JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR
Iniciação à Cristologia
PRIMEIRA PARTE
A PESSOA DE JESUS CRISTO
Capítulo II
A VINDA DO FILHO DE DEUS NA ECONOMIA DIVINA DA
SALVAÇÃO
4. Anúncio da vinda do salvador, o Messias esperado
Como
ninguém podia salvar-se depois do pecado original Senão Jesus Cristo, Deus
anunciou a sua vinda repetidas vezes e preparou-a de muitas formas desde o
princípio do mundo. O próprio Deus se encarregou de manter e reforçar essa
esperança do salvador através da história d humanidade, ao mesmo tempo que ia
revelando e precisando diferentes aspectos da figura e da vida do Messias
prometido.
a) Promessas do Redentor
O proto-evangelho.
Depois do
pecado dos nossos primeiros pais, Deus não abandonou os homens, antes
imediatamente os levou à esperança da salvação. Com efeito Deus dirigiu à
serpente estas palavras: «Porei inimizade
entre ti e a mulher, e entre a tua linhagem e a sua linhagem; ele te pisará a
cabeça, enquanto tu mordes o seu calcanhar» [i].
A este versículo do Génesis chama-se «proto-evangelho», precisamente porque
constitui o primeiro anúncio e promessa da salvação.
O
descendente da mulher que vencerá o demónio é o Redentor, Jesus Cristo. A
mulher de que se fala é Eva no seu sentido imediato, e Maria em sentido pleno.
A promessa a Abraão.
Deus fez
uma aliança com Abraão e fez-lhe a promessa de lhe dar não só uma terra, como
fazê-lo pai de um grande povo, e que pela sua descendência seriam benditas
todas as nações da terra [ii].
Deus
renovou várias vezes a Abraão estas promessas [iii],
que representam um anúncio da salvação universal por meio de um descendente
seu, que será Jesus.
Confirmação e renovação da promessa.
Deus
renovou a Aliança e a promessa com diferentes eleitos e foi concretizando a
ascendência do Messias: não só será descendente de Abraão, como mais
concretamente um descendente de Jacob [iv],
e mais especificamente da tribo de Judá [v],
e mais concretamente ainda da família de David [vi].
b) Profecias sobre o Messias rei
O filho de David.
O profeta
Natán, em nome de Deus, promete a David que o Messias esperado desde os tempos
mais antigos será seu descendente. E reinará para sempre, não só sobre Israel,
mas sobre todos os povos [vii].
Na Bíblia
aplica-se frequentemente a David o título de «ungido do senhor»; ele será o
tipo por excelência de rei ungido no qual se cumprirá plenamente a promessa
divina: o Messias, que será filho de David e rei de Israel, cujo reino não terá
fim.
São muitas
as profecias do Antigo Testamento sobre o Messias-rei, filho de David. Destaquemos
só dois pelos aspectos particulares que assinalam:
Especial Filiação Divina do Messias: Salmo 2.
Este salmo
messiânico descreve a rebelião das nações contra Deus e contra o seu Messias.
Deus, pelo contrário, ri-se dos seus inimigos e anuncia que constituiu o
Messias rei sobre Sião. Este Messias-rei promulga o decreto de Yahwé que
encerra uma declaração de uma especial Filiação Divina: «Tu és o meu filho, eu hoje te gerei. Pede-me e dar-te-ei as gentes por
herança, e as tuas possessões até aos confins da terra».
O Emanuel nascido de uma virgem.
Isaías
transmite-nos uma série de profecias entre os capítulos 7 e 11 do seu livro,
que se conhecem como o livro do Emanuel.
Ali se diz
que o Messias-rei nascerá de uma virgem e se chamará Emanuel [viii],
que significa «Deus connosco». Será grande e terá de modo eminente as virtudes
de todas as grandes personagens da sua linhagem. Chamar-se-á também Deus Forte
e Príncipe da paz [ix].
Este descendente de David estará cheio do espírito de Deus e fará com que reine
entre os homens a justiça [x].
No Novo testamento é manifesto que se trata de Jesus que nascerá de Maria
Virgem [xi].
5. Outras profecias acerca de Jesus
Há muitas
outras profecias que se referem à pessoa e à obra de Cristo. Tendo só em conta ao
Antigo Testamento tornar-se-ia difícil interpretar só algumas delas como
referidas claramente ao Messias, mas à luz do Novo Testamento é transparente o
seu significado messiânico. Vejamos só algumas delas.
a) Profecias sobre o Messias rei e profeta
Moisés
sempre foi como que tipo e a figura de todos os profetas: ele falava com deus
«face a face» [xii] e
transmitia ao seu povo as palavras e os mandamentos de Yahwé. Pois bem, já
desde antigamente se anunciou que Deus enviaria «outro profeta» como Moisés que
ensinará e guiará o seu povo com as palavras de Deus [xiii].
Assim em
algumas ocasiões anuncia-se um Messias que será rei e profeta simultaneamente,
à semelhança de David, que teve ambas prerrogativas: o Messias será rei
descendente de David e será ungido por Deus com o espírito dos profetas para
anunciar a salvação aos homens [xiv].
Este é Jesus [xv], [xvi]
b) Profecias sobre o Messias rei e sacerdote
Salmo
110/109,1-4). Neste salmo anuncia-se um Messias superior ao
próprio David; o salvador será rei que dominará todos os inimigos e, ao mesmo
tempo, será sacerdote do Altíssimo. Esta unidade de rei e sacerdote tem como
que um protótipo em Melquisedec, rei de Salem, misterioso contemporâneo de
Abraão (cf. Gen 14,18-19). O Messias será rei e sacerdote, mas o seu sacerdócio
não é levítico, antes se trata de um diferente, misterioso e superior (cf. Heb
6,20-7,28).
c) Profecias sobre o sacrifício de Cristo
Cantos
sobre o Servo de Yahwé. No livro do profeta Isaías encontram-se quatro
cantos sobre a missão redentora do Messias, que é chamado «Servo de Yahwé»
O Servo é
um eleito de Deus e objecto da sua complacência. Ele vai ser rei de justiça, e
o seu reinado será universal. Será luz dos gentios e reconciliador dos povos.
Deus elegeu-o desde o seio materno para fazer voltar os filhos de Israel e para
levar a salvação até aos confins da terra. O Servo de Yahwé sofrerá a oposição e perseguição por parte do seu próprio
povo, ainda que sendo inocente. Isaías narra o sofrimento e a morte do Servo,
oferecido como sacrifício pela redenção de todos, de tal forma que reflecte de
modo exacto e impressionante a Paixão e Morte de Jesus [xvii].
Salmo 22/21.
Começa com:
«Deus meu, Deus meu, porque me
abandonas-te?» que o Senhor recitou na cruz. E narra como o justo,
perseguido por muitos inimigos e no meio de um grande sofrimento, recorre cheio
de confiança a Deus. Não se trata do grito de angústia de um desesperado, mas
da oração confiada do que se abandona nas mãos de Deus, e é escutado. Termina
com a vinda do reino de Deus ao mundo, a salvação universal, como fruto dos
sofrimentos do justo que pede que voltem a Yahwé todas as famílias das nações.
Este salmo messiânico narra por antecipação muitos episódios concretos da
Paixão de Cristo.
d) A figura do Filho do homem
O título
«Filho do homem» procede do Antigo Testamento, em concreto do livro do profeta
Daniel. Designa uma pessoa misteriosa e gloriosa que supera a condição humana e
restaura definitivamente o reino messiânico [xviii].
Todavia.
Convém notar que a expressão «filho de homem» (ben-adam) na época de Jesus indicava simplesmente «homem». Por isso
Jesus, ao referir-se a si mesmo como Filho do homem, tentava esconder por
detrás do véu do significado comum a acepção messiânica que essa locução tinha
na profecia de Daniel. E ao mesmo tempo, quis corrigir uma concepção
exclusivamente gloriosa do Messias, muito arreigada no pensamento hebreu, ao
uni-la à sua condição humana e passível, pois anunciava que esse «Filho do
homem» tem de padecer e dar a sua vida como resgate por todos [xix].
Vicente
Ferrer Barriendos
(Tradução do castelhano por ama)
[iii] Cf. Gen
13,14-17; 17,1-9; 18,17-19; 22,13-18.
[vi] (cf. Sam
7,8-16); Sal 89/88,20-38)
[vii] (cf. 2 Sam
7,12-16)
[xvi] Todavia,
muitos judeus não entenderam a união rei-profeta e esperavam esse «profeta»
excepcional e o Messias, como duas pessoas diferentes (cf. Jo 1,20-21;
7,40-41).
[xix] (cf. Mt
17,12;20,28)