Tempo Comum IV Semana
Evangelho: Mc 1 21-28
21 Depois foram a
Cafarnaum; e Jesus, tendo entrado no sábado na sinagoga, ensinava. 22
Os ouvintes ficavam admirados com a Sua doutrina, porque os ensinava como quem
tem autoridade e não como os escribas. 23 Na sinagoga estava um
homem possesso dum espírito imundo, que começou a gritar: 24 «Que
tens que ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei Quem és, o
Santo de Deus». 25 Mas Jesus o ameaçou dizendo: «Cala-te, e sai
desse homem!». 26 Então o espírito imundo, agitando-o violentamente
e dando um grande grito, saiu dele. 27 Ficaram todos tão admirados,
que se interrogavam uns aos outros: «Que é isto? Que nova doutrina é esta? Ele
manda com autoridade até nos espíritos imundos, e eles obedecem-Lhe». 28
E divulgou-se logo a Sua fama por toda a região da Galileia.
Comentário:
O povo na sua sabedoria, distingue perfeitamente que
tem autoridade para ensinar e quem a não tem porque observa se quem ensina pratica
o que transmite.
(faz o que eu digo
mas não faças o que eu faço…)
A credibilidade nasce do conhecimento e da prática do
que se conhece. A teoria até pode ser excelente mas se não se pratica merece
desconfiança.
(ama,
comentário sobre Mc 1, 21-28, 2014.12.15)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Temas actuais do
cristianismo [i]
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Monsenhor,
é cada vez maior a presença da mulher na vida social, para além do âmbito
familiar, em que se tinha movido quase exclusivamente até agora. Que lhe parece
esta evolução? E quais são, em seu entender, as características gerais que a
mulher tem de alcançar para cumprir a missão que lhe está confiada?
Em
primeiro lugar, parece-me oportuno não contrapor esses dois âmbitos que acaba
de mencionar. Como na vida do homem, mas com matizes muito peculiares, o lar e
a família ocuparão sempre um lugar central na vida da mulher. É evidente que a
dedicação às tarefas familiares representa uma grande função humana e cristã.
Contudo, isto não exclui a possibilidade de se ocupar em outros trabalhos profissionais
- o do lar também o é -, em qualquer dos ofícios e EMPREGOS honestos que há na
sociedade em que se vive. Compreende-se bem o que se quer dizer ao pôr assim o
problema, mas penso que insistir na contraposição sistemática - mudando só o
tom - levaria facilmente, do ponto de vista social, a um erro maior do que
aquele que se pretende corrigir, porque seria mais grave que a mulher
abandonasse o TRABALHO com os seus.
Também
no plano pessoal se não pode afirmar unilateralmente que a mulher deva alcançar
a perfeição apenas fora do lar, como se o tempo dedicado à família fosse um
tempo roubado ao desenvolvimento e à maturidade da sua personalidade. O lar -
qualquer que seja, porque também a mulher solteira deve ter um lar - é um
âmbito particularmente propício para o desenvolvimento da personalidade. A
atenção prestada à família constituirá sempre para a mulher a sua maior dignidade;
no cuidado com o marido e com os filhos, ou, para falar em termos mais gerais,
no trabalho para criar à sua volta um ambiente acolhedor e formativo, a mulher
realiza o mais insubstituível da sua missão e, consequentemente, pode atingir
aí a sua perfeição pessoal.
Como
acabo de dizer, isso não se opõe à participação em outros aspectos da vida
social e até da política. Também nesses sectores a mulher pode dar uma valiosa
contribuição, como pessoa, e sempre com as peculiaridades da sua condição
feminina. Fá-lo-á na medida em que estiver humana e profissionalmente
preparada. Não há dúvida que tanto a família como a sociedade necessitam dessa
contribuição especial, que não é de modo algum secundária.
Desenvolvimento,
maturidade, emancipação da mulher, não devem significar uma pretensão de
igualdade - de uniformidade - com o homem, uma imitação do modo de agir
varonil. Isso não seria uma aquisição, seria uma perda para a mulher, não
porque ela seja mais ou menos que o homem, mas porque é diferente. Num plano
essencial - que deve ser objecto de reconhecimento jurídico, tanto no direito
civil como no eclesiástico - pode-se falar de igualdade de direitos, porque a
mulher tem, exactamente como o homem, a dignidade de pessoa e de filha de Deus.
Mas, a partir desta igualdade fundamental, cada um deve alcançar o que lhe é
próprio, e, neste plano, emancipação é o mesmo que possibilidade real de
desenvolver plenamente as próprias virtualidades: as que tem na sua
singularidade e as que tem como mulher. A igualdade em face do direito, a
igualdade de OPORTUNIDADES perante a lei, não suprime, antes pressupõe e
promove essa diversidade, que é riqueza para todos.
A
mulher é chamada a levar à família, à sociedade civil, à Igreja, alguma coisa
de característico, que lhe é próprio e que só ela pode dar: a sua delicada
ternura, a sua generosidade incansável, o seu amor ao concreto, a sua agudeza
de engenho, a sua capacidade de intuição, a sua piedade profunda e simples, a
sua tenacidade... A feminilidade não é autêntica se não reconhece a formosura
dessa contribuição insubstituível e não a incorpora na própria vida.
Para
cumprir essa missão, a mulher tem de desenvolver a sua própria personalidade,
sem se deixar levar por um ingénuo espírito de imitação, que - em geral - a
colocaria facilmente num plano de inferioridade e deixaria irrealizadas as suas
possibilidades mais originais. Se se formar bem, com autonomia pessoal, com
autenticidade, realizará eficazmente o seu trabalho, a missão para que se sente
chamada, seja ela qual for. A sua vida e o seu trabalho serão realmente construtivos
e fecundos, cheios de sentido, tanto se passa o dia dedicada ao marido e aos
filhos, como se, tendo renunciado ao matrimónio por alguma razão nobre, se
entregou plenamente a outras tarefas. Cada uma no seu próprio caminho, sendo
fiel à sua vocação humana e divina, pode realizar e realiza de facto a
plenitude da personalidade feminina. Não esqueçamos que Santa Maria, Mãe de
Deus e Mãe dos homens, é não só modelo, mas também prova do valor transcendente
que pode alcançar uma vida aparentemente sem relevo.
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Em
algumas ocasiões, porém, a mulher não está segura de se encontrar realmente no
lugar que lhe corresponde e a que é chamada. Muitas vezes, quando realiza um
trabalho fora de casa, pesam sobre ela as solicitações do lar, e, quando
permanece completamente dedicada à família, sente as suas possibilidades
limitadas. Que diria às mulheres que sentem essas contradições?
Esse
sentimento, que é muito real, procede com frequência, mais do que das
limitações efectivas - que todos temos, porque somos humanos -, da falta de
ideias bem determinadas, capazes de orientar a vida inteira, ou também de uma
soberba inconsciente. As vezes, desejaríamos ser os melhores em qualquer
aspecto e em qualquer nível. Como isso não é possível, origina-se um estado de
desorientação e de ansiedade, ou, inclusivamente, de desânimo e de tédio. Não
se pode estar em toda a parte ao mesmo tempo, não se sabe a que se há-de
atender e não se atende eficazmente a coisa nenhuma. Nesta situação, a alma
fica exposta à inveja e é natural que a imaginação se solte e procure um
refúgio na fantasia, que afastando-nos da realidade, acaba por adormecer a
vontade. É a isso que tenho chamado repetidas vezes mística ojalatera - mística
do oxalá - feita de sonhos vãos e de idealismos falsos: oxalá não me tivesse
casado, oxalá não tivesse esta profissão, oxalá tivesse mais saúde, ou menos
anos ou mais tempo!
O
remédio - custoso, como é tudo o que tem valor - está em procurar o verdadeiro
centro da vida humana, o que pode dar uma hierarquia, uma ordem e um sentido a
tudo: a intimidade com Deus, mediante uma vida interior autêntica. Se, vivendo
em Cristo, tivermos n'Ele o nosso centro, descobriremos o sentido da missão que
se nos confiou, teremos um ideal humano que se torna divino, novos horizontes
de esperança se abrirão à nossa vida e chegaremos a sacrificar com gosto, já
não este ou aquele aspecto da nossa actividade, mas a vida inteira, dando-lhe
assim, paradoxalmente, a sua mais profunda realização.
O
problema que levanta acerca da mulher não é extraordinário. Com outras
particularidades, muitos homens experimentam algumas vezes algo de semelhante.
A raiz costuma ser a mesma: falta de um ideal profundo, que só à luz de Deus se
descobre.
Em
todo o caso, é necessário também pôr em prática pequenos remédios, que parecem
banais, mas que não o são: quando há muitas coisas a fazer, é preciso
estabelecer uma ardem, é necessário organizar-se. Muitas dificuldades provêm da
falta de ordem, da carência deste hábito. Há mulheres que fazem mil e uma
coisas e todas bem, porque se organizam, porque, com fortaleza de ânimo,
submetem a uma ordem as suas múltiplas tarefas. Souberam estar em cada momento
no que deviam fazer, sem se perturbarem pensando no que viria depois ou no que
talvez pudessem ter feito antes. A outras, pelo contrário, domina-as o muito
que têm a fazer, e, assim dominadas, não fazem nada.
Sem
dúvida que haverá sempre muitas mulheres que não tenham outra ocupação além de
dirigir o seu lar. Digo-vos que esta é uma grande ocupação, que vale a pena.
Através desta profissão - porque o é, verdadeira e nobre - influem
positivamente, não só na família, como também em muitos amigos e conhecidos, em
pessoas com as quais de um modo ou de outro se relacionam, realizando uma
tarefa às vezes muito mais extensa que a de outros profissionais. E, se põem
essa experiência e essa ciência ao serviço de centenas de pessoas, em centros
destinados à formação da mulher, como os que dirigem em todos os países do
Mundo as minhas filhas do Opus Dei, então convertem-se em professoras do lar,
com mais eficácia educativa, diria eu, que muitos catedráticos da Universidade.
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Perdoe
que insista no mesmo tema. Através de cartas que chegam à Redacção, sabemos que
algumas mães de família numerosa se queixam por se verem reduzidas ao papel de
trazer filhos ao mundo e sentem uma grande insatisfação por não poderem dedicar
a vida a outros campos: trabalho profissional, acesso à cultura, projecção
social... Que conselhos daria a essas pessoas?
Mas,
vamos a ver: que é a projecção social senão dar-se aos outros com sentido de
entrega e de serviço e contribuir eficazmente para o bem de todos? O trabalho
da mulher na sua casa não só é, já de si, uma função social, como também pode
ser facilmente a função social de maior projecção.
Imagine-se
uma família numerosa: o trabalho da mãe e então comparável - e em muitos casos
ganha na comparação - ao dos educadores profissionais. Um professor consegue,
talvez ao longo de uma vida inteira, formar mais ou menos bem uns tantos
rapazes ou raparigas. Uma mãe pode formar os seus filhos em profundidade, nos
aspectos mais básicos, e pode fazer deles, por sua vez, outros formadores, de
maneira que se origina uma cadeia ininterrupta de responsabilidade e de
virtudes.
Também
nestes temas é fácil deixar-se seduzir por critérios meramente quantitativos, e
pensar: é preferível o trabalho de um professor, que vê passar pelas suas aulas
milhares de pessoas, ou o de um escritor, que se dirige a milhares de leitores?
Bem, mas a quantos dá realmente formação esse professor e esse escritor? Uma
mãe tem ao seu cuidado três, cinco, dez ou mais filhos, e pode fazer deles uma
verdadeira obra de arte, uma maravilha de educação, de equilíbrio, de
compreensão, de sentido cristão da vida, de modo que sejam felizes e consigam
ser realmente úteis aos outros.
Por
outro lado, é natural que os filhos e as filhas ajudem nos trabalhos da casa.
Uma mãe que saiba orientar bem os seus filhos, pode consegui-lo, e dispor assim
de oportunidades, de tempo que - bem aproveitado - lhe permita cultivar as suas
tendências e talentos pessoais e enriquecer a sua cultura. Felizmente, não
faltam hoje meios técnicos, que, como sabeis muito bem, economizam muito
trabalho, se forem convenientemente utilizados e se deles se tirar todo o partido
possível. Nisto, como em tudo, são determinantes as condições pessoais. Há
mulheres que têm uma máquina do último modelo e demoram mais tempo a lavar - e
fazem-no pior - do que quando o faziam à mão. Os instrumentos só são úteis
quando se sabem empregar.
Sei
de muitas mulheres casadas e com bastantes filhos que dirigem muito bem o seu
lar e além disso encontram tempo para colaborar em outros trabalhos
apostólicos, como fazia aquele casal da primitiva cristandade: Áquila e
Priscila. Os dois trabalhavam em casa e no seu ofício, e foram além disso
esplêndidos cooperadores de S. Paulo; com a sua palavra e com o seu exemplo
levaram a fé de Jesus Cristo a Apolo, que depois foi um grande pregador da
Igreja nascente. Como já disse, se verdadeiramente se quer, podem-se superar
muitas das limitações, sem deixar de se cumprir nenhum dever. Na realidade, há
tempo para fazer muitas coisas: para dirigir o lar com sentido profissional,
para se dar continuamente aos outros, para melhorar a sua própria cultura e
para enriquecer a dos outros, para realizar muitas tarefas eficazes.
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Aludiu
à presença da mulher na vida pública, na política. Actualmente, estão-se a dar
importantes passos neste sentido. Qual é, em sua opinião, a tarefa específica
que a mulher deve cumprir nesse terreno?
A
presença da mulher no conjunto da vida social é um fenómeno natural e totalmente
positivo, parte desse outro facto mais amplo a que antes me referi. Uma
sociedade moderna, democrática, tem de reconhecer à mulher o direito a
participar activamente na vida política, e tem de criar as condições favoráveis
para que exerçam esse direito todas as que o desejarem.
A
mulher que se quer dedicar activamente à direcção dos negócios públicos, tem
obrigação de se preparar convenientemente, para que a sua actuação na vida da
comunidade seja responsável e positiva. Todo o trabalho profissional exige uma
formação prévia, e depois um esforço constante para melhorar esta preparação e
adaptá-la às novas circunstâncias que surjam. Esta exigência constitui um dever
particularíssimo para os que aspiram a ocupar postos directivos na sociedade,
visto que são chamados a um serviço também muito importante, do qual depende o
bem-estar de todos.
Uma
mulher com preparação adequada deve ter a possibilidade de encontrar aberto o
caminho da vida pública, em todos os níveis. Neste sentido, não se podem
apontar tarefas específicas da mulher. Como disse antes, o específico neste
terreno não é dado tanto pela tarefa ou pelo posto, como pelo modo de realizar
esta função, pelos matizes que a sua condição de mulher encontrará para a
solução dos problemas com que se enfrente, e inclusivamente pela descoberta e
pela formulação destes problemas.
A
mulher pode enriquecer muito a vida da sociedade em virtude dos dotes naturais
que lhe são próprios. Isto salta à vista quando reparamos no vasto campo da
legislação familiar e social. As qualidades femininas darão a melhor garantia
de que serão respeitados os autênticos valores humanos e cristãos no momento de
tomar decisões que afectem de alguma maneira a vida da família, o ambiente
educativo, o futuro dos jovens.
Acabo
de mencionar a importância dos valores cristãos para a solução dos problemas
sociais e familiares, e quero sublinhar aqui a sua transcendência em toda a
vida pública. Da mesma maneira que o homem, quando a mulher tem de se ocupar
numa actividade política, a sua fé cristã confere-lhe a responsabilidade de
realizar um autêntico apostolado, quer dizer, um serviço cristão a toda a
sociedade. Não se trata de representar oficial e oficiosamente a Igreja na vida
pública, e menos ainda de se servir da Igreja para a sua carreira pessoal ou
para os interesses do seu partido. Pelo contrário, trata-se de formar com
liberdade as próprias opiniões, em todos estes assuntos temporais em que os
cristãos são livres, e de assumir a responsabilidade pessoal do seu pensamento
e da sua actuação, sendo sempre consequente com a fé que se professa.
(cont)
[i]
Entrevista
realizada por Pilar Salcedo, publicada em Telva (Madrid), em 1 de Fevereiro de
1968 e reproduzida em Mundo Cristiano (Madrid) em 1 de Março do mesmo ano.