(Re
Mc 4, 1-20)
«Quem
tem ouvidos para ouvir, oiça».
Talvez
que possa considerar que esta declaração de Jesus encerra quanto preciso saber
para cumprir o meu dever de cristão.
Ouvir
a Palavra, ler o Evangelho só terão efeito real e com frutos abundantes se
estudar, apreciar detidamente quanto oiço ou leio. Só assim poderei levar a
cabo essa missão que é a de todo o cristão, de transmitir a Palavra de Deus,
espalhando-a o como semeador faz quando semeia um campo.
Não
posso, não devo usar uma semente que não conheça em detalhe, uma semente boa,
de boa origem que me garanta que os frutos que irá produzir serão não só
abundantes mas, sobretudo eficazes.
BIOÉTICA
Parte
1
Pessoa
humana e princípios fundamentais.
A
bioética, por estar ao serviço do homem, tem de conhecer quem é a pessoa
humana. O primeiro dado que há a realçar é a diferença entre coisas e pessoas,
já presente na linguagem.
1.
Coisas e pessoas
As
coisas são objectos; os homens são sujeitos pessoais.
Note-se
a diferença linguística nas perguntas e nas respostas:
- Que queres?
Reposta: Un licor.
-
Quem és?
Resposta:
Um médico
-
Quem és?
Resposta:
o Papa.
Não
é correcto colocar a pergunta: O que é o homem?, mas: Quem é o homem? Porque o
homem não é um objecto, uma coisa, um instrumento que se fabrica ou produz; é
um sujeito pessoal, singular e irrepetível. Os direitos e os deveres são dos
sujeitos peesoais, não dos objectos.
2.
O homem é um ser material e espiritual.
Para
entender quem é o homem observemos os factos que a experiência nos apresenta.
Primeiro
facto: o homem é um organismo vivo. Como qualquer organismo, é um conjunto de
matéria formado por átomos e moléculas. Pertence ao mundo visível eé corpo
entre os corpos. Ocupa um espaço e vive num determinado tempo. Pode-se medir e
pesar.
AS
suas células e órgãos podem ser contadas e analizadas ao microscópio. Como
organismo vivo, nasce, cresce e desenvolve-se passando de criança a adulto, mas em que mude a identidade no
tempo: é a mesma e idêntica pessoa durante toda a vida. Está sujeito a toas as
leis da matéria orgânicas e não pode evitar nem a doença nem a morte. Ao
organismo material, pelo qual homem está no mundo, chamamos-lhe “corpo humano”.
O corpo humano é o primero registo do meu valor e diversidade dos outros
homens. No meu bilhete de identidade estão
as fotos e os dados do meu corpo, e estes dados identificam-me. O primeiro
facto, portanto, é que o homem é um ser material.
Segundo
facto: entre os actos que o homem leva a cabo vemos que alguns são causados
directamente pelo corpo: alimentar-se, deslocar-se de um lugar para outro, ver
com os olhos e tocar com as mãos; outros, pelo contrário, não dependem directamente
do corpo.
.
Com os olhos posso ver uma jóia concreta, por exemplo: uma pérola majórica, num
determinado lugar, como na orelha da minha amiga Maria, e num preciso momento,
durante a festa dos seus 18 anos. Estes actos são concrectos, particulares e materiais;
podemos medi-los. Todavia, alguns
comportamentos do homem requerem outro
tipo de actos, como o pensar, o querer, a livre escolha, a angústia, a
compaixão.
.
Com o pensamento, o homem constrói “ideias” abstractas, universais e
imateriais. Posso pensar não numa jóia em particular, mas na jóia; não só
conheço esta mulher, mas as mulheres; não só tenho a ideia desta ou daquela
árvore, mas também da árvore enquanto tal. O homem tem a ideia da jóia, da
mulher, da árvore, etc., todas ideias abstractas e universais; estas ideias não
têm tempo, não ocupam espaço, não podem ser pesadas nem medidas.
.
Com as ideias abstractas fazemos juízos e considerações, por exemplo: «o brinco
de Maria é muito bonito». A partir da observação da natureza, o homem formula leis
gerais: «os corpos caiem», ideias, juizos e considerações empregam uma
linguagem. O homem fala. O falar é uma característica específicamente
humana.Também os animais comunicam uns com outros animais através de sinais,
mas não falam. Alinguagem anaimal usa sinais de comunicação fixas e imutáveis:
o cão ladra, o leão ruge, mas sempre do mesmo modo, em todas as partes do mundo
e em todas as épocas. Ao contrário, a linguagem humana muda de povo para povo,
de época para épocae está formada por palavras convencionais, de tal forma que
homens de tempos e lugares diferentes usam palavras diferentes para indicar a
mesma coisa e palavras iguais para indicar coisas diferentes. Assim ao que os
espanhóis chamam «casa», os antigos romanos chamavam-lhe «domus» e os ingleses
de hoje chamam-lhe «house»; tal
como a palavra «lira» pode significar uma moeda, um isntrumento musical, uma
constelação astral.
.
Além do mais, nós amamos os amigos, os pais, os irmãose irmãs. O nosso amor não
pesa, não coupa espaço, não pode ser medido com o metro; mas nem por isso o meu
amor pela minha amiga Maria é menos real que o brinco que vejo na sua orelha.
Além disso, a minha capacidade de amar não tem «espaço limitado», antes posso
sempre amar melhor e mais, sem ter de libertar espaço; o disco duro do meu
computador é de capacidade limitada; o meu coração dilata-se sempre mais com o
amor.
.
Por último, cada um de nós tem a capacidade de eleger livremente, de querer uma
coisa em vez de outra. Sou livre para tomar um café ou um sumo de laranja, de
continuar a leitura deste livro ou de adiá-la, de estudar ou ir divertir-me com
uns amigos. Detas livre escolhas, eu sinto a responsabiliade, o peso da
decisão, e que está no meu poder decidir-me por uma ou outra coisa. E depois da
decisão sentimo-nos responsáveis, dignos de louvor e de reprovação. Os nossos
actos de liberdade confrontam-se com o valor moral; deste modo, as nossas
escolhas são boas ou más.
Todos
este actos requerem ou supõem no homemuma força-capacidade qualitativamente
diferente da material, quer dizer: abstracta, universal e imaterial. Uma vez
que estes actos são espirituais, quer dizer, não confinadas ás noções
espácio-temporais, a dita capacidade é chamada espírito ou alma espiritual. A
diferença da matéria, a existência da alma não pode demosntra-se
científícamente porque não é uma realidade empírica; mas, por igual razão,
tampouco poderá negar-se cientifícamente.A prova e demonstração será racional,
de acordo com a alógica e exigências da nossa racionalidade. Ora bem, a nossa racionalidade
exige que todo o efeito tenha uma causa adequada; quer dizer, o efeito não pode
ser superior à causa. Portanto, se há em nós actos não materiais, tem de haver
também uma causa não material. Portanto, o segundo facto é que o homem é um ser
espiritual.
(Explicame
la Bioética, guia explicativo dos temas mais controversos sobre a
vida humana por Ramón Lucas y Lucas, trad de AMA).
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