04/09/2018

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:

Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?





Temas para reflectir e meditar


Lausperene

Perante a Tua Hóstia consagrada exposta  solenemente envolta num coração feito de flores deixo-me conduzir pelas vibrações do meu coração ainda fremente de Sagrada Comunhão que recebi há poucos minutos.

Sinto-me também eu um Sacrário vivo graças à excelência da Tua Misericórdia infinita que me acha digno de Vos receber.

Pasmo perante a caridade do Teu Coração Amantíssimo que Se amesquinha desta forma sem outra razão que não seja esse amor infinito que És Tu próprio.

Amor tão grande que nele caibo também apesar das minhas misérias e repetidas faltas.

Tudo esqueces, tudo perdoas!

Posso adivinhar o Teu sorriso condescendente e amável retribuindo com enormíssima largueza o pouco que Te ofereço.

GT! GT! GT!

(ama, reflexões na Igreja do SSS, 2015.02.16)


Evangelho e comentário


Tempo comum

Evangelho: Lc 4, 31-37

31 Desceu, depois, a Cafarnaúm, cidade da Galileia, e a todos ensinava ao sábado. 32 E estavam maravilhados com o seu ensino, porque falava com autoridade. 33 Encontrava-se na sinagoga um homem que tinha um espírito demoníaco, o qual se pôs a bradar em alta voz: 34 «Ah! Que tens que ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus!» 35 Jesus ordenou-lhe: «Cala-te e sai desse homem!» O demónio, arremessando o homem para o meio da assistência, saiu dele sem lhe fazer mal algum. 36 Dominados pelo espanto, diziam uns aos outros: «Que palavra é esta? Ordena com autoridade e poder aos espíritos malignos, e eles saem!» 37 A sua fama espalhou-se por todos os lugares daquela região.

Comentário:

Muitas vezes, segundo os Evangelistas, as pessoas admiravam-se com a doutrina de Cristo e, sobretudo com a forma como a expunha: com autoridade. 

Mas não só autoridade, mas com exemplos ou parábolas que a tornavam acessível e simples.

‘Fazei assim como Eu faço’  parece Jesus dizer com veemência conclusiva.

O exemplo é o melhor ensinamento, o mais credível e aceitável.

(ama, comentário sobre Lc 4, 31-37, Cascais, 30.08.2016)




Amor verdadeiro é sair de si mesmo


A alegria cristã não é fisiológica: o seu fundamento é sobrenatural, e está por cima da doença e da contradição. Alegria não é alvoroço de guizos ou de baile popular. A verdadeira alegria é algo mais íntimo: algo que nos faz estar serenos, transbordantes de gozo, mesmo que, às vezes, o rosto permaneça grave. (Forja, 520)

Há quem viva amargurado todo o dia. Tudo lhe causa desassossego. Dorme com uma obsessão física: a de que essa única evasão possível lhe vai durar pouco. Acorda com a impressão hostil e descorçoada de que já tem outra jornada pela frente...

Muitos esqueceram-se de que o Senhor nos colocou neste mundo de passagem para a felicidade eterna; e não pensam que só podem alcançá-la os que caminharem na Terra com a alegria dos filhos de Deus. (Sulco, 305)

Amor verdadeiro é sair de si mesmo, entregar-se. O amor traz consigo a alegria, mas é uma alegria que tem as suas raízes em forma de cruz. Enquanto estivermos na terra e não tivermos chegado à plenitude da vida futura, não pode haver amor verdadeiro sem a experiência do sacrifício, da dor. Uma dor de que se gosta, amável, fonte de íntimo gozo, mas dor real, porque significa vencer o nosso egoísmo e tomar o amor como regra de todas e cada uma das nossas acções (Cristo que passa, 43).

Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá


Cristo que passa 

34
         
Bom pastor, bom guia

Se a vocação é o mais importante, se a luz da estrela vai à nossa frente, para nos orientar no nosso caminho de amor de Deus, não é lógico ter dúvidas quando, uma vez ou outra, a perdemos de vista. Quase sempre por nossa culpa, em certos momentos da nossa vida interior, acontece-nos o que aconteceu na viagem dos Reis Magos: a estrela oculta-se.
Já conhecemos o esplendor divino da nossa vocação, estamos convencidos do seu carácter definitivo, mas talvez o pó que levantamos ao caminhar - o pó das nossas misérias - forme uma nuvem densa, que não deixa passar a luz.

Que havemos de fazer então?
Seguir o exemplo daqueles homens santos: perguntar. Herodes serviu-se da ciência para proceder de modo injusto; os Reis Magos utilizam-na para fazer o bem.
Mas nós, cristãos, não temos necessidade de perguntar a Herodes ou aos sábios da Terra.
Cristo deu à sua Igreja a segurança da doutrina, a corrente da graça dos Sacramentos; e providenciou para que haja pessoas que nos orientem, que nos conduzam, que nos recordem constantemente o caminho.
Dispomos de um tesouro infinito de ciência: a Palavra de Deus, guardada pela Igreja; a graça de Cristo que se administra nos Sacramentos; o testemunho e o exemplo dos que vivem com rectidão a nosso lado e sabem fazer das suas vidas um caminho de fidelidade a Deus.

Permiti que vos dê um conselho: se alguma vez perderdes a claridade da luz, recorrei sempre ao bom pastor.
E quem é o bom pastor?
O que entra pela porta da fidelidade à doutrina da Igreja; o que não se comporta como um mercenário, que, ao ver vir o lobo, deixa as ovelhas e foge; e o lobo arrebata-as e faz dispersar o rebanho. Reparai que a palavra divina não é vã: a insistência de Cristo (vedes como fala, com tanto carinho, de ovelhas e de pastores, de redil e de rebanhos?) é uma demonstração prática da necessidade de um bom guia para a nossa alma.

Se não houvesse maus pastores - escreve S. Agostinho - Ele não teria feito referência especial aos bons.
Quem é mercenário?
É o que vê o lobo e foge.
O que procura a sua própria glória, não a glória de Cristo; o que não se atreve a reprovar os pecadores com liberdade e espírito.
O lobo fila uma ovelha pelo pescoço; o diabo induz um fiel, por exemplo, a cometer adultério.
Se te calas e não reprovas esse comportamento, és mercenário: viste o lobo e fugiste.
Talvez me contradigas: não, estou aqui; não fugi.
E eu respondo-te: fugiste porque te calaste; e calaste-te porque tiveste medo.

A santidade da esposa de Cristo sempre se provou - e continua a provar-se actualmente - pela abundância de bons pastores.
Mas a fé cristã, que nos ensina a ser simples, não nos leva a ser ingénuos.
Há mercenários que se calam e há mercenários que pregam uma doutrina que não é de Cristo.
Por isso, se porventura o Senhor permite que fiquemos às escuras, inclusivamente em coisas de pormenor, se sentimos falta de firmeza na fé, recorramos ao bom pastor, àquele que - dando a vida pelos outros - quer ser, na palavra e na conduta, uma alma movida pelo amor - àquele que talvez seja também um pecador, mas que confia sempre no perdão e na misericórdia de Cristo.

Se a vossa consciência vos reprova por alguma falta - embora não vos pareça uma falta grave - se tendes uma dúvida a esse respeito, recorrei ao sacramento da Penitência.
Ide ao sacerdote que vos atende, ao que sabe exigir de vós firmeza na fé, delicadeza de alma, verdadeira fortaleza cristã.
Na Igreja existe a mais completa liberdade para nos confessarmos com qualquer sacerdote que possua as necessárias licenças eclesiásticas; mas um cristão de vida limpa recorrerá - com liberdade! - àquele que reconhece como bom pastor, que o pode ajudar a erguer a vista para voltar a ver no céu a estrela do Senhor.

35
          
Ouro, incenso e mirra

Videntes autem stellam, gavisi sunt gaudio magno valde” - diz o texto latino com admirável reiteração: ao descobrir novamente a estrela, exultaram com grande alegria.
E porquê tanta alegria?
Porque eles, que nunca duvidaram, recebem do Senhor a prova de que a estrela não tinha desaparecido; deixaram de a ver sensivelmente mas tinham-na conservado sempre na alma.
Assim é a vocação cristã: se não se perde a fé, se se mantém a esperança em Jesus Cristo que estará connosco até à consumação dos séculos, a estrela reaparece.
E, ao verificar uma vez mais a realidade da vocação, nasce em nós uma alegria maior, que aumenta a nossa fé, a nossa esperança, o nosso amor.

Ao entrarem na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, pondo-se de joelhos, adoraram-no.
Ajoelhemo-nos nós também diante de Jesus, do Deus escondido na humanidade; repitamos-lhe que não queremos voltar as costas ao seu chamamento divino, que nunca nos afastaremos dele; que arredaremos do nosso caminho tudo o que for um estorvo para a fidelidade; que desejamos sinceramente ser dóceis às suas inspirações.
Tu, interiormente, e eu também - porque estou a fazer uma oração íntima, com um profundo clamor silencioso - dizemos agora ao Menino que ansiamos por ser tão cumpridores como os servos da parábola, para que também nos possa responder a nós: alegra-te servo bom o fiel.

E, abrindo os seus tesouros, ofereceram-lhe presentes de ouro, incenso e mirra.
Detenhamo-nos um pouco para entender este passo do Santo Evangelho.
Como é possível que nós, que nada somos e nada valemos, ofereçamos alguma coisa a Deus?
Diz a Escritura: toda a dádiva e todo o dom perfeito vem do alto.
O homem não consegue descobrir plenamente a profundidade e a beleza dos dons do Senhor: se tu conhecesses o dom de Deus... - responde Jesus à mulher samaritana.
Jesus Cristo ensinou-nos a esperar tudo do Pai, a procurar antes de mais o Reino de Deus e a sua justiça, porque tudo o resto se nos dará por acréscimo e Ele conhece bem as nossas necessidades.
Na economia da salvação, o nosso Pai cuida de cada alma com amor e delicadeza: cada um recebeu de Deus o seu próprio dom; uns de um modo, outros de outro.
Portanto, podia parecer inútil cansarmo-nos, tentando apresentar ao Senhor algo de que Ele precise; dada a nossa situação de devedores que não têm com que saldar as dívidas, as nossas ofertas assemelhar-se-iam às da Antiga Lei, que Deus já não aceita: Tu não quiseste os sacrifícios, as oblações e os holocaustos pelo pecado, nem te são agradáveis as coisas que se oferecem segundo a Lei.

Mas o Senhor sabe que o dar é próprio dos apaixonados e Ele próprio nos diz o que deseja de nós.
Não lhe interessam riquezas, nem frutos, nem animais da terra, do mar ou do ar, porque tudo isso lhe pertence.
Quer algo de íntimo, que havemos de lhe entregar com liberdade: dá-me, meu filho, o teu coração.
Vedes?
Se compartilha, não fica satisfeito: quer tudo para si.
Repito: não pretende o que é nosso; quer-nos a nós mesmos. Daí - e só daí - advêm todas as outras ofertas que podemos fazer ao Senhor.

Demos-lhe, portanto, ouro: o ouro fino do espírito de desprendimento do dinheiro e dos bens materiais.
Não esqueçamos que são coisas boas, que vêm de Deus. Mas o Senhor dispôs que as utilizemos sem deixar que o coração fique preso a elas, pelo contrário, tirando delas proveito para bem da humanidade.

Os bens da terra não são maus; pervertem-se quando o homem os toma como ídolos e se prostra diante deles; mas tornam-se nobres quando os tornamos instrumentos para o bem nalguma actividade cristã de justiça e de caridade.
Não podemos correr atrás dos bens económicos, como quem procura um tesouro; o nosso tesouro está aqui, deitado num presépio; é Cristo e nele se há-de concentrar todo o nosso amor, porque onde está o teu tesouro, aí está também o teu coração.

36
          
Oferecemos incenso: o desejo - que elevamos até ao Senhor - de levar uma vida recta, de que se desprenda o bonus odor Christi, o perfume de Cristo.
Impregnar as nossas palavras e acções desse bonus odor é semear compreensão e amizade.
Que a nossa vida acompanhe as vidas dos restantes homens, para que ninguém se encontre ou se sinta só.
A caridade há-de ser também carinho, calor humano.

Assim no-lo ensina Jesus Cristo.
A humanidade havia séculos que esperava a vinda do Salvador; os profetas tinham-no anunciado de mil maneiras; e - embora, por acção do pecado e da ignorância se tivesse perdido grande parte da Revelação de Deus aos homens - conservava-se até aos confins da Terra o desejo de Deus, a ânsia de redenção.

Chega a plenitude dos tempos e, para cumprir essa missão, não aparece um génio filosófico, como Sócrates ou Platão; não se instala na terra um conquistador poderoso, como Alexandre Magno.
Nasce um Menino em Belém.
É o Redentor do mundo; mas, antes de começar a falar, demonstra o seu amor com obras.
Não é portador de nenhuma fórmula mágica, porque sabe que a salvação que nos traz há-de passar pelo coração do homem.
As suas primeiras acções são risos e choros de criança, o sono inerme de um Deus humanado; para que fiquemos tomados de amor, para que saibamos acolhê-Lo nos nossos braços.

Uma vez mais consciencializamos que isto é que é o Cristianismo.
Se o cristão não ama com obras, fracassa como cristão, o que significa fracassar também como pessoa.
Não podes pensar nos outros homens como se fossem números, ou degraus para tu subires; como se fossem massa, para ser exaltada ou humilhada, adulada ou desprezada, conforme os casos.
Tens de pensar nos outros - antes de mais, nos que estão ao teu lado - vendo neles o que na verdade são: filhos de Deus, com toda a dignidade que esse título maravilhoso lhes confere.

Com os filhos de Deus, temos de comportar-nos como filhos de Deus: o nosso amor há-de ser abnegado, diário, tecido de mil e um pormenores de compreensão, de sacrifício calado, de entrega silenciosa.
Este é o bonus odor Christi que arrancava uma exclamação aos que conviviam com os primeiros cristãos: Vede como se amam!.

Não estou a falar de um ideal distante.
O cristão não é um Tartarin de Tarascon, empenhado em caçar leões onde não pode encontrá-los: nos corredores da sua própria casa. Falo, sim, da vida quotidiana e concreta: da santificação do trabalho, das relações familiares, da amizade.
Se não somos cristãos nestas coisas, onde podemos sê-lo?
O perfume do incenso deve-se ao carvão em brasa que queima sem ostentação uma grande quantidade de grãos.
Também o bonus odor Christi se manifesta entre os homens, não como a chama espectacular de um incêndio passageiro, mas mediante a eficácia de todo um rescaldo de virtudes: justiça, lealdade, fidelidade, compreensão, generosidade, alegria.

(cont)