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Leitura EspiritualAmar a Igreja |
São Josemaria Escrivá
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Para
começar, gostaria de vos recordar umas palavras de S. Cipriano: A Igreja
universal apresenta-se-nos como um povo cuja unidade é obtida a partir da
unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Não
estranhem, portanto, que nesta festa da Santíssima Trindade a homilia trate da
Igreja, tanto mais que a Igreja tem as suas raízes no mistério fundamental da
nossa fé católica: o de Deus uno em essência e trino em pessoas.
A
Igreja centrada na Trindade: eis como sempre a consideraram os Padres.
Reparem
como são claras as palavras de Santo Agostinho: Deus habita no seu templo; não
apenas o Espírito Santo, mas igualmente o Pai e o Filho...
Por
isso, a Santa Igreja é o templo de Deus, ou seja, de toda a Trindade.
Ao
reunirmo-nos de novo no próximo Domingo, consideraremos outro dos aspectos
maravilhosos da Santa Igreja: essas notas que recitaremos dentro de pouco, no
Credo, depois de cantar a nossa fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo.
Et in Spiritum Sanctum,
dizemos.
E,
logo a seguir, et unam, sanctam
catholicam et apostolicam Ecclesiam, confessamos que há uma só Igreja,
Santa, Católica e Apostólica.
Todos
aqueles que amaram verdadeiramente a Igreja souberam relacionar estas quatro
notas com o mais inefável mistério da nossa santa religião: a Santíssima
Trindade.
Nós
cremos na Igreja de Deus, Una, Santa, Católica e Apostólica, na qual recebemos
a doutrina; conhecemos o Pai, o Filho e o Espírito Santo e somos baptizados em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
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Momentos difíceis
É
necessário meditarmos frequentemente, para não corrermos o risco de nos
esquecermos, que a Igreja é um mistério grande, profundo. Nunca poderá ser
abarcado nesta terra.
Se
a razão tentasse explicá-lo por si só, veria apenas a reunião de pessoas que
cumprem certos preceitos, que pensam de forma parecida. Mas isso não seria a
Santa Igreja.
Na
Santa Igreja os católicos encontramos a nossa fé, as nossas normas de conduta,
a nossa oração, o sentido de fraternidade, a comunhão com todos os irmãos que
já desapareceram e que estão a purificar-se no Purgatório - Igreja padecente-,
ou com os que já gozam da visão beatífica - Igreja triunfante-, amando
eternamente Deus, três vezes Santo.
É
a Igreja que permanece aqui e, ao mesmo tempo, transcende a história.
A
Igreja que nasceu sob o manto de Santa Maria e continua a louvá-la como Mãe na
terra e no céu.
Confirmemos
em nós mesmos o carácter sobrenatural da Igreja; confessemo-lo aos gritos, se
for preciso, porque nestes momentos são muitos aqueles que - embora fisicamente
dentro da Igreja, e até em altas posições - se esqueceram destas verdades
capitais e pretendem apresentar uma imagem da Igreja que não é Santa, que não é
Una, que não pode ser Apostólica porque não se apoia na rocha de Pedro, que não
é Católica porque está sulcada por particularismos ilegítimos, por caprichos de
homens.
Não
é novidade.
Desde
que Jesus Cristo fundou a Santa Igreja, esta Mãe, que é nossa Mãe, sofreu uma
perseguição constante.
Talvez
noutras épocas as agressões se organizassem abertamente; agora, em muitos
casos, trata-se de uma perseguição camuflada. Seja como for, hoje, como ontem,
há quem continue a combater a Igreja.
Repetirei
mais uma vez que não sou pessimista, nem por temperamento nem por hábito.
Como
é possível ser pessimista se Nosso Senhor prometeu que estará connosco até ao
fim dos séculos?
A
efusão do Espírito Santo plasmou, na reunião dos discípulos no Cenáculo, a
primeira manifestação pública da Igreja.
O
nosso Pai Deus - Pai amoroso que cuida de nós como da menina dos olhos,
conforme nos diz a Escritura com uma expressão tão gráfica, para podermos
perceber - não cessa de santificar, pelo Espírito Santo, a Igreja fundada pelo
seu Filho muito amado.
Mas
a Igreja vive actualmente dias difíceis: são anos de grande desconcerto para as
almas.
O
clamor da confusão levanta-se por toda a parte e renascem com estrondo todos os
erros que houve ao longo dos séculos.
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Fé.
Precisamos
de fé.
Se
olharmos com olhos de fé, descobrimos que a Igreja contém em si mesma e difunde
à sua volta a sua própria apologia.
Quem
a contempla, quem a estuda com olhos de amor à verdade, deve reconhecer que
ela, independentemente dos homens que a compõem, e das modalidades práticas com
que se apresenta, leva em si mesma uma mensagem de luz universal e única,
libertadora e necessária, divina.
Quando
ouvimos vozes de heresia - porque são exactamente isso, nunca me agradaram os
eufemismos-, quando observamos que se ataca impunemente a santidade do
matrimónio e do sacerdócio; a concepção imaculada da Nossa Mãe Santa Maria e a
sua virgindade perpétua, com todos os restantes privilégios e excelências com
que Deus a adornou; o milagre perene da presença real de Jesus Cristo na
Sagrada Eucaristia, o primado de Pedro, a própria Ressurreição de Nosso Senhor,
como não sentir a alma cheia de tristeza?
Mas
tenham confiança: a Santa Igreja é incorruptível.
A
Igreja vacilará se o seu fundamento vacilar, mas poderá Cristo vacilar?
Enquanto
Cristo não vacilar, a Igreja jamais fraquejará até ao fim dos tempos.
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O humano e o divino na
Igreja
Assim
como em Cristo há duas naturezas - a humana e a divina - também, por analogia,
podemos referir-nos à existência na Igreja de um elemento humano e de um elemento
divino.
A
ninguém passa despercebida a evidência dessa parte humana.
A
Igreja, neste mundo, está composta por homens e para homens, e dizer homem é
falar da liberdade, da possibilidade de actos grandes e de actos mesquinhos, de
heroísmos e de claudicações.
Se
só admitíssemos essa parte humana da Igreja nunca conseguiríamos compreendê-la,
pois não teríamos chegado à porta do mistério. A Sagrada Escritura utiliza
muitos termos - tirados da experiência terrena - para os aplicar ao Reino de
Deus e à sua presença entre nós, na Igreja.
Compara-a
ao redil, ao rebanho, à casa, à semente, à vinha, ao campo onde Deus planta ou
edifica.
Mas
destaca uma expressão que compendia tudo: a Igreja é o Corpo de Cristo.
E
Ele a uns constituiu Apóstolos, a outros profetas, a outros evangelistas, a
outros pastores e doutores, para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do
ministério, para a edificação do Corpo de Cristo. São Paulo escreve também que
somos um só corpo em Cristo, e cada um de nós membros uns dos outros.
Como
é luminosa a nossa fé! Todos somos em Cristo, porque Ele é a Cabeça do corpo da
Igreja.
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É
a fé que os cristãos sempre confessaram.
Ouçam
comigo estas palavras de Santo Agostinho: e desde então Cristo está formado
pela cabeça e pelo corpo, verdade que, não duvido, conheceis bem.
A
cabeça é o nosso próprio Salvador, que padeceu sob Pôncio Pilatos e agora,
depois de ressuscitar de entre os mortos, está sentado à direita do Pai.
E
o Seu corpo é a Igreja.
Não
esta ou aquela igreja, mas a que se encontra espalhada por todo o mundo.
Nem
sequer é apenas a que existe entre os homens actuais, uma vez que a ela
pertencem também os que viveram antes de nós e os que hão-de existir depois,
até ao fim do mundo.
Assim,
toda a Igreja, formada pela reunião dos fiéis - e porque todos os fiéis são
membros de Cristo-, possui Cristo como Cabeça, que governa do Céu o Seu corpo.
E,
embora esta Cabeça se encontre fora da vista do corpo, está unida pelo amor.
(cont)
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Agora
compreendem porque não se pode separar a Igreja visível da Igreja invisível.
A
Igreja é, simultaneamente, corpo místico e corpo jurídico.
Pelo
próprio facto de ser corpo, a Igreja distingue-se com os olhos, ensinou Leão
XIII.
No
corpo visível da Igreja - no comportamento dos homens que dela fazemos parte
aqui na terra - aparecem misérias, vacilações, traições.
Mas
a Igreja não se esgota aí, nem se confunde com essas condutas erradas: pelo
contrário, não faltam, aqui e agora, generosidades, afirmações heróicas, vidas
de santidade que não fazem barulho, que se consomem com alegria no serviço dos
irmãos na fé e de todas as almas.
Considerem
também que, se as claudicações superassem numericamente as atitudes corajosas
ficaria ainda essa realidade mística - clara, inegável, embora a não percebamos
com os sentidos - que é o Corpo de Cristo, o próprio Senhor Nosso, a acção do
Espírito Santo, a presença amorosa do Pai.
A
Igreja é, por conseguinte, inseparavelmente humana e divina. É sociedade divina
pela sua origem, sobrenatural pelo seu fim e pelos meios que se ordenam
proximamente a esse fim; mas, na medida em que se compõe de homens, é uma
comunidade humana.
Vive
e actua no mundo, mas o seu fim e a sua força não estão na terra, mas no Céu.
Enganar-se-iam
gravemente aqueles que procurassem separar uma Igreja carismática - que seria a
verdadeiramente fundada por Cristo-, doutra jurídica ou institucional, que
seria obra dos homens e simples efeito de contingências históricas.
Só
há uma Igreja.
Cristo
fundou uma única Igreja: visível e invisível, com um corpo hierárquico e
organizado, com uma estrutura fundamental de direito divino e uma íntima vida
sobrenatural que a anima, sus - tenta e vivifica.
E
não é possível deixar de recordar que Nosso Senhor, ao instituir a Sua Igreja,
não a concebeu nem formou de modo a compreender uma pluralidade de comunidades
semelhantes no seu género, embora diferentes, e não ligadas por aqueles
vínculos que tornam a Igreja indivisível e única...
Por
isso, quando Jesus fala deste místico edifício, refere-se apenas a uma Igreja a
que chama Sua: edificarei a Minha Igreja (Mat. XVI, 18). Qualquer outra que se
imagine fora desta, em virtude de não ter sido fundada por Ele, não pode ser a
Sua verdadeira Igreja.
Fé,
repito; aumentemos a nossa Fé; pedindo-a à Santíssima Trindade, cuja festa hoje
celebramos.
Poderá
acontecer tudo, excepto que o Deus três vezes Santo abandone a Sua Esposa.
(cont)