COMENTANDO OS EVANGELHOS
SÃO MATEUS
Cap V
2 –
Pelas palavras
de Jesus podemos concluir que, na Vida Eterna, não haverá como que uma
“nivelação” de todos.
Haverá
“grandes” e “pequenos”, o Senhor afirma-o.
Isto tem
importância?
Penso que sim,
embora considere que, na Vida Eterna, o Supremo Bem é a visão beatífica da Face
de Deus.
Tem a ver, sim,
com a obrigação de fazermos o melhor que pudermos e não nos contentarmos com os
“mínimos”, como que “ir andando”, não fazendo muitos disparates, não pecando com
gravidade e… pronto!
Quem
assim procede corre um perigo enorme, porque quanto mais baixo se voa maior é a
possibilidade de chocar com um obstáculo que trave o “voo” e, a queda, pode ser
grave.
Deve ser terrível a responsabilidade de alguém que
propositadamente ensina, propaga o erro, a falsa doutrina
Quanto mais grave, quanto maior a inocência e
fragilidade de quem é objecto de tal procedimento mais “apertadas” serão as
contas que terá de prestar.
Poderá alguém ter dúvidas sobre como alcançar a Vida Eterna?
Pelas palavras de Jesus podemos ver claramente o
caminho e a obrigação.
Cumprir a Lei não basta é necessário levar outros a
fazer o mesmo.
Este trecho do Evangelho pode considerar-se um
autêntico e definitivo aviso de Jesus Cristo sobre o comportamento de qualquer
ser humano.
Não há meias palavras nem tergiversações, mas tão só
afirmações muito concretas e reais sobre o procedimento a ter como norma de
vida.
Pagar o que se deve, ter atenção ao próximo e às
suas necessidades, viver, em suma, com inteireza e verdade nos actos como nas
acções concretas.
Estas é que têm valor, não as intenções nem os
desejos.
Como posso estar "bem" com Deus quando estou
"mal" com o meu próximo?
Acaso o Senhor poderia aceitar tal coisa?
Infelizmente há alguns cristãos que vão pela vida fora
como actores.
Sim… não exagero!
Frequentam com assiduidade a Igreja e os Sacramentos,
usam grandiloquência sobre assuntos da religião, mas, privadamente, mantêm uma
lista de agravos e reivindicações que aguardam ocasião para cobrar e fazer.
Ofensas antigas, más interpretações, juízos
precipitados e malévolos e coisas do mesmo género de que se sentem credores
quando, na maior parte das vezes, são eles mesmos os devedores.
Há que pôr as coisas em ordem e agir com critério em
toda e qualquer circunstância que o cristão é-o sempre e não apenas quando é
conveniente.
Vem Jesus Cristo, neste texto de São Mateus, como que
a "preparar o terreno" para o que será o Mandamento Novo.
O amor ao próximo é inseparável do amor a Deus ou, por
outras palavras, não é possível amar a Deus sem amar o próximo.
Este mandamento é - se se me permite a expressão -
absolutamente lógico porque sendo os homens TODOS filhos de Deus, pertencendo à
Família Divina, não se concebe que não se amem entre si.
Do amor nasce a união e o Senhor quer que sejamos «Um como Ele e o Pai são UM!»
Mais uma vez o Senhor deixa bem claro que os dois
primeiros mandamentos - amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a
nós mesmos - são inseparáveis e não pode conceber-se um sem o outro.
O Senhor tem a prioridade mas esta não existirá sem a
segunda.
Talvez que nunca nos demos conta que amar o próximo
pode tornar-se muito mais difícil que amar a Deus.
Não nos atrevemos a "julgar" Deus ou pôr em
causa se O devemos amar ou não.
Já quanto ao próximo muitas vezes guardamos
ressentimentos, avaliamos a sua conduta, fazemos o papel de juízes e críticos.
E, tal excede em muito o que não podemos nem devemos
fazer.
Há uma “declaração” de Jesus neste
trecho de São Mateus que, forçosamente, nos fará pensar detidamente: «todo
aquele que olhar para uma mulher, cobiçando-a, já cometeu adultério com ela no
seu coração»
Aqui se vê a importância da “guarda da
vista” porque ver é algo muito diferente de reparar.
Quantos pecados – por vezes bem sórdidos
– têm a sua origem na vista?
Aliás, todo o pecado, por assim dizer, é
sórdido, mau, aberrante, mas, e no caso vertente, ninguém ignora que o nosso
pensamento e imaginação nos levam por vezes por caminhos de incrível
perversidade.
Basta um segundo, um fugaz pensamento,
um desejo mal expresso e, todavia, deixámo-nos corromper.
Tenhamos bem presente o seguinte: Ao
demónio não lhe interessa nada que nos concentremos na oração, que, inclusive,
nos preparemos com todo o amor e compunção para receber a Comunhão Eucarística
e, assim, não raramente nos assedia com pensamentos ou desejos torpes
precisamente nesses momentos.
Eu diria que “a força da tentação”
estará em relação directa com a intensidade da nossa união com Deus.
Está claríssimo: para haver pecado é
preciso intenção e, mais, mesmo se não se pecar em acto, se houver intenção
peca-se em pensamento.
É evidente que o pecado é um acto livre
da vontade expressa e - nunca - algo fortuito e inocente.
É fundamental ter uma consciência bem
formada e as ideias bem claras: é impossível pecar sem querer!
Porque as circunstâncias, o ambiente, o
estado de ânimo... não! Nada disso tem a ver com o pecado ou
pode constituir desculpa; por isso mesmo é importante a Confissão
frequente porque além de recebermos orientações preciosas sobre o nosso comportamento
colhemos força e ânimo para melhor resistir às tentações.
Volto a insistir: o matrimónio não é possível
subsistir sem respeito.
Respeito por si mesmo como pessoa, como cristão e
respeito pelo outro também como pessoa e como filho de Deus.
Quem não se respeita a si próprio na sua dignidade
humana dificilmente respeitará o outro e, com tal é impossível subsistir o amor
cuja base assenta na confiança absoluta que deve existir entre os cônjuges.
Cristo
afirma, uma vez mais, que a Missão que O trouxe ao mundo encarnado no seio
puríssimo da Santíssima Virgem, não foi para instituir uma Nova Lei mas sim
para aperfeiçoar e tornar sólida e decisiva a Lei dada por Moisés no monte
Sinai.
Toda
a Sua pregação confirma este propósito: o Reino de Deus está no meio dos homens
– todos os homens – sem distinção nem condições.
Dependerá
do homem aceitá-lo e cumprir a Lei e, só assim terá garantida a salvação
eterna.
Deus,
contudo, é Absolutamente Justo e, por isso mesmo, não impõe mas convida.