Semana VII da Páscoa
Evangelho:
Jo 17 11-19
11 Já não estou no
mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou para Ti. Pai Santo, guarda em Teu nome
aqueles que Me deste para que sejam um, assim como Nós. 12 Quando Eu estava com
eles, os guardava em Teu nome. Conservei os que Me deste; nenhum deles se
perdeu, excepto o filho da perdição, cumprindo-se a Escritura. 13 Mas agora vou
para Ti e digo estas coisas, estando ainda no mundo, para que eles tenham em si
mesmos a plenitude da Minha alegria. 14 Dei-lhes a Tua palavra, e o mundo
odiou-os, porque não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. 15 Não peço
que os tires do mundo, mas que os guardes do mal. 16 Eles não são do mundo,
como Eu também não sou do mundo. 17 Santifica-os na verdade. A Tua palavra é a
verdade. 18 Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo. 19
Por eles Eu santifico-Me a Mim mesmo, para que também sejam santificados na
verdade.
Comentário:
Prossegue
a Oração Sacerdotal de Jesus Cristo na Última Ceia.
O
Evangelista – testemunha rigorosa e atenta – não perde uma palavra do Senhor.
Considerou – e muito bem – que todas eram de capital importância para todos os
vindouros perceberem exactamente o Testamento – assim lhe podemos chamar – do
Senhor.
Comove-nos
a solicitude do Salvador a Sua excelência amorosa e intencional de deixar tudo
absolutamente claro e transparente.
Pode,
talvez, resumir-se dizendo o que O levou a encarnar-se como homem igual a nós:
que fossemos santos como Ele é Santo.
(ama, comentário sobre Jo 17, 11-19, 2014.06.04)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
PRIMEIRA PARTE
xiv -o espírito das bem-aventuranças
…/6
xv os frutos do espírito santo
breve exposição sobre os frutos
Contemplados desta forma podemos
considerar os Frutos do Espírito Santo como os verdadeiros canais por onde
transcorre a santificação do homem e ao mesmo tempo a manifestação do resultado
dessa santificação.
Ao viver segundo o espírito das
Bem-Aventuranças desenvolve a «participação na natureza divina» que é a Graça e
vai-se configurando com Cristo na medida em que a sua acção manifesta a presença
dessa disposições do seu actuar.
Numa brevíssima consideração – a matéria
exige um trabalho diferente do actual – para assinalar o seguinte.
No viver estes
Frutos já se dá uma certa doçura e um certo gozo, deleite espiritual de que
falam tantos autores, de entre eles, Santo Agostinho e São Tomás.
Os Frutos do Espírito Santo, enquanto
acções ordenadas ao fim da vida eterna também podem ser apreciados como flores e
enquanto flores levam escondido e constituído o gozo do adiantamento da
bem-aventurança eterna.
Assim
considerados, os Frutos-Flores comunicam à alma o aroma de Deus nela, o «bom
aroma de Cristo» de que fala o Apóstolo: «Pois nós somos para Deus o bom aroma
de Cristo entre os que se salvam e entre os que se perdem» ().
Dos nove Frutos que actual versão da
Vulgata recolhe podemos considerar que cinco fazem referência directa à
Caridade: Caridade, Gozo, Castidade, Bondade e Benignidade.
Três à
Esperança: Longanimidade, Mansidão e paz e Um à Fé: Fidelidade.
O Fruto da Caridade é o sinal mais claro
de que o Espírito Santo está na alma.
É um amor e
uma delicadeza ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo que o homem considera
sempre inapropriado ainda que ame profundamente a Deus desde o mais profundo da
alma.
Este amor,
esta caridade, não precisa de ser acompanhado por nenhum sentimento ainda que
por vezes possa estará acompanhado de emoções fortes e se enraíza na alma
piedosa ainda que dentro de uma perda quase completa de sensibilidade interna e
externa.
O amor a Deus está unido ao amor aos
irmãos, ao próximo: «Se alguém diz: ‘Amo a Deus’ e aborrece o seu irmão é um
mentiroso pois quem não ama o seu irmão o qual vê não pode amar a Deus a Quem
não vê. E temos este mandamento de Deus que quem ama a Deus ame também o seu
irmão» ().
Amor a Deus e em Deus e por Deus, amor
ao homem.
A este amor se
referirá o Senhor quando disse aos Apóstolos: «Nisto conhecerão que sois meus
discípulos se vos amais uns aos outros» ().
A Caridade assim vivida torna possível o
testemunho de amor a Deus que os mártires dão.
No «martírio
do fogo», na morte confessando a Fé, e no serviço abnegado aos doentes e aos
filhos, aos necessitados, a caridade manifesta-se em toda a sua grandeza e
majestade.
O Gozo é o descanso da posse de Deus
pelo amor, melhor, é saber-nos possuídos pelo amor de Deus, Pai, Filho,
Espírito Santo.
A Fé
robustece-se na medida em que o homem ama a Deus e se sabe amado por Deus e se
alegra por conhecer a Quem conhece e por amar a Quem ama.
Com es Fruto o
homem vive a recomendação de São Paulo: «Alegrai-vos sempre no Senhor, repito-vos,
alegrai-vos» ().
Podemos afirmara que o Gozo é o aroma da
inabitação do Espírito Santo na alma do crente e a manifestação do próprio gozo
de Cristo ao ser acolhido pela fé do crente.
O próprio
Jesus Cristo disse-o aos Apóstolos no discurso de despedida: «Como o Pai me
amou também Eu vos amei, permanecei no meu amor. Se guardardes os meus
preceitos, permanecereis no meu amor como eu guardei os preceitos de meu Pai e
permaneço no seu amor. Digo-vos isto para que eu goze em vós e o vosso gozo se
cumpra» ().
O Espírito Santo entranhado no espírito
central da pessoa, de todo o homem na sua totalidade, e na harmonia do
conjunto, dirige as suas actuações – na unidade de alma e corpo – à glória de
Deus e descobre o verdadeiro gozo em saber-se querido e amado por Deus em viver
com Cristo a sua Cruz e a sua Ressurreição.
A Madre Teresa de Calcutá escreve: «A
alegria de amar a Jesus procede da alegria em partilhar os seus sofrimentos.
Por isso não
te permitas estar nem preocupado nem angustiado, crê na alegria da
Ressurreição.
Nas nossas
vidas como na vida de Jesus a Ressurreição tem que vir, a alegria da Páscoa tem
que amanhecer» ().
A acção do Espírito Santo incide também
na ordem recta da sexualidade.
O Fruto da
Castidade leva a viver a corporeidade sexuada de cada pessoa em concordância
com os planos de Deus e ao serviço dos desejos de Deus ao criar o mundo, ao
serviço da permanência do amor no mundo e que desse amor surjam novos seres
humanos.
O Fruto da Castidade – uso recto da
sexualidade – vive-se na plenitude de cada estado do homem no celibato e no
matrimónio.
No matrimónio
a castidade vivida na ordem de Deus
acrescenta o amor dos esposos e engendra filhos frutos desse amor.
No celibato
vivido no amor de Deus, torna-se possível uma fraternidade e uma paternidade e
maternidade ao serviço dos outros seres humanos.
A virgindade e
o celibato natural hão-de converter-se em maternidade e paternidade espiritual
se realmente são vividos em caridade no amor de Deus.
Com o Fruto da Bondade o Espírito Santo
faz germinar no homem uma disposição da vontade que leva a alma a desejar aos
outros toda a classe de bens e a gozar ao ver os outros receber esses bens.
Arranca do
homem qualquer rasto de egoísmo e inveja.
São Paulo expressa o conteúdo deste
Fruto nas primeiras palavras do seu hino à Caridade: «A Caridade é sofredora,
benfeitora, não tem inveja… não pensa mal» ().
De certo modo todo o cristão que vive a
Bondade reflecte o viver de Cristo que veio à terra para que todos os homens
«tenha vida e a tenha em abundância» (),
e em concordância com o convite do
Apóstolo, se alegra com os que se alegram e chora com os que choram e faz suas
a s suas palavras: «Não há para Mim maior alegria que ouvir que os Meus filhos
caminham na verdade» ().
A Benignidade ´
E o último dos
cinco Frutos que relacionámos coma Caridade é a culminação e a participação do
homem em fazer aos outros o bem que Deus quer levar a cabo nesta terra.
A vida da
«nova criatura» em Cristo comporta desenvolver as disposições de Cristo e
deixar que o coração se mova pelos mesmos sentimentos que impulsionaram o
coração de Cristo.
«A Caridade
não é ambiciosa, não procura os seus interesses» ().
O Benigno goza em servir e vive o
espírito de Cristo que disse de si próprio: «O Filho do Homem não veio para ser
servido mas para servir e dar a vida pela redenção de muitos» ().
Os Frutos da Longanimidade ou
Magnanimidade, da Mansidão e da Paz tornam possível viver a esperança
sobrenatural.
A Magnanimidade mantém a mente sempre
aberta aos horizontes de Deus sobre o homem.
Torna possível
que o crente espere confiando, «contra toda a esperança» que se realizem nele
os desígnios da misericórdia divina para a santidade da sua alma, sem se deixar
levar por amarguras demasiado humanas.
O magnânimo
sabe esperar todo o tempo que Deusa disponha porque sabe que está chamado a ser
«Santo» a viver na amizade com Deus.
Consciente da realidade de que Deus é
Pai e que procura sempre e em tudo o bem de cada um dos seus filhos, o magnânimo
torna realidade na sua alma as palavras de São Paulo aos romanos: «E, além
disso, o Espírito vem em ajuda da nossa fraqueza poi nós não sabemos pedir como
convém mais o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis e o que
perscruta os corações conhece qual é a aspiração do Espírito e que a sua
intercessão em favor dos santos é sundo Deus.
De resto
sabemos que Deus intervém em todas as coisas para bem dos que O amam, daqueles
que foram chamados segundo o seu desígnio» ().
O Magnânimo está sempre na disposição de
dizer ao Senhor: A quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. E nós
acreditamos e conhecemos que tu és o Cristo o Filho de Deus vivo» ().
Na Santíssima Virgem contemplamos um
exemplo vivo de Magnanimidade quando abre completamente o seu espírito a Deus e
se oferece sem limites: «Faça-se em mim segundo a Tua palavra» ().
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)