Tempo comum XVIII Semana
Transfiguração
do Senhor
Evangelho:
Mt 17, 1-9
Seis dias depois, tomou Jesus consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão,
e levou-os à parte a um monte alto, 2 e transfigurou-Se diante
deles. O Seu rosto ficou refulgente como o sol, e as Suas vestes tornaram-se
luminosas de brancas que estavam. 3 Eis que lhes apareceram Moisés e
Elias falando com Ele. 4 Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus:
«Senhor, que bom é nós estarmos aqui; se queres, farei aqui três tendas, uma
para Ti, uma para Moisés, e outra para Elias». 5 Estando ele ainda a
falar, eis que uma nuvem resplandecente os envolveu; e saiu da nuvem uma voz
que dizia: «Este é o Meu Filho muito amado em Quem pus toda a Minha
complacência; ouvi-O». 6 Ouvindo isto, os discípulos caíram de
bruços, e tiveram grande medo. 7 Porém, Jesus aproximou-Se deles,
tocou-os e disse-lhes: «Levantai-vos, não temais». 8 Eles, então,
levantando os olhos, não viram ninguém, excepto só Jesus. 9 Quando
desciam do monte, Jesus fez-lhes a seguinte proibição: «Não digais a ninguém o
que vistes, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos».
Comentário:
Senhor, transfigura-me a mim, este barro duro e seco,
num homem saído das tuas mãos divinas.
Transfigura-me na Tua Imagem gravada na minha alma.
Transfigura-me, não para minha glória, mas para minha
salvação.
Só transfigurado em Ti, meu Jesus, poderei ser quem
esperas que seja e quem desejo ser.
(AMA,
Meditação sobre Mt 17, 1-9, Agosto, 2008)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Amigos
de Deus
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Vencei,
se por acaso disso vos apercebeis, a preguiça, o falso critério segundo o qual
a oração pode esperar.
Nunca
atrasemos esta fonte de graças para amanhã.
Agora
é o tempo oportuno.
Deus,
que é amoroso espectador de todo o nosso dia, preside à nossa íntima prece.
E
tu e eu - volto a assegurar - temos de nos confiar a Ele como se confia num
irmão, num amigo, num pai. Diz-lhe - eu faço assim - que Ele é toda a Grandeza,
toda a Bondade, toda a Misericórdia.
E
acrescenta: por isso, quero apaixonar-me por Ti, apesar da rudeza das minhas
maneiras, destas minhas pobres mãos, marcadas e maltratadas pelo pó das veredas
da terra.
Desta
maneira, quase sem darmos por isso, avançaremos com passos divinos, fortes e
vigorosos, saboreando a íntima convicção de que junto do Senhor também são
agradáveis a dor, a abnegação, os sofrimentos.
Que
fortaleza, para um filho de Deus, saber-se tão perto de seu Pai! Por esta
razão, aconteça o que acontecer, estou firme e seguro contigo, meu Senhor e meu
Pai, que és a rocha e a fortaleza.
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Para
alguns, tudo isto é talvez familiar; para outros, novo; para todos, árduo.
Mas
eu, enquanto tiver alento, não cessarei de pregar a necessidade primordial de
ser alma de oração - sempre! - em qualquer ocasião e nas circunstâncias mais
díspares, porque Deus nunca nos abandona. Não é cristão pensar na amizade
divina exclusivamente como um recurso extremo.
Pode
parecer-nos normal ignorar ou desprezar as pessoas que amamos?
Evidentemente
que não.
Para
os que amamos dirigimos constantemente as palavras, os desejos, os pensamentos:
há como que uma presença contínua.
Pois,
o mesmo com Deus.
Com
esta busca do Senhor, toda a nossa jornada se converte numa única conversa,
íntima e confiada.
Afirmei-o
e escrevi-o tantas vezes, mas não me importo de o repetir, porque Nosso Senhor
faz-nos ver - com o seu exemplo - que este é o comportamento certo: oração
constante, de manhã à noite e da noite até de manhã.
Quando
tudo sai com facilidade: obrigado, meu Deus!
Quando
chega um momento difícil: Senhor, não me abandones!
E
esse Deus, manso e humilde de coração, não esquecerá os nossos rogos nem
permanecerá indiferente, porque Ele afirmou: pedi e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á.
Procuremos,
portanto, nunca perder o ponto de mira sobrenatural, vendo Deus por detrás de
cada acontecimento, seja ele agradável ou desagradável, quer nos cause
satisfação... ou desconsolo pela morte de um ser querido.
Antes
de mais, a conversa com o nosso Pai Deus, procurando o Senhor no centro da
nossa alma.
Não
é coisa que possa considerar-se como uma miudeza, de pouca monta: é uma
manifestação clara de vida interior constante, de um autêntico diálogo de amor.
Será
uma prática que não nos produzirá nenhuma deformação psicológica, porque - para
um cristão - deve ser tão natural como o bater do coração.
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Orações vocais e oração
mental
Neste
entretecido, neste actuar da fé cristã, engastam-se, como joias, as orações
vocais.
São
fórmulas divinas: Pai Nosso...,Ave-Maria... Glória ao Pai e ao Filho e ao
Espírito Santo.
Há
essa coroa de louvores a Deus e à Nossa Mãe que é o Santo Rosário e tantas e
tantas outras aclamações, cheias de piedade, que os nossos irmãos cristãos
recitaram desde o princípio.
Santo
Agostinho, comentando um versículo do Salmo 85 - Senhor, tem piedade de mim
porque por Ti clamei todo o dia, e não apenas um dia - escreve: por todo o dia quer significar todo o tempo,
sem cessar... Um só homem alcança até
ao fim do mundo, pois são os idênticos membros de Cristo que clamam: alguns já
descansam n'Ele, outros invocam-no actualmente e outros implorarão quando nós
já tivermos morrido e, depois destes, outros mais continuarão a suplicar.
Não
vos emociona a possibilidade de participar nesta homenagem ao Criador, que se
perpetua pelos séculos?
Que
grande é o homem quando se reconhece criatura predilecta de Deus e recorre a
Ele tota die, em cada instante da sua
peregrinação terrena!
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Que
não faltem no nosso dia alguns momentos dedicados especialmente a travar
intimidade com Deus, elevando até Ele o nosso pensamento, sem que as palavras
tenham necessidade de vir aos lábios, porque cantam no coração.
Dediquemos
a esta norma de piedade um tempo suficiente, a hora fixa, se possível.
Ao
lado do Sacrário, acompanhando Aquele que ali ficou por Amor. Se não houver
outro remédio, em qualquer lugar, porque o nosso Deus está de modo inefável na
nossa alma em graça.
Aconselho-te,
contudo, a que vás ao oratório sempre que possas.
E
empenho-me em não lhe chamar capela, para que ressalte de forma mais evidente
que não é um sítio para estar, com uma atitude oficial de cerimónia, mas para
elevar a mente em recolhimento e intimidade até ao Céu, com a convicção de que
Cristo nos vê, nos ouve, nos espera e nos preside no Sacrário, onde está
realmente presente, oculto nas espécies sacramentais.
Cada
um de vós, se quiser, pode encontrar o caminho que lhe for mais propício para
este colóquio com Deus.
Não
me agrada falar de métodos nem de fórmulas, porque nunca fui amigo de
espartilhar ninguém; tenho procurado animar todas as pessoas a aproximarem-se
do Senhor, respeitando cada alma tal como ela é, com as suas próprias
características.
Pedi-lhe
vós que meta os seus desígnios na nossa vida: e não apenas na nossa cabeça, mas
no íntimo do nosso coração e em toda a nossa actividade externa.
Garanto-vos
que deste modo evitareis grande parte dos desgostos e das penas do egoísmo e
sentir-vos-eis com força para propagar o bem à vossa volta.
Quantas
contrariedades desaparecem, quando interiormente nos colocamos muito próximos
deste nosso Deus, que nunca nos abandona! Renova-se com diversos matizes esse
amor de Jesus pelos seus, pelos doentes, pelos entrevados, quando pergunta: que
se passa contigo? Comigo...
E,
logo a seguir, luz ou, pelo menos, aceitação e paz.
Ao
convidar-te para fazeres essas confidências com o Mestre, refiro-me
especialmente às tuas dificuldades pessoais, porque a maioria dos obstáculos
para a nossa felicidade nascem de uma soberba mais ou menos oculta.
Pensamos
que temos um valor excepcional, qualidades extraordinárias.
Mas,
quando os outros não são da mesma opinião, sentimo-nos humilhados. É uma boa
ocasião para recorrer à oração e para rectificar, com a certeza de que nunca é
tarde para mudar a rota.
Mas
é muito conveniente iniciar essa mudança de rumo quanto antes.
Na
oração, com a ajuda da graça, a soberba pode transformar-se em humildade.
E
brota da alma a verdadeira alegria, mesmo quando ainda notamos o barro nas
asas, o lodo da pobre miséria, que vai secando.
Depois,
com a mortificação, cairá esse barro e poderemos voar muito alto, porque nos
será favorável o vento da misericórdia de Deus.
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Olhai
que o Senhor anseia por nos conduzir com passos maravilhosos, divinos e
humanos, que se traduzem numa abnegação feliz, de alegria com dor, de
esquecimento de nós mesmos.
Se
alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo. Um conselho que já todos
ouvimos.
Temos
de nos decidir a segui-lo de verdade: que o Senhor se sirva de nós para que,
metidos em todas as encruzilhadas do mundo - e estando nós metidos em Deus -
sejamos sal, levedura, luz.
Tu,
em Deus, para iluminar, para dar sabor, para aumentar, para fermentar.
Mas
não te esqueças de que não somos nós quem cria essa luz; apenas a reflectimos.
Não
somos nós quem salva as almas, levando-as a praticar o bem. Somos apenas um
instrumento, mais ou menos digno, para os desígnios salvíficos de Deus.
Se
alguma vez pensássemos que o bem que fazemos é obra nossa, voltaria a soberba,
ainda mais retorcida; o sal perderia o sabor, a levedura apodreceria, a luz
converter-se-ia em trevas.
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Um personagem mais
Nestes
trinta anos de sacerdócio, ao insistir tenazmente na necessidade da oração, na
possibilidade de converter a existência num clamor incessante, algumas pessoas
têm-me perguntado: mas será possível comportar-se sempre assim?
É.
Essa
união com Nosso Senhor não nos afasta do mundo, não nos transforma em seres
estranhos, alheios à passagem dos tempos.
Se
Deus nos criou, se nos redimiu, se nos ama até ao ponto de entregar o seu Filho
unigénito por nós, se nos espera - todos os dias! - como aquele pai da parábola
esperava o seu filho pródigo, como não há-de desejar que o tratemos com amor?
O
que seria estranho era não falar com Deus, afastar-se d'Ele, esquecê-lo,
dedicar-se a actividades estranhas a esses toques ininterruptos da graça.
(cont)