01/10/2011

Música e oração


  Libera - Sing Forever


 selecção ALS

A nossa coroação

Para lá do Túnel
Talvez para alguém, seja um pouco chocante o título desta glosa. Mas é o caso, de que conforme as nossas crenças, as dos que as tenham naturalmente, viemos a este mundo para superar uma prova, uma prova de amor ao Senhor, nosso Pai celestial e aqueles que consigam superá-la, serão coroados, serão deificados com a glória de seu Pai celestial. Desde o baptismo todos somos filhos adoptivos do Senhor, e depois de terminar esta vida, esta condição de filhos de Deus ratificar-se-á se é que tivermos aceitado o amor de nosso Pai celestial, se não for assim, teremos escolhido ir para as trevas de Pedro Botero.

São Paulo tem uma bela passajem na sua segunda epístola a Timóteo, que diz:  “Porque eu estou a ponto de ser derramado em libação e o momento da minha partida é iminente. Competi na nobre competição, cheguei à meta na carreira, conservei a fé. E desde agora aguarda-me a coroa da justiça que naquele Dia me entregará o Senhor, o justo Juiz; e não somente a mim, mas também a todos os que tenha esperado com amor a sua Manifestação” (2Tm 4,6-8).

Juan del Carmelo, trad ama

Evangelho do dia e comentário

Stª. Teresa do Menino Jesus [i]













T. Comum– XXVI Semana




Evangelho: Lc 10, 17-24

17 Os setenta e dois voltaram alegres, dizendo: «Senhor, até os demónios se nos submetem em virtude do Teu nome». 18 Ele disse-lhes: «Eu via Satanás cair do céu como um raio. 19 Eis que vos dei poder de caminhar sobre serpentes e escorpiões, e de vencer toda a força do inimigo, e nada vos fará dano. 20 Contudo não vos alegreis porque os espíritos maus vos estão sujeitos, mas alegrai-vos porque os vossos nomes estão escritos nos céus». 21 Naquela mesma hora Jesus exultou de alegria no Espírito Santo, e disse: «Graças Te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelaste aos simples. Assim é, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado. 22 Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai; e ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai, nem quem é o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar». 23 Depois, tendo-Se voltado para os discípulos, disse: «Felizes os olhos que vêem o que vós vedes. 24 Porque Eu vos afirmo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes e não o viram, ouvir o que vós ouvis e não o ouviram».

Comentário:

Nós não vimos nem ouvimos Jesus Cristo como os setenta e dois discípulos viram e ouviram.
Mas somos igualmente felizes porque o testemunho que nos deixaram, sobretudo nos Evangelhos, é tão vivo e real que não nos deixa margem para dúvidas.

A Santa Igreja, como boa Mãe, dá-nos sobejas indicações e indica claros caminhos para percorrer-mos ao lado de Cristo.
Na nossa vida de todos os dias, encontramo-lo a cada passo e sentimos a Sua presença viva e real.

Mas, na verdade, somos ainda mais felizes que os setenta e dois, porque podemos recebê-lo, todos os dias, no Santíssimo Sacramento da Eucaristia.

Quando comungamos o nosso corpo é receptáculo do Deus Verdadeiro que Se nos entrega humilíssimamente escondido sob as espécies do Pão Consagrado.

(ama, comentário sobre Lc 10, 17-24, 2011.08.20)


[i] 
Santa Teresa do Menino Jesus
A prematura morte da sua mãe, quando tinha apenas quatro anos fez com que se apegasse a sua irmã Pauline, que elegeu para sua "segunda mãe". A repentina entrada dessa irmã no Carmelo, fez a jovem Thérèse, adoecer. Curada pela ‘Virgem do Sorriso’, imagem da Imaculada Conceição por quem seus pais tinham afeição, tomou uma
Teresa decide que quer entrar para o Carmelo (Ordem das Carmelitas Descalças). Como a pouca idade a impede, é levada por familiares, em Novembro de 1887, para uma audiência com o Papa, em Roma, para pedir a excepção. Em Abril do ano seguinte é aceita. Concedida a autorização ingressou em 9 de Abril de 1888 e tomou o nome de Thérèse de l'Enfant Jesus.
Morreu em 30 de Setembro de 1897, com apenas 24 anos. Sua irmã, Paulina, também carmelita, publicou em 1898 os escritos de Santa Teresinha, intitulados "História de uma alma". No dia 17 de Maio de 1925, Teresinha foi canonizada pelo Papa Pio XI. O mesmo Papa declara-a Padroeira Universal das Missões Católicas em 1927. O Papa João Paulo II declara-a Doutora da Igreja em 1997.
Em carta tornada pública em 1º de Outubro de 2007, o Papa Bento XVI recordou que "Teresa de Lisieux, sem haver saído de seu Carmelo, (...) viveu à sua maneira, um autêntico espírito missionário (...) oferecendo ao mundo uma nova via espiritual lhe obteve o título de Doutora da Igreja. Desde Pio XI até os nossos dias, os Papas não têm deixado de recordar os laços entre oração, caridade e acção na missão da Igreja."

No dia 19 de Outubro de 2008, Dia Mundial das Missões, em Lisieux, na basílica dedicada precisamente à sua filha, os pais de Santa Teresinha, Luís Martin e Zélia Guérin foram beatificados pela Igreja, em cerimónia presidida pelo cardeal José Saraiva Martins. Na ocasião Saraiva Martins conclamou as famílias presentes "para que imitem os dois esposos e se tornem eles próprios lares santos e missionários." Foi o segundo casal a ser beatificado pela Igreja Católica. (coligido por ama)

Princípios filosóficos do cristianismo

A Fé e a Razão

Filósofo
Rembrandt
A fé cristã, a católica pelo menos, tem convivido bem com a razão. A filosofia nasceu no seio da fé cristã com espontaneidade. A fé é a chuva que fecunda o solo da razão e o torna rico de frutos.
A relação entre razão e fé foi e deve ser uma relação de mútua veneração e ajuda no respeito da respectiva autonomia. Em primeiro lugar, são várias as razões pelas quais a fé implica a razão:
O cristianismo implica a distinção entre Deus criador e homem criado; homem criado capaz de ser interpelado pela palavra de Deus, dotado por isso de uma alma espiritual, imortal directamente criada por Deus.
Logicamente, os animais não podem ser interpelados por Deus, nem estão dotados de uma dignidade espiritaul que fundamente a moral. A moral nasce ali onde há uma dignidade humana espiritual que há-de ser respeitada em todos os momentos e nunca utilizada como meio.
Juntamente com isto, a Igreja Católica manteve que o homem pode conhecer com certeza a Deus com a luz natural da razão humana, princípio e fim de todas as coisas, partindo das coisas criadas.

(jose ramón ayllón, trad. ama)

Pensamentos inspirados à procura de Deus



À procura de Deus



Amor não é afeição.
Amor é doação.

jma, 2011.10.01

NOVEMBRO

Este mês de Novembro, como é sabido, é um mês em que a Igreja, desde a antiguidade, dedica especial atenção e relevo às Santas Almas do Purgatório, e, de um modo mais geral, à consideração da vida depois da morte, a Vida Eterna.

Muita gente tem a secreta angústia da morte.

É, para muitos, uma espécie de tabu em que não convém tocar, de que é preferível não falar.

Para outros, a morte, é uma fatalidade, uma espada impiedosa suspensa sobre a cabeça.

E há também, quem encare a morte como um meio eficaz de fazer cessar os problemas e dores desta vida.

E nós, cristãos bem formados, que queremos e desejamos manter com o nosso Criador uma relação filial e íntima ?

E nós ?

Como encaramos nós a morte ?

Antes de mais, gostaria que ficasse claro, que um cristão tem o dever, a obrigação estrita, de amar a vida e amá-la muito, porque é um dos maiores dons que Deus nos deu.

Tirar da vida todo o proveito, toda a beleza, todo o contentamento possível, com o empenhamento pessoal, com o trabalho, com a exigência do comportamento próprio, nas relações humanas, familiares ou sociais, na busca do progresso e de uma, cada vez melhor, qualidade de vida, para si e para todos, esta é, sem dúvida nenhuma, a forma cristã de encarar a vida.

É assim que Deus quer que seja, foi para isso que Deus nos criou.

Portanto, este amor à vida, que é tão profundamente humano, é perfeitamente compatível com a reflexão sobre a morte.

O cristão sabe que o espera uma vida infinitamente melhor, sem comparação possível com a desta terra, conhece perfeitamente que foi esse o desígnio de Deus ao criá-lo: Deus criou-nos para Si, e não para nós.

Deus criou-nos para sermos felizes e não para o sofrimento.

A felicidade, tal como Deus a concebe, é o próprio Deus, Ele mesmo.

Só na medida em que o homem se contemplar em Deus, como que em reflexo, é que alcança essa felicidade.

E, este estado de suprema e total felicidade, só acontece exactamente na vida eterna que é, nem mais nem menos, que a contemplação permanente de Deus cara a cara.

Mas, a morte é humanamente dolorosa!

Claro que é.

O nosso espírito e o nosso corpo repelem a morte, é a própria essência da vida humana, o desejo de permanecer, o espírito de sobrevivência, a procura instante de prolongar “in tempore” a existência.

Esta forma de sermos humanos, isto é, este nosso apego à vida, é um dom que Deus nos deu e graças ao qual evitamos, ou procuramos evitar, tudo o que pode fazer perigar a vida.

Consideramos, nós, cristãos, que temos como que duas vidas - perdoem-me a expressão -: uma vida que é a deste corpo, carne da carne dos nossos pais, e outra vida, que é a da nossa alma, que é espírito emanado do Espírito que é Deus.

As duas estão intimamente ligadas, ainda e sempre, pela Vontade Suprema do Criador, e não podem dissociar-se nunca, excepto pela mesma Vontade.

Não pode, a nossa alma, ser pura se o nosso corpo não for casto, não é possível que os nossos actos sejam reprováveis, se a nossa intenção for recta.

Daqui, por exemplo, que não é possível encontrar nenhuma razão justa para fazer terminar uma vida - aborto, eutanásia, suicídio, etc. - exactamente porque, esse direito, pertence só, e unicamente, ao nosso Criador, e, ainda, porque na verdade, nós não criamos nada, apenas nos limitamos a utilizar os meios já criados por Deus, ou por Ele inspirados.

Criar, propriamente, é fazer algo do nada, do vazio, do zero absoluto, poder que só Deus tem.

Assim, interromper voluntariamente uma vida, é interferir e intervir num campo reservado, única e exclusivamente, a Deus.

Logo, sem recta intenção, logo o acto é reprovável.

Neste apego à vida, nesta luta para a conservar, para a melhorar, para, de alguma forma, a tornar mais agradável, empenhamos todos os esforços, não nos poupamos a sacrifícios e, no entanto, sabemos, que nalgum tempo, que não temos presente, ela cessará inevitavelmente e que, esse momento, não dependerá nunca da nossa vontade.

Bom, se assim é, e é bom que assim seja, repito, não é lógico que nos empenhemos com maior vigor e dedicação a conservar, a melhorar, ou de alguma forma, tornar mais agradável aos olhos de Deus, a vida da nossa alma que nunca morrerá?

Neste tempo de Novembro, e o tempo que virá já a seguir, o Advento, a Igreja vai levar-nos, passo a passo, a essas considerações, conduzindo-nos com firmeza carinhosa para a necessidade de estarmos sempre prontos, para podermos dizer, no intimo do nosso coração, ao nosso Senhor presente no Sacrário:

- Senhor: gosto tanto de viver, mas estou pronto, quando Tu quiseres. [1]




[1] ama, Palestras no Minho, 1991

Deus é corpo?

Tratado de Deo Uno


Questão 3: Da simplicidade de Deus

Art. 1 — Se Deus é corpo


(Cont. Gent. I, 20; II, 3; compend. Theol., c. 16.)

O primeiro discute-se assim — Parece que Deus é corpo. 

1. Pois, corpo é o que tem três dimensões. Ora, a Sagrada Escritura atribui a Deus dimensão tríplice, dizendo (Job 11,8-9): Ele é mais elevado que o céu, e que farás tu? E mais profundo do que o inferno, e como o conhecerás? A sua medida é mais comprida do que a terra e mais longa que o mar.  Logo, Deus é corpo.

2. Demais — Todo figurado é corpo, pois a figura é qualidade quantitativa. Ora, Deus é figurado, como escreve a Escritura (Gn I, 26): Façamos o homem à nossa imagem e semelhança;  e a figura se chama imagem, segundo o Apóstolo (Heb I, 3):  sendo o resplendor da glória e a figura da sua substância,  i. e, a imagem. Logo, Deus é corpo.

3. Demais. — Tudo o que tem partes corpóreas é corpo. Ora, a Escritura as atribui a Deus:  Se tu tens braços como Deus (Job 40, 4);  e a destra do Senhor fez proezas (Sl 33, 16);  e os olhos do Senhor estão sobre os justos (Sl 117, 16). Logo, Deus é corpo.

4. Demais. — O corpo tem situação. Ora, o que se diz desta, a Escritura diz de Deus:  Vi ao Senhor assentado (Is 6,1);  e o Senhor está para julgar (Is 3, 13). Logo, Deus é corpo.

5. Demais. — Nada pode significar lugar donde ou para onde, sem ser corpo ou algo de corpóreo. Ora, na Escritura, Deus é denominado termo local para onde (Sl 33, 6):  Chegai-vos a ele e sereis iluminados;  e donde (Jr 17, 13): Os que se apartam de ti serão escritos sobre a terra. Logo, Deus é corpo.

Mas,  em contrário, diz a Escritura (Jo 4, 24):  Deus é espírito.

SOLUÇÃO. — Que, absolutamente, Deus não é corpo, pode-se demonstrar de três modos: Primeiro, porque nenhum corpo move sem ser movido, como claramente se induz dos casos singulares. Ora, já se demonstrou ser Deus o primeiro motor imóvel [i] . Logo, é manifesto que não é corpo; Segundo, porque é necessário que o ser primeiro exista em ato e de nenhum modo em potência. Pois, embora num mesmo ser, que passa da potência para o ato, aquela seja, temporalmente, anterior a este, em si, contudo, o ato é anterior à potência, porque o potencial não se actualiza senão pelo actual. Ora, como se demonstrou [ii], Deus é o ente primeiro; logo, é impossível existir nele algo de potencial. E, sendo todo corpo potencial, porque o contínuo, como tal é divisível ao infinito, é impossível Deus ser Corpo; Terceiro, porque Deus é o mais nobre dos seres, como do sobredito resulta [iii]. Ora, é impossível um corpo ser tal, porque todo o corpo é vivo ou não vivo. Se vivo, é manifestamente mais nobre que o não vivo; não vivendo, porém, enquanto corpo — porque então todo corpo viveria — necessariamente há-de viver por outro princípio; assim o nosso corpo vive pela alma. Ora, o princípio da vida do corpo é mais nobre que este. Logo, é impossível Deus ser corpo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Como já se disse [iv], a Sagrada Escritura nos transmite as coisas espirituais e divinas comparando-as com as corpóreas. Assim, quando atribui a Deus dimensão tríplice, designa-lhe a quantidade virtual, por comparação com a quantidade corpórea; com a profundidade atribuí-lhe a virtude de conhecer as coisas ocultas; com a altitude, a excelência da sua virtude sobre todos os seres; com a longitude, a duração do seu ser; com a latitude, o afecto de dilecção para com todos. — Ou, como diz Dionísio, pela profundidade de Deus se lhe intelige a incompreensibilidade da essência [v]; pela longitude, o processo da virtude que tudo penetra; e pela latitude, a sua super extensão sobre os seres enquanto todos caem sob a sua protecção.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O homem é considerado imagem de Deus, não pelo corpo, mas pelo que o torna mais excelente que os outros animais; por isso a Escritura, depois de ter dito (Gn I, 26):  Façamos o homem à nossa imagem e semelhança,  acrescenta: O qual presida aos peixes do mar,  etc. Ora, o homem é mais excelente que todos os animais, pela razão e pelo intelecto. Donde, pelo intelecto e pela razão, que são incorpóreos, é a imagem de Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A Escritura atribui a Deus partes corpóreas, em razão de seus actos, por uma certa semelhança. Pois, assim como o ato dos olhos é ver, atribuem-se olhos a Deus, para lhe significar a virtude visual, inteligível e não, sensivelmente, E assim, simultaneamente, em relação às outras partes.

RESPOSTA À QUARTA. — Mesmo o que é próprio da situação não se atribui a Deus, senão por semelhança; assim, diz-se que se assenta, por causa da imobilidade e autoridade; e que está de pé por causa da força em debelar tudo o que se lhe opõe.

RESPOSTA À QUINTA. — Não nos aproximamos de Deus com passos corpóreos, pois, está em toda parte; mas, com afectos mentais: e do mesmo modo, dele nos afastamos. E assim, o aproximar-se e o afastar-se, à semelhança com o movimento local, designam o afecto espiritual.



[i] q. 2, a. 3
[ii] Ibid.
[iii] q.2, a.3
[iv] q.1, a. 9
[v] cap. 9 De Div. Nom.