Dentro
do Evangelho – (cfr:
São Josemaria, Sulco 253)
EVANGELHO
(Re
Jo, XV, 15…)
O servo do centurião
Nessa altura fora também um Centurião a implorar pelo
seu servo doente. Não se achara digno de comparecer ante Jesus e, assim pedira
por interpostas pessoas. Fez mais, declarou expressamente ao Mestre que se
sentia indigno de O receber em sua casa, mas
que sabia que bastaria uma palavra Sua para se cumprir o que desejava. Jesus
ficou admirado com a sua fé e fez o que lhe pedia. [i] Agora o que se passa é mais
grave. Jesus sabe muito bem que a filha de Jairo já morreu. Pode, se quiser,
devolvê-la à vida em qualquer momento, em não importa que local, mas encontra
uma ocasião propícia para edificar o povo que O seguia e, talvez
principalmente, os três discípulos que convocará para O acompanharem. Estes três escolhidos terão sempre um lugar muito
particular nos grandes momentos da vida pública de Jesus. Estiveram nas bodas
de Caná como São João diz expressamente [ii] – era
usual os “rabis” fazerem-se acompanhar de alguns dos seus discípulos mais
chegados -, talvez, na altura, não se tivessem dado bem conta do portentoso
milagre que, a instâncias de Sua Mãe, Jesus operou. Por uma razão simples e
muito humana, poder-se-ia dizer: “salvar a face” dos noivos aflitos com a falta
de vinho. Não são necessárias grandes causas ou magnos problemas para que
Cristo Se compadeça do ser humano. O Seu Coração amantíssimo move-Se pelos mais
singelos problemas dos homens e, ainda mais, quando a Sua Mãe intervém. ‘A ti,
Mãe, recorro nesta hora de preocupação. Como em Caná intervieste em favor dos
noivos que, sem terem pedido, obtiveram por teu intermédio uma graça
inesperada, diz-lhe também agora: Este meu filho não tem! E como é uma graça
que por tua maternal intercessão, solicito, tenho a certeza que a obterei’.
Terão os discípulos percebido que fora devido à
intervenção da Virgem que, Jesus decidira, definitivamente, fazer o milagre?
Talvez não. Podemos supor que sendo a primeira vez que o poder divino de Jesus
se manifestava de forma tão evidente, eles não estivessem preparados para dar
atenção aos pormenores. Mais tarde, sim. No fragor dos dias que se seguiram à
Crucifixão e Morte do Senhor, hão-de procurar refúgio junto da Mãe e, será
junto dela, no Cenáculo, que receberão o Espírito Santo que lhes abrirá
definitivamente a compreensão de todas as coisas. Junto dela encontramos,
sempre, refúgio e protecção, a luz necessária para distinguir os caminhos que
Jesus quer que percorramos e, também, a compreensão das incidências e agruras
que inevitavelmente surgem na vida de cada um. Pedro, que será a coluna sobre a
qual assentará a Igreja de Cristo, duvidará muito, terá momentos de desânimo,
sem compreender o que Jesus lhe diz acerca do sofrimento, da Cruz. Maria,
ajudá-lo-á a compreender, a confiar e, sobretudo, a aceitar. Repetirá, vezes
sem conta, o que dissera em Caná: Fazei
tudo o que Ele vos disser… [iii]
Chamá-los-á também para testemunhar a Sua Transfiguração, para verem com os
seus olhos tão humanos a glória do Filho de Deus. Ainda aqui, não entendiam
nada. Com os olhos carregados de sono, a Pedro só lhe ocorre dizer que se sente
bem, que não quer afastar-se daquela visão, daquele local. Depois, nos momentos
derradeiros, convidá-los-á, aos mesmos três, para O acompanharem no Horto das
Oliveiras para testemunharem a Sua Agonia. Mais uma vez, o sono vence-os. Este
sono é a figura do desânimo, da preocupação, da incerteza, do medo. Tristeza e sono… como andam juntas estas
“fraquezas” do homem! Consentir na tristeza é caminho certo para adormecer.
Ficamos absortos no problema ou na situação que nos aflige e nos entristece.
Tudo parece cinzento à nossa volta, não vemos nem saída nem escapatória e, se
nos deixarmos ir por aí, o mais certo é os nossos olhos deixarem de ver o que
realmente se passa à nossa volta e cerrarem-se com sono. E, a tristeza, que tem a ver com isto, que,
afinal, são coisas pequenas que procuramos reprimir de imediato? Tem, e muito,
a ver. Porque essa alegria e esse contentamento depressa se desvanecem quando
nos damos conta da nossa fraqueza, do pouco que somos, da nossa tendência para
considerar detidamente tudo quanto é agradável aos nossos sentidos e, em
contrapartida, a fuga ao sacrifício, à entrega, à renúncia, à simples contenção
de pensamentos, atitudes e palavras. Os discípulos agora, não sentem sono.
Estão bem despertos, talvez preocupados com a multidão que cerca Jesus num
turbilhão de pessoas de todas as condições sociais, homens, mulheres, jovens e
anciãos, gente humilde e de posses, letrados e ignorantes, sãos e doentes, que
querem aproximar-se, ouvir, tocar o Mestre. A sua preocupação é protegê-Lo,
resguardá-Lo e, talvez, também darem a perceber que são os discípulos, os
próximos, os íntimos. Talvez haja algum orgulho, vaidade até. Afinal, são eles
os confidentes de Jesus…‘Que são orgulho! Que justificada vaidade! Estar
próximo de Jesus. Ser Seu íntimo!’
Mas,
como se pode ser íntimo de alguém se não convivemos com esse alguém com
regularidade, com interesse?
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