.
.
Calmamente,
às vezes com muita preocupação, vê crescer o afilhado.
Dão-lhe
alegria as primeiras manifestações religiosas, a Primeira Comunhão, a Profissão
Solene, o Crisma, os primeiros retiros espirituais e vai agradecendo a Deus pelo
afilhado que Ele lhe deu.
Passam
os anos e começa seriamente a preocupar-se pois começa a perceber o
afastamento, primeiro da Igreja, depois dos Sacramentos e finalmente do próprio
Deus.
Só
lhe ocorre um pensamento: Tenho que falar com o meu afilhado! Mas que lhe
hei-de dizer? Nestas alturas não ouvem nada, sabem tudo! Se bem me lembro
também fui assim um pouco.
E
para além disso, serei eu uma boa testemunha de Cristo e do que Ele fez e faz
na minha vida?
Curiosamente,
ou talvez não, não são os “medos” de ser mal interpretado, ou de não ser
verdadeira testemunha, que o impedem de falar com o afilhado.
Lá
dentro, bem no fundo onde Deus fala, vai ouvindo uma voz que lhe diz: Não te
precipites! Tem paciência! Ainda não é tempo! Quando for, Eu to farei sentir!
E
o padrinho também vai pensando consigo que precisa de crescer na fé, torna-la
mais viva, mais consistente, tornar a vida mais coerente com a fé que professa
e quer testemunhar.
Ah,
o tempo é bom conselheiro, e se nos deixarmos guiar por Ele, com certeza que
não falharemos a meta.
E
é ainda essa mesma voz que lhe diz que a semente tão bem plantada não deixará
de dar frutos a seu tempo.
E
os anos passam e cada vez mais a preocupação aumenta, porque o afastamento
parece ganhar raízes e destruir tudo o que foi ensinado.
Mas
a voz continua a aconselhar a ponderação, a paciência, (será a paciência
divina?), porque no tempo certo a mudança começará e aí sim, será precisa a
palavra, o ombro, a companhia, o incitamento, tudo conjugado com o
conhecimento.
E
um dia…
Um
dia começam a notar-se sinais de mudança.
Parece
que o afilhado tomou consciência de que a vida que leva, não leva a lado
nenhum.
Parece
que entende agora que nada nem ninguém o pode ajudar melhor a encontrar a
verdadeira vida, do que Aquele de quem ele se afastou e lhe deu a vida, e pode
voltar a dar.
Mas
ainda é cedo para intervir.
O
afilhado procura agora, sozinho, esse encontro tão pessoal e intimo que pode
definitivamente operar a mudança necessária. E o padrinho sabe bem, que «quem
procura encontra».
Percebe
agora o afilhado a viver uma fé intensa, empenhada, e percebe também que é
altura de o ajudar a resolver alguns problemas gerados pela sua anterior vida,
que é altura de o colocar perante um conhecimento mais aprofundado da fé, baseado
em bons autores católicos, que lhe podem dar a “estrutura” espiritual
necessária para que as raízes se desenvolvam e a árvore dê fruto.
E
vai assistindo ao crescimento, ao empenhamento, à dedicação, aos passos dados,
na procura de uma fé viva, diária, testemunhada. E vai incentivando com
elogios, com “admirações” propositadas, com palavras de ternura, de carinho,
enfim, de amor partilhado.
Para
que o afilhado sinta que está no caminho, que os alicerces estão bem lançados,
e que as paredes crescem sólidas e robustas, pede-lhe colaboração em muitas
coisas, para que ele perceba que já tem pernas para andar e que só na entrega
total ao Deus que desde o primeiro momento o amou, ele pode viver a vida, e a
«vida em abundância».
Mas
a missão não está ainda cumprida, nem nunca estará.
Agora
trata-se mais de rezar!
De
rezar pelo afilhado, para que Deus o abençoe, o proteja, o guarde, e faça dele
uma testemunha viva do amor do Pai, vivida no Filho, pelo Espírito Santo.
Assim
Deus me faça também ser como este padrinho, para O servir, servindo os meus
afilhados.
Marinha
Grande, 12 de Abril de 2013
Joaquim
Mexia Alves
Nota:
Para
o meu querido irmão António, meu padrinho de Baptismo que hoje faz anos, com um
abraço da maior ternura, carinho e amor.
Qualquer semelhança com a realidade, neste caso, é
absoluta e realmente coincidente!
..