29/08/2016

S. Pedro e S. Paulo, apóstolos

Ânimo! Tu... podes. – Vês o que fez a graça de Deus com aquele Pedro dorminhoco negador e cobarde...; com aquele Paulo perseguidor, odiento e pertinaz? (Caminho, 483)

Pedro diz-Lhe: "Senhor, Tu lavares-me os pés, a mim?!". Responde Jesus: "O que Eu faço, não o compreendes agora; entendê-lo-ás depois". Insiste Pedro: "Tu nunca me lavarás os pés!". Replicou Jesus: "Se Eu não te lavar, não terás parte coMigo". Simão Pedro rende-se: "Senhor, não só os pés, mas também as mãos e a cabeça!".

Ao chamamento a uma entrega total, completa, sem vacilações, muitas vezes opomos uma falsa modéstia como a de Pedro... Oxalá fôssemos também homens de coração, como o Apóstolo! Pedro não admite que ninguém ame Jesus mais do que ele. Esse amor leva-o a reagir assim: – Aqui estou! Lava-me as mãos, a cabeça, os pés! Purifica-me de todo, que eu quero entregar-me a Ti sem reservas! (Sulco, 266)


"Pesa sobre mim a solicitude por todas as igrejas", escrevia S. Paulo; e este suspiro do Apóstolo recorda a todos os cristãos – também a ti! – a responsabilidade de pôr aos pés da Esposa de Jesus Cristo, da Igreja Santa, o que somos e o que podemos, amando-a muito fielmente, mesmo à custa da bens, da honra e da vida. (Forja, 584)

Evangelho e comentário


Tempo Comum

Martírio de São João Baptista [i]

Evangelho: Mc 6, 17-29

17 Porque Herodes tinha mandado prender João, e teve-o a ferros numa prisão por causa de Herodíades, mulher de Filipe, seu irmão, com a qual tinha casado. 18 Porque João dizia a Herodes: «Não te é lícito ter a mulher de teu irmão». 19 Herodíades odiava-o e queria fazê-lo morrer; porém, não podia, 20 porque Herodes, sabendo que João era varão justo e santo, olhava-o com respeito, protegia-o e quando o ouvia ficava muito perplexo, mas escutava-o com agrado. 21 Chegou, porém, um dia oportuno, quando Herodes, no seu aniversário natalício, deu um banquete aos grandes da corte, aos tribunos e aos principais da Galileia. 22 Tendo entrado na sala a filha da mesma Herodíades, dançou e agradou a Herodes e aos seus convidados. O rei disse à jovem: «Pede-me o que quiseres e eu to darei». 23 E jurou-lhe: «Tudo o que me pedires te darei, ainda que seja metade do meu reino». 24 Ela, tendo saído, perguntou à mãe: «Que hei-de pedir?». Ela respondeu-lhe: «A cabeça de João Baptista». 25 Tornando logo a entrar apressadamente junto do rei, fez este pedido: «Quero que me dês imediatamente num prato a cabeça de João Baptista». 26 O rei entristeceu-se, mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis desgostá-la. 27 Imediatamente mandou um guarda com ordem de trazer a cabeça de João. Ele foi degolá-lo no cárcere, 28 levou a sua cabeça num prato, deu-a à jovem, e esta deu-a à mãe. 29 Tendo sabido isto os seus discípulos, foram, tomaram o corpo e o depuseram num sepulcro.

Comentário:

Talvez que esta seja uma das páginas mais tristes do Evangelho diria mesmo macabras.
Todo o contexto relatado com detalhe por São Marcos, deixa-nos um sentimento de repulsa que dificilmente podemos evitar.
O personagem sinistro de Herodes é o paradigma dos piores defeitos que o homem pode ter, desde a luxúria desenfreada, ao desprezo pela vida humana, ao orgulho, à mentira, à venalidade exacerbada.

Que conste: Em todo o Evangelho foi a única pessoa a quem Jesus Cristo Se recusou a responder.

(ama, comentário sobre Mc 6, 17-29, 22.06.2016)











[i] Nota Histórica
A censura que João Baptista fez a Herodes Agripa pela sua conduta desonesta e imoral que o Evangelho nos descreve, valeu-lhe a morte por degolação (Mt. 14, 1-12). É o seu nascimento para o céu que a Igreja hoje celebra.

Leitura espiritual

Leitura Espiritual


Cristo que passa



São Josemaria Escrivá
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A luta interior

Suporta os trabalhos como um bom soldado de Cristo, diz-nos S. Paulo.
A vida do cristão é milícia, guerra, formosíssima guerra de paz, que em nada coincide com as empresas bélicas humanas, porque estas se inspiram na divisão e, muitas vezes, nos ódios, enquanto a guerra dos filhos de Deus contra o seu próprio egoísmo, se baseia na unidade e no amor.
Porque, embora vivendo na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas com que combatemos não são carnais, mas fortaleza de Deus para destruir fortalezas, desbaratando com elas os projectos humanos e toda a altivez que se levantam contra a ciência de Deus.
É a escaramuça sem tréguas contra o orgulho, contra a prepotência que nos dispõe a fazer o mal, contra os juízos cheios de soberba.

Neste Domingo de Ramos, quando Nosso Senhor começa a semana decisiva para a nossa salvação, deixemo-nos de considerações superficiais e vamos ao que é central, ao que verdadeiramente é importante.
Pensai no seguinte: aquilo que devemos pretender é ir para o Céu.
Se não, nada vale a pena.
Para ir para o Céu é indispensável a fidelidade à doutrina de Cristo. Para ser fiel é indispensável porfiar com constância no nosso combate contra os obstáculos que se opõem à nossa eterna felicidade.

Sei que, imediatamente depois de falar em combater, nos surge pela frente a nossa debilidade e prevemos as quedas, os erros.
Deus conta com isso.
É inevitável que, ao caminharmos, levantemos pó. Somos criaturas e estamos repletos de defeitos.
Eu diria até que tem de os haver sempre, pois são a sombra que faz com que se destaquem mais, por contraste, na nossa alma, a graça de Deus e o esforço por correspondermos ao favor divino.
E esse claro-escuro tornar-nos-á humanos, humildes, compreensivos, generosos.

Não nos enganemos: na nossa vida, se contamos com brio e com vitórias, devemos também contar com quedas e derrotas.
Essa foi sempre a peregrinação terrena do cristão, incluindo a daqueles que veneramos nos altares.
Recordais-vos de Pedro, de Agostinho, de Francisco?
Nunca me agradaram as biografias dos santos em que, com ingenuidade, mas também com falta de doutrina, nos apresentam as façanhas desses homens, como se estivessem confirmados na graça desde o seio materno.
Não.
As verdadeiras biografias dos heróis cristãos são como as nossas vidas: lutavam e ganhavam, lutavam e perdiam.
E então, contritos, voltavam à luta.

Não nos cause estranheza o facto de sermos derrotados com relativa frequência, habitualmente ou até talvez sempre, em matérias de pouca importância, que nos ferem como se tivessem muita.
Se há amor de Deus, se há humildade, se há perseverança e tenacidade na nossa milícia, essas derrotas não terão demasiada importância, porque virão as vitórias a seu tempo, que serão glórias aos olhos de Deus.
Não existem os fracassos, se agimos com rectidão de intenção e queremos cumprir a vontade de Deus, contando sempre com a sua graça e com o nosso nada.

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Mas ronda à nossa volta um potente inimigo, que se opõe ao nosso desejo de encarnar dum modo acabado a doutrina de Cristo: o orgulho que cresce quando não procuramos descobrir, depois dos fracassos e das derrotas, a mão benfeitora e misericordiosa do Senhor. Então a alma enche-se de penumbra - de triste obscuridade - crendo-se perdida.
E a imaginação inventa obstáculos que não são reais, que desapareceriam se os encarássemos com um pouco de humildade.
Com o orgulho e a imaginação, a alma mete-se por vezes em tortuosos calvários; mas nesses calvários não está Cristo, porque onde está o Senhor goza-se de paz e de alegria, mesmo que a alma esteja em carne viva e rodeada de trevas.

Outro inimigo hipócrita da nossa santificarão: pensar que esta batalha interior tem de dirigir-se contra obstáculos extraordinários, contra dragões que respiram fogo.
É outra manifestação de orgulho.
Queremos lutar, mas estrondosamente, com clamores de trombetas e tremular de estandartes.

Temos de nos convencer de que o maior inimigo da pedra não é o picão ou o machado, nem o golpe de qualquer outro instrumento, por mais contundente que seja: é essa água miúda, que se mete, gota a gota, entre as gretas da fraga, até arruinar a sua estrutura.
O perigo mais forte para o cristão é desprezar a luta nessas escaramuças, que penetram pouco a pouco na alma, até a tornarem branda, quebradiça, indiferente e insensível às vozes de Deus.

Oiçamos o Senhor, que nos diz: quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito.
Isto é o mesmo que recordar-nos: luta a cada instante nesses pormenores aparentemente pequenos, mas grandes aos meus olhos; vive com pontualidade o cumprimento do dever; sorri a quem precise, mesmo que tu tenhas a alma dorida; dedica, sem regateares, o tempo necessário à oração; acode a ajudar quem te procura; pratica a justiça, ampliando-a com a graça da caridade.

São estas e outras semelhantes as moções que cada dia sentiremos dentro de nós, como um aviso silencioso que nos leva a treinar-nos neste desporto sobrenatural de nos vencermos a nós mesmos.
Que a luz de Deus nos ilumine, para compreendermos as suas advertências; que nos ajude a lutar, que esteja ao nosso lado na vitória; que não nos abandone na hora da queda, porque assim nos encontraremos sempre em condições de nos levantarmos e de continuarmos a combater.

Não podemos parar.
O Senhor pede-nos uma luta cada vez mais rápida, cada vez mais profunda, cada vez mais ampla.
Somos obrigados a superar-nos, porque nesta competição a única meta é a chegada à glória do Céu.
E se não chegássemos ao Céu, nada teria valido a pena.

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Os sacramentos da graça de Deus

Quem deseja lutar, usa os devidos meios.
E os meios não mudaram nestes vinte séculos de Cristianismo: oração, mortificação e frequência de Sacramentos.
Como a mortificação é também oração - oração dos sentidos - podemos descrever esses meios com duas palavras apenas: oração e Sacramentos.

Gostaria que considerássemos agora esse manancial de graça divina dos Sacramentos, maravilhosa manifestação da misericórdia de Deus. Meditemos devagar a definição que se insere no Catecismo de S. Pio V: determinados sinais sensíveis que causam a graça e, ao mesmo tempo, a declaram, como que pondo-a diante dos olhos.
Deus Nosso Senhor é infinito e o seu amor é inesgotável, a sua clemência e a sua piedade para connosco não admitem limites.
E embora nos conceda a sua graça de muitos outros modos, instituiu expressa e livremente - só Ele podia fazê-lo - estes sete sinais eficazes, para que os homens possam participar dos méritos da Redenção, duma maneira estável, simples e acessível a todos.

Se abandonarmos os Sacramentos, desaparece a verdadeira vida cristã. Contudo, não se nos oculta que particularmente nesta época não falta quem pareça esquecer, e até a chegue a desprezar, esta corrente redentora da graça de Cristo.
É doloroso falar desta chaga da sociedade que se chama cristã, mas torna-se necessário, para que nas nossas almas se afinque o desejo de recorrermos com mais gratidão e amor a essas fontes de santificação.

Decidem sem o menor escrúpulo retardar o baptismo dos recém-nascidos, privando-os - e cometendo assim um grave atentado contra a justiça e contra a caridade - da graça da fé, do tesouro incalculável da inabitação da Santíssima Trindade na alma, que vem ao mundo manchada pelo pecado original.
Pretendem também desvirtuar a natureza própria do Sacramento da Confirmação, no qual a Tradição viu sempre unanimemente um robustecimento da vida espiritual, uma efusão calada e fecunda do Espírito Santo, para que, fortalecida sobrenaturalmente, a alma possa lutar - milites Christi, como soldado de Cristo - nessa batalha interior contra o egoísmo e a concupiscência.

Se se perde a sensibilidade para as coisas de Deus, dificilmente se compreenderá o Sacramento da Penitência.
A confissão sacramental não é um diálogo humano, é um colóquio divino; é um tribunal de segura e divina justiça e, sobretudo, de misericórdia, com um juiz amoroso que não deseja a morte do pecador, mas que ele se converta e viva.

É verdadeiramente infinita a ternura de Nosso Senhor. Olhai com que delicadeza trata os seus filhos.
Fez do matrimónio um vínculo santo, imagem da união de Cristo com a sua Igreja, um grande sacramento em que se fundamenta a família cristã, que há-de ser, com a graça de Deus, um ambiente de paz e de concórdia, escola de santidade.
Os pais são cooperadores de Deus.
Daí nasce o amável dever de veneração, que corresponde aos filhos.
Com razão, o quarto mandamento pode chamar-se - escrevi-o há tantos anos - o dulcíssimo preceito do Decálogo.
Se se vive o matrimónio como Deus quer, santamente, o lar será um lugar de paz, luminoso e alegre.

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O Nosso Pai, Deus, deu-nos, com a Ordem sacerdotal, a possibilidade de que alguns fiéis, em virtude duma nova e inefável infusão do Espírito Santo, recebam um carácter indelével na alma, que os configura com Cristo Sacerdote, para actuarem em nome de Cristo Jesus, Cabeça do seu Corpo Místico.
Com este sacerdócio ministerial, que difere do sacerdócio comum de todos os fiéis, essencialmente e não com diferença de grau, os ministros sagrados podem consagrar o Corpo e o Sangue de Cristo, oferecer a Deus o Santo sacrifício, perdoar os pecados na confissão sacramental e exercitar o ministério de doutrinar as pessoas in iis quae sunt ad Deum, em tudo e só no que se refere a Deus.

Por isso, o sacerdote deve ser exclusivamente um homem de Deus, rejeitando o pensamento de querer brilhar em campos em que os outros cristãos não precisem dele.
O sacerdote não é um psicólogo, nem um sociólogo, nem um antropólogo: é outro Cristo, o próprio Cristo, para atender as almas dos seus irmãos.
Seria triste que o sacerdote, baseando-se numa ciência humana - que só cultivará como amador e aprendiz, se se dedicar à sua tarefa sacerdotal - se julgasse, sem mais nem menos, habilitado a pontificar em teologia dogmática ou moral.
A única coisa que faria, era demonstrar uma dupla ignorância - na ciência humana e na ciência teológica - ainda que com ar superficial de sábio conseguisse enganar alguns leitores ou ouvintes indefesos.

É um facto público que alguns eclesiásticos parecem hoje dispostos a fabricar uma nova Igreja, traindo Cristo, mudando os fins espirituais - a salvação das almas, uma a uma - por fins temporais.
Se não resistirem a essa tentação, deixarão de cumprir o seu sagrado ministério, perderão a confiança e o respeito do povo e produzirão uma tremenda destruição dentro da Igreja, intrometendo-se, além disso, indevidamente, na liberdade política dos cristãos e dos restantes homens, com a consequente confusão - tornam-se eles mesmos perigosos - na convivência civil.
A Sagrada Ordem é o sacramento do serviço sobrenatural aos irmãos na fé; alguns parecem querer convertê-la no instrumento terreno dum novo despotismo.


(cont)

Diálogos apostólicos

Diálogos apostólicos II Parte
17 - [1]

Aflige-me um pouco isso que chamam ”Juízo Particular.
Estar preparado? Mas como?

Estar preparado para Juízo Particular que ocorre logo a pós a nossa morte é uma atitude várias vezes recomendada por Jesus Cristo na Sua pregação:
«Vigiai e orai; estai preparados porque não sabeis o dia nem a hora...» querendo com isto dizer-nos que é agora, hoje, e não depois, amanhã ou noutro tempo qualquer que temos de nos preparar.
Sem temor, sem medo, receio ou inquietação, mas com verdadeiro espírito previdente e avisado.




[1] Nota: Normalmente, estes “Diálogos apostólicos”, são publicados sob a forma de resumos e excertos de conversas semanais. Hoje, porém, dado o assunto, pareceu-me de interesse publicar quase na íntegra.

Bento XVI – Pensamentos espirituais 110

O paradoxo cristão

No Menino de Belém, Deus revelou-Se na humildade da «forma humana», na «condição de servo», ou melhor, na de crucificado [i].

É o paradoxo cristão.

É precisamente nesta modéstia que reside a mais estrondosa «manifestação» de Deus:

A humildade, a pobreza e a própria ignomínia da Paixão dão-nos a conhecer o verdadeiro Deus.

Homilia pela solenidade da Epifania do Senhor, (6. Jan.06)
(in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)




[i] cfr. Fl 2, 6-8

Pequena agenda do cristão


SeGUNDa-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?