Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
06/07/2014
O trono de Maria é a Cruz
Pede
humildemente ao Senhor que te aumente a Fé. – E depois, com novas luzes
apreciarás bem as diferenças entre as sendas do mundo e o teu caminho de
apóstolo. (Caminho, 508)
O
trono de Maria, como o de seu Filho, é a Cruz. E durante o resto da sua
existência, até que subiu ao Céu em corpo e alma, a sua silenciosa presença é o
que nos impressiona mais. S. Lucas, que a conhecia bem, anota que Ela está
junto dos primeiros discípulos, em oração. Assim termina os seus dias terrenos
Aquela que havia de ser louvada pelas criaturas até à eternidade.
Como
contrasta a esperança de Nossa Senhora com a nossa impaciência! Com frequência
exigimos que Deus nos pague imediatamente o pouco bem que fizemos. Mal aflora a
primeira dificuldade, queixamo-nos. Muitas vezes somos incapazes de aguentar o
esforço, de manter a esperança, porque nos falta fé: bem-aventurada és tu,
porque acreditaste que se cumpririam as coisas que te foram ditas da parte do
Senhor. (Amigos
de Deus, 286)
Pequena agenda do cristão
(Coisas
muito simples, curtas, objectivas)
Propósito:
Viver a família.
Senhor, que a minha família seja um
espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para
a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e
escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.
Lembrar-me:
Cultivar a Fé.
São Tomé, prostrado a Teus pés,
disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não
tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste:
Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E
eu creio, Senhor.
Creio
firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu
Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a
minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me
crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu
coração.
Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me
propus ontem?
Temas para meditar - 167
Liberdade
A árvore da ciência do bem e do mal evoca simbolicamente o limite insuperável que o homem, enquanto criatura, deve reconhecer e respeitar. O homem depende do Criador e encontra-se sujeito às leis em que se baseou o Criador para constituir a ordem do mundo criado por Ele (...) e, por conseguinte também se encontra sujeito às normas morais que regulam o uso da liberdade.
A árvore da ciência do bem e do mal evoca simbolicamente o limite insuperável que o homem, enquanto criatura, deve reconhecer e respeitar. O homem depende do Criador e encontra-se sujeito às leis em que se baseou o Criador para constituir a ordem do mundo criado por Ele (...) e, por conseguinte também se encontra sujeito às normas morais que regulam o uso da liberdade.
(Btº JOÃO PAULO II, Audiência Geral, 1986.09.03)
Tratado da lei 45
Em seguida devemos tratar de cada um
dos géneros dos preceitos da lei antiga. E primeiro, dos preceitos morais.
Segundo, dos cerimoniais. Terceiro, dos judiciais.
Na primeira questão discutem-se doze
artigos:
Art. 1 — Se todos os preceitos morais
pertencem à lei da natureza.
Art. 2 — Se os preceitos morais da lei
abrangem todos os actos virtuosos.
Art. 3 — Se todos os preceitos morais
da lei antiga se reduzem aos dez preceitos do decálogo.
Art. 4 — Se os preceitos do decálogo
se distinguem convenientemente.
Art. 5 — Se os preceitos do decálogo
estão convenientemente enumerados.
Art. 6 — Se os dez preceitos do
decálogo estão convenientemente ordenados.
Art. 7 — Se os preceitos do decálogo
foram dados convenientemente.
Art. 8 — Se os preceitos do decálogo
admitem dispensa.
Art. 9 — Se o modo da virtude está na
alçada do preceito da lei.
Art. 10 — Se o modo da caridade está
na alçada do preceito da lei divina.
Art. 11 — Se se distinguem
convenientemente outros preceitos morais da lei, além do decálogo.
Art. 12 — Se os preceitos morais da
lei antiga justificavam.
Art.
1 — Se todos os preceitos morais pertencem à lei da natureza.
(Infra,
q. 104, a. 1).
O primeiro discute-se assim. — Parece
que nem todos os preceitos morais pertencem à lei da natureza.
1. — Pois, diz a Escritura (Sr 17, 9):
acrescentou-lhes a disciplina, e deu-lhes em herança a lei da vida. Ora, a
disciplina divide-se, por oposição, da lei da natureza; porque a lei natural
não se aprende, mas tem-se por instinto natural. Logo, nem todos os preceitos
morais pertencem à lei da natureza.
2. Demais. — A lei divina é mais
perfeita que a humana. Ora, esta faz, aos preceitos da lei da natureza, alguns
acréscimos relativos aos bons costumes. E isso é claro por ser a lei da
natureza a mesma para todos, ao passo que essas instituições morais variam com
os diversos povos. Logo, com muito maior razão, a lei divina devia acrescentar
à lei da natureza alguns preceitos relativos aos bons costumes.
3. Demais. — Assim como a razão
natural produz bons costumes, assim também a fé; donde o dizer a Escritura (Gl
5, 6): a fé obra por caridade. Ora, a fé não está contida na lei da natureza,
porque as suas verdades são superiores à razão natural. Logo, nem todos os
preceitos morais da lei divina pertencem à lei da natureza.
Mas, em contrário, diz o Apóstolo (Rm
2, 14): os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da
lei. O que se deve entender como referente ao que respeita aos bons costumes.
Logo, todos os preceitos morais da lei pertencem à lei da natureza.
Os preceitos morais são
distintos dos cerimoniais e dos judiciais. Pois, os morais respeitam ao que, em
si mesmo, pertence aos bons costumes. Ora, como os costumes humanos se
consideram em relação à razão, que é o princípio próprio dos actos humanos,
chamam-se bons os costumes congruentes com a razão, e maus, os que dela se
afastam. Ora, assim como todo juízo da razão especulativa procede do
conhecimento natural dos primeiros princípios, assim também todo juízo da razão
prática procede de alguns princípios naturalmente conhecidos, conforme já
dissemos (q. 94, a. 2, a. 4). Donde podemos proceder diversamente para julgar
coisas diversas. Pois, há alguns actos humanos de tal modo explícitos, que, com
pouca reflexão, podem ser logo aprovados ou reprovados, tendo-se em vista esses
princípios comuns e primeiros. Outros há porém, para cuja apreciação é preciso
reflectir aturadamente nas diversas circunstâncias, que podem ser consideradas
diligentemente só pelo homem prudente, e não por qualquer pessoa. Assim como,
considerar as conclusões particulares das ciências não pertence a todos, mas só
aos filósofos. Outros há enfim que, para julgá-las, o homem precisa ser ajudado
pela instrução divina, como é o caso do que pertence à fé.
Donde é claro que, dizendo respeito os
preceitos morais aos bons costumes e estes sendo os que estão de acordo com a
razão; e todo o juízo da razão humana derivando, de certo modo, da razão
natural, necessariamente todos os preceitos morais hão-de pertencer à lei da
natureza, mas diversamente. — Assim, há alguns de que a razão natural de
qualquer homem pode logo julgar, que devem ser obedecidos. Tais são: honrarás a
teu pai e a tua mãe; e não matarás, não furtarás. E estes pertencem
absolutamente à lei da natureza. — Há porém outros que são tidos, pelos homens
prudentes, e em virtude de uma consideração mais subtil da razão, como devendo
ser observados. E estes pertencem à lei natural, mas precisam de uma certa
doutrina pela qual os prudentes ensinem os que não o são. Tal segundo a
Escritura: Levanta-te diante dos que têm a cabeça cheia de cãs e honra a pessoa
do velho; e outros semelhantes. — Há outros enfim, para julgar dos quais a
razão humana precisa da instrução divina, que nos ensina sobre as coisas
divinas. Tais aqueles: não farás para ti imagem de escultura, nem figura
alguma; não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão.
Donde se deduzem claras as RESPOSTAS ÀS
OBJECÇÕES.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
Evangelho, comentário e Leit. Espirit. (Decl. Dominus Iesus)
Evangelho:
Mt 11, 25-30
25
Então Jesus, falando novamente, disse: «Eu Te louvo ó Pai, Senhor do céu e da
terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelaste
aos pequeninos. 26 Assim é, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado. 27
«Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai; e ninguém conhece o Filho
senão o Pai; nem ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o
quiser revelar. 28 O «Vinde a Mim todos os que estais fatigados e
oprimidos, e Eu vos aliviarei. 29 Tomai sobre vós o Meu jugo, e
aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para
as vossas almas. 30 Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo leve».
Comentário:
Quando tudo parece
perdido e não se encontra remédio ou solução para o que nos aflige e condiciona
a nossa vida lembremo-nos destas palavras de Jesus Cristo.
Ele é o
refúgio certo e sempre disponível e, como Ele próprio afirma, «encontraremos
descanso para as nossas almas».
Não temos que
fazer qualquer esforço em procura-lo; Ele está sempre ali, no sacrário à nossa
espera.
(ama,
comentário sobre Mt 11, 25-30 2013.11.02)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
DECLARAÇÃO
"DOMINUS IESUS"
SOBRE A UNICIDADE E A UNIVERSALIDADE
SALVÍFICA DE JESUS CRISTO E DA IGREJA
…/2
8. Existe também quem
avance a hipótese do valor inspirado dos textos sagrados de outras religiões.
Certamente deve admitir-se que alguns elementos presentes neles são de facto
instrumentos, através dos quais, multidões de pessoas puderam, através dos
séculos, e podem ainda hoje alimentar e manter a sua relação religiosa com
Deus. Por isso, o Concílio Vaticano II, referindo-se aos modos de agir, aos
preceitos e doutrinas das outras religiões, afirma — como cima se recordou —
que, «embora em muitos pontos estejam em discordância com aquilo que [a Igreja]
afirma e ensina, muitas vezes reflectem um raio daquela Verdade, que ilumina
todos os homens».23
A tradição da Igreja,
porém, reserva o qualificativo de textos inspirados aos livros canónicos do
Antigo e Novo Testamento, enquanto inspirados pelo Espírito Santo.24
Fiel a esta tradição, a Constituição dogmática sobre a divina Revelação do
Concílio Vaticano II ensina: «Com efeito, a Santa Mãe Igreja, por fé
apostólica, tem como sagrados e canónicos os livros inteiros do Antigo e do
Novo Testamento com todas as suas partes, porque escritos por inspiração do
Espírito Santo (cf. Jo 20,31; 2 Tim 3,16; 2 Pedro 1,19-21; 3,15-16), têm Deus
por autor e, como tais, foram confiados à própria Igreja».25 Tais
livros «ensinam com firmeza, com fidelidade e sem erro, a verdade que Deus, por
causa da nossa salvação, quis consignar nas Sagradas Letras».26
Embora querendo congregar
em Cristo todas as gentes e comunicar-lhes a plenitude da sua revelação e do
seu amor, Deus não deixa de Se tornar presente sob variadas formas «quer aos
indivíduos, quer aos povos, através das suas riquezas espirituais, das quais a
principal e essencial expressão são as religiões, mesmo se contêm “lacunas,
insuficiências e erros”».27 Portanto, os livros sagrados das outras
religiões, que sem dúvida alimentam e orientam a existência dos seus sequazes,
recebem do mistério de Cristo os elementos de bondade e de graça neles
presentes.
II.
O LOGOS ENCARNADO E O ESPÍRITO SANTO NA OBRA DA SALVAÇÃO
9. Na reflexão teológica
contemporânea é frequente fazer-se uma aproximação de Jesus de Nazaré,
considerando-o uma figura histórica especial, finita e reveladora do divino de
modo não exclusivo, mas complementar a outras presenças reveladoras e
salvíficas. O Infinito, o Absoluto, o Mistério último de Deus manifestar-se-ia
assim à humanidade de muitas formas e em muitas figuras históricas: Jesus de
Nazaré seria uma delas. Mais concretamente, seria para alguns um dos tantos
vultos que o Logos teria assumido no decorrer dos tempos para comunicar em
termos de salvação com a humanidade.
Além disso, para
justificar, de um lado, a universalidade da salvação cristã e, do outro, o
facto do pluralismo religioso, há quem proponha uma economia do Verbo eterno,
válida também fora da Igreja e sem relação com ela, e uma economia do Verbo
Encarnado. A primeira teria um plus-valor de universalidade em relação à
segunda, que seria limitada aos cristãos, se bem que com uma presença de Deus
mais plena.
10. Semelhantes teses
estão em profundo contraste com a fé cristã. Deve, de facto, crer-se firmemente
na doutrina de fé que proclama que Jesus de Nazaré, filho de Maria, e só ele, é
o Filho e o Verbo do Pai. O Verbo, que «estava no princípio junto de Deus» (Jo
1,2), é o mesmo «que Se fez carne» (Jo 1,14). Em Jesus «o Cristo, o Filho do
Deus vivo» (Mt 16,16) «habita corporalmente toda a plenitude da divindade» (Col
2,9). Ele é «o Filho unigénito, que está no seio do Pai» (Jo 1,18), o seu
«Filho muito amado, no qual temos a redenção [...]. Aprouve a Deus que n'Ele
residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as
coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na
terra e nos céus» (Col 1,13-14.19-20).
Fiel à Sagrada Escritura e
refutando interpretações erróneas e redutivas, o primeiro Concílio de Niceia
definiu solenemente a própria fé em «Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado
unigénito do Pai, ou seja, da substância do Pai; Deus de Deus, luz da luz, Deus
verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai, por
meio do qual foram criadas todas as coisas do céu e da terra. Por nós homens e
pela nossa salvação, desceu do céu, encarnou e Se fez homem, sofreu e
ressuscitou ao terceiro dia, voltou a subir ao céu, donde virá para julgar os
vivos e os mortos».28 Seguindo os ensinamentos dos Padres, também o
Concílio de Calcedónia professou «que o único e idêntico Filho, nosso Senhor
Jesus Cristo, é Ele mesmo perfeito em divindade e perfeito em humanidade,
verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem [...], consubstancial ao Pai
segundo a divindade e consubstancial a nós segundo a humanidade [...]; gerado
do Pai antes dos séculos segundo a divindade e, nos últimos dias, Ele mesmo por
nós e pela nossa salvação, de Maria, a virgem Mãe de Deus, segundo a
humanidade».29
Por isso, o Concílio
Vaticano II afirma que Cristo, «novo Adão», «imagem de Deus invisível» (Col
1,15), «é o homem perfeito, que restituiu à descendência de Adão a semelhança
divina, deformada desde o primeiro pecado [...]. Cordeiro inocente, pelo seu
sangue voluntariamente derramado, mereceu-nos a vida e n'Ele Deus nos
reconciliou consigo e connosco, libertando-nos da escravidão do diabo e do
pecado, de tal sorte que cada um pode dizer com o Apóstolo: o Filho de Deus
“amou-me e entregou-Se a Si mesmo por mim” (Gal 2,20)».30
A esse respeito, João
Paulo II declarou explicitamente: «É contrário à fé cristã introduzir qualquer
separação entre o Verbo e Jesus Cristo [...]: Jesus é o Verbo Encarnado, pessoa
una e indivisa [...]. Cristo não é diferente de Jesus de Nazaré; e este é o
Verbo de Deus, feito homem para a salvação de todos [...]. À medida que formos
descobrindo e valorizando os diversos tipos de dons, e sobretudo as riquezas
espirituais, que Deus distribuiu a cada povo, não podemos separá-los de Jesus
Cristo, o qual está no centro da economia salvadora».31
É igualmente contra a fé
católica introduzir uma separação entre a acção salvífica do Logos, enquanto
tal, e a do Verbo feito carne. Con a encarnação, todas as acções salvíficas do
Verbo de Deus fazem-se sempre em unidade com a natureza humana, que Ele assumiu
para a salvação de todos os homens. O único sujeito que opera nas duas
naturezas — humana e divina — é a única pessoa do Verbo.32
Portanto, não é compatível
com a doutrina da Igreja a teoria que atribui uma actividade salvífica ao Logos
como tal na sua divindade, que se realizasse «à margem» e «para além» da
humanidade de Cristo, também depois da encarnação.33
11. Do mesmo modo, deve
crer-se firmemente na doutrina de fé sobre a unicidade da economia salvífica
querida por Deus Uno e Trino, em cuja fonte e em cujo centro se encontra o
mistério da encarnação do Verbo, mediador da graça divina no plano da criação e
da redenção (cf. Col 1,15-20), «recapitulador de todas as coisas» (cf. Ef
1,10), «tornado para nós justiça, santificação e redenção» (1 Cor 1,30). De
facto, o mistério de Cristo tem uma sua unidade intrínseca, que vai da eleição
eterna em Deus até à parusia: «N’Ele [o Pai] nos escolheu, antes da criação do
mundo, para sermos, na caridade, santos e irrepreensíveis diante d’Ele» (Ef
1,4); «Foi também n'Ele que fomos feitos herdeiros, segundo os desígnios de
quem tudo realiza conforme decide a sua vontade» (Ef 1,11); «Pois àqueles que
de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem do seu
Filho, a fim de que Ele fosse o Primogénito de muitos irmãos. E aqueles que
predestinou, também os chamou; àqueles que chamou, também os justificou; e,
àqueles que justificou, também os glorificou» (Rom 8,29-30).
O Magistério da Igreja,
fiel à revelação divina, afirma que Jesus Cristo é o mediador e o redentor
universal: «O Verbo de Deus, por quem todas as coisas foram feitas, encarnou, a
fim de, como homem perfeito, salvar todos os homens e recapitular todas as
coisas. O Senhor [...] é aquele a quem o Pai ressuscitou dos mortos, exaltou e
colocou à sua direita, constituindo-O juiz dos vivos e dos mortos».34
Esta mediação salvífica implica também a unicidade do sacrifício redentor de
Cristo, sumo e eterno Sacerdote (cf. Hebr 6,20; 9,11; 10,12-14).
12. Há ainda quem sustente
a hipótese de uma economia do Espírito Santo com um carácter mais universal que
a do Verbo Encarnado, crucificado e ressuscitado. Também essa afirmação é
contrária à fé católica, que, ao contrário, considera a encarnação salvífica do
Verbo um acontecimento trinitário. No Novo Testamento o mistério de Jesus,
Verbo Encarnado, constitui o lugar da presença do Espírito Santo e o principio
da sua efusão na humanidade, não só nos tempos messiânicos (cf. Act 2,32-36; Jo
7,39; 20,22; 1 Cor 15,45), mas também nos que precederam a sua entrada na
história (cf. 1 Cor 10,4; 1 Pedro 1,10-12).
O Concílio Vaticano II
repropôs à consciência da fé da Igreja essa verdade fundamental. Ao expor o
plano salvífico do Pai sobre a humanidade inteira, o Concílio liga
estreitamente, desde o princípio, o mistério de Cristo com o do Espírito.35
Toda a obra de edificação da Igreja por parte de Jesus Cristo Cabeça, no
decorrer dos séculos, é vista como uma realização que Ele faz em comunhão com o
seu Espírito.36
Além disso, a acção
salvífica de Jesus Cristo, com e pelo seu Espírito, estende-se, para além dos
confins visíveis da Igreja, a toda a humanidade. Falando do mistério pascal, em
que Cristo agora já associa vitalmente a Si no Espírito o crente e lhe dá a
esperança da ressurreição, o Concílio afirma: «E isto vale não apenas para
aqueles que creem em Cristo, mas para todos os homens de boa vontade, no
coração dos quais, invisivelmente, opera a graça. Na verdade, se Cristo morreu
por todos e a vocação última do homem é realmente uma só, a saber divina, nós
devemos acreditar que o Espírito Santo oferece a todos, de um modo que só Deus
conhece, a possibilidade de serem associados ao mistério pascal».37
É claro, portanto, o laço
entre o mistério salvífico do Verbo Encarnado e o do Espírito, que mais não faz
que actuar a influência salvífica do Filho feito homem na vida de todos os
homens, chamados por Deus a uma única meta, quer tenham precedido
historicamente o Verbo feito homem, quer vivam depois da sua vinda na história:
de todos eles é animador o Espírito do Pai, que o Filho do homem doa com
liberalidade (cf. Jo 3,34).
Por isso, o recente
Magistério da Igreja recordou com firmeza e clareza a verdade de uma única
economia divina: «A presença e acção do Espírito não atingem apenas os
indivíduos, mas também a sociedade e a história, os povos, as culturas, as
religiões [...]. Cristo ressuscitado, pela virtude do seu Espírito, actua já no
coração dos homens [...]. É ainda o Espírito que infunde as “sementes do
Verbo”, presentes nos ritos e nas culturas, e as faz maturar em Cristo».38
Embora reconhecendo a função histórico-salvífica do Espírito em todo o universo
e na inteira história da humanidade,39 o Magistério, todavia afirma:
«Este Espírito é o mesmo que operou na encarnação, na vida, morte e
ressurreição de Jesus e opera na Igreja. Não é, portanto, alternativo a Cristo,
nem preenche uma espécie de vazio, como por vezes se julga que exista entre
Cristo e o Logos. O que o Espírito realiza no coração dos homens e na história
dos povos, nas culturas e religiões, assume um papel de preparação evangélica e
não pode deixar de referir-se a Cristo, Verbo feito carne pela acção do
Espírito, “a fim de, como Homem perfeito, salvar todos os homens e recapitular
em Si todas as coisas”».40
Concluindo, a acção do
Espírito não se coloca fora ou ao lado da de Cristo. Trata-se de uma única
economia salvífica de Deus Uno e Trino, realizada no mistério da encarnação,
morte e ressurreição do Filho de Deus, actuada com a cooperação do Espírito
Santo e estendida, no seu alcance salvífico, à inteira humanidade e ao
universo: «Os homens só poderão entrar em comunhão com Deus através de Cristo,
e sob a acção do Espírito».41
(cont.)
________________________________________
Notas:
(23) Conc. Vaticano II, Decl. Nostra aetate,
n. 2. Cf. ainda Conc. Vaticano II, Decr. Ad gentes, n. 9, onde se fala de
elementos de bem, presentes « nos usos e culturas particulares dos povos »;
Const. dogm. Lumen gentium, n. 16, onde se acena a elementos de bem e de
verdade, presentes entre os não cristãos, que podem ser considerados uma
preparação para a aceitação do Evangelho.
(24)
Cf. Conc. de Trento, Decr. de libris sacris et de traditionibus recipiendis:
Denz., n. 1501; Conc. Vaticano I, Const. dogm. Dei Filius, cap. 2: Denz., n.
3006.
(25)
Conc. Vaticano II, Const. dogm. Dei verbum, n. 11.
(26)
Ibid.
(27)
João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 55. Cf. ainda n. 56. Cf. Paulo
VI, Exort. apost. Evangelii nuntiandi, n. 53.
(28)
Conc. de Niceia I, Symbolum Nicaenum: Denz., n. 125.
(29)
Conc. de Calcedónia, Symbolum Chalcedonense: Denz., n. 301.
(30)
Conc. Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, n. 22.
(31)
João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 6.
(32)
Cf. S. Leão Magno, Tomus ad Flavianum: Denz., n. 294.
(33)
Cf. S. Leão Magno, Litterae «Promisisse me me míni» ad Leonem I imp.: Denz., n.
318: « In tantam unitatem ab ipso conceptu Virginis deitate et humanitate
conserta, ut nec sine homine divina, nec sine Deo agerentur humana». Cf. ainda
ibid.: Denz., n. 317.
(34)
Conc. Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, n. 45. Cf. ainda Conc. de
Trento, Decr. De peccato originali, n. 3: Denz., n. 1513.
(35)
Cf. Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, nn. 3-4.
(36)
Cf. ibid., n. 7. Cf. S. Ireneu, o qual afirmava que na Igreja « foi
estabelecida a comunhão com Cristo, ou seja, com o Espírito Santo » (Adversus
Haereses III, 24, 1: SC 211, 472).
(37)
Conc. Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, n. 22.
(38)
João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 28. Quanto às « sementes do
Verbo » cf. ainda S. Justino, 2 Apologia 8,1-2; 10,1-3; 13,3-6: ed. E.J.
Goodspeed, pp. 84; 85; 88-89.
(39)
Cf. ibid., nn. 28-29.
(40)
Ibid., n. 29.
(41)
Ibid., n. 5.
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