COMENTANDO OS
EVANGELHOS
SÃO MATEUS
Cap
XXIII
1-12
- Quem
se humilha será exaltado e quem se exalta será humilhado disseste Tu, Senhor.
E, como foste Tu quem o disse, só pode ser verdade.
Quantas vezes não se
verifica!
E, quanto a mim?
Que se passará?
Sim porque eu tenho
esta prosápia permanente, esta sede de protagonismo e evidência – as minhas filactérias
– sempre olhar para cima, pescoço bem esticado para ser visto e, naturalmente,
admirado.
Aceita, Senhor, a
minha declaração formal do que sou:
Nada, absolutamente,
e trata-me assim: como nada!
Já se disse e
repete-se: de nada interessam nem as palavras nem as "teorias" se não
correspondem às obras.
O exemplo sim,
arrasta, catequiza, convence.
Res
non verba - obras e não palavras - este é o princípio, o axioma.
No trabalho de Deus e
por Deus como é todo o apostolado que a nossa condição de cristãos nos obriga e
urge, não pensemos tanto no que havemos de dizer, mas, antes, no que temos de
fazer.
As nossas acções
falarão por si mesmas e, mais, identificam-nos como pessoas credíveis e
fiáveis.
O tema principal
deste trecho de São Mateus é o “serviço”.
Não parece
desajustado porque quem o propõe é o “Servidor” por excelência: o próprio Jesus
Cristo.
Parecerá a alguns que
servir não é “próprio” de criaturas livres e senhoras de si, mas antes, de
outros que não têm outra capacidade senão obedecer.
Ponho as coisas de
outro modo – talvez simplista – que me parece resolver de vez a questão:
Prefiro servir a
minha pessoa, a minha vontade, os meus desejos e ambições ou servir a Deus
Nosso Senhor?
A primeira opção é
arriscada porque sou um simples homem limitado e em permanente evolução;
A segunda é
seguríssima porque só pode ser para bem, porque Deus É, não evolui, não muda,
sabe absolutamente tudo o que melhor convém.
Este
trecho do Evangelho propõe-nos um exame sério, detalhado, profundo.
Somos
que dizemos ser?
Fazemos
o que dizemos que deve ser feito?
Julgamo-nos
de alguma forma "superiores", "especiais", dignos de admiração?
Talvez
que, depois desse exame, fiquemos surpreendidos com a conclusão.
Não
deixemos que os nossos defeitos e fraquezas nos dominem ou condicionem,
lutemos, antes, por ser sinceros, honestos no proceder e intelectualmente.
Esta
"luta" terá de ser constante, sem descanso nem com medo dos
fracassos.
Se
pedirmos ajuda ao Senhor, Ele não nos faltará.
Este discurso de
Jesus que o Evangelista relata, é, poderíamos dizer, recorrente. (1-12)
De facto, Jesus
Cristo encontra-se quase que em permanente confronto com as classes dominantes
do povo de Israel.
E, a causa, a raiz
desse confronto – que da parte contrária chega a ser ridícula – é a falta de
humildade, o desejo de protagonismo e evidência, a auto-consideração.
Deus – com palavras
humanas – não sabe o que fazer com pessoas assim nem, aliás, elas se preocupam
muito com isso já que como quase auto-satisfazem a si próprios e se acham acima
de todos os outros.
Quem anda pela vida
“olhando o próprio umbigo”, portando-se como se fosse o dono e senhor de toda a
verdade, na realidade despreza os outros e, quem despreza o próximo, acaba
sempre por desprezar o próprio Deus.
Talvez que o que mais
me surpreende em Jesus Cristo é a Sua extraordinária paciência perante os
“usurpadores” da verdade como são, de facto. os chefes do povo de Israel.
Não deixando, embora,
passar sem referir os abusos e atropelos à Lei, tem uma atitude didáctica para
com eles na medida em que procurando não pôr o povo contra eles quer, por outro
lado, chamar a sua atenção para os múltiplos erros e abusos que cometem.
A Sua doutrina é
positiva e não trava uma luta mas, doutrinando, ensina e ajuda os que,
enganados, “andam como ovelhas sem pastor”.
Neste trecho de São
Mateus, (Cfr. 13-22) Jesus dirige-se particularmente aos fariseus,
mas, em boa verdade, poderia repetir
estas mesmas palavras a muitos cristãos que se "arvoram" em juízes e
directores de outros, expondo doutrina e
princípios rigorosos que eles próprios não só não cumprem como desprezam.
São falsos e
perigosos porque aproveitando-se (não poucas vezes em proveito próprio) de
pessoas simples ou incautas, espalham o erro e abusam da boa-fé dos que os
ouvem.
Normalmente são
bem-falantes e prometem tudo quanto as pessoas desejam ter ou alcançar.
Cuidado, pois!
São as obras e não as
palavras que revelam a verdade.
Neste trecho de São
Mateus aparece-nos um Jesus Cristo um pouco “diferente” do habitual, como se
“tivesse perdido a paciência” com os opositores do costume.
Talvez, de facto, a
impaciência de Jesus se mostre clarissimamente, sem rodeios nem meias palavras
e, isto, demonstra uma vez mais, que, O Senhor, só diz a verdade em qualquer
circunstância.
A argumentos
inconsistentes e sem qualquer critério há que responder “pondo as coisas o seu
lugar”, principalmente porque é necessário que, os “pequeninos” saibam onde
está a verdade e o caminho certo.
Jesus Cristo numa
assaz longa palestra põe a nu, sem quaisquer reticências ou escolha de
palavras, quanto no comportamento dos fariseus é reprovável e falso.
Fala à chamado
“classe dominante” do povo, aqueles que se outorgam qualidades e direitos de
guias e mentores, responsáveis pela aplicação da lei.
Não são, de facto, o
que dizem ser e, ainda pior, praticam o contrário do que exigem aos outros.
O Senhor detesta a
hipocrisia e a duplicidade e não pode aceitar sem se pronunciar vigorosamente
contar tal gente.
Talvez que ao ler este trecho do Evangelho (Mt 23-26)
tenhamos de considerar a necessidade de um exame ao nosso comportamento.
É verdade... consideramos o comportamento dos fariseus no tempo de
Cristo repugnante ou pelo menos pouco recomendável, mas será que nós não
teremos por vezes essa mesma tendência de nos agarrarmos às coisas menores, aos
detalhes de escassa importância desprezando o que realmente interessa para
cumprir-mos em tudo a Vontade de Deus?
Justiça, Misericórdia e
Fidelidade!
O mais importante da
lei!
Justiça para contigo,
Senhor, dando-te o que Te pertence que é tudo porque tudo criaste.
Nada do que julgamos
ter é nosso.
Misericórdia que é
compaixão que é amor.
Dando aos outros o
que Tu esperas que nós demos: tudo o que estiver ao nosso alcance.
Fidelidade que é a
constância e a perseverança no bom caminho, que, és Tu, Caminho, Verdade e vida.
O Senhor não se coíbe na sua apreciação do comportamento dos fariseus. (27-32)
Não serão todos evidentemente porque, como em todas as classes ou grupos
sociais, há pessoas correctas e com são critério.
Mas infelizmente e sobretudo naquele tempo, o serem uma classe dominante
perverteu a sua "missão" de chefes do povo preocupando-se mais com as
aparências que com o exemplo que deveriam dar.
Assim, desviando a verdadeiras questões e iludindo os problemas concretos,
contribuíram fortemente para que o povo anónimo fosse considerado por Cristo
como «ovelhas perdidas sem pastor».
São Mateus continua a
relatar o discurso de Jesus dirigido directamente aos fariseus e doutores da
lei
É um longo discurso
em que nada fica por dizer, vícios por pontar, procedimentos incorrectos por
revelar.
É necessário que o
faça porque ninguém tem nem a coragem nem a determinação de Cristo por revelar
a verdade.
O povo, anónimo e
submisso, era como o Senhor o apelidará: «Como
ovelhas sem pastor», e, Ele, veio ao mundo para ser o seu Pastor, fiel e
seguro que o conduzirá por caminhos de salvação.
Talvez que, hoje em
dia, faltem pastores autênticos e dedicados ao rebanho que o Senhor lhes
confiou.
O Papa não se cansa
de chamar a atenção para o primeiro e mais urgente ministério da Igreja:
Guiar os fiéis,
instruindo e ensinando, mas, sobretudo, dando exemplo claro e iniludível que
atraia e conduza o povo de Deus para Ele.