16/04/2016

Publicações Abr 16

Publicações Abr 16

São Josemaria - Textos

AMA - Comentários ao Evangelho Jo 6 60-69

São Tomás de Aquino – Suma Teológica, Suma Teológica - Tratado da Vida de Cristo - Do género de vida que Cristo levou - Quest 45 Art. 2

CIC – Compêndio

Vida espiritual

AT – Génesis


Agenda Sábado

5º Passo para uma vida espiritual cristã

Resultado de imagem para vida espiritualO JEJUM

A abstinência e o jejum são formas de penitência interior. Este tipo de penitência ajuda-nos a dominar as nossas paixões carnais, que muitas vezes nos conduzem ao pecado.

O jejum na Igreja Católica é obrigatório na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira santa. Fora desses dias, o católico pode fazer jejum quando quiser e achar necessário. O jejum é deixar de fazer uma refeição no dia (almoço ou jantar).

A abstinência de carne, o fiel católico a partir dos 14 anos de idade deve abster-se de comer carne (e seus derivados) na Quarta-feira de cinzas, na Sexta-feira Santa (da Paixão) e em todas as sextas-feiras do ano (salvo se for dia de solenidade);

O jejum, o fiel católico a partir dos 18 anos até 59 anos de idade deve deixar de fazer uma refeição no dia – devendo ser o almoço ou o jantar, na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira da Paixão.

Fonte: ALETEIA


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Pequena agenda do cristão


SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?



Doutrina – 116

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
PRIMEIRA SECÇÃO: «EU CREIO» – «NÓS CREMOS»
CAPÍTULO SEGUNDO: DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM

A SAGRADA ESCRITURA

21. Que importância tem o Antigo Testamento para os cristãos?

Os cristãos veneram o Antigo Testamento como verdadeira Palavra de Deus: todos os seus escritos são divinamente inspirados e conservam um valor permanente. Eles dão testemunho da divina pedagogia do amor salvífico de Deus. Foram escritos sobretudo para preparar o advento de Cristo Salvador do universo.

Antigo testamento / Génesis

Génesis 16

Agar e Ismael

1 Ora, Sarai, mulher de Abrão, não lhe dera nenhum filho. Como tinha uma serva egípcia, chamada Hagar, disse a Abrão: "Já que o Senhor me impediu de ter filhos, possui a minha serva; talvez eu possa formar família por meio dela". Abrão atendeu à proposta de Sarai.

2 Quando isso aconteceu, já fazia dez anos que Abrão, o seu marido, vivia em Canaã. Foi nessa ocasião que Sarai, sua mulher, lhe entregou a sua serva egípcia Hagar.

3 Ele possuiu Hagar, e ela engravidou. Quando se viu grávida, começou a olhar com desprezo para a sua senhora.

4 Então Sarai disse a Abrão: "Caia sobre ti a afronta que venho sofrendo. Coloquei a minha serva nos teus braços e, agora que ela sabe que engravidou, despreza-me. Que o Senhor seja o juiz entre mim e ti".

5 Respondeu Abrão a Sarai: "A tua serva está nas tuas mãos. Faz com ela o que achares melhor". Então Sarai tanto maltratou Hagar que esta acabou por fugir.

6 O Anjo do Senhor encontrou Hagar perto de uma fonte no deserto, no caminho de Sur, e perguntou-lhe: "Hagar, serva de Sarai, de onde vens? Para onde vais?"
Respondeu ela: "Estou fugindo de Sarai, a minha senhora".

7 Disse-lhe então o Anjo do Senhor: "Volta para a tua senhora e sujeita-te a ela".

8 Disse mais o Anjo: "Multiplicarei tanto os teus descendentes que ninguém os poderá contar".

10 Disse-lhe ainda o Anjo do Senhor: "Estás grávida e terás um filho, dar-lhe-ás o nome de Ismael, porque o Senhor te ouviu no teu sofrimento.

11 Ele será como jumento selvagem; a sua mão será contra todos, e a mão de todos contra ele,
e ele viverá em hostilidade contra todos os seus irmãos".

12 Este foi o nome que ela deu ao Senhor, que lhe havia falado: "Tu és o Deus que me vê", pois dissera: "Teria eu visto Aquele que me vê?"

13 Por isso o poço, que fica entre Cades e Berede, foi chamado Beer-Laai-Roi.

14 Hagar teve um filho de Abrão, e este deu-lhe o nome de Ismael.

15 Abrão estava com oitenta e seis anos de idade quando Hagar lhe deu Ismael.

(Revisão da versão portuguesa por ama)










Tratado da vida de Cristo 94

Questão 45: Da transfiguração de Cristo

Art. 2 — Se a referida luminosidade era gloriosa.

O segundo discute-se assim. — Parece que a referida luminosidade não era gloriosa.

1. — Pois, diz uma Glosa de Beda ao Evangelho — Transfigurou-se na presença deles: No seu corpo mortal, diz, mostra, não a imortalidade, mas a luminosidade semelhante à imortalidade futura. Ora, a luminosidade da glória é a luminosidade da imortalidade. Logo, aquela luminosidade, que Cristo manifestou aos discípulos, era a luminosidade da glória.

2. Demais. — Ainda do Evangelho — Não hão-de gostar a morte até não verem o reino de Deus — diz a Glosa de Beda: isto é, a glorificação do corpo, numa representação imaginária da beatitude futura. Ora, a imagem de uma coisa não se confunde com esta. Logo, a referida luminosidade o era a da beatitude.

3. Demais. — Só o corpo humano é susceptível da luminosidade da glória. Ora, a luminosidade da transfiguração manifestou-se não só no corpo de Cristo, mas também nas suas vestes e na nuvem luminosa que encobriu os discípulos. Logo, parece que essa luminosidade não era a da glória.

Mas, em contrário, do escrito por Mateus. — Transfigurou-se perante eles, diz Jerónimo: Tal como há-de aparecer no dia do juízo, assim apareceu aos Apóstolos. E àquele outro lugar do mesmo evangelista — até que vejam o Filho do homem vir na glória do seu reino — diz Crisóstomo: Querendo mostrar aquela glória, com a qual virá mais tarde, manifestou-se-lhes na vida presente, como podiam eles suportar, de modo que não viessem a condoer-se com a morte do Senhor.

SOLUÇÃO. — A luminosidade de que Cristo se revestiu na transfiguração foi a da glória, quanto ao modo de ser. Pois, a luminosidade do corpo glorioso deriva da luminosidade da alma, como diz Agostinho. E semelhantemente a claridade do corpo de Cristo na transfiguração deriva da sua divindade, como diz Damasceno, e da glória da sua alma. E só por uma dispensa divina é que a glória da alma, que Cristo teve desde o princípio da sua concepção, não redundou no corpo, a fim de que consumasse num corpo passível os mistérios dessa redenção, como dissemos. Mas isso não privou Cristo do poder de derivar a glória da alma para o corpo. E isso o fez quanto à luminosidade, na transfiguração. Mas de modo diferente que no corpo glorificado. Pois, no corpo glorificado redunda a luminosidade da alma, como uma qualidade permanente que afecta o corpo; por isso, o refulgir corporalmente o corpo glorioso não é nenhum milagre. Mas, para o corpo de Cristo, na transfiguração, derivou-lhe a luminosidade da sua divindade e da sua alma, não a modo de uma qualidade imanente e afectante do corpo em si mesmo, mas antes a modo de paixão transeunte, como quando o ar é iluminado pelo sol. Por isso, aquele fulgor de que então se revestiu o corpo de Cristo, foi miraculoso, como também o foi o facto de ter andado sobre as ondas do mar. Donde o dizer Dionísio: Cristo pratica, com um poder sobre humano, actos que o homem pode praticar; como o demonstra o facto de a Virgem ter concebido sobrenaturalmente e o de ter a mobilidade da água sustentado o peso dos seus pés materiais e terrenos. — E por isso não devemos admitir, como o ensina Hugo de S. Vitor, que Cristo assumiu o dote da luminosidade, na transfiguração; o da agilidade, quando andou sobre o mar; o da subtileza, quando nasceu do Ventre Virginal de Maria. Porque um dote nomeia uma certa qualidade imanente do corpo glorioso. Cristo, porém, teve milagrosamente tudo o referente aos dotes. E o mesmo, se deu, quanto à alma, relativamente à visão pela qual Paulo viu a Deus num rapto, como dissemos na Segunda Parte.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Das palavras citadas não se conclui que a luminosidade de Cristo não fosse a luminosidade da glória; mas, que foi a do Corpo glorioso, porque o corpo de Cristo ainda não era imortal. Pois, como por permissão divina a glória da alma de Cristo não lhe redundou para o corpo, assim, pela mesma dispensação, pode redundar-lhe quanto ao dote da claridade, e não quanto ao da impassibilidade.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Diz-se que a referida claridade era imaginária, não por não ser a verdadeira claridade da glória, mas por ser uma imagem representativa da perfeição da glória, que tornará glorioso o corpo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Assim como a claridade do corpo de Cristo, na transfiguração, representava a claridade futura desse mesmo corpo, assim a claridade das suas vestes designava a futura claridade dos santos, que será superada pela de Cristo, como o candor da neve o é pelo do sol. Por isso diz Gregório, que as vestes de Cristo se tornaram refulgentes, porque na culminância da claridade superna, todos os santos unir-se-lhe-ão na refulgência da luz da justiça. E quanto às vestes, elas designam os justos que ele unirá a si, segundo a Escritura. — Quanto à nuvem transparente, ela significa a glória do Espírito Santo, ou a virtude paterna, como diz Orígenes, pela qual os santos serão garantidos na sua glória futura. — Embora também com propriedade possa significar a claridade do mundo renovado, que será o tabernáculo dos santos. Por isso, quando Pedro se dispõe a fazer os tabernáculos, a nuvem transparente encobriu os discípulos.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



Encherás o mundo de caridade

Não podes destruir, com a tua negligência ou com o teu mau exemplo, as almas dos teus irmãos os homens. – Tens – apesar das tuas paixões! – a responsabilidade da vida cristã dos que te são próximos, da eficácia espiritual de todos, da sua santidade! (Forja, 955)

Longe fisicamente e, contudo, muito perto de todos: muito perto de todos!... – repetias feliz.
Estavas contente, graças a essa comunhão de caridade, de que te falei, que tens de avivar sem cansaço. (Forja, 956)

Perguntas-me o que é que poderias fazer por aquele teu amigo, para que não se encontre sozinho.
Dir-te-ei o que sempre digo, porque temos à nossa disposição uma arma maravilhosa, que resolve tudo: rezar. Primeiro, rezar. E, depois, fazer por ele o que gostarias que fizessem por ti, em circunstâncias semelhantes.
Sem o humilhar, é preciso ajudá-lo de tal maneira que se lhe torne fácil o que lhe é difícil. (Forja, 957)


Põe-te sempre nas circunstâncias do próximo: assim verás os problemas ou as questões serenamente, não terás desgostos, compreenderás, desculparás, corrigirás quando e como for necessário, e encherás o mundo de caridade. (Forja, 958)

Evangelho, comentário, L. espiritual


Páscoa

Evangelho: Jo 6, 60-69

60 Muitos dos Seus discípulos ouvindo isto, disseram: «Dura é esta linguagem! Quem a pode ouvir?». 61 Jesus, conhecendo em Si mesmo que os Seus discípulos murmuravam por isto, disse-lhes: «Isto escandaliza-vos? 62 Que será quando virdes subir o Filho do Homem para onde estava antes? 63 É o Espírito que vivifica; a carne para nada aproveita. As palavras que Eu vos disse são espírito e vida. 64 Mas há alguns de vós que não creem». Com efeito Jesus sabia desde o princípio quais eram os que não acreditavam, e quem havia de O entregar. 65 Depois acrescentou: «Por isso Eu vos disse que ninguém pode vir a Mim se não lhe for concedido por Meu Pai». 66 Desde então muitos dos Seus discípulos retiraram-se e já não andavam com Ele. 67 Por isso Jesus disse aos doze: «Também vós quereis retirar-vos?». 68 Simão Pedro respondeu-Lhe: «Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna. 69 E nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus».

Comentário:

A declaração de São Pedro é a que todos os homens gostaríamos fazer, deveríamos fazer!

Não há outro caminho para a salvação, não existe outro meio para atingir o Reino de Deus.

Esta é a verdade mais intrínseca da nossa fé.

(ama, comentário sobre Jo 6, 60-69 2015.08.23)


Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO – CONFISSÕES

LIVRO DÉCIMO

CAPÍTULO XXXV

A curiosidade

Às anteriores acrescente-se outra tentação, que oferece maiores perigos. Além da concupiscência da carne, que consiste no deleite voluptuoso de todos os sentidos, e cuja servidão dana os que ela afasta de ti, insinua-se na alma um outro desejo, que se exerce pelos mesmos sentidos corporais, mas tende menos a uma satisfação carnal do que a tudo conhecer por meio da carne.

É a vã curiosidade, que se disfarça sob o nome de conhecimento e de ciência. Como nasce do apetite de tudo conhecer, e como entre os sentidos os olhos são os mais aptos para o conhecimento, a Sagrada Escritura chamou-a de concupiscência dos olhos.

De facto, ver é função própria dos olhos; mas muitas vezes nós usamos essa expressão mesmo quando se trata de outros sentidos, aplicados ao conhecimento. Nós não dizemos: “Ouve como isto brilha” – nem: “Sente como isso resplandece” – nem: “Apalpa como isto cintila”. – Para exprimir tudo isso dizemos “ver ou olhar”. E até não nos limitamos a dizer: “Olha que luz!”, pois apenas os olhos nos podem dar esta sensação – mas, dizemos ainda: “Olha que som! Olha que cheiro! Olha que gosto! Olha como é duro!” Por isso toda experiência que é obra dos sentidos é chamada, como disse, concupiscência dos olhos. Essa função da visão, que pertence aos olhos, é usurpada metaforicamente pelos outros sentidos, quando buscam conhecer alguma coisa.

Daqui podemos distinguir claramente o papel da volúpia e o da curiosidade na acção dos sentidos. O prazer procura o que é belo, melodioso, suave, saboroso, agradável ao todo; a curiosidade por sua vez deseja o contrário, não para se expor ao sofrimento, mas pela paixão de conhecer por meio da experiência. Que prazer se pode ter na visão de um cadáver dilacerado, que causa horror? E todavia onde há um cadáver, para lá corre toda a gente para se entristecer e empalidecer. E temem depois revê-lo em sonhos, como se alguém os tivesse obrigado a contemplá-lo, ou como se a fama de alguma beleza os tivesse atraído. O mesmo acontece com os outros sentidos, o que seria enfadonho enumerar.

É esse quê de curiosidade mórbida que faz com que se exibam monstruosidades nos espectáculos. É ela que nos induz a perscrutar os segredos da natureza exterior, cujo conhecimento de nada serve, mas que os homens buscam conhecer apenas pelo prazer de conhecer. É ela também que inspira o homem a pesquisar, com fim semelhante, a ciência perversa, que é a arte da magia.

E é ela, enfim, que, até na religião, nos induz a tentar a Deus, pedindo-lhe sinais e prodígios, não para a salvação da alma, mas apenas pela ânsia de vê-los.

Nessa imensa floresta, cheia de insídias e perigos, cortei e lancei para fora do meu coração muitos males, graças à força que me concedeste para tanto, Deus da minha salvação.

Contudo, no turbilhão diário de tantas e tão variadas tentações que atormentam a minha vida, quando ousarei dizer que nenhuma delas atrai mais a minha atenção e não cativa a minha vã curiosidade? Certamente que o teatro já não me atrai, nem me importo mais em conhecer o curso dos astros; jamais, para obter uma resposta, consultei as sombras, pois detesto todos os ritos sacrílegos.

Mas quantos artifícios inventa o inimigo para me tentar a que te peça algum milagre, a ti, Senhor, meu Deus, a quem devo servir humilde e simplesmente! Eu te suplico, por nosso Rei, pela nossa pátria, a pura e casta Jerusalém, que o perigo de consentir nessas coisas, que até agora esteve longe de mim, se afaste cada vez mais! Mas quando te peço a salvação de uma alma, a finalidade do meu intento é bem diferente: ouve-me pois, e concede-me a graça de seguir de bom grado a tua vontade.

Mas incontáveis são as pequenas e desprezíveis bagatelas que tentam cada dia nossa curiosidade! E quem poderá contar as nossas quedas? Quantas vezes ouvimos contar banalidades!

Toleramo-las, de início, para não magoar os fracos, e depois, aos poucos, ouvimo-las com atenção sempre crescente!

Não vou mais ao circo, para ver um cão correr atrás de uma lebre; mas, passando casualmente pelo campo e vendo algo assim, eis-me interessado pela caçada, talvez até distraindo-me de algum pensamento profundo. E, se não chega a fazer-me mudar o caminho do meu cavalo, desvio o curso do meu coração. Se após tal demonstração da minha fraqueza tu não me alertares para que abandone esse espectáculo, elevando-me a ti por meio de alguma reflexão, ou desprezando tudo e passando adiante, ficaria ali, absorvido como um tonto.

E que dizer quando, sentado na minha casa, observando uma lagartixa à caça de moscas, ou uma aranha que as enreda na sua teia? Acaso, por serem animais pequenos, a curiosidade que despertam em mim não é a mesma? É verdade que depois passo a louvar-te; Criador admirável, ordenador do universo, mas não foi esse o pensamento que primeiro me moveu. Uma coisa é levantar-se depressa, e outra é não cair.

Dessas quedas está repleta minha vida, e minha única esperança está na tua infinita misericórdia. O nosso coração é o receptáculo de tais misérias, e traz em si grande quantidade de vaidades, que muitas vezes até interrompem e perturbam as nossas orações; e enquanto na tua presença levantamos a voz da nossa alma até aos teus ouvidos, tais pensamentos fúteis, vindos não sei de onde, vêm perturbar um acto tão importante.

CAPÍTULO XXXVI

O orgulho

Terei também essa miséria como desprezível? Haverá algo que possa restituir-me a esperança, a não ser a tua conhecida misericórdia, que começou a transformar-me? Sabes o quanto já me transformaste; curaste-me primeiro da paixão da vingança, para perdoar-me também todos os meus pecados, curar as minhas fraquezas, resgatar a minha vida da corrupção, conservar-me na piedade e misericórdia, e saciar dos teus bens o meu desejo. Derrubaste o meu orgulho pelo temor, dobrando a minha cerviz ao teu jugo. Agora eu trago o teu jugo, e sinto-o suave, como prometeste e cumpriste. Na verdade, o teu jugo já era suave, mas eu não o sabia quando receava tomá-lo sobre mim.

Mas, Senhor, tu és o único que sabe mandar sem orgulho, porque és o único Senhor verdadeiro, que não tem senhor! Diz-me, terá cessado em mim, se isso pode acontecer nesta vida, esta terceira espécie de tentação, que consiste em querer ser temido e amado pelos homens, com o único fim de obter uma alegria que não é alegria? Que vida miserável, que arrogância indigna! Aí está o principal motivo porque não te amamos e tememos piamente. Por isso resistes aos soberbos, enquanto dás a tua graça aos humildes. Trovejas contra as ambições do mundo, e fazes abalar as montanhas até às suas raízes.

Ora, como é necessário, para se adequar à sociedade, fazer-se amar e temer pelos homens, o inimigo da nossa verdadeira felicidade alicia-nos, e por toda parte semeia os seus laços gritando: “Bravo! Muito bem!” – para que, ávidos, recolhamos as lisonjas e nos deixemos incautamente enredar. O seu intento é que deixemos de encontrar a nossa alegria na verdade, para buscá-la na mentira dos homens; estimula em nós o prazer em nos fazer temer e amar, não pelo teu amor, mas no teu lugar. Com isso nos tornamos semelhantes a ele, não unidos na caridade, mas partilhando das suas penas. Ele quis fixar sua morada no aquilão (vento gelado do norte), para que nós, nas trevas e no frio, servíssemos o perverso e sinuoso imitador do teu poder.

Nós, Senhor, somos o teu pequeno rebanho: sê o nosso dono. Estende as tuas asas, para nosso refúgio. Sê a nossa glória; que nos amem por tua causa, e que a tua palavra seja observada por nós.

Quem busca o louvor dos homens, quando tu o reprovas, não será por estes defendido quando o julgares, nem se poderá subtrair à tua condenação. Mas quando não se louvam os pecados pelos desejos da sua alma, nem se abençoa quem pratica iniquidades, mas te louva um homem pelos dons que lhe concedeste, se ele se compraz mais no louvor do que no dom que lhe atrai os louvores, tu o reprovas, a despeito dos louvores que recebe dos homens. E quem o louva é melhor do que é louvado, porque um se agradou com o dom de Deus, e o outro alegrou-se com o dom do homem.

(Revisão de versão portuguesa por ama)