pessoa, logo que puder livrar-se da autoridade, provavelmente deixará de praticar o bem.
Por vezes, a formação ética provoca desprezo devido a experiências de abandono, desilusão, carência afectiva, ou a uma má imagem dos pais. Projectam-se sobre os valores éticos as imagens distorcidas das figuras do pai e da mãe ou as fraquezas dos adultos. Por isso, é preciso ajudar os adolescentes a porem em prática a analogia: os valores são cumpridos perfeitamente por algumas pessoas muito exemplares, mas também se realizam de forma imperfeita e em diferentes graus. E uma vez que as resistências dos jovens estão muito ligadas a experiências negativas, é preciso ao mesmo tempo ajudá-los a percorrer um itinerário de cura deste mundo interior ferido, para poderem ter acesso à compreensão e à reconciliação com as pessoas e com a sociedade.
Quando se propõe os valores, é preciso fazê-lo pouco a pouco, avançar de maneira diferente segundo a idade e as possibilidades concretas das pessoas, sem pretender aplicar metodologias rígidas e imutáveis. A psicologia e as ciências da educação, com suas valiosas contribuições, mostram que é necessário um processo gradual para se conseguir mudanças de comportamento e também que a liberdade precisa de ser orientada e estimulada, porque, abandonando-a a si mesma, não se garante a sua maturação. A liberdade efectiva, real, é limitada e condicionada. Não é uma pura capacidade de escolher o bem, com total espontaneidade. Nem sempre se faz uma distinção adequada entre acto «voluntário» e acto «livre». Uma pessoa pode querer algo de mal com uma grande força de vontade, mas por causa duma paixão irresistível ou duma educação deficiente. Neste caso, a sua decisão é fortemente voluntária, não contradiz a inclinação da sua vontade, mas não é livre, porque lhe resulta quase impossível não escolher aquele mal. É o que acontece com um dependente compulsivo da droga: quando a quer, fá-lo com todas as suas forças, mas está tão condicionado que, na hora, não é capaz de tomar outra decisão. Portanto, a sua decisão é voluntária, mas não livre. Não tem sentido «deixá-lo escolher livremente», porque, de facto, não pode escolher, e expô-lo à droga só aumenta a dependência. Precisa da ajuda dos outros e de um percurso educativo.

A vida familiar como contexto educativo.

A família é a primeira escola dos valores humanos, onde se aprende o bom uso da liberdade. Há inclinações maturadas na infância, que impregnam o íntimo duma pessoa e permanecem toda a vida como uma inclinação favorável a um valor ou como uma rejeição espontânea de certos comportamentos. Muitas pessoas actuam a vida inteira duma determinada forma, porque consideram válida tal forma de agir, que assimilaram desde a infância, como que por osmose: «Fui ensinado assim»; «isto é o que me inculcaram». No âmbito familiar, pode aprender-se também a discernir, criticamente, as mensagens dos vários meios de comunicação. Muitas vezes, infelizmente, alguns programas televisivos ou algumas formas de publicidade incidem negativamente e enfraquecem valores recebidos na vida familiar.
Na época actual, em que reina a ansiedade e a pressa tecnológica, uma tarefa importantíssima das famílias é educar para a capacidade de esperar. Não se trata de proibir as crianças de jogarem com os dispositivos electrónicos, mas de encontrar a forma de gerar nelas a capacidade de diferenciarem as diversas lógicas e não aplicarem a velocidade digital a todas as áreas da vida. O adiamento não é negar o desejo, mas retardar a sua satisfação. Quando as crianças ou os adolescentes não são educados para aceitar que algumas coisas devem esperar, tornam-se prepotentes, submetem tudo à satisfação das suas necessidades imediatas e crescem com o vício do «tudo e súbito». Este é um grande engano que não favorece a liberdade; antes, intoxica-a. Ao contrário, quando se educa para aprender a adiar algumas coisas e esperar o momento oportuno, ensina- -se o que significa ser senhor de si mesmo, autónomo face aos seus próprios impulsos. Assim, quando a criança experimenta que pode cuidar de si mesma, enriquece a própria auto-estima. Ao mesmo tempo, isto ensina-lhe a respeitar a liberdade dos outros. Naturalmente isto não significa pretender das crianças que actuem como adultos, mas também não se deve subestimar a sua capacidade de crescer na maturação duma liberdade responsável. Numa família sã, esta aprendizagem realiza-se de forma normal através das exigências da convivência.
A família é o âmbito da socialização primária, porque é o primeiro lugar onde se aprende a relacionar-se com o outro, a escutar, partilhar, suportar, respeitar, ajudar, conviver. A tarefa educativa deve levar a sentir o mundo e a sociedade como «ambiente familiar»: é uma educação para saber «habitar» mais além dos limites da própria casa. No contexto familiar, ensina-se a recuperar a proximidade, o cuidado, a saudação. É lá que se rompe o primeiro círculo do egoísmo mortífero, fazendo-nos reconhecer que vivemos junto de outros, com outros, que são dignos da nossa atenção, da nossa gentileza, do nosso afecto. Não há vínculo social, sem esta primeira dimensão quotidiana, quase microscópica: conviver na proximidade, cruzando-nos nos vários momentos do dia, preocupando-nos com aquilo que interessa a todos, socorrendo-nos mutuamente nas pequenas coisas do dia-a-dia. A família tem de inventar, todos os dias, novas formas de promover o reconhecimento mútuo.
No ambiente familiar, é possível também repensar os hábitos de consumo, cuidando juntos da casa comum: «A família é a protagonista de uma ecologia integral, porque constitui o sujeito social primário, que contém no seu interior os dois princípios-base da civilização humana sobre a terra: o princípio da comunhão e o princípio da fecundidade».
De igual modo, podem ser muito educativos os momentos difíceis e duros da vida familiar. É o que acontece, por exemplo, quando chega uma doença, porque, «diante da doença, até em família surgem dificuldades, por causa da debilidade humana. Mas, em geral, o tempo da enfermidade faz aumentar a força dos vínculos familiares. (...) Uma educação que negligencie a sensibilidade pela doença humana, torna árido o coração. E deixa os jovens “anestesiados” em relação ao sofrimento do próximo, incapazes de se confrontar com o sofrimento e de viver a experiência do limite».
O encontro educativo entre pais e filhos pode ser facilitado ou prejudicado pelas tecnologias de comunicação e distracção, cada vez mais sofisticadas. Bem utilizadas, podem ser úteis para pôr em contacto os membros da família, que vivem longe. Os contactos podem ser frequentes e ajudar a resolver dificuldades.[i]

Mas deve ficar claro que não substituem nem preenchem a necessidade do diálogo mais pessoal e profundo que requer o contacto físico ou, pelo menos, a voz da outra pessoa. Sabemos que, às vezes, estes meios afastam em vez de aproximar, como quando, na hora da refeição, cada um está concentrado no seu telemóvel ou quando um dos cônjuges adormece à espera do outro que passa horas entretido com algum dispositivo electrónico. Na família, também isto deve ser motivo de diálogo e de acordos que permitam dar prioridade ao encontro dos seus membros sem cair em proibições insensatas. Em todo o caso, não se podem ignorar os riscos das novas formas de comunicação para as crianças e os adolescentes, chegando às vezes a torná-los apáticos, desligados do mundo real. Este «autismo tecnológico» expõe-nos mais facilmente às manipulações daqueles que procuram entrar na sua intimidade com interesses egoístas.

Mas também não é bom que os pais se tornem seres omnipotentes para seus filhos, de modo que estes só poderiam confiar neles, porque assim impedem um processo adequado de socialização e amadurecimento afectivo. Para tornar eficaz o prolongamento da paternidade e da maternidade para uma realidade mais ampla, « as comunidades cristãs são chamadas a dar o seu apoio à missão educativa das famílias», particularmente através da catequese de iniciação.[ii]
Para favorecer uma educação integral, precisamos de «reavivar a aliança entre a família e a comunidade cristã».

O Sínodo quis destacar a importância das escolas católicas, que «realizam uma função vital de ajuda aos pais no seu dever de educar os filhos. (...) As escolas católicas deveriam ser incentivadas na sua missão de ajudar os alunos a crescer como adultos maduros que podem ver o mundo através do olhar de amor de Jesus e compreender a vida como uma chamada para servir a Deus».
Para isso «deve-se afirmar resolutamente a liberdade da Igreja ensinar a própria doutrina e o direito à objecção de consciência por parte dos educadores».

(cont)

(revisão da versão portuguesa por AMA)


[i] Francisco, Catequese (30 de Setembro de 2015): L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 01/X/2015), 24. 295 Idem, Catequese (10 de Junho de 2015): L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 11/VI/2015), 16.
[ii] Cf. Relatio Finalis 2015, 67.