Quarta-Feira
(Coisas muito simples, curtas, objectivas)
PEQUENA AGENDA DO
CRISTÃO
Propósito: Simplicidade e modéstia.
Senhor,
ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no
meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de
grandeza e proeminência.
Lembrar-me: Do meu Anjo da Guarda.
Senhor,
ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão
excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas
alegrias e entristece-se com as minhas faltas.
Anjo
da minha Guarda, perdoa-me a falta de corres-pondência ao teu interesse e
protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na
retribuição de tantos favores recebidos.
Pequeno
exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?
LEITURA ESPIRITUAL
Evangelho
Jo XV, 1-27
A videira e as varas
1 «Eu sou a videira verdadeira e o meu
Pai é o agricultor. 2 Ele corta todo o ramo que não dá fruto em mim e poda o
que dá fruto, para que dê mais fruto ainda. 3 Vós já estais purificados pela
palavra que vos tenho anunciado. 4 Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós.
Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na
videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim. 5 Eu
sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito
fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer. 6 Se alguém não permanece em mim, é
lançado fora, como um ramo, e seca. Esses são apanhados e lançados ao fogo, e
ardem. 7 Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi
o que quiserdes, e assim vos acontecerá. 8 Nisto se manifesta a glória do meu
Pai: em que deis muito fruto e vos comporteis como meus discípulos.» 9 «Assim
como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor. 10 Se
guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que
tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor. 11
Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa
alegria seja completa.
Caridade fraterna
12 É este o meu mandamento: que vos ameis
uns aos outros como Eu vos amei. 13 Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida
pelos seus amigos. 14 Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. 15
Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o
seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que
ouvi ao meu Pai. 16 Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi a
vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça; e assim, tudo o
que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá. 17 É isto o que vos mando:
que vos ameis uns aos outros.»
Ódio do mundo
18 «Se o mundo vos odeia, reparai que,
antes que a vós, me odiou a mim. 19 Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que
é seu; mas, como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do
mundo, por isso é que o mundo vos odeia. 20 Lembrai-vos da palavra que vos
disse: o servo não é mais que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos
hão-de perseguir a vós. Se cumpriram a minha palavra, também hão-de cumprir a
vossa. 21 Mas tudo isto vos farão por causa de mim, porque não reconhecem
aquele que me enviou. 22 Se Eu não tivesse vindo e não lhes tivesse dirigido a
palavra, não teriam culpa, mas, agora, não têm escusa do seu pecado. 23Quem me
odeia a mim odeia também o meu Pai. 24 Se, diante deles, Eu não tivesse
realizado obras que ninguém mais realizou, não teriam culpa; mas agora, apesar
de as verem, continuam a odiar-me a mim e ao meu Pai. 25 Tinha, porém, de se
cumprir a palavra que ficou escrita na sua Lei: Odiaram-me sem razão.» 26 «Quando
vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, e que Eu vos
hei-de enviar da parte do Pai, Ele dará testemunho a meu favor. 27 E vós também
haveis de dar testemunho, porque estais comigo desde o princípio.»
Comentário
Todos compreendem estas imagens usadas por Cristo. Não
é necessário ser agricultor para saber que um ramo qualquer separado do tronco
não serve para nada e acaba por secar. E, a razão porque tal acontece é
compreendida por todos: o ramo vive enquanto recebe a seiva que corre no
tronco. Separados de Cristo, a Sua Palavra, que é a seiva que alimenta a
vida, deixa de correr em nós, alimentar a nossa alma e, o resultado é o mesmo,
mortos espiritualmente, não servimos para nada. O que se pode
concluir, sem esforço, é que a nossa união com Deus é vital para a nossa própria
sobrevivência. Unidos a Ele, viveremos uma vida com sentido e com proveito
donde que, o contrário, isto é, separados d’Ele, acabamos por morrer por não
ter qualquer préstimo.
Pela segunda vez este ano a Liturgia apresenta este
trecho de São João e, parece-me que a razão se compreende com facilidade:
A Igreja quer chamar-nos a atenção para a necessidade de uma constante revisão
de vida, para um exame cuidado e sério do nosso comportamento como cristãos. O
que temos que conservar e desenvolver e o que não interessa e convém
deixar.
É bem de ver que podar as videiras é uma tarefa
absolutamente necessária para não só manter a saúde e o vigor das plantas, como
para garantir frutos abundantes e de bom calibre. Abandonada, a videira
continuará a dar frutos mas, em pouco tempo, este tornam-se enfezados e sem
qualquer préstimo e a própria videira crescerá sem forma, num emaranhado de
ramos e folhas que acabarão por abafar as outras plantas que estiverem próximo.
Assim connosco, os cristãos, temos de "podar" quanto não presta ou
está a mais na nossa vida, mantendo o vigor e a saúde da nossa alma para que as
obras sejam boas, dêem os frutos que O Senhor legitimamente espera colher. Por
vezes pode custar esse corte, essa "limpeza" desses inúmeros
"ramos" que são os desejos de ter, os atilhos que nos prendem a
coisas supérfluas, o lastro que vamos acumulando que nos pesa e tolhe. Mas vale
a pena! As
importantes declarações de Jesus unem indissoluvelmente o amor e a alegria. Não
é possível existir uma sem o outro e compreende-se bem porquê: A alegria que o
amor – verdadeiro, sincero, total – produz no ser humano, é de tal forma
visível, palpável, que não há quem se atreva a negá-lo. O inverso,
infelizmente, é bem verdadeiro, sem amor o homem vive mergulhado na tristeza e
não é, de modo nenhum, e um ser completo porque Deus criou-nos para amar. Há
quem aduza que todos os amores humanos por honestos, verdadeiros, puros, que
possam existir não se podem comparar com o Amor de Deus porque Ele É O Amor! Mas
Cristo diz o contrário, que o amor é só um, o que vale, o que interessa: O Amor
do Pai pelo Filho e, sendo assim, é este Amor que devemos perseguir com afinco
para atingirmos aquela alegria de Cristo, sumo bem e consolação. Por isso mesmo
nos diz categoricamente: «o que vos
mando: que vos ameis uns aos outros».
Amar como Jesus pede é possível? Temos de convir que
sim ou ele não o teria pedido. Aliás, faz mais que um pedido, dá uma instrução,
uma regra. Sem amor, que interessa a vida? Como são possíveis as boas obras? Quem
ama está por natureza definitivamente empenhado no que ama. É o que mais quer,
o que mais entranhadamente deseja porque o tem como um autêntico bem que não
pode desperdiçar. Não tenhamos medo do amor e de o demonstrar com palavras e
com obras.
Alegria, alegria... É principal característica dos
filhos de Deus porque a alegria nasce do amor e os filhos de Deus são
reconhecidos exactamente pelo amor que os une entre si, a todos os homens, a
Deus. Tudo começa na extraordinária noite do nascimento de Cristo em que os
Anjos do Céu anunciam aos pastores de Belém «uma grande alegria». Esta
alegria incomensurável perdurará para sempre até ao final dos tempos e, depois,
continua no Céu no gozo da presença de Deus. Qual é o “motor” da alegria? O
amor! Alguém que ama – verdadeiramente ama – tem de ser uma pessoa alegre
porque não há forma de se poder amar como convém – isto é, totalmente – sem
essa alegria que vem de dentro, do mais fundo do coração. E isto - perdoe-se-me
– não é poesia, mas uma realidade. Jesus Cristo declara-se
alegre, totalmente alegre, o que é natural porque o Seu Amor é total, não tem
nem condições nem limites.
O
Senhor confirma aos Seus Apóstolos, para que não lhes restem quaisquer dúvidas,
que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade dará testemunho, confirmará por
assim dizer, quanto Ele lhes disse e ensinou. E o mesmo Espírito Santo lhes
dará as luzes que possam necessitar para compreender o que ouviram. Só agora, o
Senhor lhes diz isto porque, como disse e é absolutamente lógico, tudo ouviram
directamente da Sua boca enquanto esteve com eles Talvez que o maior bem que nos foi alcançado por Jesus Cristo seja o
ter-nos retirado do mundo, isto é, pertencendo ao mundo sem ser mundanos. Isto
significa que a podemos viver perfeitamente a nossa vida espiritual que é, no
fim e ao cabo, a nossa íntima relação com Deus, vivendo onde temos de viver nos
ambientes e circunstâncias que cabem a cada um. Não precisamos retirar-nos para
viver uma intensa vida de piedade, de amorosa " ligação " com a
prática da nossa fé, ser santos. Santos no meio do mundo! Esta maravilhosa
realidade foi-nos dada por Jesus que, sem qualquer mérito da nossa parte, nos
proporciona quanto precisamos para a atingir.
Jesus Cristo que É a VERDADE, não podia enganar-nos,
com promessas, “futuros cor-de-rosa”, vidas cheias de bons momentos e futuros
risonhos. Bem ao contrário, diz sem rebuços tudo quanto irá acontecer aos que
decidirem segui-Lo e espalhar o Reino de Deus pela terra. Não só no futuro
imediato, mas ao longo de todos os tempos, como bem vemos agora. Não parece
apelativo este convite a segui-Lo, mas, a verdade, é que não faltaram – nem
faltarão nunca – quem se decida por esse caminho e, o que parece ser um
contra-senso é na verdade, uma escolha de extraordinária eficácia. Ninguém
gosta de sofrer, mas, se for preciso passar dificuldades, amarguras, maus
tratos e, até sacrificar a própria vida pela “causa” Divina haverá sempre quem
escolha esse caminho porque sabe que, o prémio vale bem tudo isso. O que o
Senhor tem reservado para quem O segue é um bem incomensuravelmente maior que
qualquer contratempo, dificuldade ou obstáculo. E, com Ele, depositando n’Ele
inteira confiança que nunca nos faltará com o Seu auxílio, vale bem a pena
percorrer esse caminho.
Na verdade, quando Deus "decidiu" salvar a
humanidade, recuperando os filhos perdidos pelo pecado de Adão, fá-lo para
sempre. Não admira, o homem está feito para a eternidade. Primeiro Deus Pai
envia os profetas e estabelece alianças com o povo escolhido; logo Deus Filho
toma a forma humana gerado no seio puríssimo da Santíssima Virgem e vive entre
os homens, fisicamente, durante trinta e três anos, entregando o penhor dessa
vida eterna, ensinando os meios para a conquistar, depositando nas mãos de
Pedro à chaves do Reino de Deus e, depois, já legitimados como autênticos
filhos de Deus, vem Deus Espírito Santo para confirmar na fé, consolidar a
esperança e fortalecer o amor e, finalmente, ficar connosco até ao final dos
tempos assistindo-nos com os Seus Dons inefáveis. Temos forçosamente de
concluir que Deus não nos abandona nunca e que o Seu gozo e alegria é que
vivamos esta vida terrena de tal forma que possamos merecer gozar a Sua
presença por toda a eternidade.
Jesus sublinha uma vez mais que sem Ele nada podemos fazer. E como proceder? Estando unidos a Ele. Não há outro processo ou alternativa. Unidos a Cristo como os ramos à videira podemos tudo mesmo o que aparentemente é impossível. Jesus dá este exemplo muito gráfico da videira e dos sarmentos para ”reforçar” a absoluta necessidade que temos de estar unidos a Ele, o que temos a ganhar e o que perderemos se o não estivermos. O que andam a fazer no monte as ovelhas sem pastor? Andam perdidas e sem rumo em busca das melhores pastagens que, sem a ajuda do pastor, serão muito difíceis de encontrar. Andarão perdidas e sem rumo podendo precipitar-se num barranco que não adivinham ou entrar no território perigoso do lobo que está sempre à espreita. Sim! Unidos a Cristo com firmeza e determinação e, sobretudo, com toda a confiança na Sua pronta e eficaz assistência em caso de necessidade. Todos entendemos bem estas imagens de que o Senhor se serve para nossa doutrina. Podemos não ser “agricultores experimentados”, mas sabemos o suficiente para compreender que um ramo só pode produzir frutos se estiver ligado ao tronco. O nosso “tronco” é Jesus Cristo, que mergulhado na nossa humanidade por vontade própria – por Amor – nos garante a seiva, o alimento necessário para que não só vivamos, mas, sobretudo, para que frutifiquemos. E… que frutos são esses? Nada mais que as boas obras que praticamos e, estas, não são outra coisa que o cumprimento da Vontade de Deus. São João, com o estilo que lhe é próprio, reproduz as palavras de Jesus Cristo que nos parece estar a ouvir o Senhor a explicar-nos com singela simplicidade o que significa ser cristão: [1] ESTAR UNIDO A CRISTO! Evidentemente que sabemos muito bem que somos cristãos pela força da graça infundida no Baptismo mas, do que falamos é viver como cristãos e tal não é possível sem essa união íntima, sólida, constante como os sarmentos em relação à vide. Então, compreendemos bem, que tal como a vide só está “completa” com os sarmentos a ela unidos, também nós só estaremos “completos” se unidos a Cristo.Sem esta união somos incapazes de dar qualquer fruto aproveitável porque, de facto, Quem os produz é o Próprio Cristo por nosso intermédio, como instrumentos Seus para espalhar por toda a parte o Seu Reino de Paz e Amor.
As palavras de Cristo segundo Ele próprio são «espírito
e vida» e, segundo o príncipe dos Apóstolos são «palavras de vida eterna».
As duas afirmações completam-se admiravelmente não sendo necessárias mais
explicações. Ouvindo Cristo, guardando as suas palavras temos quanto precisamos
para viver esta vida de forma a ganhar a vida eterna. Há algo neste trecho de
São João: «Assim como o Pai me
tem amor, assim Eu vos amo a vós» que é tão sério e
importante que não podemos deixar de reflectir detidamente. O amor que Cristo
nos tem é igual ao amor que Deus Pai tem por Deus Filho?! Então… é um amor
imenso, sem medida nem comparação possível. Vemos as “consequências” desse
amor: dar a vida por nós! O Senhor quase que resume todas as Suas recomendações
numa única: «É isto o que vos mando: que
vos ameis uns aos outros». Esforçar-se por cumprir este mandato é, pois, o
segredo da nossa salvação.
(AMA,
1998)
FAMÍLIA
2.
Significado e extensão do quarto mandamento
4.
Deveres dos pais
São
importantes, mas não absolutos, os laços familiares. Quanto mais a criança
cresce para a maturidade e autonomia humanas e espirituais, tanto mais a sua
vocação individual, que vem de Deus, se afirma com nitidez e força. Os pais
devem respeitar este chamamento e apoiar a resposta dos filhos para o seguir.
Hão-de convencer-se de que a primeira vocação do cristão é seguir Jesus (cf.
Mt 16,25): “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno
de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim” (Mt
10, 37)
(Catecismo,
2232).
A vocação divina de um filho para realizar uma peculiar missão apostólica,
supõe uma dávida de Deus para a família. Os pais hão-de aprender a respeitar o
mistério do chamamento, embora possa acontecer que não o entendam. A abertura
às possibilidades que abre a transcendência e o respeito pela liberdade
fortalecem-se na oração. Assim, evita-se a excessiva protecção ou o controlo
indevido dos filhos: um modo possessivo de actuar que não ajuda o crescimento
humano e espiritual
REFLEXÃO
Dons do Espírito Santo
Como viver sem eles?
1
Não tenho uma resposta porque na realidade não sei.
Considero-me credor de imensos dons que ao longo da minha vida fui
recebendo, mas, na verdade, sinto que nos últimos tempos têm sido abundantes e
de tal forma sensíveis que, também não tenho dúvidas, se tem operado uma
notória transformação em mim, na minha vida. Julgo sinceramente que para
melhor.
Como tenho a certeza que como tal não se deve a qualquer mérito da minha
parte só posso concluir que o Senhor me tem reservado algo que não sei o que
possa ser.
Espero pela santidade, quero definitivamente ser santo!
Parece-me viver uma outra vida, não uma vida dupla, mas única, uma só.
Estou a tornar-me num "místico? Talvez, mas não me assusta.
Deveria? Rezo não mais que antes, mas talvez reze melhor, sinto-me cada vez
mais íntimo do Senhor.
Quanto devo? Sim, assusta-me um pouco a dimensão da dívida.
Como pagar? Não me parece que deva ser uma preocupação porque não me ocorre
sequer que o Senhor dá com o objectivo de receber. Não!
Dá para que os Seus filhos possam cumprir melhor a Sua Vontade porque sabe
muito bem que por nós próprios não conseguiríamos. Mas saber que no fundo não
existe dívida a pagar não exime que não se agradeça bem pelo contrário quanto
mais se recebe mais se deve agradecer.
A gratidão é um sentimento de grande beleza e dignidade e ser grato traz
uma satisfação íntima muito real e concreta.
(AMA, 2020)
SÃO JOSEMARIA – textos
Devemos também contar com
quedas e derrotas
Se fores fiel, poderás chamar-te
vencedor. Na tua vida, mesmo que percas alguns combates, não conhecerás
derrotas. Não existem fracassos – convence-te –, se actuares com rectidão de
intenção e com desejo de cumprir a Vontade de Deus. Nesse caso, com êxito ou
sem ele, triunfarás sempre, porque terás feito o trabalho com Amor. (Forja, 199)
Somos criaturas e estamos repletos de
defeitos. Eu diria até que tem de os haver sempre, pois são a sombra que faz
com que se destaquem mais, por contraste, na nossa alma, a graça de Deus e o
esforço por correspondermos ao favor divino. E esse claro-escuro tornar-nos-á
humanos, humildes, compreensivos, generosos. Não nos enganemos: na nossa vida,
se contamos com brio e com vitórias, devemos também contar com quedas e
derrotas. Essa foi sempre a peregrinação terrena do cristão, incluindo a
daqueles que veneramos nos altares. Recordais-vos de Pedro, de Agostinho, de
Francisco? Nunca me agradaram as biografias dos santos em que, com ingenuidade,
mas também com falta de doutrina, nos apresentam as façanhas desses homens,
como se estivessem confirmados na graça desde o seio materno. Não. As
verdadeiras biografias dos heróis cristãos são como as nossas vidas: lutavam e
ganhavam, lutavam e perdiam. E então, contritos, voltavam à luta. Não nos cause
estranheza o facto de sermos derrotados com relativa frequência, habitualmente
ou até talvez sempre, em matérias de pouca importância, que nos ferem como se
tivessem muita. Se há amor de Deus, se há humildade, se há perseverança e
tenacidade na nossa milícia, essas derrotas não terão demasiada importância,
porque virão as vitórias a seu tempo, que serão glórias aos olhos de Deus. Não
existem os fracassos, se agimos com rectidão de intenção e queremos cumprir a
vontade de saber vencer-se todos os dias. Não é espírito de penitência fazer
uns dias grandes mortificações e abandoná-las noutros. Espírito de penitência
significa saber vencer-se todos os dias, oferecendo coisas – grandes e pequenas
– por amor e sem espectáculo. (Forja,
784)
Mas ronda à nossa volta um potente
inimigo, que se opõe ao nosso desejo de encarnar dum modo acabado a doutrina de
Cristo: o orgulho que cresce quando não procuramos descobrir, depois dos
fracassos e das derrotas, a mão benfeitora e misericordiosa do Senhor. Então a
alma enche-se de penumbra – de triste obscuridade – crendo-se perdida. E a
imaginação inventa obstáculos que não são reais, que desapareceriam se os
encarássemos com um pouco de humildade. Com o orgulho e a imaginação, a alma
mete-se por vezes em tortuosos calvários; mas nesses calvários não está Cristo,
porque onde está o Senhor goza-se de paz e de alegria, mesmo que a alma esteja
em carne viva e rodeada de trevas. Outro inimigo hipócrita da nossa
santificação: pensar que esta batalha interior tem de dirigir-se contra
obstáculos extraordinários, contra dragões que respiram fogo. É outra
manifestação de orgulho. Queremos lutar, mas estrondosamente, com clamores de
trombetas e tremular de estandartes. Temos de nos convencer de que o maior
inimigo da pedra não é o picão ou o machado, nem o golpe de qualquer outro
instrumento, por mais contundente que seja: é essa água miúda, que se mete,
gota a gota, entre as gretas da fraga, até arruinar a sua estrutura. (Cristo que passa, 77)