Dentro
do Evangelho
O bom
samaritano
25 Levantou-se, então, um doutor da Lei e perguntou-lhe,
para o experimentar: «Mestre, que hei-de fazer para possuir a vida eterna?» 26
Disse-lhe Jesus: «Que está escrito na Lei? Como lês?» 27 O outro respondeu:
«Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com
todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti
mesmo.» 28 Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem; faz isso e viverás.» 29 Mas ele,
querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?»
30 Tomando a palavra, Jesus respondeu: «Certo homem descia de Jerusalém para
Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem
de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. 31 Por coincidência, descia
por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. 32 Do mesmo
modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. 33
Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de
compaixão. 34 Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e
vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e
cuidou dele. 35 No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao
estalajadeiro, dizendo: ‘Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei
quando voltar.’ 36 Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem
que caiu nas mãos dos salteadores?» 37 Respondeu: «O que usou de misericórdia
para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.»
Personagem 1.3
O Chefe dos
assaltantes.
Toda a minha vida tem sido a de um autêntico marginal,
dedicando-me a roubar quanto me aparece a jeito. A princípio, teria talvez
escassos dezoito anos, juntava-me a outros rapazes da minha idade, marginais
como eu, e assim levava-mos uma vida de sobressaltos sempre em fuga das
autoridades e, muitas vezes, alguns dos que assaltávamos reagiam e as coisas
corriam mal, para o nosso lado, já se vê.
Um dia as coisas mudaram bastante porque veio ter
connosco um sujeito bastante mais velho que nós e que – para encurtar – nos
reuniu num bando passando a agir sob as suas ordens e instruções. O homem era
de facto um autêntico facínora que não hesitava em empregar violência para
atingir os seus fins. Chamava-se Barrabás! Dizia ele que, como Zelote que era,
o seu principal alvo era provocar o invasor romano de modo a mantê-lo ocupado
em acções de polícia, desviando-o de outras acções mais aparatosas com que
tentavam manter a férrea disciplina que impunham ao povo. Dividiu-nos em grupos
de três e quatro e, a cada grupo, dava instruções sobre o que fazer e onde. O
meu grupo – eu e mais três – tinha sido “destacado” para a via que descia de
Jericó para Jerusalém que, segundo ele, tinha numerosos viandantes a maioria
dos quais eram gente que comerciava, logo, trazendo consigo ou bens ou o
dinheiro produto da sua venda. E, realmente, a nossa actividade produzia bons
resultados e Barrabás estava muito satisfeito connosco pois arrecadava a maior
parte dos “proventos” da nossa actividade.
Hoje, porém, as coisas não correram muito bem, ou antes,
correram muito mal. Do nosso esconderijo avistámos um homem sozinho que que
conduzia um jumento ajoujado de mercadoria. Todo o seu aspecto e a forma como
trajava indicavam que seria um homem de posses. Não se avistando mais ninguém
por perto, resolvemos assaltá-lo e, foi aqui, que tudo se complicou. O homem
era bastante robusto e ofereceu uma resistência feroz e determinada a não se
deixar roubar. Um dos meus companheiros recebeu vários golpes que o deixaram
práticamente inanimado e outro recebeu um profundo corte provocado pela adaga
que o homem esgrimia com destreza. Não estive com contemplações e com um bastão
de ferro agredi o sujeito prostrando-o no chão poeirento. Depois… movido pela
raiva dei-lhe pontapés, murros, eu sei lá… arranquei-lhe os vestidos deixando-o
em farrapos e pondo o meu companheiro em cima do jumento fugimos para o nosso
esconderijo para tentar recuperar dos ferimentos recebidos e deitar contas ao
espólio arrecadado. Os outros dois, amparando-se mutuamente, puseram-se a
caminho de Jerusalém para procurar tratamento para as suas feridas, eu, fiquei
ali escondido remoendo a minha raiva pelo que acontecera. Deixara-me dominar pela
ira ao atacar de forma tão desumana o desgraçado que nos caíra nas mãos. Ora um
chefe, um verdadeiro chefe, não pode deixar que os seus sentimentos extravasem
colocando-se fora de controlo, É fundamental manter a calma em qualquer
situação para se impor aos que têm de ver nele capacidade e aptidão para
chefiar e comandar.Ouvi um ruido de cavalgadura e avistei um homem que se
aproximava. Já era o terceiro desde que decorrera o assalto. Antes tinham
aparecido um sacerdote e um levita que mal olharam para o desgraçado que jazia
na vera do caminho, antes estugaram o passo seguindo viajem. Porém, este, deteve-se e debruçou-se sobre a
vítima, voltando-o de costas, retirou o manto e pôs-lho debaixo da cabeça.
Depois dirigiu-se à sua montada e dos alforges retirou um pequeno odre com
vinho e uma garrafa com azeite. Com grande cuidado e destreza foi destapando as
numerosas feridas e contusões deitando-lhes azeite e vinho e cobrindo-as com
pequenos pedaços de pano que rasgava de um lençol. O pobre ferido começou a
falar e embora eu não pudesse ouvir o que diziam percebi que mostrava gratidão
e reconhecimento. Depois e a muito custo conseguiu colocá-lo sobre a sua
cavalgadura e afastaram-se por outro caminho.