A alegria cristã 2
A sua natureza
A alegria é uma
paixão produzida pelo encontro com aquele que se ama, um sentimento ou sensação
de prazer que não é puramente sensível, mas que vai acompanhado de
racionalidade. São Tomás de Aquino explica no tratado sobre as paixões na Suma
Teológica que «o termo alegria só se usa para o prazer que acompanha a razão:
por isso para os animais não se fala de alegria, mas sim de prazer» (São Tomás de
Aquino, Suma Teológica, I-II, q. 31, a. 3).
A alegria é o
prazer espiritual, a terceira e última etapa do movimento concupiscível, ao
possuir o bem que antes tinha sido amado e desejado. Pode ser uma vivência de
curta duração ou um estado de ânimo prolongado ativo, de tom emocional
positivo, que participa de racionalidade. Por isso, é possível sentir prazer
sem sentir alegria e, até, sentir prazer e tristeza ao mesmo tempo. Quando no
Aquinate se pergunta se a alegria é uma virtude, responde-se dizendo que ela
não está entre as virtudes teologais, morais, nem intelectuais, e portanto, “não
é uma virtude diferente da caridade, mas um determinado ato e efeito da mesma.
Por essa razão ela considera-se entre os frutos, como se vê no Apóstolo em Gl
5,22” (São Tomás de
Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 28, a. 4). Com efeito, a alegria cristã é consequência de
possuir a Deus pela fé e caridade, é o fruto de viver todas as virtudes. Num
cristão que vive de fé, a alegria supera o nível do temperamento, saúde,
welfare, êxitos profissionais e sociais, etc., para introduzir-se na maturidade
de uma vida interior rica: “A alegria que deves ter não é aquela a que
poderíamos chamar fisiológica, de animal sadio, mas uma outra, sobrenatural,
que procede de abandonar tudo e de te abandonares a ti mesmo nos braços
carinhosos do nosso Pai-Deus” (Caminho, 659).
Na mensagem de São
Josemaria, a alegria constitui um elemento importante no seguimento de Cristo,
e um rasgo característico do espírito do Opus Dei: “Quero que estejas sempre
contente, porque a alegria é parte integrante do teu caminho” (Caminho, 665). Tanto no Caminho
como no Sulco dedicou dois capítulos à alegria, de 10 e 44 pontos de meditação,
respetivamente; e nos dois volumes de homilias (Cristo que Passa e
Amigos de Deus) encontramos capítulos como Lares luminosos e alegres, A alegria da
Quinta-Feira Santa, Sementeira de paz e de alegria, A alegria cristã (na
Homilia A Virgem Santa, causa da nossa alegria), Humildade e alegria, e Deus
ama o que dá com alegria.
Vicente Bosch