08/08/2014

A messe é grande e poucos os operários

A messe é grande e poucos os operários. – "Rogate ergo!". – Rogai, pois, ao Senhor da messe que envie operários para o seu campo. A oração é o meio mais eficaz do proselitismo. (Caminho, 800)

Ainda ressoa no mundo aquele clamor divino: "Vim trazer fogo à Terra, e que quero senão que se ateie?". – E bem vês: quase tudo está apagado...

Não te animas a propagar o incêndio? (Caminho, 801)

Querias atrair ao teu apostolado aquele homem sábio, aquele poderoso, e aquele cheio de prudência e virtudes.

Pede por eles, oferece sacrifícios e prepara-os com o teu exemplo e com a tua palavra. – Não: vêm? – Não percas a paz; é que não são precisos.

Julgas que não havia contemporâneos de Pedro sábios e poderosos, e prudentes, e virtuosos, fora do apostolado dos primeiros doze? (Caminho, 802)

Corta o coração aquele clamor – sempre actual! – do Filho de Deus, que se lamenta porque a messe é grande e os operários são poucos.

- Esse grito saiu da boca de Cristo, para que também tu o ouvisses: como lhe respondeste até agora? Rezas, pelo menos diariamente, por essa intenção? (Forja, 906)


Para seguir o Senhor, é preciso dar-se de uma vez, sem reservas e com fortaleza: queimar as naves com decisão, para que não haja possibilidades de retroceder. (Forja, 907)

Jesus Cristo e a Igreja 26

O que é a biblioteca de Nag Hammadi?

É uma colecção de doze códices de papiro com capas de couro que foram casualmente descobertos em 1945, no alto Egipto, junto à antiga aldeia de Quenoboskion, a uns dez quilómetros da moderna cidade de Nag Hammadi. Actualmente, conservam-se no Museu Copto do Cairo, e costumam designar-se com as siglas NHC (Nag Hammadi Codices). À mesma colecção atribuem-se outros três códices, conhecidos desde o século XVIII, que se encontram em Londres (Codex Askewianus, normalmente conhecido como Pistis Sophia), Oxford (Codex Brucianus) e Berlim (Códex Berolinensis). Estes três códices, embora sejam mais tardios, procedem da mesma zona.
Os NHC foram escritos até ao ano 330 e enterrados nos finais do séc. IV ou princípios do V. Esses códices contêm umas cinquenta obras escritas em copto – a língua egípcia falada pelos cristãos do Egipto e escrita em caracteres gregos – que são traduções do grego, às vezes não muito fiáveis. Quase todas as obras são de carácter herético e reflectem distintas tendências gnósticas que, em geral, já eram conhecidas, pois foram combatidas pelos Padres da Igreja, especialmente Santo Ireneu, Santo Hipólito de Roma e Santo Epifânio. O principal contributo desses códices é podermos agora ter acesso directo às obras dos próprios gnósticos e poder-se comprovar que, efectivamente, os Santos Padres conheciam bem aquilo que enfrentavam.

Do ponto de vista literário, nos NHC estão representados os géneros mais diversos: tratados teológicos e filosóficos, apocalipses, evangelhos, orações, actos de apóstolos, cartas, etc. Por vezes os títulos não estão no original, mas foram postos pelos editores atendendo ao conteúdo. No que concerne às obras que têm como título “ evangelho”, é preciso observar que se parecem muito pouco com os evangelhos canónicos, uma vez que não apresentam uma narração da vida do Senhor, mas apenas revelações secretas que presumivelmente Jesus terá feito aos seus discípulos. Assim, por exemplo, o evangelho de Tomé, traz cento e catorze ditos de Jesus, um após outro, sem outro contexto narrativo que algumas perguntas que às vezes lhe fazem os discípulos; e o “ Evangelho de Maria [Madalena]” narra a revelação que Cristo glorioso lhe faz a ela sobre a ascensão da alma.

Do ponto de vista das doutrinas os códices contêm, em geral, obras gnósticas cristãs, se bem que em algumas, como no “Apócrifo de João” (um dos mais importantes, uma vez que se encontra em quatro códices), os traços cristãos parecem secundários em relação ao mito gnóstico que constitui o seu núcleo.
Neste mito interpretam-se em sentido inverso os primeiros capítulos do Génesis, apresentando o Deus criador ou Demiurgo como um deus inferior e perverso que criou a matéria. Mas nos códices há também obras gnósticas não cristãs, que recolhem uma gnose greco-pagã, desenvolvida em torno da figura de Hermes Trismegisto, considerado o grande revelador do conhecimento (“Discurso do oito e do nove”). Este tipo de gnose era conhecida em parte, já antes das descobertas. Inclusivamente, em NHC VI, é recolhido um fragmento da “ República”, de Platão.

© www.opusdei.org - Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade de Navarra, dirigida por Francisco Varo.


Temas para meditar 199


Anjos




O nome que a Sagrada Escritura lhes dá, indica que o que mais conta na Revelação é a verdade sobre as tarefas dos anjos com respeito aos homens: anjo quer dizer, com efeito, mensageiro.



(são joão paulo ii Audiência geral 1986.07.30)

Tratado da lei 78

Questão 106: Da lei do Evangelho, chamada nova, considerada em si mesma.

Em seguida devemos tratar da lei do Evangelho, chamada lei nova. E primeiro, considerada em si mesmo. Segundo, comparada com a lei antiga. Terceiro, do que a lei nova contém.

Na primeira questão discutem-se quatro artigos:

Art. 1 — Se a lei nova é uma lei escrita.
Art. 2. — Se a lei nova justifica.
Art. 3 — Se a lei nova devia ter sido dada desde o princípio do mundo.
Art. 4 — Se a lei nova há-de durar até o fim do mundo.

Art. 1 — Se a lei nova é uma lei escrita.

[Art. Seq., q. 107, a. 1, ad 2, 3, q. 108, a. 1. II Cor., cap. III, lect, II, Ad Hebr., cap. VIII, lect. II].

O primeiro discute-se assim. — Parece que a lei nova é uma lei escrita.

1. — Pois, a lei nova é o próprio Evangelho. Ora, este é escrito (Jo 20, 31): Mas, foram escritas estas coisas, a fim de que vós creiais. Logo, a lei nova é uma lei escrita.

2. Demais. — A lei infusa é a da natureza, conforme a Escritura (Rm 2, 14-15): Naturalmente fazem as coisas que são da lei os que mostram a obra da lei escrita nos seus corações. Se pois a lei do Evangelho fosse infusa, não diferiria da lei natural.

3. Demais. — A lei do Evangelho é própria dos que vivem no regime do Novo Testamento. Ora, a lei infusa é comum tanto a esses como aos que viveram no regime do Velho Testamento. Pois, diz a Escritura (Sb 7, 27), que a divina Sabedoria, pelas nações, se transfunde nas almas santas, forma os amigos de Deus e os profetas. Logo, a lei nova não é uma lei infusa.

Mas, em contrário, a lei nova é a lei do Novo Testamento. Ora, esta é infusa no coração. Pois, o Apóstolo, citando a autoridade da Escritura (Jr 31, 31-33) — Eis aí virão os dias, diz o Senhor, e farei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá — e expondo qual seja essa aliança, diz (Heb 8, 8-10): Porque este é o testamento que ordenarei à casa de Israel, imprimindo as minhas leis na mente deles, e as escreverei sobre o seu coração. Logo, a lei nova é infusa.

Todo o ser é considerado como sendo o que nele é principal, consoante o Filósofo. Ora, o que há de principal na lei do Novo Testamento, e no que consiste toda a sua virtude, é a graça do Espírito Santo, dada pela fé em Cristo. Donde, a lei nova é principalmente a própria graça do Espírito Santo, dada aos fiéis de Cristo. E isto torna-se manifesto pelas palavras do Apóstolo (Rm 3, 27): Onde está o motivo de te gloriares? Todo ele foi excluído. Por que lei? Pela das obras? Não, mas pela lei da fé — chamando, assim, lei à graça mesma da fé. E mais expressamente (Rm 8, 2): A lei do espírito de vida em Jesus Cristo me livrou da lei do pecado e da morte. Por isso diz Agostinho, que, assim como a lei das acções foi escrita em tábuas de pedra, assim, a lei da fé o foi nos corações dos fiéis. E noutro lugar do mesmo livro: Que são as leis de Deus por Ele próprio escritas nos corações, senão a própria presença do Espírito Santo?

Contudo, a lei nova encerra certos preceitos como que secundários disponentes à graça do Espírito Santo e ao uso dessa graça. E sobre eles era necessário que os fiéis de Cristo fossem instruídos por palavras e escrituras, tanto em relação ao que devem crer como ao que devem agir.

Donde, devemos dizer, que a lei nova é principalmente uma lei infusa, e, secundariamente, uma lei escrita.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O escrito nos Evangelhos não contém senão o que diz respeito à graça do Espírito Santo, quer dispondo, quer ordenando para o uso dessa graça. Dispondo o intelecto pela fé, pela qual se obtém a graça do Espírito Santo, o Evangelho encerra o concernente à manifestação da divindade ou da humanidade de Cristo. Quanto ao afecto, contém o atinente ao desprezo do mundo, que torna o homem capaz da graça do Espírito Santo, pois, o mundo, i. é, os amantes do mundo, não podem receber o Espírito Santo, como diz a Escritura (Jo 14, 17). Quanto ao uso da graça espiritual, ele consiste nos actos virtuosos, aos quais frequentemente o escrito do Novo Testamento exorta os homens.

RESPOSTA À SEGUNDA. — De dois modos pode haver algo de infuso no homem. — Primeiro, como fazendo parte da natureza humana. E nesse sentido a lei natural é nela infusa. — De outro modo, como lhe sendo acrescentado à natureza pelo dom da graça. E deste modo a lei nova é infusa no homem, e indica não só o que ele deve fazer, mas também o ajuda a cumprir a lei.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Ninguém nunca teve a graça do Espírito Santo, senão por fé explícita ou implícita em Cristo. Ora, pela fé em Cristo o homem pertence ao Novo Testamento. Donde, aqueles a quem foi infundida a lei da graça pertenciam ao Novo Testamento.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evang.; Coment.; Leit. Esp. (Cong para a Dout. da Fé - Atendimento das pessoas homossexuais)

Tempo comum XIX Semana

Evangelho: Mt 16, 24-28

24 Então, Jesus disse aos Seus discípulos: «Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. 25 Porque quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a sua vida por amor de Mim, achá-la-á. 26 Pois, que aproveitará a um homem ganhar todo o mundo, se vier a perder a sua alma? Ou que dará um homem em troca da sua alma? 27 Porque o Filho do Homem há-de vir na glória de Seu Pai com os Seus anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras. 28 Em verdade vos digo que, entre aqueles que estão aqui presentes, há alguns que não morrerão antes que vejam vir o Filho do Homem com o Seu reino».

Comentário:

A vida de um cristão autêntico parece ser algo de pesado, angustiante, de luta contínua.

Pode parecer a alguns que assim é mas, estão enganados.

A cruz é comum a todos os homens que, uns mais outros menos, têm de suportá-la e conviver com ela. Faz parte integrante da condição humana.

Mas, o cristão autêntico, tem-na como um sinal indelével da sua pertença a Cristo que nos redimiu – a todos – numa Cruz.
E vive a sua vida – a sua cruz – com a alegria que as pequenas vitórias diárias proporcionam e, convenhamos, não há maior alegria que vencer!

(AMA, comentário sobre Mt 16, 24-28, 2014.05.20)

Leitura espiritual




Documentos do Magistério

Congregação para a Doutrina da Fé

CARTA AOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA
SOBRE O ATENDIMENTO PASTORAL
DAS PESSOAS HOMOSSEXUAIS
…/2

10. É de se deplorar firmemente que as pessoas homossexuais tenham sido e sejam ainda hoje objecto de expressões malévolas e de ações violentas. Semelhantes comportamentos merecem a condenação dos pastores da Igreja, onde quer que aconteçam. Eles revelam uma falta de respeito pelos outros que fere os princípios elementares sobre os quais se alicerça uma sadia convivência civil. A dignidade própria de cada pessoa deve ser respeitada sempre, nas palavras, nas ações e nas legislações.

Todavia, a necessária reacção diante das injustiças cometidas contra as pessoas homossexuais não pode levar, de forma alguma, à afirmação de que a condição homossexual não seja desordenada. Quando tal afirmação é aceite e, por conseguinte, a actividade homossexual é considerada boa, ou quando se adopta uma legislação civil para tutelar um comportamento ao qual ninguém pode reivindicar direito algum, nem a Igreja nem a sociedade em seu conjunto deveriam surpreender-se se depois também outras opiniões e práticas distorcidas ganham terreno e se aumentam os comportamentos irracionais e violentos.

11. Alguns afirmam que a tendência homossexual, em certos casos, não é fruto de uma opção deliberada e que a pessoa homossexual não tem outra alternativa, sendo obrigada a comportar-se de modo homossexual. Por conseguinte, afirma-se que, em tais casos, ela agiria sem culpa, não sendo realmente livre.

A este propósito, é necessário referir-se à sábia tradição moral da Igreja, que alerta para as generalizações no julgamento dos casos individuais. De facto, em um determinado caso, podem ter existido no passado, e podem subsistir ainda, circunstâncias tais que reduzem ou até mesmo eliminam a culpa do indivíduo; outras circunstâncias, ao contrário, podem agravá-la. Em todo caso, deve evitar-se a presunção infundada e humilhante de que o comportamento homossexual das pessoas homossexuais esteja sempre e totalmente submetido à coacção e, portanto, seja sem culpa. Na realidade, também às pessoas com tendência homossexual deve ser reconhecida aquela liberdade fundamental que caracteriza a pessoa humana e lhe confere a sua particular dignidade. Como em toda conversão do mal, graças a tal liberdade, o esforço humano, iluminado e sustentado pela graça de Deus, poderá permitir-lhes evitar a actividade homossexual.

12. Que deve fazer, então, uma pessoa homossexual que procura seguir o Senhor? Substancialmente, tais pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus na sua vida, unindo ao sacrifício da cruz do Senhor todo o sofrimento e dificuldade que possam experimentar por causa da sua condição. Para quem crê, a cruz é um sacrifício frutuoso, pois daquela morte derivam a vida e a redenção. Ainda que se possa prever que qualquer convite a carregar a cruz ou a compreender de tal forma o sofrimento do cristão será ridicularizado por alguns, é preciso recordar que é este o caminho da salvação para todos aqueles que seguem o Cristo.

Não é outro, na realidade, o ensinamento transmitido pelo apóstolo Paulo aos Gálatas, quando diz que o Espírito produz na vida do fiel «amor, alegria, paz, paciência, benevolência, bondade, fidelidade, mansidão e autodomínio» e, mais adiante: «Não podeis pertencer a Cristo sem crucificar a carne com as suas paixões e os seus desejos» (Gal 5, 22. 24).

Todavia, este convite é facilmente mal interpretado, se é considerado apenas como um inútil esforço de auto-renegação. A cruz é, sem dúvida, renegação de si mesmo, mas no abandono à vontade daquele Deus que da morte faz brotar a vida e habilita os que nele depositam a sua confiança a praticarem a virtude em lugar do vício.

Só se celebra autenticamente o Mistério Pascoal quando se deixa que ele impregne o tecido da vida quotidiana. Recusar o sacrifício da própria vontade na obediência à vontade do Senhor é, de facto, opor obstáculo à salvação. Exactamente como a Cruz é o centro da manifestação do amor redentor que Deus tem por nós em Jesus, assim o facto de conformarem a negação de si mesmos ao sacrifício do Senhor constituirá para homens e mulheres homossexuais uma fonte de auto-doação que os salvará de uma forma de vida que continuamente ameaça destruí-los.

As pessoas homossexuais, como os demais cristãos, são chamadas a viver a castidade. Dedicando-se com assiduidade a compreender a natureza do chamado pessoal que Deus lhes dirige, serão aptas a celebrar mais fielmente o sacramento da Penitência e a receber a graça do Senhor que, neste mesmo sacramento, se oferece para generosamente poderem converter-se mais plenamente ao seu seguimento.

13. É evidente, por outro lado, que uma clara e eficaz transmissão da doutrina da Igreja a todos os fiéis e à sociedade no seu conjunto depende em grande parte do ensinamento correcto e da fidelidade daqueles que exercem o ministério pastoral. Os Bispos têm a responsabilidade particularmente grave de preocupar-se que seus colaboradores no ministério e, sobretudo, os sacerdotes, sejam correctamente informados e pessoalmente bem dispostos a comunicar a todos a doutrina da Igreja na sua integridade.

São dignas de admiração a particular solicitude e a boa vontade demonstradas por muitos sacerdotes e religiosos, no atendimento pastoral às pessoas homossexuais; esta Congregação espera que tal solicitude e boa vontade não diminuam. Estes zelosos ministros devem nutrir a certeza de que estão seguindo fielmente a vontade do Senhor quando encorajam a pessoa homossexual a levar uma vida casta e relembram a dignidade incomparável que Deus lhe deu também.

14. Considerando tudo o que precede, esta Congregação deseja pedir aos Bispos que sejam particularmente vigilantes com relação aos programas que, de facto, tentam exercer pressão sobre a Igreja a fim de que ela mude a sua doutrina, embora às vezes, verbalmente neguem que seja assim. Um estudo atento das declarações públicas neles contidas e das actividades que promovem revela uma calculada ambiguidade, através da qual procuram desviar pastores e fiéis. Por exemplo, costumam citar o ensinamento do Magistério, mas somente como uma fonte facultativa na formação da consciência; a sua autoridade peculiar não é reconhecida. Alguns grupos costumam até mesmo qualificar de «católicas» as suas organizações ou as pessoas às quais pretendem dirigir-se, mas, na realidade, não defendem nem promovem o ensinamento do Magistério; ao contrário, às vezes, atacam-no abertamente. Mesmo reafirmando a vontade de conformar sua vida ao ensinamento de Jesus, de facto os membros desses grupos abandonam o ensinamento da Sua Igreja. Este comportamento contraditório de forma alguma pode receber o apoio dos Bispos.

15. Esta Congregação encoraja, pois, os Bispos a promoverem, nas suas dioceses, uma pastoral para as pessoas homossexuais, plenamente concorde com o ensinamento da Igreja. Nenhum programa pastoral autêntico poderá incluir organizações em que pessoas homossexuais se associem entre si, sem que fique claramente estabelecido que a actividade homossexual é imoral. Uma atitude verdadeiramente pastoral incluirá a necessidade de evitar, para as pessoas homossexuais, as ocasiões próximas de pecado.

Devem ser encorajados os programas em que tais perigos sejam evitados. Mas é necessário deixar bem claro que afastar-se do ensino da Igreja ou fazer silêncio em torno dele, sob o pretexto de oferecer um atendimento pastoral, não é forma legítima nem de autêntica atenção nem de pastoral válida. Em última análise, somente aquilo que é verdadeiro pode ser também pastoral. Quando não se tem presente a posição da Igreja, impede-se a homens e mulheres homossexuais de receberem o atendimento de que necessitam e ao qual têm direito.

Um programa pastoral autêntico ajudará as pessoas homossexuais em todos os níveis da sua vida espiritual, mediante os sacramentos e, particularmente, a frequente e sincera confissão sacramental, como também através da oração, do testemunho, do aconselhamento e da atenção individual. Desta forma, a comunidade cristã na sua totalidade pode chegar a reconhecer sua vocação de assistir estes seus irmãos e irmãs, evitando-lhes tanto a desilusão como o isolamento.

16. Desta abordagem diversificada podem advir muitas vantagens, entre as quais não menos importante é a constatação de que uma pessoa homossexual, como, de resto, qualquer ser humano, tem uma profunda exigência de ser ajudada contemporaneamente em vários níveis.

A pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, não pode definir-se cabalmente por uma simples e redutiva referência à sua orientação sexual. Toda e qualquer pessoa que vive sobre a face da terra conhece problemas e dificuldades pessoais, mas possui também oportunidades de crescimento, recursos, talentos e dons próprios. A Igreja oferece ao atendimento da pessoa humana aquele contexto de que hoje se sente a exigência extrema, e o faz exatamente quando se recusa a considerar a pessoa meramente como um «heterossexual» ou um «homossexual», sublinhando que todos têm uma mesma identidade fundamental: ser criatura e, pela graça, filho de Deus, herdeiro da vida eterna.

17 Apresentando à atenção dos Bispos esses esclarecimentos e orientações pastorais, esta Congregação deseja ajudar os seus esforços no sentido de assegurar que o ensinamento do Senhor e da Sua Igreja acerca deste importante tema seja transmitido integralmente a todos os fiéis.

À luz do que se acaba de expor, os Ordinários locais são convidados a avaliar, no âmbito da própria competência, a necessidade de particulares iniciativas. Além disso, se julgarem útil, poder-se-á recorrer a uma acção mais extensa, coordenada a nível das Conferências episcopais nacionais.

Os Bispos serão particularmente solícitos em apoiar com todos os meios à sua disposição, o desenvolvimento de formas especializadas de atendimento pastoral às pessoas homossexuais. Isso poderia incluir a colaboração das ciências psicológicas, sociológicas e médicas, mantendo-se sempre na plena fidelidade à doutrina da Igreja.

Os Bispos, sobretudo, não deixarão de solicitar a colaboração de todos os teólogos católicos, os quais, ensinando o que a Igreja ensina e aprofundando com as suas reflexões o significado autêntico da sexualidade humana e do matrimónio cristão no plano divino, como também das virtudes que este comporta, poderão desta forma oferecer um válido auxílio neste campo específico da atividade pastoral.

Particular atenção deverão ter os Bispos, além disso, ao escolher os ministros a serem encarregados desta delicada tarefa, de modo que estes, graças à sua fidelidade ao Magistério e ao seu elevado grau de maturidade espiritual e psicológica, possam ser de real ajuda às pessoas homossexuais, de forma que elas alcancem o seu bem integral. Tais ministros rechaçarão as opiniões teológicas que são contrárias ao ensinamento da Igreja e que, portanto, não podem servir como diretrizes no campo pastoral.

Será conveniente além disso promover adequados programas de catequese, baseados na verdade acerca da sexualidade humana, na sua relação com a vida da família, tal como é ensinada pela Igreja. Tais programas, com efeito, fornecem um óptimo contexto, dentro do qual pode ser abordada também a questão do homossexualismo.

Esta catequese poderá ajudar inclusive as famílias em que se encontrem pessoas homossexuais, a enfrentar um problema que as atinge tão profundamente.

Deve ser retirado todo apoio a qualquer organização que procure subverter o ensinamento da Igreja, que seja ambígua quanto a ele ou que o transcure completamente. Tal apoio, mesmo só aparente, pode dar origem a mal entendidos graves. Uma atenção especial deveria ser dedicada à programação de celebrações religiosas e ao uso, por parte desses grupos, de edifícios de propriedade da Igreja, inclusive a possibilidade de dispor das escolas e dos institutos católicos de estudos superiores. Para alguns, tal permissão de utilizar uma propriedade da Igreja pode parecer apenas um gesto de justiça e de caridade, mas, na realidade, ela contradiz as finalidades mesmas para as quais aquelas instituições foram fundadas, e pode ser fonte de mal entendidos e de escândalo.

Ao avaliar eventuais projetos legislativos, dever-se-á pôr em primeiro plano o empenho na defesa e promoção da vida da família.

18. O Senhor Jesus disse: «Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará» (Jo 8, 32). A Sagrada Escritura manda-nos realizar a verdade na caridade (cfr. Ef 4, 15). Deus, que é ao mesmo tempo verdade e amor, chama a Igreja a pôr-se ao serviço de cada homem, mulher e criança, com a solicitude pastoral do nosso Senhor misericordioso. É com este espírito que a Congregação para a Doutrina da Fé endereça a presente Carta aos Bispos da Igreja, na esperança de que lhes sirva de ajuda no atendimento pastoral a pessoas cujos sofrimentos só poderão agravar-se por doutrinas erróneas, enquanto a palavra da verdade os aliviará.

O Sumo Pontífice João Paulo II, no decurso da Audiência concedida ao Prefeito abaixo-assinado, aprovou e ordenou a publicação da presente Carta, decidida em reunião ordinária desta Congregação.

Roma, da sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 1º de Outubro de 1986.

Joseph Card. Ratzinger
Prefeito

+ Alberto Bovone
Arcebispo Tit. de Cesaréia de Numídia
Secr

(Revisão da versão portuguesa por ama)