Dentro
do Evangelho
Mt XVIII, 21-35
Mt XVIII, 21-35
21 Então, aproximando-se d'Ele Pedro, disse:
«Senhor, até quantas vezes poderá pecar meu irmão contra mim, que eu lhe
perdoe? Até sete vezes?». 22 Jesus respondeu-lhe: «Não te digo que até
sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23 «Por isso, o Reino dos
Céus é comparável a um rei que quis fazer as contas com os seus servos. 24
Tendo começado a fazer as contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil
talentos. 25 Como não tivesse com que pagar, o seu senhor mandou que
fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo o que tinha, e se saldasse a
dívida. 26 Porém, o servo, lançando-se-lhe aos pés, suplicou-lhe:
“Tem paciência comigo, eu te pagarei tudo”. 27 E o senhor,
compadecido daquele servo, deixou-o ir livre e perdoou-lhe a dívida. 28
«Mas este servo, tendo saído, encontrou um dos seus companheiros que lhe devia
cem denários e, lançando-lhe a mão, sufocava-o dizendo: “Paga o que me deves”. 29
O companheiro, lançando-se-lhe aos pés, suplicou-lhe: “Tem paciência comigo, eu
te pagarei”. 30 Porém ele recusou e foi mandá-lo meter na prisão,
até pagar a dívida. 31 «Os outros servos seus companheiros, vendo
isto, ficaram muito contristados e foram referir ao seu senhor tudo o que tinha
acontecido. 32 Então o senhor chamou-o e disse-lhe: “Servo mau, eu
perdoei-te a dívida toda, porque me suplicaste. 33 Não devias tu
também compadecer-te do teu companheiro, como eu me compadeci de ti?”. 34
E o seu senhor, irado, entregou-o aos guardas, até que pagasse toda a dívida. 35
«Assim também vos fará Meu Pai celestial, se cada um não perdoar do íntimo do
seu coração ao seu irmão»
Personagem 2.2
Um dos servos revoltados
Não vou revelar o meu nome, direi apenas que sou um dos
servos que constatou a tristíssima cena daquele nosso compatriota apertando o
pescoço a um outro que lhe devia uma quantia que, depois vim a saber, somava
cerca de cem denários. Não revelo o meu
nome porque, confesso, tenho receio daquele sujeito, homem de “maus fígados”
que toda a gente sabe é um usurário que “explora” as necessidades dos outros
revelando-se um intransigente sem dó nem piedade, exigindo por qualquer meio a
devolução do emprestado aos que tiveram a desdita de lhe caírem nas “garras”.
Mas, todos sabíamos que esse dinheiro que emprestava a elevados juros vinha
directamente das mãos do nosso Senhor e Rei que nunca recusava nada a quem a
ele recorria. Espantava-nos como podia continuar a emprestar-lhe enormes
quantias que – todos o sabíamos – atingiam um valor absurdamente grande, sem
exigir que prestasse contas como seria de esperar. Mas, finalmente chegou o dia
em que o nosso Senhor e Rei se inteirou da situação e resolveu chamá-lo à sua
presença. Estávamos todos naturalmente suspensos do que se iria passar e
ficamos cá fora no átrio do palácio à espera do desfecho. Para nosso espanto, o
homem sai do palácio com um sorriso rasgado no rosto como que animado de grande
contentamento para, logo depois, completamente alterado o semblante e a
atitude, proceder como a princípio relatei. Que se teria passado? Logo tudo se
esclareceu porque imediatamente surgiu no cimo da escadaria o escrivão do Rei
levantando os braços ao céu e mostrando toda uma surpresa e descontentamento
que não pudemos ignorar. Então contou-nos o que se passara: Em resumo disse que
depois de o Rei lhe ter exigido que pagasse quanto lhe devia e tendo obtido
como resposta que não o podia fazer, que lhe desse um pouco mais de tempo…
prometendo pagar logo que possível, o nosso excelente Rei que o ameaçara com a prisão
e a venda de todos os seus bens incluindo a mulher e os filhos, encheu-se de
compaixão e simplesmente mandou-o embora perdoando-lhe toda a enorme dívida.
Ficámos, naturalmente, espantados com a atitude do nosso Senhor que, embora
conhecendo a sua bondade para com os seus súbditos, perdoava assim – sem mais
nem menos – uma quantia exorbitante. Evidentemente que o Rei pode fazer com o
seu dinheiro o que muito bem entender e só nos competia dar graças por tão
excelente Senhor. Mas sabíamos que sendo extremamente generoso era, também,
absolutamente justo e que, seguramente, e deveria ficara saber que o servo a
quem perdoara tão grande dívida acabava de praticar um acto exactamente oposto
para com um colega e, por isso mesmo, fomos – todos - à sua presença contar o
que se passara. Note-se que não fomos apresentar uma “queixa” mas tão só
procedemos como achávamos que era de absolutamente correcto fazer. Caberia ao
nosso Rei e Senhor julgar conforme o seu superior critério.
Mês de Maio
As minhas Mães
Neste princípio de Maio que
melhor "meditação" que lembrar a minha Mãe do Céu que nasceu e viveu
na Palestina em Nazareth e a minha Mãe da terra, que também está no Céu, nasceu
em Portugal na Lousã e foi baptizada com o nome de Maria de Nazareth.
Nota: (Esta imagem de Nossa Senhora de
Fátima foi solenemente "entronizada" na capela das Termas de Monte
Real em procissão com todos os funcionários das Termas, conduzidas pela minha
querida Mãe no ano de 1943).
Santíssima Virgem
Alegrias
Anunciação do Anjo a Nossa Senhora
Nota de AMA:[i]
Meditação
«Salve,
ó cheia de graça»! (Lc 1, 28) Foi com estas palavras que,
Gabriel, o Anjo do Senhor, se dirigiu a ti, Maria de Nazaré.
Tão
longe estarias tu deste acontecimento. Decerto que, desde pequenina, a oração
constante, a simplicidade nos pensamentos e nos actos, sem a mais leve mancha
de malícia ou impudor, deverias sentir Deus muito próximo, ao alcance da tua
voz. Certamente que sim, pois acreditavas firmemente que Ele te ouvia sempre e
em cada momento. Mas, a tua modéstia, a tua simplicidade, a tua total e humilde
submissão ao teu Senhor, ao teu Deus, não permitiriam nunca que te ocorresse
sequer essa possibilidade. O Senhor Todo Poderoso, o Criador do Céu e da Terra
e de tudo quanto existe, enviar a Nazaré, à tua casa humilde e simples, um Anjo
Seu, para te saudar! Que coisa mais extraordinária! Sabias que Deus não era um
ser longínquo e distante, inacessível aos homens. Constantemente tinha
intervindo junto do povo eleito para comunicar a Sua Vontade, os Seus
desígnios. Mas, os Seus interlocutores tinham sido sempre grandes personagens
da História Humana: Abraão, Moisés, David, os Profetas, e tu, pobre e humilde
menina, recebias do Senhor uma graça semelhante!? Logo no início o salve do
Mensageiro te perturba. «Salve», isto é, alegra-te. Mas, mais: «Oh! Cheia de graça»! Que saudação estranha e desusada
que manifesta uma dignidade e honra que julgas não merecer: “Alegra-te
Filha... de Jerusalém... o Senhor está no meio de ti.” (So 3, 14. 17a)
Estes altíssimos louvores ferem o teu espírito humilde e, por isso a
estas palavras, «ela perturbou-se e ficou a pensar que saudação seria aquela».
(Lc 1, 29) Mas, Gabriel é um Anjo do Senhor, e apercebe-se da tua
confusão, talvez, o teu natural temor. E sossega-te: «Não tenhas receio,
Maria». Conhecias bem pelas Escrituras que lias e meditavas, o que significava
esta saudação e, portanto, quando Gabriel evoca estas prerrogativas, entendeste
claramente que te era anunciado que irias ser a Mãe do Messias Salvador. Mas há
ainda no teu espírito esclarecido, não obstante a tua juventude, uma dúvida
séria: Como poderias tu, virgem humilde, teres sido escolhida para Mãe de Jesus
Salvador pelo próprio Deus a quem tinhas dedicado a tua virgindade?! E, não
obstante a tua humildade de jovem simples não deixas de interrogar: «Como
será isso, se eu não conheço homem»?! (Lc 1, 34) Ah! ... mas o Anjo
tranquiliza-te: «Virá sobre ti o Espírito Santo, e a força do Altíssimo
estenderá sobre ti a Sua sombra». (Lc 1, 35) Esta resposta
corresponde também ao que nas Escrituras se revelava sobre o aparecimento do
Messias: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho a quem será
dado o nome de Emanuel, que quer dizer Deus connosco”. (Is 7, 14) Não tinhas mais dúvidas por isso nada mais
perguntaste. Não quiseste saber como, quando, porquê. Nada, nada absolutamente
te interessava averiguar porque: «Heis
aqui a escrava do Senhor: seja-me feito segundo a tua palavra!» (Lc 1,
38) Assim, tal qual, tu, Senhora, a quem acabava de anunciado seres
eleita por Deus a maior, a mais sublime de entre as mulheres da Terra, assim,
com esta simplicidade que fere pela sua inteira singeleza, assim, tu defines um
coração puro, uma alma de Deus, uma total entrega ao Senhor. Por isso Deus te
escolheu. A Mãe do Salvador, do Deus feito homem, perfeito homem, que haveria
de morrer na Cruz para salvar todos os homens, num sacrifício cruento,
completo, total, não poderia senão expressar a aceitação pronta e total da
Vontade Divina. Faça-se a Tua Vontade de uma forma total e completa. Não para
meu bem, não para minha glória, não para benefício de quem quer que seja,
não... só e unicamente porque é a Tua Vontade Senhor; o resto não me diz
respeito... E, no entanto, esta jovem era já a Mãe do Salvador, escolhida desde
o princípio dos tempos.
Poderei
eu, algum dia, alguma vez, do fundo do coração, manifestar tal sentimento?
Decerto que não. Quantas vezes que me proponho aceitar a Vontade de Deus, mas
reservando no meu íntimo, que ela esteja de acordo com a minha vontade. Que se
satisfaçam os meus desejos, que obtenha o que quero que o Senhor me conceda,
actue assim, como uma espécie de Deus privado, ao meu serviço. Ah! Senhora
minha, que maravilha a tua resposta, que espantosa a tua entrega. Ajuda-me,
querida Mãe, a dizer a cada momento, sim ao Senhor. Instila no meu coração de
filho, porque és minha Mãe, esses sentimentos puros e humildes, esse
desprendimento das coisas, essa disponibilidade permanente para ouvir e,
ouvindo, dizer que sim aos desejos do Senhor. Desejo tanto ser honesto comigo
mesmo para poder ser honesto para com os outros e para com Deus. Não me mentir,
não me enganar, não me esconder atrás de falsas coisas, defeitos ou virtudes,
para me esquivar constantemente ao que me é pedido. E a Tua Vontade, o Teu
mandato, claríssimo é que eu seja santo. Não um dia, não qualquer dia, agora -
«nunc coepi – “pois pode ser que o
amanhã me falte”. (Pois n'Ele elegeu-nos antes da criação do mundo
para que fôssemos santos Ef 1, 4-6)
«Ave Cheia de Graça, o Senhor está contigo».
Assim te falou o Anjo do Senhor. Ave minha Mãe Santíssima. Ave, minha querida
Mãe que estás no Céu, digo-te eu, com a esperança, que é certeza, que me ouves
e atenderás as minhas súplicas. Como tu, também eu quero dizer: “fiat”, faça-se, “cumpra-se a
justíssima e amabilíssima Vontade de Deus sobre todas as coisas.” «Monstra te esse materem, (São Paulo
VI, em Fátima, 1957) mostra que és mãe, ajuda-me e guia-me todos os dias
da minha vida para que eu seja um bom filho.
(AMA,
1999)
Alegrias
Visita
de Nossa Senhora a Santa Isabel
Nota de AMA:
2
Meditação
Porque
o Anjo te disse que tua prima Isabel – aquela «que consideravam estéril»
- estava grávida já há seis meses, não pensaste em mais nada e puseste-te a
caminho para a visitar. Porque era necessário acompanhá-la nos últimos tempos
da gravidez. Isabel tinha «idade avançada» e seria bem-vinda a
presença de uma jovem dedicada para auxiliar nas complicações de uma gravidez
fora de tempo. Porque era necessário estares presente em tão extraordinário
acontecimento noticiado por um Anjo do Senhor. O mesmo Anjo que te tinha
anunciado que serias Mãe do Salvador. Porque talvez conviesse o sacrifício e
incómodos de uma viagem longa, para pensar mais profundamente em todas as
maravilhas que te tinham acontecido. Sentias já o teu Filho no teu seio e isto
era indubitavelmente obra misteriosa e magnífica de Deus. Talvez quisesses
falar com o teu primo Zacarias que, sendo sacerdote, poderia aclarar um pouco
todo o misterioso futuro que se antevia nas Escrituras. Talvez por estes
motivos todos mas, estou certo, que não pensaste em mais nada senão em ser útil
e prestável a uma família que precisava dos teus préstimos. E tudo se desvaneceu
perante a recepção de Isabel. As palavras que te dirigiu. O estremecimento de
João no seio de sua mãe. Tudo se torna claríssimo como água. A Vontade de Deus é agora mais nítida mais
transparente. E rompes num canto maravilhoso de acção de graças e louvor, de
humildade e entrega. Não pedes nada, não desejas nada. Sabes perfeitamente que
não precisarás de coisa alguma, nunca, porque Deus proverá tudo quanto
precisares. E o Senhor ouve da tua boca o Magnificat (Lc 1, 39-55)
esplendoroso cântico que, para sempre, ficará gravado na história do povo de
Deus e será repetidamente cantado pela legião enorme dos teus filhos. Só tu,
Virgem Maria, poderias ter reunido com tanta simplicidade e candura um hino de
louvor e submissão ao Criador. Um hino onde se espelham as certezas todas,
todos os caminhos que Deus manda trilhar para que a Sua Vontade seja cumprida. Que
coração poderia albergar tais sentimentos? Que alma saberia elevar-se de tal
forma? Que ser humano poderia alguma vez, louvar e enaltecer o seu Criador de
forma tão perfeita? Sabendo, Senhora, que já eras a Mãe do próprio Deus,
sabendo tu, Senhora, que o Salvador, Rei dos Reis, habitava já no teu seio, não
te exaltas nem envaideces pessoalmente, antes te envaideces e exaltas por o
Senhor fazer o que quer, como, quando e com quem quer. Quando dizes que serás
aclamada por todas as gerações não o dizes por ti, mas porque sabes que, ao
fazê-lo, essas gerações aclamarão a Mãe de Deus. Dás a Deus o que seria
legítimo, humanamente falando, julgar teu. Sabes que O que Se gera no teu
ventre puríssimo é realmente o Filho de Deus e que foste apenas o instrumento
de que Ele Se serviu para dar corpo substancial à Sua Vontade. Não te ocorre um
momento que tens o mais pequeno mérito em tal maravilha, ou que o mereces. Tens
a consciência plena que é a Vontade do Senhor e não te compete saber ou
indagar: porquê eu, Maria. Ah!, minha Senhora, como a tua prima deve ter gozado
com a tua visita, como devem ter sido extraordinariamente leves e felizes os
tempos que ali passaste. Ajuda-me também a mim a compreender que não tenho que
pensar ou discutir ou indagar a Vontade do Senhor. Que sou um instrumento muito
rudimentar de que Deus se serve, apenas para ser servido e, ao fazê-lo, saiba
eu também louvar e enaltecer o Deus que me criou e me governa, porque a Sua
Vontade é a única vontade que reconheço e a minha felicidade será dar-lhe
cumprimento total. Desprendida de tudo ficaste com tua prima os últimos três
meses de gravidez acompanhando-a e servindo-a como humilde empregada. Aquela
casa iluminada pela tua presença fica “num brinco” de limpeza, de arrumo.
Seguramente dispuseste umas flores pelo ambiente porque aqueles momentos são de
alegria. Zacarias devia estar como que “fora de si” com tamanha ventura. A sua
esposa esperando um filho e a própria Mãe de Deus sempre presente e espalhando
paz e alegria à sua volta. Este acontecimento que o Evangelho nos relata e que
celebramos com o nome de Visitação como que marca o que realmente é e será toda
a tua vida: assistir a quantos possam precisar de ti. E, de facto, todos
precisamos de ti Senhora, do teu carinho, da tua disponibilidade permanente em
acorrer ás nossas necessidades sejam quais forem. Eu, muito particularmente,
não dispenso – como poderia – esse carinho essa assistência. O meu carácter
volúvel e condicionado pelas minhas fraquezas precisa da tua protecção e
amparo. Conto contigo, Querida Mãe… conto contigo sempre… sempre.
(AMA,
1999)
Alegrias
Jesus
Nasce em Belém
3
Meditação
Estava
próxima a hora de nasceres, Senhor, e como «não havia lugar na hospedaria»,
Tua Mãe santíssima, decerto preocupada, mas serenamente confiante, levou-Te
ainda no seu seio para uma gruta que servia de estábulo. E aí nasceste Senhor. O
meu Deus, o meu Senhor, o meu Salvador! «Como
não havia lugar na hospedaria...» (Cfr. Lc 2, 7)Porque não
haveria lugar? Por a cidade estar cheia de forasteiros que ali iam
recensear-se? Por não aparentarem, aquela jovem mulher e o seu marido, posses
ou posição social? Sim, com um simples burrico por transporte, uma pequena
trouxa de magros pertences, não o seriam por certo. Talvez fosse por estas duas
principais razões, talvez. É um facto que a cidade estaria cheia de gente. Mas
então, Maria e José foram tão imprudentes que não esperaram uns dias até que Tu
nascesses para então fazerem a viagem!? Não procuraram assegurar estadia em
casa de algum parente ou conhecido!? Não, não terão feito nada disto.
Provavelmente porque não podiam, as comunicações eram difíceis e, depois,
porque se tratava de duas criaturas de extrema simplicidade. Não era seu hábito
programar a vida, medir os passos, organizar em detalhe as coisas futuras. Com
uma confiança ilimitada na providência de Deus, sabiam perfeitamente que
haverias de nascer quando e onde quisesses, Senhor, e que haverias de prover
todas as necessidades que ocorressem. Mas não havia, de facto, lugar na
hospedaria? Não seria possível descobrir um pequeno recanto, uma água-furtada,
um esconso onde a jovem mãe pudesse, com recato e algum conforto, dar à luz o
seu Filho!? Quantas vezes, Senhor, eu não tive lugar para Ti? Quantas vezes! Sempre
cheio de “coisas urgentes”, de preocupações, ambições, desejos, devaneios, ouvi
eu, entendi eu que eras Tu, ali, à porta do meu coração, pedindo um bocadinho,
um pequeno espaço, para poderes nascer! Quantas vezes quiseste nascer dentro de
mim e, eu, pobre de mim, não deixei, não quis! Ah! Senhor, eu sei que não sou
digno, mas uma simples palavra Tua e este pobre coração cheio de mazelas e
pecados, ficará radioso de brancura e Tu poderás, ainda que por momentos,
nascer dentro dEle. Minha Querida Mãe ajuda-me a estar pronto e sempre
disponível para te dar guarida. Receberte-ei com tanta alegria! E tentarei
consolar-te do desgosto que te provocaram os que te negaram lugar para trazeres
ao mundo o teu Divino Filho. Encontrarás não um palácio, não uma morada
grandiosa, mas um pobre coração que anseia merecer a honra de ser o Presépio
onde reclinarás o teu Jesus. Sei que não mereço tão grande honra mas também sei
que as honras que te interessam são o amor, o carinho e a simplicidade dos
sentimentos. É por isso que me atrevo a esperar que aceites o meu pedido e,
aceitando-o, me ajudes a preparar condignamente o coração. Ah! E diz ao teu
excelente Esposo que também tenho lugar para ele e que a sua estadia será uma
ventura para mim. Bate, meu Pai e Senhor, com força – para me acordares do meu torpor -
à minha porta, eu abrir-Te-ei e deixar-Te-ei entrar e aqui farás o Presépio. Não
desejo outra coisa, Senhor, senão sentir-Te dentro de mim, irradiando a Tua Paz
e o Teu calor de Amor. Oh! Minha mãe, Maria Santíssima, descansa aqui um pouco,
deixa-me por momentos o teu Filho que eu O embalarei com o meu amor, a minha
dedicação inteira, a minha devoção profunda. Podes tu, José meu pai e senhor,
confiar-me o teu excelente Filho adoptivo? Eu tomarei boa conta d'Ele, embora
fique estático e estarrecido por tamanha ventura e tão grande honra. A minha alma anseia que assim seja. Depois
quando passar aquele aperto das multidões em Belém o teu esposo há-de encontrar
lugar mais condigno e confortável para poderes descansar, recuperar do esforço
do parto. Seja como for eu não sairei da porta da casa onde se acolherem, quero
estar próximo, muito próximo da Família Santa. Ah! E depois os Reis que do
Oriente a Estrela conduziu à vossa porta. Como se admirarão as gentes que
passam nas ruas de Belém com tão magnífico cortejo de personagens tão
importantes. Tu, Senhora minha, não te admiras, sabes muito bem Quem é o teu Filho
e porque O procuram quantos por sinais evidentes do Céu chegam diariamente para
O ver e adorar. Adivinhas que será sempre assim e, talvez no teu íntimo,
desejes um pouco que se detenha esse permanente caudal de pessoas que acorrem à
tua casa. O desejo de proteger o teu Filho, de O manter de certa forma oculto
para que possa crescer em paz e sossego como qualquer criança da Sua idade.
Sabes muito bem que virá o tempo em que a tua protecção de Mãe será substituída
por uma realidade bem diferente. Envolta em riscos permanentes, contestações e
desafios de toda a ordem, a Missão desse Filho que É Deus, será a de levar a
cabo os desejos do Pai Celeste: Instaurar o Seu Reino entre os homens. Vais
mantendo, quanto possível, esse anonimato com uma vida simples, comum como a de
qualquer família de Israel. Quando chegar o tempo oportuno, aquele tempo que o
teu Deus designou, sabes que como que deixará de estar nas tuas mãos de Mãe a
protecção do teu Filho. Passarás, então, a desempenhar outra missão não menos
importante e necessária: Servir de guia e conselheira dos que o teu Filho vai
escolher para serem os Seus mais próximos colaboradores na tarefa que tem de
levar a cabo e os continuadores pelos tempos fora da Sua Missão como Salvador
do mundo.
(AMA,
1999)
Alegrias
Apresentação de Jesus no Templo
4
Meditação
Com
a humildade simples de sempre, foste, Senhora, cumprir a Lei: Passados os dias
estabelecidos depois do nascimento, a jovem Mãe tem de purificar-se no Templo.
Pelo filho deve oferecer um casal de pombas ou rolas brancas para ser
circuncidado e, assim, tomar parte no Povo de Deus. E tu, Senhora, foste
purificar-te ao Templo! Tu, sem mancha de pecado, sem qualquer defeito que
pudesse macular a brancura do teu coração e a limpidez da tua alma, não
hesitaste um segundo em cumprir o que estava escrito que os filhos da Casa de
Israel fizessem! Quantas vezes eu pensei que estava dispensado de rezar mais,
de me humilhar, de me declarar disponível para o Senhor; quantas vezes pensei
comigo mesmo que sou melhor que estes, porque eu faço, eu penso, eu desejo
muito mais e melhor! Tudo porque o meu coração tem uma carapaça que turva a sua
limpidez. A minha alma cheia de equimoses de pecados antigos e recentes;
feridas e lanhos de defeitos que não consigo rebater nem ultrapassar. Não
consigo porque não dedico a essa luta um esforço humilde, continuado e
perseverante que me leve a estar sempre pronto para a luta contra a minha falta
de carácter. Toda a tua vida, Senhora minha, é uma lição de humildade simples e
serena. Não fazes nada de extraordinário, não dás nas vistas, não sobressais no
meio das outras mulheres e, no entanto, cumpres com alegria e simplicidade
todas as prescrições da Lei como se tuas obrigações fossem. E nisto está o teu
segredo, Maria: Cumprir o que Deus manda, sem discutir, sem argumentar, a tempo
e horas, quando e como deve ser feito. Esta singela disponibilidade cumpridora
dos deveres é sem dúvida, a característica mais extraordinária da Mãe do meu
Senhor e minha Mãe. Não a vemos nunca em êxtase em frente das multidões,
sentada numa cadeira especial, ou nos primeiros lugares das assembleias. Não.
Uma mulher simples, em que as coisas, os actos e as palavras não são estudados
ou arquitectados de acordo e com conveniências ou objectivos. Apenas uma serena
certeza: Obedecer com prontidão e total disponibilidade. E, no entanto, esta
mulher é a Mãe de Deus! Que lugar mais alto, que maior honra, que pergaminho,
que nome ilustre pode comparar-se: A Mãe
de Deus! Ah Senhora minha, conseguiste com a tua serena calma, impor ao
mundo um nome doce e vigoroso ao mesmo tempo que se nos coloca na boca com
amoroso deleite, ou com esperançada angústia? Nos meus lábios um último grito,
um último apelo, pelos aflitos, pelos que sofrem, pelos que, em último recurso,
para ti apelam. Dos que, acabrunhados pela dor buscam lenitivo. Dos que,
esmagados pela alegria te agradecem. Dos que, como eu, doidos de amor apenas
pronunciam o teu nome lentamente, deixando-o ecoar por todo o seu ser até ao
mais profundo do seu coração. Obedecer. Obedecer prontamente, sem hesitações ou
desvios. Não dai a pouco, ou mais logo quando houver mais tempo, mais sossego,
melhor luz… todas as mil desculpas que invento para adiar o que tem de ser
feito já. Obedecer! É isto, Senhora, que procuro. É isto, Senhora, que quero:
Obedecer. Para isso, bem o sei, preciso expurgar de mim todos os invólucros que
me cingem, as preocupações com coisas pequenas, as cobardias constantes, as
faltas de atenção, as interrupções, os devaneios. Para isso é preciso estar
pronto. Só tu, Senhora minha, podes ajudar-me a conseguir este estado de alma.
Só tu podes ajudar-me a eliminar tudo aquilo que tenho a mais e que tanto é,
que não me deixa ver o essencial, o que realmente vale a pena. A ti recorro,
Mãe Santíssima, para que me conduzas pela mão ao Templo da Purificação, onde
eu, com os olhos finalmente libertos de escamas e o coração nu, de fora do
peito, veja com toda a clareza a Vontade de Deus meu Senhor. Tenho a certeza
que serei também purificado e o fogo interior que se me acende no peito,
incendiará todo o meu ser, purificando-me assim de todas as minhas faltas.
(AMA,
1999)
Alegrias
Jesus
perdido e achado no Templo
5
Meditação
A
primeira prova! A primeira dor! Como o teu coração amantíssimo de Mãe estaria
angustiado e compungido com a ausência do teu Filho!? E a demora em
encontrá-Lo!? Ao teu espírito deveriam acorrer as palavras de Simeão e, mesmo
sabendo que Ele tinha uma missão a cumprir, não deixavas de sentir aquele
aperto no coração que uma mãe sente quando um filho pequeno desaparece sem
explicação e não consegue encontrá-lo. Onde poderia estar? Eu, que ando por
esta vida, tantas vezes, à procura de Jesus que, parece que Se afasta de mim
para bem longe, também me sinto triste angustiado. Porquê? Porque Te afastaste,
Senhor, de mim? E mergulho dentro de mim mesmo, única forma séria de reflectir,
e chego sempre à triste conclusão que, não foste Tu quem Se afastou mas, sim,
eu é que me ausentei da Tua presença. Tenho tantas coisas em que pensar;
enormes preocupações que me consomem por dentro; inúmeros desejos por
satisfazer; caminhos que quero tanto percorrer, embora saiba que não interessam
e não conduzem a nada que valha a pena. E, depois, são estas coisas todas que
possuo – que julgo possuir – e as muitas outras que anseio vir a ter, que me
mantêm agarrado ao meu lugar, estático e imóvel enquanto, Tu, caminhas sempre,
esperando que Te siga. Vou ficando para trás, preso a tudo isto que não vale
nada e para nada interessa e vejo-Te esfumar no horizonte e, em vez de correr
pressuroso atrás de Ti, fico-me inerte e como que morto. Parece-me que Te oiço
com as palavras de Tua Mãe: «Filho,
porque procedeste assim connosco?» (Cfr. Lc 2, 41-52) Porque te
deténs no caminho? Anda que, Eu, estou à tua espera! E fico-me sem reposta,
pois que Te hei-de eu dizer a não ser, confessar a minha fraqueza, a mostrar-Te
humildemente o pouco que sou, a pedir-Te que esperes por mim, que não Te
afastes mais, que quero ir ter conTigo. Sou tão feliz porque me ouves e deténs
o passo e ficas, num gesto acolhedor, de amigo íntimo, à espera que eu,
finalmente, volte para o pé de Ti. É então que me dou conta da enorme
desventura que é a Tua ausência, o não Te ter presente bem ao pé de mim e, como
compreendo a Tua Mãe na sua procura ansiosa pelas ruas de Jerusalém durante
esses três dias de alvoroço. Quero acompanhar-te nessa procura ansiosa, vou
correndo à tua frente de um lado para o outro. Pergunto aos que encontro se
viram o teu Filho, se sabem onde está. E
as respostas que te levo mais ensombram o teu semblante mas, no entanto,
dizes-me: Vai… continua a procurá-Lo… não desistas, tem confiança porque eu,
que também sou tua Mãe tenho a certeza que O encontrarás. E vou, continuo
anelante à procura do nosso Jesus. Sinto-me por vezes cansado desta busca sem
resultados mas, tu Doce Mãe repetes uma e outra vez: Vai… continua a
procurá-Lo… não desistas, tem confiança porque eu, que também sou tua Mãe tenho
a certeza que O encontrarás. E, uma vez mais, as tuas doces palavras animam-me
e prossigo com novas forças, com renovado empenho. Não me importo nada que
alguns me considerem um tonto que não sabe para onde vai nem o que procura. Não
me importo porque as vozes agoirentas dos néscios e incrédulos não encontram
eco na minha alma. Eu sou, pretendo ser, consciente do que quero e do que tenho
de fazer para o conseguir. Ah! E o que quero é encontrar Jesus pegar-Lhe na mão
e dar um grito tão alto que o possas ouvir claramente: Mãe… encontrei-O… está
aqui! E tu sorris e dizes-me: Vês? Eu não te disse? Se O procurares sem
descanso encontrá-Lo-ás. Afinal, filho, Ele esteve sempre ali onde O
encontraste à tua espera. Até agora não O viste e passas-te tantas vezes ao Seu
lado. Mas, balbucio, Mãe… não o vi porquê? Filho, respondes-me, para O ver é
necessário Amor, sem Amor a visão fica turva, só vê o que quer ver e não o que
tem de ver. Ver Jesus não é ver uma pessoa qualquer é ver o teu Irmão que deu a
Vida por ti na Cruz. É ver a maravilha da salvação que é o supremo acto de Amor
alguma vez praticado. Deus, sim… o Próprio Deus teu Criador que dá a Vida
por ti para que te salves e vivas para
sempre. É ver a maravilhosa e inescedível Criação. É ver a Felicidade que te
espera. Filho, não voltes a afastar-te de Jesus, mantém-te custe o que custar
sempre a Seu lado; e… se tiveres dúvidas qual o caminho a seguir, onde O
procurar, pede-me conselho, ajuda, auxílio, ânimo, coragem tudo quanto possa
faltar-te e dá-me a tua mão que eu, tua Mãe, levar-te-ei por um caminho seguro
(Iter para tuto) para O encontrares. Digo-lhe, então, com o coração nas
mãos: Minha Mãe, não deixes que nunca me afaste do teu Filho, do nosso Jesus.
Ensina-me a procurá-Lo onde Ele deverá estar à minha espera, em vez de andar
perdido tentando encontrá-Lo onde Ele não pode estar. Leva-me pela tua mão –
também sou teu filho, um filho pequeno – ao encontro dEle para que, juntos,
possamos sossegar na Sua companhia.
(AMA,
1999)
[i] Não
compreendo porque se apelidam os vários episódios do Santo Rosário de “Mistérios”. Um Mistério é algo que não se
compreende, não se entende. Mas o que acontece no Santo Rosário são
acontecimentos que sucederam realmente, que tiveram testemunhas, daí que não
sejam “Mistérios” mas relatos de algo que realmente axonteceu e foi
testemunhado.
Mês de Maio
As
minhas Mães
Neste
princípio de Maio que melhor "meditação" que lembrar a minha Mãe do
Céu que nasceu e viveu na Palestina em Nazareth e a minha Mãe da terra, que
também está no Céu, nasceu em Portugal na Lousã e foi baptizada com o nome de Maria de Nazareth.
Nota:
(Esta imagem de Nossa Senhora de Fátima foi solenemente "entronizada"
na capela das Termas de Monte Real em procissão com todos os funcionários das
Termas, conduzidas pela minha querida Mãe no ano de 1943).
Santíssima Virgem
Alegrias
Anunciação do Anjo a Nossa Senhora
Nota de AMA:[i]
Meditação
«Salve,
ó cheia de graça»! (Lc 1, 28) Foi com estas palavras que,
Gabriel, o Anjo do Senhor, se dirigiu a ti, Maria de Nazaré.
Tão
longe estarias tu deste acontecimento. Decerto que, desde pequenina, a oração
constante, a simplicidade nos pensamentos e nos actos, sem a mais leve mancha
de malícia ou impudor, deverias sentir Deus muito próximo, ao alcance da tua
voz. Certamente que sim, pois acreditavas firmemente que Ele te ouvia sempre e
em cada momento. Mas, a tua modéstia, a tua simplicidade, a tua total e humilde
submissão ao teu Senhor, ao teu Deus, não permitiriam nunca que te ocorresse
sequer essa possibilidade. O Senhor Todo Poderoso, o Criador do Céu e da Terra
e de tudo quanto existe, enviar a Nazaré, à tua casa humilde e simples, um Anjo
Seu, para te saudar! Que coisa mais extraordinária! Sabias que Deus não era um
ser longínquo e distante, inacessível aos homens. Constantemente tinha
intervindo junto do povo eleito para comunicar a Sua Vontade, os Seus
desígnios. Mas, os Seus interlocutores tinham sido sempre grandes personagens
da História Humana: Abraão, Moisés, David, os Profetas, e tu, pobre e humilde
menina, recebias do Senhor uma graça semelhante!? Logo no início o salve do
Mensageiro te perturba. «Salve», isto é, alegra-te. Mas, mais: «Oh! Cheia de graça»! Que saudação estranha e desusada
que manifesta uma dignidade e honra que julgas não merecer: “Alegra-te
Filha... de Jerusalém... o Senhor está no meio de ti.” (So 3, 14. 17a)
Estes altíssimos louvores ferem o teu espírito humilde e, por isso a
estas palavras, «ela perturbou-se e ficou a pensar que saudação seria aquela».
(Lc 1, 29) Mas, Gabriel é um Anjo do Senhor, e apercebe-se da tua
confusão, talvez, o teu natural temor. E sossega-te: «Não tenhas receio,
Maria». Conhecias bem pelas Escrituras que lias e meditavas, o que significava
esta saudação e, portanto, quando Gabriel evoca estas prerrogativas, entendeste
claramente que te era anunciado que irias ser a Mãe do Messias Salvador. Mas há
ainda no teu espírito esclarecido, não obstante a tua juventude, uma dúvida
séria: Como poderias tu, virgem humilde, teres sido escolhida para Mãe de Jesus
Salvador pelo próprio Deus a quem tinhas dedicado a tua virgindade?! E, não
obstante a tua humildade de jovem simples não deixas de interrogar: «Como
será isso, se eu não conheço homem»?! (Lc 1, 34) Ah! ... mas o Anjo
tranquiliza-te: «Virá sobre ti o Espírito Santo, e a força do Altíssimo
estenderá sobre ti a Sua sombra». (Lc 1, 35) Esta resposta
corresponde também ao que nas Escrituras se revelava sobre o aparecimento do
Messias: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho a quem será
dado o nome de Emanuel, que quer dizer Deus connosco”. (Is 7, 14) Não tinhas mais dúvidas por isso nada mais
perguntaste. Não quiseste saber como, quando, porquê. Nada, nada absolutamente
te interessava averiguar porque: «Heis
aqui a escrava do Senhor: seja-me feito segundo a tua palavra!» (Lc 1,
38) Assim, tal qual, tu, Senhora, a quem acabava de anunciado seres
eleita por Deus a maior, a mais sublime de entre as mulheres da Terra, assim,
com esta simplicidade que fere pela sua inteira singeleza, assim, tu defines um
coração puro, uma alma de Deus, uma total entrega ao Senhor. Por isso Deus te
escolheu. A Mãe do Salvador, do Deus feito homem, perfeito homem, que haveria
de morrer na Cruz para salvar todos os homens, num sacrifício cruento,
completo, total, não poderia senão expressar a aceitação pronta e total da
Vontade Divina. Faça-se a Tua Vontade de uma forma total e completa. Não para
meu bem, não para minha glória, não para benefício de quem quer que seja,
não... só e unicamente porque é a Tua Vontade Senhor; o resto não me diz
respeito... E, no entanto, esta jovem era já a Mãe do Salvador, escolhida desde
o princípio dos tempos.
Poderei
eu, algum dia, alguma vez, do fundo do coração, manifestar tal sentimento?
Decerto que não. Quantas vezes que me proponho aceitar a Vontade de Deus, mas
reservando no meu íntimo, que ela esteja de acordo com a minha vontade. Que se
satisfaçam os meus desejos, que obtenha o que quero que o Senhor me conceda,
actue assim, como uma espécie de Deus privado, ao meu serviço. Ah! Senhora
minha, que maravilha a tua resposta, que espantosa a tua entrega. Ajuda-me,
querida Mãe, a dizer a cada momento, sim ao Senhor. Instila no meu coração de
filho, porque és minha Mãe, esses sentimentos puros e humildes, esse
desprendimento das coisas, essa disponibilidade permanente para ouvir e,
ouvindo, dizer que sim aos desejos do Senhor. Desejo tanto ser honesto comigo
mesmo para poder ser honesto para com os outros e para com Deus. Não me mentir,
não me enganar, não me esconder atrás de falsas coisas, defeitos ou virtudes,
para me esquivar constantemente ao que me é pedido. E a Tua Vontade, o Teu
mandato, claríssimo é que eu seja santo. Não um dia, não qualquer dia, agora -
«nunc coepi – “pois pode ser que o
amanhã me falte”. (Pois n'Ele elegeu-nos antes da criação do mundo
para que fôssemos santos Ef 1, 4-6)
«Ave Cheia de Graça, o Senhor está contigo».
Assim te falou o Anjo do Senhor. Ave minha Mãe Santíssima. Ave, minha querida
Mãe que estás no Céu, digo-te eu, com a esperança, que é certeza, que me ouves
e atenderás as minhas súplicas. Como tu, também eu quero dizer: “fiat”, faça-se, “cumpra-se a
justíssima e amabilíssima Vontade de Deus sobre todas as coisas.” «Monstra te esse materem, (São Paulo
VI, em Fátima, 1957) mostra que és mãe, ajuda-me e guia-me todos os dias
da minha vida para que eu seja um bom filho.
(AMA,
1999)
Alegrias
Visita
de Nossa Senhora a Santa Isabel
2
Meditação
Porque
o Anjo te disse que tua prima Isabel – aquela «que consideravam estéril»
- estava grávida já há seis meses, não pensaste em mais nada e puseste-te a
caminho para a visitar. Porque era necessário acompanhá-la nos últimos tempos
da gravidez. Isabel tinha «idade avançada» e seria bem-vinda a
presença de uma jovem dedicada para auxiliar nas complicações de uma gravidez
fora de tempo. Porque era necessário estares presente em tão extraordinário
acontecimento noticiado por um Anjo do Senhor. O mesmo Anjo que te tinha
anunciado que serias Mãe do Salvador. Porque talvez conviesse o sacrifício e
incómodos de uma viagem longa, para pensar mais profundamente em todas as
maravilhas que te tinham acontecido. Sentias já o teu Filho no teu seio e isto
era indubitavelmente obra misteriosa e magnífica de Deus. Talvez quisesses
falar com o teu primo Zacarias que, sendo sacerdote, poderia aclarar um pouco
todo o misterioso futuro que se antevia nas Escrituras. Talvez por estes
motivos todos mas, estou certo, que não pensaste em mais nada senão em ser útil
e prestável a uma família que precisava dos teus préstimos. E tudo se desvaneceu
perante a recepção de Isabel. As palavras que te dirigiu. O estremecimento de
João no seio de sua mãe. Tudo se torna claríssimo como água. A Vontade de Deus é agora mais nítida mais
transparente. E rompes num canto maravilhoso de acção de graças e louvor, de
humildade e entrega. Não pedes nada, não desejas nada. Sabes perfeitamente que
não precisarás de coisa alguma, nunca, porque Deus proverá tudo quanto
precisares. E o Senhor ouve da tua boca o Magnificat (Lc 1, 39-55)
esplendoroso cântico que, para sempre, ficará gravado na história do povo de
Deus e será repetidamente cantado pela legião enorme dos teus filhos. Só tu,
Virgem Maria, poderias ter reunido com tanta simplicidade e candura um hino de
louvor e submissão ao Criador. Um hino onde se espelham as certezas todas,
todos os caminhos que Deus manda trilhar para que a Sua Vontade seja cumprida. Que
coração poderia albergar tais sentimentos? Que alma saberia elevar-se de tal
forma? Que ser humano poderia alguma vez, louvar e enaltecer o seu Criador de
forma tão perfeita? Sabendo, Senhora, que já eras a Mãe do próprio Deus,
sabendo tu, Senhora, que o Salvador, Rei dos Reis, habitava já no teu seio, não
te exaltas nem envaideces pessoalmente, antes te envaideces e exaltas por o
Senhor fazer o que quer, como, quando e com quem quer. Quando dizes que serás
aclamada por todas as gerações não o dizes por ti, mas porque sabes que, ao
fazê-lo, essas gerações aclamarão a Mãe de Deus. Dás a Deus o que seria
legítimo, humanamente falando, julgar teu. Sabes que O que Se gera no teu
ventre puríssimo é realmente o Filho de Deus e que foste apenas o instrumento
de que Ele Se serviu para dar corpo substancial à Sua Vontade. Não te ocorre um
momento que tens o mais pequeno mérito em tal maravilha, ou que o mereces. Tens
a consciência plena que é a Vontade do Senhor e não te compete saber ou
indagar: porquê eu, Maria. Ah!, minha Senhora, como a tua prima deve ter gozado
com a tua visita, como devem ter sido extraordinariamente leves e felizes os
tempos que ali passaste. Ajuda-me também a mim a compreender que não tenho que
pensar ou discutir ou indagar a Vontade do Senhor. Que sou um instrumento muito
rudimentar de que Deus se serve, apenas para ser servido e, ao fazê-lo, saiba
eu também louvar e enaltecer o Deus que me criou e me governa, porque a Sua
Vontade é a única vontade que reconheço e a minha felicidade será dar-lhe
cumprimento total. Desprendida de tudo ficaste com tua prima os últimos três
meses de gravidez acompanhando-a e servindo-a como humilde empregada. Aquela
casa iluminada pela tua presença fica “num brinco” de limpeza, de arrumo.
Seguramente dispuseste umas flores pelo ambiente porque aqueles momentos são de
alegria. Zacarias devia estar como que “fora de si” com tamanha ventura. A sua
esposa esperando um filho e a própria Mãe de Deus sempre presente e espalhando
paz e alegria à sua volta. Este acontecimento que o Evangelho nos relata e que
celebramos com o nome de Visitação como que marca o que realmente é e será toda
a tua vida: assistir a quantos possam precisar de ti. E, de facto, todos
precisamos de ti Senhora, do teu carinho, da tua disponibilidade permanente em
acorrer ás nossas necessidades sejam quais forem. Eu, muito particularmente,
não dispenso – como poderia – esse carinho essa assistência. O meu carácter
volúvel e condicionado pelas minhas fraquezas precisa da tua protecção e
amparo. Conto contigo, Querida Mãe… conto contigo sempre… sempre.
(AMA,
1999)
Alegrias
Jesus
Nasce em Belém
3
Meditação
Estava
próxima a hora de nasceres, Senhor, e como «não havia lugar na hospedaria»,
Tua Mãe santíssima, decerto preocupada, mas serenamente confiante, levou-Te
ainda no seu seio para uma gruta que servia de estábulo. E aí nasceste Senhor. O
meu Deus, o meu Senhor, o meu Salvador! «Como
não havia lugar na hospedaria...» (Cfr. Lc 2, 7)Porque não
haveria lugar? Por a cidade estar cheia de forasteiros que ali iam
recensear-se? Por não aparentarem, aquela jovem mulher e o seu marido, posses
ou posição social? Sim, com um simples burrico por transporte, uma pequena
trouxa de magros pertences, não o seriam por certo. Talvez fosse por estas duas
principais razões, talvez. É um facto que a cidade estaria cheia de gente. Mas
então, Maria e José foram tão imprudentes que não esperaram uns dias até que Tu
nascesses para então fazerem a viagem!? Não procuraram assegurar estadia em
casa de algum parente ou conhecido!? Não, não terão feito nada disto.
Provavelmente porque não podiam, as comunicações eram difíceis e, depois,
porque se tratava de duas criaturas de extrema simplicidade. Não era seu hábito
programar a vida, medir os passos, organizar em detalhe as coisas futuras. Com
uma confiança ilimitada na providência de Deus, sabiam perfeitamente que
haverias de nascer quando e onde quisesses, Senhor, e que haverias de prover
todas as necessidades que ocorressem. Mas não havia, de facto, lugar na
hospedaria? Não seria possível descobrir um pequeno recanto, uma água-furtada,
um esconso onde a jovem mãe pudesse, com recato e algum conforto, dar à luz o
seu Filho!? Quantas vezes, Senhor, eu não tive lugar para Ti? Quantas vezes! Sempre
cheio de “coisas urgentes”, de preocupações, ambições, desejos, devaneios, ouvi
eu, entendi eu que eras Tu, ali, à porta do meu coração, pedindo um bocadinho,
um pequeno espaço, para poderes nascer! Quantas vezes quiseste nascer dentro de
mim e, eu, pobre de mim, não deixei, não quis! Ah! Senhor, eu sei que não sou
digno, mas uma simples palavra Tua e este pobre coração cheio de mazelas e
pecados, ficará radioso de brancura e Tu poderás, ainda que por momentos,
nascer dentro dEle. Minha Querida Mãe ajuda-me a estar pronto e sempre
disponível para te dar guarida. Receberte-ei com tanta alegria! E tentarei
consolar-te do desgosto que te provocaram os que te negaram lugar para trazeres
ao mundo o teu Divino Filho. Encontrarás não um palácio, não uma morada
grandiosa, mas um pobre coração que anseia merecer a honra de ser o Presépio
onde reclinarás o teu Jesus. Sei que não mereço tão grande honra mas também sei
que as honras que te interessam são o amor, o carinho e a simplicidade dos
sentimentos. É por isso que me atrevo a esperar que aceites o meu pedido e,
aceitando-o, me ajudes a preparar condignamente o coração. Ah! E diz ao teu
excelente Esposo que também tenho lugar para ele e que a sua estadia será uma
ventura para mim. Bate, meu Pai e Senhor, com força – para me acordares do meu torpor -
à minha porta, eu abrir-Te-ei e deixar-Te-ei entrar e aqui farás o Presépio. Não
desejo outra coisa, Senhor, senão sentir-Te dentro de mim, irradiando a Tua Paz
e o Teu calor de Amor. Oh! Minha mãe, Maria Santíssima, descansa aqui um pouco,
deixa-me por momentos o teu Filho que eu O embalarei com o meu amor, a minha
dedicação inteira, a minha devoção profunda. Podes tu, José meu pai e senhor,
confiar-me o teu excelente Filho adoptivo? Eu tomarei boa conta d'Ele, embora
fique estático e estarrecido por tamanha ventura e tão grande honra. A minha alma anseia que assim seja. Depois
quando passar aquele aperto das multidões em Belém o teu esposo há-de encontrar
lugar mais condigno e confortável para poderes descansar, recuperar do esforço
do parto. Seja como for eu não sairei da porta da casa onde se acolherem, quero
estar próximo, muito próximo da Família Santa. Ah! E depois os Reis que do
Oriente a Estrela conduziu à vossa porta. Como se admirarão as gentes que
passam nas ruas de Belém com tão magnífico cortejo de personagens tão
importantes. Tu, Senhora minha, não te admiras, sabes muito bem Quem é o teu Filho
e porque O procuram quantos por sinais evidentes do Céu chegam diariamente para
O ver e adorar. Adivinhas que será sempre assim e, talvez no teu íntimo,
desejes um pouco que se detenha esse permanente caudal de pessoas que acorrem à
tua casa. O desejo de proteger o teu Filho, de O manter de certa forma oculto
para que possa crescer em paz e sossego como qualquer criança da Sua idade.
Sabes muito bem que virá o tempo em que a tua protecção de Mãe será substituída
por uma realidade bem diferente. Envolta em riscos permanentes, contestações e
desafios de toda a ordem, a Missão desse Filho que É Deus, será a de levar a
cabo os desejos do Pai Celeste: Instaurar o Seu Reino entre os homens. Vais
mantendo, quanto possível, esse anonimato com uma vida simples, comum como a de
qualquer família de Israel. Quando chegar o tempo oportuno, aquele tempo que o
teu Deus designou, sabes que como que deixará de estar nas tuas mãos de Mãe a
protecção do teu Filho. Passarás, então, a desempenhar outra missão não menos
importante e necessária: Servir de guia e conselheira dos que o teu Filho vai
escolher para serem os Seus mais próximos colaboradores na tarefa que tem de
levar a cabo e os continuadores pelos tempos fora da Sua Missão como Salvador
do mundo.
(AMA,
1999)
Alegrias
Apresentação de Jesus no Templo
4
Meditação
Com
a humildade simples de sempre, foste, Senhora, cumprir a Lei: Passados os dias
estabelecidos depois do nascimento, a jovem Mãe tem de purificar-se no Templo.
Pelo filho deve oferecer um casal de pombas ou rolas brancas para ser
circuncidado e, assim, tomar parte no Povo de Deus. E tu, Senhora, foste
purificar-te ao Templo! Tu, sem mancha de pecado, sem qualquer defeito que
pudesse macular a brancura do teu coração e a limpidez da tua alma, não
hesitaste um segundo em cumprir o que estava escrito que os filhos da Casa de
Israel fizessem! Quantas vezes eu pensei que estava dispensado de rezar mais,
de me humilhar, de me declarar disponível para o Senhor; quantas vezes pensei
comigo mesmo que sou melhor que estes, porque eu faço, eu penso, eu desejo
muito mais e melhor! Tudo porque o meu coração tem uma carapaça que turva a sua
limpidez. A minha alma cheia de equimoses de pecados antigos e recentes;
feridas e lanhos de defeitos que não consigo rebater nem ultrapassar. Não
consigo porque não dedico a essa luta um esforço humilde, continuado e
perseverante que me leve a estar sempre pronto para a luta contra a minha falta
de carácter. Toda a tua vida, Senhora minha, é uma lição de humildade simples e
serena. Não fazes nada de extraordinário, não dás nas vistas, não sobressais no
meio das outras mulheres e, no entanto, cumpres com alegria e simplicidade
todas as prescrições da Lei como se tuas obrigações fossem. E nisto está o teu
segredo, Maria: Cumprir o que Deus manda, sem discutir, sem argumentar, a tempo
e horas, quando e como deve ser feito. Esta singela disponibilidade cumpridora
dos deveres é sem dúvida, a característica mais extraordinária da Mãe do meu
Senhor e minha Mãe. Não a vemos nunca em êxtase em frente das multidões,
sentada numa cadeira especial, ou nos primeiros lugares das assembleias. Não.
Uma mulher simples, em que as coisas, os actos e as palavras não são estudados
ou arquitectados de acordo e com conveniências ou objectivos. Apenas uma serena
certeza: Obedecer com prontidão e total disponibilidade. E, no entanto, esta
mulher é a Mãe de Deus! Que lugar mais alto, que maior honra, que pergaminho,
que nome ilustre pode comparar-se: A Mãe
de Deus! Ah Senhora minha, conseguiste com a tua serena calma, impor ao
mundo um nome doce e vigoroso ao mesmo tempo que se nos coloca na boca com
amoroso deleite, ou com esperançada angústia? Nos meus lábios um último grito,
um último apelo, pelos aflitos, pelos que sofrem, pelos que, em último recurso,
para ti apelam. Dos que, acabrunhados pela dor buscam lenitivo. Dos que,
esmagados pela alegria te agradecem. Dos que, como eu, doidos de amor apenas
pronunciam o teu nome lentamente, deixando-o ecoar por todo o seu ser até ao
mais profundo do seu coração. Obedecer. Obedecer prontamente, sem hesitações ou
desvios. Não dai a pouco, ou mais logo quando houver mais tempo, mais sossego,
melhor luz… todas as mil desculpas que invento para adiar o que tem de ser
feito já. Obedecer! É isto, Senhora, que procuro. É isto, Senhora, que quero:
Obedecer. Para isso, bem o sei, preciso expurgar de mim todos os invólucros que
me cingem, as preocupações com coisas pequenas, as cobardias constantes, as
faltas de atenção, as interrupções, os devaneios. Para isso é preciso estar
pronto. Só tu, Senhora minha, podes ajudar-me a conseguir este estado de alma.
Só tu podes ajudar-me a eliminar tudo aquilo que tenho a mais e que tanto é,
que não me deixa ver o essencial, o que realmente vale a pena. A ti recorro,
Mãe Santíssima, para que me conduzas pela mão ao Templo da Purificação, onde
eu, com os olhos finalmente libertos de escamas e o coração nu, de fora do
peito, veja com toda a clareza a Vontade de Deus meu Senhor. Tenho a certeza
que serei também purificado e o fogo interior que se me acende no peito,
incendiará todo o meu ser, purificando-me assim de todas as minhas faltas.
(AMA,
1999)
Alegrias
Jesus
perdido e achado no Templo
5
Meditação
A
primeira prova! A primeira dor! Como o teu coração amantíssimo de Mãe estaria
angustiado e compungido com a ausência do teu Filho!? E a demora em
encontrá-Lo!? Ao teu espírito deveriam acorrer as palavras de Simeão e, mesmo
sabendo que Ele tinha uma missão a cumprir, não deixavas de sentir aquele
aperto no coração que uma mãe sente quando um filho pequeno desaparece sem
explicação e não consegue encontrá-lo. Onde poderia estar? Eu, que ando por
esta vida, tantas vezes, à procura de Jesus que, parece que Se afasta de mim
para bem longe, também me sinto triste angustiado. Porquê? Porque Te afastaste,
Senhor, de mim? E mergulho dentro de mim mesmo, única forma séria de reflectir,
e chego sempre à triste conclusão que, não foste Tu quem Se afastou mas, sim,
eu é que me ausentei da Tua presença. Tenho tantas coisas em que pensar;
enormes preocupações que me consomem por dentro; inúmeros desejos por
satisfazer; caminhos que quero tanto percorrer, embora saiba que não interessam
e não conduzem a nada que valha a pena. E, depois, são estas coisas todas que
possuo – que julgo possuir – e as muitas outras que anseio vir a ter, que me
mantêm agarrado ao meu lugar, estático e imóvel enquanto, Tu, caminhas sempre,
esperando que Te siga. Vou ficando para trás, preso a tudo isto que não vale
nada e para nada interessa e vejo-Te esfumar no horizonte e, em vez de correr
pressuroso atrás de Ti, fico-me inerte e como que morto. Parece-me que Te oiço
com as palavras de Tua Mãe: «Filho,
porque procedeste assim connosco?» (Cfr. Lc 2, 41-52) Porque te
deténs no caminho? Anda que, Eu, estou à tua espera! E fico-me sem reposta,
pois que Te hei-de eu dizer a não ser, confessar a minha fraqueza, a mostrar-Te
humildemente o pouco que sou, a pedir-Te que esperes por mim, que não Te
afastes mais, que quero ir ter conTigo. Sou tão feliz porque me ouves e deténs
o passo e ficas, num gesto acolhedor, de amigo íntimo, à espera que eu,
finalmente, volte para o pé de Ti. É então que me dou conta da enorme
desventura que é a Tua ausência, o não Te ter presente bem ao pé de mim e, como
compreendo a Tua Mãe na sua procura ansiosa pelas ruas de Jerusalém durante
esses três dias de alvoroço. Quero acompanhar-te nessa procura ansiosa, vou
correndo à tua frente de um lado para o outro. Pergunto aos que encontro se
viram o teu Filho, se sabem onde está. E
as respostas que te levo mais ensombram o teu semblante mas, no entanto,
dizes-me: Vai… continua a procurá-Lo… não desistas, tem confiança porque eu,
que também sou tua Mãe tenho a certeza que O encontrarás. E vou, continuo
anelante à procura do nosso Jesus. Sinto-me por vezes cansado desta busca sem
resultados mas, tu Doce Mãe repetes uma e outra vez: Vai… continua a
procurá-Lo… não desistas, tem confiança porque eu, que também sou tua Mãe tenho
a certeza que O encontrarás. E, uma vez mais, as tuas doces palavras animam-me
e prossigo com novas forças, com renovado empenho. Não me importo nada que
alguns me considerem um tonto que não sabe para onde vai nem o que procura. Não
me importo porque as vozes agoirentas dos néscios e incrédulos não encontram
eco na minha alma. Eu sou, pretendo ser, consciente do que quero e do que tenho
de fazer para o conseguir. Ah! E o que quero é encontrar Jesus pegar-Lhe na mão
e dar um grito tão alto que o possas ouvir claramente: Mãe… encontrei-O… está
aqui! E tu sorris e dizes-me: Vês? Eu não te disse? Se O procurares sem
descanso encontrá-Lo-ás. Afinal, filho, Ele esteve sempre ali onde O
encontraste à tua espera. Até agora não O viste e passas-te tantas vezes ao Seu
lado. Mas, balbucio, Mãe… não o vi porquê? Filho, respondes-me, para O ver é
necessário Amor, sem Amor a visão fica turva, só vê o que quer ver e não o que
tem de ver. Ver Jesus não é ver uma pessoa qualquer é ver o teu Irmão que deu a
Vida por ti na Cruz. É ver a maravilha da salvação que é o supremo acto de Amor
alguma vez praticado. Deus, sim… o Próprio Deus teu Criador que dá a Vida
por ti para que te salves e vivas para
sempre. É ver a maravilhosa e inescedível Criação. É ver a Felicidade que te
espera. Filho, não voltes a afastar-te de Jesus, mantém-te custe o que custar
sempre a Seu lado; e… se tiveres dúvidas qual o caminho a seguir, onde O
procurar, pede-me conselho, ajuda, auxílio, ânimo, coragem tudo quanto possa
faltar-te e dá-me a tua mão que eu, tua Mãe, levar-te-ei por um caminho seguro
(Iter para tuto) para O encontrares. Digo-lhe, então, com o coração nas
mãos: Minha Mãe, não deixes que nunca me afaste do teu Filho, do nosso Jesus.
Ensina-me a procurá-Lo onde Ele deverá estar à minha espera, em vez de andar
perdido tentando encontrá-Lo onde Ele não pode estar. Leva-me pela tua mão –
também sou teu filho, um filho pequeno – ao encontro dEle para que, juntos,
possamos sossegar na Sua companhia.
(AMA,
1999)
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[i] Não
compreendo porque se apelidam os vários episódios do Santo Rosário de “Mistérios”. Um Mistério é algo que não se
compreende, não se entende. Mas o que acontece no Santo Rosário são
acontecimentos que sucederam realmente, que tiveram testemunhas, daí que não
sejam “Mistérios” mas relatos de algo que realmente axonteceu e foi
testemunhado.
[ii] Não
compreendo porque se apelidam os vários episódios do Santo Rosário de “Mistérios”. Um Mistério é algo que não se
compreende, não se entende. Mas o que acontece no Santo Rosário são
acontecimentos que sucederam realmente, que tiveram testemunhas, daí que não
sejam “Mistérios” mas relatos de algo que realmente axonteceu e foi
testemunhado.