Oitavo Mistério
Não tenhais medo
Logo
após a sua eleição como Papa, São João Paulo II assomou à loggia do
Vaticano para se dirigir à multidão que enchia a Praça aguardando com ansiedade
saber – e ver – o “novo” Papa.
As
suas primeiras palavras foram: ‘Non abbiate paura’ (Não tenhais medo).
E
foi dizendo que – possivelmente – houvesse alguma inquietação por estar ali um
novo Papa não italiano mas, talvez, ainda mais por ser oriundo de um País do
Leste Europeu, dominado pela Rússia Soviética.
Naqueles
momentos, eu, também me deixei envolver por considerações pessoais como, por
exemplo, o que seria o futuro imediato da Igreja com este homem eleito sucessor
de Pedro.
Recordei
então um livro – depois convertido em filme – que há muito lera e que ficara
gravado na minha memória: As sandálias do
pescador – (The Shoes of the Fisherman, Morris West,
1963)
O filme aborda a – na altura
hipotética – eleição de um Papa otiundo do Leste Europeu.
O interessante é que o Papa
eleito une toda a Igreja à sua volta com um governo pastoral sólido, coeerente
com a Fé Cristã e com um verdadeiro sentido universal.
Tudo
isso “já lá vai”, mas, no caso concreto da eleição de São João PauloII,
arrependo-me de ter cedido a essa tentação terrível que é fazer juízos – quando
não críticas – sobre a santidade da Igreja a que pertenço como baptizado e,
sobretudo, de dar ouvidos aos “profetas da desgraça” que tão frequentemente
opinam sobre o que chamam “Crises da Igreja”.
«Crise
na Igreja?
“A
Santa Igreja – que somos todos os cristãos – tem como Cabeça Jesus Cristo seu
Fundador.
Só
Ele pode alterar seja o que for na sua essência.
Nenhum
homem seja qual for o cargo que ocupe ou o ministério que desempenhe, tem esse
poder.
Confiemos,
pois, com a certeza que quanto maior a provação maior será o Seu cuidado.
Fujamos
da tentação de fazer juízos – mesmo íntimos – porque tal não nos compete. Rezemos
com perseverança pedindo Luz, Sabedoria e Justiça para todos, principalmente os
que mais responsabilidades possam ter na condução do Povo de Deus.”(AMA, reflexão, 2019)
“Não
compreendo que haja católicos - e, muito menos, sacerdotes - que, desde há anos,
com tranquilidade de consciência, (...) que o Papa, quando não fala ex cathedra,
é um simples doutor privado sujeito a erro. É já arrogância desmedida julgar
que o Papa se engana e eles não. Mas esquecem, além disso, que o Sumo Pontífice
não é só doutor - infalível, quando expressamente o declara - mas que também é
o Supremo Legislador.” (Cfr São Josemaria, Temas
actuais do cristianismo, 95)
Por
vezes – talvez muitas – encontro-me perante um dilema:
Onde
está Jesus, que parece estar “ausente” nas vicissitudes da minha vida, nas
“desgraças” no mundo que me rodeia e que, quase a diário, me chegam pelas
notícias, pela televisão:
Inundações,
cataclismos, violências bárbaras dos mais elementares direitos humanos, pessoas
sem abrigo, com fome, sem quaisquer recursos…?
Está,
de facto, ausente, desinteressado, “tem mais que fazer”!?
Sinto-me,
talvez, confuso e sem saber muito bem que pensar. Mas, logo caio em mim e
reconsidero:
“Esta
realidade que me atinge como um raio, deixa-me sem palavras: Jesus é meu amigo!
Sendo
eu como sou, sendo eu o que sou!
É
extraordinário!
Durante
os anos, e não são poucos, quantas conversas, quantos desabafos, queixas e
pedidos não Lhe fiz!
Meu
amigo!
Jesus
é meu amigo.
Com
esta certeza, com este AMIGO que mais posso precisar? Que posso temer!» (AMA,
orações pessoais)
E,
quase instantaneamente, oiço-Te: «Sou
Eu, não tenhas medo!» (Cfr. Lc 6, 20)
Termino
com uma oração que todos os cristãos deveríamos rezar diariamente:
“Ad Beatissimum Papam nostrum ...: Dominus
conservat eum, vivicet eum e beatum faecit in terra et non tradat eum in animam
inimicorum eius.” (Pelo Santo Padre (nome): O Senhor o
conserve, lhe dê vida, o faça santo na terra, e não permita que os seus
inimigos prevaleçam. (Trad. Livre de AMA)
– (Cfr.
São Josemaria, Preces)
E… fico em paz!”
(AMA, 2019)
[i]
Escolhi este
título para uma série de reflexões sobre os mistérios contidos no Evangelho. Se
por “mistério” consideramos algo que não entendemos inteiramente ou não
compreendemos com meridiana clareza, então julgo que o Evangelho contém muitas
atitudes, palavras, gestos de Jesus Cristo cujo verdadeiro significado e
“alcance” nos escapa.