PEQUENA AGENDA DO CRISTÃO
Quarta-Feira
(Coisas
muito simples, curtas, objectivas)
Propósito: Simplicidade e modéstia.
Senhor,
ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no
meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de
grandeza e proeminência.
Lembrar-me: Do meu Anjo da Guarda.
Senhor,
ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão
excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas
alegrias e entristece-se com as minhas faltas.
Anjo
da minha Guarda, perdoa-me a falta de corres-pondência ao teu interesse e
protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na
retribuição de tantos favores recebidos.
Pequeno
exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?
LEITURA ESPIRITUAL
Evangelho
Jo XVII, 1-26
Jesus pede por Si
1 Assim falou Jesus. Depois, levantando
os olhos ao céu, exclamou: «Pai, chegou a hora! Manifesta a glória do teu
Filho, de modo que o Filho manifeste a tua glória, 2 segundo o poder que lhe
deste sobre toda a Humanidade, a fim de que dê a vida eterna a todos os que lhe
entregaste. 3 Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem Tu enviaste. 4 Eu manifestei a tua glória
na Terra, levando a cabo a obra que me deste a realizar. 5 E agora Tu, ó Pai,
manifesta a minha glória junto de ti, aquela glória que Eu tinha junto de ti,
antes de o mundo existir.
Jesus pede pelos Apóstolos
6 Dei-te a conhecer aos homens que, do
meio do mundo, me deste. Eles eram teus e Tu mos entregaste e têm guardado a
tua palavra. 7 Agora ficaram a saber que tudo quanto me deste vem de ti, 8 pois
as palavras que me transmitiste Eu lhas tenho transmitido. Eles receberam-nas e
reconheceram verdadeiramente que Eu vim de ti, e creram que Tu me enviaste. 9 É
por eles que Eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me confiaste,
porque são teus. 10 Tudo o que é meu é teu e o que é teu é meu; e neles se
manifesta a minha glória.11 Doravante já não estou no mundo, mas eles estão no
mundo, e Eu vou para ti. Pai santo, Tu que a mim te deste, guarda-os em ti,
para serem um só, como Nós somos! 12 Enquanto estava com eles, Eu guardava-os
em ti, em ti que a mim te deste. Guardei-os e nenhum deles se perdeu, a não ser
o homem da perdição, cumprindo-se desse modo a Escritura. 13 Mas agora vou para
ti e, ainda no mundo, digo isto para que eles tenham em si a plenitude da minha
alegria. 14 Entreguei-lhes a tua palavra, e o mundo odiou-os, porque eles não
são do mundo, como também Eu não sou do mundo. 15 Não te peço que os retires do
mundo, mas que os livres do Maligno. 16 De facto, eles não são do mundo, como
também Eu não sou do mundo. 17 Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio
da Verdade; a Verdade é a tua palavra. 18 Assim como Tu me enviaste ao mundo,
também Eu os enviei ao mundo, 19 e por eles totalmente me entrego, para que
também eles fiquem a ser teus inteiramente, por meio da Verdade.
Jesus pede pela Sua Igreja
20 Não rogo só por eles, mas também por
aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, 21 para que todos
sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam
em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste. 22 Eu dei-lhes a glória que Tu me
deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um. 23 Eu neles e Tu em mim, para
que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que Tu me
enviaste e que os amaste a eles como a mim. 24 Pai, quero que onde Eu estiver
estejam também comigo aqueles que Tu me confiaste, para que contemplem a minha
glória, a glória que me deste, por me teres amado antes da criação do mundo. 25
Pai justo, o mundo não te conheceu, mas Eu conheci-te e estes reconheceram que
Tu me enviaste. 26 Eu dei-lhes a conhecer quem Tu és e continuarei a dar-te a
conhecer, a fim de que o amor que me tiveste esteja neles e Eu esteja neles
também.»
Comentário
As palavras para comentar este trecho do discurso de Jesus
pecam por exíguas e mal conseguem exprimir quanto nos vai na alma. Poderíamos
dizer que é um discurso poderoso, final, definitivo - e sem dúvida que é - mas
podemos adivinhar perfeitamente o estado de alma do Senhor quando o pronunciou.
Desta forma, estas palavras soam-nos como um testamento cuidadosamente
elaborado, onde a principal preocupação é a felicidade futura dos herdeiros e o
amor entranhado que lhes tem.
O Senhor revela um pouco sobre os planos de Deus a respeito
da humanidade e, sobretudo, o fim para que criou o homem. A vida eterna está
aqui bem explicada: «Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti,
único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem Tu enviaste». Para aqui
chegar, temos de seguir Cristo pelo caminho que Ele nos preparou e descobriu e
que, em síntese, consiste em fazer em tudo – absolutamente – a Vontade de Deus.
A verdade santifica, é clara esta afirmação de Cristo.
Sendo Ele a Verdade é Ele Quem nos santifica. Para ser santo, o que todos
devemos desejar ser, não há outro caminho, seguir Cristo,
imitar Cristo, viver em Cristo.
Neste
longo discurso de Jesus que ocupa todo o Capítulo XVII do Evangelho escrito por
São João, avulta, principalmente, o desejo intenso de Cristo pela unidade dos
filhos de Deus – os discípulos de então e os cristãos de todos os tempos. Se é
bem verdade que “a união faz a força” conclui-se que Cristo aconselha
veementemente a unidade entre os Seus irmãos, os homens, e, com Ele, com Deus
Pai. Este “feixe” uno e coeso resistirá a tudo, mesmo às piores e mais
elaboradas tentações e garantirá que o Reino de Deus não terá fim e sairá
sempre vencedor. O resultado desta unidade é a conquista da alegria plena e da
felicidade eterna. Só a união faz
a força! E que união será esta? A que Jesus quer e deseja de tal modo a
considera importante que deu a Sua vida por ela. E de que força ser trata? A
força da filiação divina, da família de Deus Nosso Senhor que nos leva a todos
os homens a lutar por uma só coisa: a salvação eterna. Juntos, unidos,
será muito mais fácil porque o irmão que ajuda o irmão é como uma cidade
amuralhada e as forças do mal nada poderão contra ela. O
Senhor continua o Seu longo discurso a que chamo testamentário porque nele se
contem quanto é necessário para fortalecer a fé neLe próprio. Por isso mesmo
faz revelações – diria – que sintetizam quanto foi dizendo ao longo do tempo
sobre Ele Próprio as Suas “relações” de intimidade plena com O Pai, que se
consubstanciam na unidade perfeita. É essa unidade que o Senhor propõe como o
ideal para os Seus seguidores, os cristãos. E, de facto, sem unidade não há
coesão nem de princípios nem de práticas o que, inevitavelmente, levará à
confusão e desnorte que, infelizmente, aconteceram do seio da Igreja e, ainda
hoje, surgem. O Papa é o símbolo - e a garantia - dessa unidade e todos os
cristãos têm estrita obrigação de pedir a Deus que o ajude na sua tarefa de
guia e chefe e proteja dos seus inimigos. “Dominus conservat
eum, vivicet eum et beatum faciam eum in terra et non tradant in animan
inimicorum eius”
(AMA, 2017)
REFLEXÃO
Exame
pessoal 6
Há
duas posições que parecem antagónicas mas, de facto não são.
A
primeira é considerar-se um desgraçado cheio de defeitos e debilidades incapaz
de merecer o que for.
A
segunda é ter-se como alguém impecável que procede bem e credor de
reconhecimento das suas qualidades.
Como
dizia parecem antagónicas, mas na verdade têm pelo menos um ponto em comum:
ambas são exageradas e fogem à realidade. Quando se tem uma consciência bem
formada, isto é, se consegue quase sem esforço distinguir o bem do mal - não no
sentido abstracto ou subjectivo mas no aspecto simples e formal - o que pode ser
conveniente ou o que não interessa, temos com certeza facilidade em fazer
exame.
Por
exemplo: O fiz hoje de bom? O que fiz mal? O que podia ter evitado? O que
deveria fazer melhor?
Perguntas
simples e concretas que requerem respostas ao mesmo nível. Ah e sempre –
condição sine-qua-non, com honestidade intelectual. Depois, naturalmente, como
consequência lógica, surgirá um propósito, um desejo de melhoria que pode
incluir compromisso de correcção.
(AMA, 2018)
SÃO JOSEMARIA – textos
Não te
fias em nada de ti, e te fias em tudo de Deus
Nunca te tinhas sentido tão livre,
libérrimo, como agora que a tua liberdade está tecida de amor e desprendimento,
de segurança e insegurança, porque já não te fias em nada de ti, e te fias em
tudo de Deus. (Sulco, 787)
O amor de Deus é ciumento; não fica
satisfeito, se nos apresentarmos com condições no encontro marcado: espera com
impaciência que nos entreguemos totalmente, que não guardemos no coração
recantos escuros, onde o gozo e a alegria da graça e dos dons sobrenaturais não
consigam chegar. Talvez pensem: responder sim a esse Amor exclusivo não é,
porventura, perder a liberdade? (…) Cada um de nós sabe por experiência que,
algumas vezes, seguir Cristo Nosso Senhor implica dor e fadiga. Negar esta
realidade significaria não se ter encontrado com Deus. A alma apaixonada sabe
que essa dor é uma impressão passageira e bem depressa descobre que o seu peso
é leve e a sua carga suave, porque Ele a leva às costas, tal como se abraçou ao
madeiro quando estava em jogo a nossa felicidade eterna. Mas há homens que não
entendem, que se revoltam contra o Criador – uma rebelião impotente, mesquinha,
triste –, que repetem cegamente a queixa inútil que o Salmo regista: Quebremos
os seus laços! Para longe de nós o seu jugo. Resistem a realizar, com silêncio
heróico, com naturalidade, sem brilho e sem lamentações, o trabalho duro de
cada dia. Não compreendem que a Vontade divina, mesmo quando se apresenta com
matizes de dor, de exigências que ferem, coincide exactamente com a liberdade, que
só reside em Deus e nos seus desígnios. São almas que fazem barricadas com a
liberdade. A minha liberdade, a minha liberdade! Têm-na e não a seguem;
olham-na e põem-na como um ídolo de barro dentro do seu entendimento mesquinho.
É isso liberdade? Que aproveitam dessa riqueza sem um compromisso sério, que
oriente toda a existência? Um tal comportamento opõe-se à categoria própria, à
nobreza, da pessoa humana. Falta a rota, o caminho claro que oriente os seus
passos na terra; essas almas – decerto já as encontraram, como eu – depressa se
deixarão arrastar pela vaidade pueril, pela presunção egoísta, pela
sensualidade. (Amigos de Deus, 28–29)