T. Comum – XVIII Semana
Stª Clara
Evangelho: Mt 17, 14-20
14 Tendo
ido para junto do povo, aproximou-se um homem que se lançou de joelhos diante
d'Ele, dizendo: 15 «Senhor, tem piedade de meu filho, porque é
lunático e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo, e muitas na água. 16
Apresentei-o a Teus discípulos, e não o puderam curar». 17 Jesus
respondeu: «Ó geração incrédula e perversa, até quando hei-de estar convosco?
Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá». 18 Jesus ameaçou o
demónio, e este saiu do jovem, o qual, desde aquele momento, ficou curado. 19
Então os discípulos aproximaram-se de Jesus, em particular, e disseram-Lhe:
«Porque não pudemos nós lançá-lo fora?». 20 Jesus disse-lhes: «Por
causa da vossa falta de fé. Porque na verdade vos digo que, se tiverdes fé como
um grão de mostarda, direis a este monte: “Passa daqui para acolá”, e ele
passará, e nada vos será impossível.
Comentário:
Fé… do que se trata?
Podemos dizer que se trata de acreditar. Bom, mas
acreditamos que dois e dois são quatro, ou que ao mergulhar no mar
nos molhamos mas, a estes factos, não chamamos
fé, dizemos que se trata de conhecimento.
Então a fé não é conhecimento?
Sim, é, mas trata-se de um conhecimento não adquirido
mas dado. Isto é, não depende unicamente da nossa vontade termos ou não fé.
Porquê? Porque a fé corresponde a um conhecimento de algo que não é constatável
no aspecto meramente físico. Só ao ser humano é possível ter fé porque se trata
de algo sobrenatural. A fé, portanto, é um dom de Deus que, como todos os dons
é inteiramente gratuito. De facto o homem pode - e convém - desejar ter fé mas
é Deus quem decide concedê-la.
Tendo-a, o homem tem de praticá-la como qualquer outro
dom. Desta forma, a fé, fortalece-se, cresce e torna-se cada vez mais potente.
Como qualquer outro dom, a inteligência por exemplo, se não se cultiva vai
definhando e perdendo qualidades e força.
Eu acredito em Deus! Esta afirmação, por si só,
significa que tenho fé em Deus?
Não sendo coisas completamente diferentes, porque se
completam, a resposta é negativa. Posso acreditar que Deus existe mas não ter
fé que Ele, por exemplo, pode absolutamente tudo.
Porquê? Porque se para ter fé tem de haver uma base de
acreditar o inverso não é absoluto. Não rezo porque acredito em Deus mas porque
a fé me diz que devo rezar que, em síntese, é comunicar com Ele. A fé faz da
oração uma necessidade que não existirá, obrigatoriamente pelo facto de
acreditar.
A propósito da fé há uma afirmação extraordinária de
Jesus: «se tiverdes fé como um grão de mostarda, nada vos será impossível»!
De facto, Jesus dá a entender
qual a dimensão da fé é de suma importância. Cura inúmeras doenças e faz milagres grandiosos ‘compelido’' pela fé de quem
O interpela. Ou seja, a fé tem, de facto, o poder de mudar as coisas seja o que
for, porque, na realidade, esse poder pertence a Deus que o pode exercer quando
e como quiser.
Voltemos ao crer, acreditar.
Esta virtude é um sentimento,
íntimo, pessoal.
Como sentimento que é,
depende do próprio que o tem e, como todos os sentimentos, tem origem em algo -
causa ou efeito - que a ele conduz.
As virtudes, como os dons,
não são sentimentos, embora as virtudes sejam sempre dons.
A virtude não é um bem
adquirido mas, tal como o dom, sempre concedido.
Mas, então, virtudes e dons
não são a mesma coisa?
Já vimos que não e a grande
diferença reside em que a virtude é um bem que, normalmente, exercemos nas
nossas relações com os outros enquanto os dons nos são concedidos para nosso primeiro
benefício. Há, de facto, uma linha, embora ténue, que marca a diferença. Essa
linha pode ser o exercício da vontade; podemos querer praticar uma virtude, não
nos é possível obter, por vontade própria, um dom.
(ama,
comentário sobre Mt 17, 14-20, 2010.08.07)