No
deambular diário pelos poierentos caminhos da Palestina os dias passavam
intensos e tão repletos de episódios que, confesso, me é difícil eleger um para
me expandir.
Chegado
o final do dia, quase habitualmente, estendiamos os mantos no chão e
procurávamos descansar.
Olhava
em volta a ver o que se passava com Jesus.
Como
nós, repousando sobre o Seu manto, os olhos fechados, o Seu Rosto apresentava
uma serenidade deveras extraordinária.
Ficava-me
a pensar como era possível esta serenidade com tantos episódios, alguns quase
"dramáticos", que tinham ocorrido durante o dia.
Compreendo,
hoje, que a serenidade é o "efeito" lógico e consequente da
"causa" que é a certeza de ter cumprido quanto era esperado que se
cumprisse.
A
serenidade é uma virtude importantíssima para poder não só enfrentar sem receio
o que acontece mas, também encontrar a atitude correcta a tomar.
Reagir
ao que for precipitadamente sem ponderação prévia nunca é aconselhável.
Para
ter serenidade é necessário ter paz interior, estar seguro de o que se pensa e
faz é o correcto, dominar a turba-multa das emoções e impulsos e, a paz só se
obtém com a certeza razoável de que procedemos com consciência e honestidade
absoluta.
A
Paz de Cristo, essa que Ele nos oferece... «dou-vos a Minha Paz», é a única que
nos interessa sobremaneira obter; é a que Lhe devemos pedir insistentemente.
Com
esta PAZ virá a tranquilidade interior que referi, a que nos permite ter o
espírito livre de amarras, quais forem e em consequência proceder
correctamente.
Se
os homens, todos os homens mas principalmente os que têm responsabilidades de
governação compreendessem que a paz não se impõe pela força acabariam os
confrontos, disputas e guerras.
"Si
vis pax para bellum" (se queres a paz prepara-te para a guerra) sugeria um
antiquissimo aforismo romano.
Ao
longo de milénios a humanidade sofreu por este conceito profundamente errado.
Guerras,
algumas bem recentes, outras a decorrer em várias regiões, ceifaram milhões de
vidas humanas e continuam a provocar hecatombes um pouco por toda a terra.
Quem
serão os verdadeiros "culpados"?
Tomando
como referência Hitler, se não tivesse quem seguisse as suas instruções, como
os estrategas, generais, etc. que pusessem em marcha fábricas de armamentos,
pusessem de pé exércitos formidáveis, planeassem batalhas, invasões,
elaborassem estratégias, bem poderia dizer ou ordenar o que a sua locura lhe
sugerisse, não passaria disso.
Não
sou, definitivamente não quero ser, juiz nem acusador, mas... lembro, uma outra
vez, as palavras de Cristo na Cruz: «Pai... perdoa-lhes que não sabem o que
fazem».
Hitler
era, manifestamente, um homem com profundas deficiências de carácter mas, os
Generais e estrategas que puseram em marcha as suas tresloucadas ordens
provaram, da pior forma, que eram inteligentes, capazes, competentes. A verdade
é que, sem a sua prestação bem poderia Hitler ordenar o que lhe passasse pela
tresloucada cabeça… não haveria as consequências terríveis que a humanidade
guardará por muitos anos na memória.
A
referência que faço ás palavras de Cristo na Cruz aplica-se, quanto a mim aos
que cumpriram cegamente as ordens recebidas. Seriam, na maior parte, gente
ignara, cega, sem vontade própria.
Mas,
um qualquer membro de uma, como se diz… Força Armada qual for, um vulgar Agente
da Autoridade, por exemplo, é um ser humano com responsabilidades próprias a
que não pode eximir-se.
Tem
de ser responsável – e sê-lo-á sempre – por ter executado ordens iníquas,
atentórias da dignidade humana.
Poderá
sofrer consequências graves por ter desobedecido mas, a sua consciência e
rectidão serão premiadas por Quem o irá julgar definitivamente.
Tenho
consciência que o que escrevo se baseia no conhecimento próprio. Também eu
estive na guerra. Absolutamente por acaso não tirei a vida a ninguém mas,
algumas vezes ultrapassei limites de violência na condução de interrogatórios a
prisioneiros.
A
obcecação por obter informações sobre as movimentações do inimigo levavam-me a
esses excessos. Passados mais de quarenta anos ainda me envergonho e lamento
profundamente ter feito tal.
Compreendo
que as circunstâncias eram graves, mas nunca terei justificação por ter
praticado um mal concreto para tentar obter um possível bem.
É
este um dos efeitos que as guerras provocam nas pessoas, quer nos “actores”
directos quer em muitos outros: como que uma cegueira que impede ver onde acaba
o que é legítimo fazer e onde começa o que é um abuso tentar obter.
Todos
os Papas têm falado, escrito, publicado Encíclicas sobre a paz porque sabem que
é o maior bem a que a humanidade pode aspirar.
Uma
pequena parte do dinheiro - milhões de
milhões - gastos em armamentos, exércitos, investigações acerca de armas mais
potentes e sofisticadas, seria mais que suficiente para acabar com os problemas
da fome no mundo e ainda sobraria o bastante para que cada ser humano tivesse
recursos para viver com a dignidade que legítimamente espera viver.
Penso
o que poderia acontecer se, pelo menos uma das Potências Mundiais abolisse as
suas "leis de defesa", destruísse todo o seu aparato militar,
incluindo armas e exércitos... seria que qualquer outra "potência" se
aproveitaria para a aniquilar?
Sinceramente...
duvido muito que tal acontecesse, talvez, ao invés, seguisse o exemplo e
aplicasse esses "milhões de milhões" no bem-estar do seu próprio
povo.
Tenho
por certo que se cada ser humano tiver o necessário para viver com dignidade
deixará de sentir desejo de ter mais.
Para
quê?
Muito
possivelmente alguns pensarão que o que acima escrevi não passa de um sonho
irrealista, mas, eu, permito-me pensar que, este, é o "sonho" de
Jesus Cristo para a humanidade.
….
Reflectindo
Tranquilidade
Não é primeira vez que o tema TRANQUILIDADE é objecto
de reflexão e isto porque a situação que vivo me arrasta - sem eu querer e sem
aviso - para consideração de factos, situações etc., que me inquietam e
perturbam.
Tranquilidade tem obviamente que ver com a paz
espírito pelo que, se o espírito está em paz a tranquilidade é consequente.
Não se trata de ignorar os problemas e muito menos de
os adiar, mas sim a certeza que tudo na vida tem remédio porque nada é
definitivo.
Paz, foi e é, a principal recomendação de Cristo, Ele
próprio o Príncipe da Paz, porque Ele sabia muito bem - e disse-o claramente -
que a Sua vinda a este mundo iria provocar lutas e dissensões um pouco por todo
o lado e em todas as sociedades humanas.
Mas também afirmou que tinha vencido o mundo e que,
portanto, nada teríamos a temer.
«Tende paz em
vós», disse.
É o que ambicionamos e lhe pedimos ajuda para a
conseguir.
Tranquilos, pois, tudo tem solução e nada adianta
preocupar-nos se ela tarda em concretizar-se. Acontecerá, tenhamos a certeza,
quando o Senhor quiser e achar conveniente. Ele
nunca nos abandonará!
Não é este um motivo mais que suficiente para estar
tranquilos?
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