11/03/2015

2015.03.11








O que pode ver hoje em NUNC COEPI





Não ponhas o coração em nada caduco - São Josemaria – Textos


Evangelho, coment. L esp. (Exort. Apost. Evangelli gaudium) - AMA - Comentários ao Evangelho Mt 5 17-19, Exort. Apost. Evangelii gaudium (Papa Francisco)

Temas para meditar 390 - Pecados veniais, Tibieza


Diálogos com o meu eu (6) - JMA (diálogos com o meu eu)


Sejam bem-educados - João S. Mexia Alves - Sejam bem-educados

Pequena agenda do cristão - Agenda Quarta-Feira

Não ponhas o coração em nada caduco

Não ponhas o coração em nada caduco: imita Cristo, que se fez pobre por nós e não tinha onde reclinar a cabeça. Pede-lhe que te conceda, no meio do mundo, um desprendimento efectivo, sem atenuantes. (Forja, 523)

Somos homens da rua, cristãos correntes, metidos na corrente circulatória da sociedade e o Senhor quer-nos santos, apostólicos, precisamente no nosso trabalho profissional, isto é, santificando-nos nesse trabalho, santificando esse trabalho e ajudando os outros a santificarem-se com esse trabalho. Convencei-vos de que Deus vos espera nesse ambiente, com solicitude de Pai, de Amigo. Pensai que com a vossa actividade profissional realizada com responsabilidade, além de vos sustentardes economicamente, prestais um serviço directíssimo ao desenvolvimento da sociedade, aliviais as cargas dos outros e ajudais a manter muitas obras assistenciais – a nível local e universal – em prol dos indivíduos e dos povos mais desfavorecidos.


Ao comportarmo-nos com normalidade – como os nossos semelhantes – e com sentido sobrenatural, não fazemos mais que seguir o exemplo de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Reparai que toda a sua vida está cheia de naturalidade. Passa trinta anos oculto, sem chamar a atenção, como qualquer outro trabalhador e conhecem-no na sua aldeia como o filho do carpinteiro. Ao longo da sua vida pública, também não se nota nada que destoe, que pareça estranho ou excêntrico. Rodeava-se de amigos, como qualquer dos seus concidadãos, e no seu porte não se diferenciava deles. De tal maneira que Judas, para o denunciar, precisa de combinar um sinal: aquele a quem eu beijar, é esse. Não havia em Jesus nenhum indício extravagante. A mim, emociona-me esta norma de conduta do nosso Mestre, que passa como mais um entre os homens. (Amigos de Deus, nn. 120–121)

Sejam bem-educados

Resultado de imagem para boa educaçãoO ano passado, durante a entrega dos diplomas na prestigiada escola de comunicação Le Celsa, ligada à universidade da Sorbonne, o seu presidente terá pedido modéstia aos diplomados citando Flaubert: “Diplôme: signe de science. Ne prouve rien.”
Apadrinhava este evento Nicolas de Tavernost, presidente do grande grupo francês de audiovisual e multimédia “M6”, que deu alguns conselhos aos jovens que iam entrar na vida profissional: trabalhar, obstinar-se, falar uma língua estrangeira. E depois acrescentou: “Sejam bem-educados.”

Li isto no verão de 2014, numa crónica do “Le Figaro Magazine” e fiquei a pensar neste conselho sui generis.

E com base nos entraves com que ultrapassei na vida profissional, cheguei à conclusão que a recomendação não é descabida:
Já repararam que os problemas surgem mais vezes por uma questão de atitude que de aptitude?

Se a boa-educação nunca foi óbvia, hoje ainda é menos, já que o desmazelo vulgarizou-se e o ensino nacional deixou de “educar”.
A ausência de educação vê-se na rua, na escola, na televisão, nos locais de trabalho. A linguagem e pensamento grosseiros imperam.
Herança de 68, da crise nas famílias e do individualismo?

Nos anos 80, poucos defendiam a boa educação. Esta falta de interesse surgiu com um novo tipo de vida aceleradíssima, com o culto da performance, com o espirito de competição…

Em Portugal, um dos reflexos dos anos 80 foram as manifestações estudantis de 1994, em que milhares de jovens manifestantes tiveram um comportamento inqualificável, insultando e mostrando o rabo. Na altura foi uma novidade.
Foi quando o jornalista Jorge Vicente Silva usou a polémica e excessiva expressão: “geração rasca”.

Esses estudantes dos anos 80 e 90 são hoje adultos com responsabilidades e a verdade é que muitos tiveram direito a passagens administrativas, fomentando-se a irresponsabilidade. Se acrescentarmos a isso que alguns dos seus pais os educaram com laxismo, negligência, ausência de valores e sem lhes transmitirem os princípios da liberdade responsável, o resultado não é famoso, já que sem moral e sem ética, muitos destes adultos praticam a mentira, manipulação e abusam da impunidade moral, vivendo apenas para os seus interesses.
O mundo da finança, das empresas, da política e o Estado estão cheio deles, como infelizmente se tem visto nos últimos anos.

A classe média, que cresceu a um ritmo alucinante nas últimas décadas, ansiosa, como é natural, de ter tudo o que os seus antepassados nunca tiveram, endeusou o consumo e as aparências, tratando todos os outros como números, não reparando que eles próprios se estavam a tornar num número para os demais.
A vulgarização acabou por ir forçando barreiras e mesmo os mais resistentes acabaram por adaptar-se. Passou tudo a ser banal e quase nada sobressai.
Veja-se em Espanha, o tratamento por “tu”, que se começou timidamente a utilizar em Valencia nos anos 40 e que está hoje totalmente aceite. Se no princípio dos anos 80 ainda havia alguma hesitação, sendo-se algumas vezes tratado por tu e outras vezes por “usted”, hoje o “tu cá, tu lá” é prática comum.

Em resumo: Educação, saber-estar, savoir-vivre e savoir-faire, caíram em desuso.

No entanto, mesmo que as novas tecnologias tenham alterado ainda mais a relação com a boa-educação, não deixa de ser verdade que desde há uns anos para cá recomeçou-se a dar-lhe importância.

Ainda bem que muitos gestores, incluindo alguns portugueses, já perceberam que contratar profissionais bem-educados só traz vantagens. Ser educado é mais uma competência. Rara.
Parece que também a geração com menos de 30 anos começa a achar que é grave faltar ao respeito a um professor. Pequenos indícios que começam a mostrar recetividade à boa-educação.
Em França começam a surgir muitos cursos de formação, dados por empresas como a Adecco, que ensinam aos profissionais como estar à mesa, a exprimir-se correctamente, a escrever sem erros…

Mas o que é ser bem-educado?
Antes de mais é um sinal de respeito e consideração pelos outros e por si próprio. A seguir é arte de dizer tudo, mas como deve ser, nas circunstâncias apropriadas e com as palavras adequadas.
E depois é saber regras de etiqueta, para se sentir à vontade em qualquer meio social ou ocasião e não causar desconforto aos outros.
Muito disto aprende-se, mas a maior parte tem a ver com sensibilidade e bom senso.

Bom exemplo de que a boa-educação só traz vantagens profissionais, é a aristocracia em França. Não são mais que 0,2% da população francesa, mas se olharmos para as grandes empresas cotadas no CAC 40, vemos que muitos dos presidentes das grandes empresas pertencem a esta minoria social. AXA, Saint Gobain, Carrefour, Fimalac, Aéroport de Paris, são algumas das empresas que dirigem. Destes faz parte o barão Nicolas Bellet de Tavernost, presidente do grupo M6, o tal que deu o conselho: Sejam bem-educados.
Percebe-se que sabia do que estava a falar. Homme du monde e de sucesso, cultiva a discrição. Sabe que os seus estudos, aliados a uma excelente educação familiar, deram-lhe um savoir-faire que é a chave do seu sucesso. Honra, respeito pela palavra dada, sentido de responsabilidade, honestidade, entreajuda, são qualidades que fazem parte do seu código de conduta.
Em Portugal também temos alguns, mas para evitar polémica destaco apenas um por trabalhar no estrangeiro. O competentíssimo António Mota de Sousa Horta Osório a quem o governo inglês incumbiu de salvar o banco Lloyds e que em 2014 já obteve um resultado líquido de mais de dois mil milhões de Euros.
Estes homens “educados” não são ingénuos, nem “meninos de coro”, mas têm em comum inteligência, cultura, altos estudos, excelente educação, pensamentos bem estruturados, respeito pelo outro e cultivam as relações sociais.

Cristina Marques Fernandes, autora do livro “Manual de Protocolo Empresarial”, completaria o parágrafo anterior dizendo como já escreveu: “Alguns acham que saber estar é um comportamento inatingível e maçador, prerrogativa de uma minoria privilegiada pelo estatuto social ou pela fortuna. Outros, julgo eu mais sensatos, sabem que o saber estar é uma postura que deve ser assumida por cada um, não só na vida social como, sobretudo, na vida profissional, onde o percurso académico e a experiência podem já não ser garantia de colocação e/ou sucesso.”

Infelizmente, é consensual que os clientes são “reis” e os fornecedores para continuarem a vender “engolem bastantes sapos”. Cada vez mais. Mas quando os próprios fornecedores e colegas de trabalho também se tornam difíceis e obstinados não respondendo aos e-mail’s e telefonemas, aí temos um problema grave e global de má-educação em que todos perdem.
E se todos perdem há que mudar tudo.

Assim, voltando às novas tecnologias que têm alterado ainda mais a relação com a boa-educação, é natural que os conselhos sejam dirigidos aos mais novos - utilizadores compulsivos das novas tecnologias - que estão a começar o seu percurso profissional e que podem representar a mudança desde o primeiro dia de trabalho.

Sim, ser bem-educado acaba por compensar já que traz grande satisfação e benefícios. Quem é que não gosta de ter um interlocutor atento, cordial e educado? Essa atitude é muitas vezes retribuída.
Privilegiar as reuniões e os contactos pessoais. É aí que se avaliam os outros e que surgem ideias e soluções. Não em 2 linhas de um e-mail.
Receber as pessoas, responder aos e-mail’s, atender os telefones, ou assim que possível devolver as chamadas, são simples atitudes com um efeito tão imediatamente positivo que motivam a ir mais longe na procura da boa-educação.

E para os que não conseguem ver vantagem em ser educados para com todos, mas apenas para os que lhe trazem benefícios, recordo a fábula “O leão e o rato” de La Fontaine, em que o leão não comeu o rato, que por sua vez veio a salvar a vida do leão. Não devemos ter a arrogância de subestimar os outros. Somos frequentemente ajudados pelos “mais pequenos”.
Il faut autant qu’on peut obliger tout le monde:
On a souvent besoin d’un plus petit que soi.


A minha fotografia
joão s. mexia alves

Pequena agenda do cristão

Quarta-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:

Simplicidade e modéstia.


Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.


Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.


Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?



Temas para meditar 390

Tibieza (definição)



Caracteriza-se por não tomar a sério, de um modo mais ou menos consciente, os pecados veniais, um estado sem zelo por parte da vontade. Não é tibieza o sentir-se e achar-se em estado de secura, de desconsolo e repugnância de sentimentos contra o religioso e o divino, porque, apesar de todos estes estados, pode subsistir o zelo da vontade, o querer sincero. Tão pouco é tibieza incorrer com frequência em pecados veniais, desde que se arrependa seriamente deles e os combata. Tibieza é o estado de uma falta de zelo consciente e querida, uma espécie de negligência duradoura ou de vida de piedade a meias, fundada em certas ideias erróneas: que não se deve ser minucioso, que Deus é demasiado grande para ser tão exigente em coisas pequenas, que outros também o fazem assim, e desculpas semelhantes.

O que é o pecado? 2

Pecado original, pessoal, venial, mortal, capital... O que é que tudo isso quer dizer?


Quais são os tipos de pecado?

1 - O pecado original é a herança que todos recebemos dos nossos primeiros pais, Adão e Eva: eles desconfiaram do amor de Deus Pai e cederam à tentação de deixá-lo de fora das suas escolhas pessoais.

Como filhos de uma humanidade que perdeu a inocência, todos nós nascemos com a natureza caída de pecadores e precisamos da graça de Deus, mediante o sacramento do batismo, para purificar a nossa alma.

2 - O pecado actual ou pessoal é aquele que cometemos como indivíduos, voluntária e conscientemente.
Pode ser cometido de quatro maneiras: com o pensamento, com as palavras, com as obras ou com as omissões.
E pode ser contra Deus, contra o próximo ou contra nós mesmos.
O pecado pessoal pode ser mortal ou venial:

2.1. O pecado venial ou leve é aquele que cometemos sem plena consciência ou sem pleno consentimento, ou então com plena consciência e consentimento, mas em matéria leve.
 
2.2. O pecado mortal ou grave é aquele que envolve três factores simultâneos: plena consciência, pleno consentimento e matéria grave.

O que é matéria grave e matéria leve?

A "matéria" é o "facto" pecaminoso em si.
É grave quando fere seriamente qualquer um dos dez mandamentos.

Alguns exemplos: negar a existência de Deus, ofender a Deus, ofender os pais, matar ou ferir gravemente qualquer pessoa, colocar a si próprio em grave risco de morte sem justa razão, cometer actos impuros, roubar objectos de valor, caluniar, cometer graves omissões no cumprimento do dever, causar escândalo ao próximo.

Já a matéria leve é aquela que não fere seriamente nenhum dos dez mandamentos, ainda que consista num acto contrário a algum deles.

Por exemplo: roubar é pecado, mas a gravidade desse pecado tem graus diversos.
Furtar dez centavos não costuma prejudicar consideravelmente a vítima do furto; já o furto ou roubo de uma quantia cuja perda prejudica a vítima de modo considerável passa a ser matéria grave.


(cont)

Fonte: ALETEIA


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Evangelho, coment. L esp. (Exort. Apost. Evangelli gaudium)

Tempo de Quaresma III Semana

Evangelho: Mt 5 17-19

17 «Não julgueis que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim para os abolir, mas sim para cumprir. 18 Porque em verdade vos digo: antes passarão o céu e a terra, que passe uma só letra ou um só traço da Lei, sem que tudo seja cumprido. 19 Aquele, pois, que violar um destes mandamentos mesmo dos mais pequenos, e ensinar assim aos homens, será considerado o mais pequeno no Reino dos Céus. Mas o que os guardar e ensinar, esse será considerado grande no Reino dos Céus.

Comentário:

O versículo 19 deste texto é lapidar e não deixa qualquer margem a dúvidas.
Ninguém pode dar o que não tem ou transmitir o que não sabe.
A necessidade de estudar – a fundo – a Doutrina Cristã é um imperativo para todo o cristão porque, tendo a obrigação de ser apóstolo, só adquirindo uma sólida formação doutrinal poderá cumprir o mandato de Cristo.

(ama, comentário sobre Mt 5, 17-19, 2013.06.12)

Leitura espiritual


EXORTAÇÃO APOSTÓLICA EVANGELII GAUDIUM
DO SANTO PADRE FRANCISCO
AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS SOBRE O ANÚNCIO

Todos somos discípulos missionários

119. Em todos os baptizados, desde o primeiro ao último, actua a força santificadora do Espírito que impele a evangelizar. O povo de Deus é santo em virtude desta unção, que o torna infalível «in credendo», ou seja, ao crer, não pode enganar-se, ainda que não encontre palavras para explicar a sua fé. O Espírito guia-o na verdade e condu-lo à salvação.[i] Como parte do seu mistério de amor pela humanidade, Deus dota a totalidade dos fiéis com um instinto da fé – o sensus fidei – que os ajuda a discernir o que vem realmente de Deus. A presença do Espírito confere aos cristãos uma certa conaturalidade com as realidades divinas e uma sabedoria que lhes permite captá-las intuitivamente, embora não possuam os meios adequados para expressá-las com precisão.

120. Em virtude do Baptismo recebido, cada membro do povo de Deus tornou-se discípulo missionário[ii]. Cada um dos baptizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito activo de evangelização, e seria inapropriado pensar num esquema de evangelização realizado por agentes qualificados enquanto o resto do povo fiel seria apenas receptor das suas acções. A nova evangelização deve implicar um novo protagonismo de cada um dos baptizados. Esta convicção transforma-se num apelo dirigido a cada cristão para que ninguém renuncie ao seu compromisso de evangelização, porque, se uma pessoa experimentou verdadeiramente o amor de Deus que o salva, não precisa de muito tempo de preparação para sair a anunciá-lo, não pode esperar que lhe dêem muitas lições ou longas instruções. Cada cristão é missionário na medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus; não digamos mais que somos «discípulos» e «missionários», mas sempre que somos «discípulos missionários». Se não estivermos convencidos disto, olhemos para os primeiros discípulos, que logo depois de terem conhecido o olhar de Jesus, saíram proclamando cheios de alegria: «Encontrámos o Messias»[iii]. A Samaritana, logo que terminou o seu diálogo com Jesus, tornou-se missionária, e muitos samaritanos acreditaram em Jesus «devido às palavras da mulher»[iv]. Também São Paulo, depois do seu encontro com Jesus Cristo, «começou imediatamente a proclamar (…) que Jesus era o Filho de Deus»[v]. Porque esperamos nós?

 121. Certamente todos somos chamados a crescer como evangelizadores. Devemos procurar simultaneamente uma melhor formação, um aprofundamento do nosso amor e um testemunho mais claro do Evangelho. Neste sentido, todos devemos deixar que os outros nos evangelizem constantemente; isto não significa que devemos renunciar à missão evangelizadora, mas encontrar o modo de comunicar Jesus que corresponda à situação em que vivemos. Seja como for, todos somos chamados a dar aos outros o testemunho explícito do amor salvífico do Senhor, que, sem olhar às nossas imperfeições, nos oferece a sua proximidade, a sua Palavra, a sua força, e dá sentido à nossa vida. O teu coração sabe que a vida não é a mesma coisa sem Ele; pois bem, aquilo que descobriste, o que te ajuda a viver e te dá esperança, isso é o que deves comunicar aos outros. A nossa imperfeição não deve ser desculpa; pelo contrário, a missão é um estímulo constante para não nos acomodarmos na mediocridade, mas continuarmos a crescer. O testemunho de fé, que todo o cristão é chamado a oferecer, implica dizer como São Paulo: «Não que já o tenha alcançado ou já seja perfeito; mas corro para ver se o alcanço, (…) lançando-me para o que vem à frente»[vi]. A força evangelizadora da piedade popular

122. Da mesma forma, podemos pensar que os diferentes povos, nos quais foi inculturado o Evangelho, são sujeitos colectivos activos, agentes da evangelização. Assim é, porque cada povo é o criador da sua cultura e o protagonista da sua história. A cultura é algo de dinâmico, que um povo recria constantemente, e cada geração transmite à seguinte um conjunto de atitudes relativas às diversas situações existenciais, que esta nova geração deve reelaborar face aos próprios desafios. O ser humano «é simultaneamente filho e pai da cultura onde está inserido».[vii] Quando o Evangelho se inculturou num povo, no seu processo de transmissão cultural também transmite a fé de maneira sempre nova; daí a importância da evangelização entendida como inculturação. Cada porção do povo de Deus, ao traduzir na vida o dom de Deus segundo a sua índole própria, dá testemunho da fé recebida e enriquece-a com novas expressões que falam por si. Pode dizer-se que «o povo se evangeliza continuamente a si mesmo».[viii] Aqui ganha importância a piedade popular, verdadeira expressão da actividade missionária espontânea do povo de Deus. Trata-se de uma realidade em permanente desenvolvimento, cujo protagonista é o Espírito Santo.[ix]

123. Na piedade popular, pode-se captar a modalidade em que a fé recebida se encarnou numa cultura e continua a transmitir-se. Vista por vezes com desconfiança, a piedade popular foi objecto de revalorização nas décadas posteriores ao Concílio. Quem deu um impulso decisivo nesta direcção, foi Paulo VI na sua Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi. Nela explica que a piedade popular «traduz em si uma certa sede de Deus, que somente os pobres e os simples podem experimentar»[x] e «torna as pessoas capazes para terem rasgos de generosidade e predispõe-nas para o sacrifício até ao heroísmo, quando se trata de manifestar a fé».[xi] Já mais perto dos nossos dias, Bento XVI, na América Latina, assinalou que se trata de um «precioso tesouro da Igreja Católica» e que nela «aparece a alma dos povos latino-americanos».[xii]

124. No Documento de Aparecida, descrevem-se as riquezas que o Espírito Santo explicita na piedade popular por sua iniciativa gratuita. Naquele amado Continente, onde uma multidão imensa de cristãos exprime a sua fé através da piedade popular, os Bispos chamam-na também «espiritualidade popular» ou «mística popular».[xiii] Trata-se de uma verdadeira «espiritualidade encarnada na cultura dos simples».[xiv] Não é vazia de conteúdos, mas descobre-os e exprime-os mais pela via simbólica do que pelo uso da razão instrumental e, no acto de fé, acentua mais o credere in Deum que o credere Deum.[xv]  É «uma maneira legítima de viver a fé, um modo de se sentir parte da Igreja e uma forma de ser missionários»;[xvi] comporta a graça da missionariedade, do sair de si e do peregrinar: «O caminhar juntos para os santuários e o participar em outras manifestações da piedade popular, levando também os filhos ou convidando a outras pessoas, é em si mesmo um gesto evangelizador».[xvii] Não coarctemos nem pretendamos controlar esta força missionária!

125. Para compreender esta necessidade, é preciso abordá-la com o olhar do Bom Pastor, que não procura julgar mas amar. Só a partir da conaturalidade afectiva que dá o amor é que podemos apreciar a vida teologal presente na piedade dos povos cristãos, especialmente nos pobres. Penso na fé firme das mães ao pé da cama do filho doente, que se agarram a um terço ainda que não saibam elencar os artigos do Credo; ou na carga imensa de esperança contida numa vela que se acende, numa casa humilde, para pedir ajuda a Maria, ou nos olhares de profundo amor a Cristo crucificado. Quem ama o povo fiel de Deus, não pode ver estas acções unicamente como uma busca natural da divindade; são a manifestação duma vida teologal animada pela acção do Espírito Santo, que foi derramado em nossos cora- ções[xviii].

126. Na piedade popular, por ser fruto do Evangelho inculturado, subjaz uma força activamente evangelizadora que não podemos subestimar: seria ignorar a obra do Espírito Santo. Ao contrário, somos chamados a encorajá-la e fortalecê-la para aprofundar o processo de inculturação, que é uma realidade nunca acabada. As expressões da piedade popular têm muito que nos ensinar e, para quem as sabe ler, são um lugar teológico a que devemos prestar atenção particularmente na hora de pensar a nova evangelização. 

De pessoa a pessoa

127. Hoje que a Igreja deseja viver uma profunda renovação missionária, há uma forma de pregação que nos compete a todos como tarefa diária: é cada um levar o Evangelho às pessoas com quem se encontra, tanto aos mais íntimos como aos desconhecidos. É a pregação informal que se pode realizar durante uma conversa, e é também a que realiza um missionário quando visita um lar. Ser discípulo significa ter a disposição permanente de levar aos outros o amor de Jesus; e isto sucede espontaneamente em qualquer lugar: na rua, na praça, no trabalho, num caminho.

128. Nesta pregação, sempre respeitosa e amável, o primeiro momento é um diálogo pessoal, no qual a outra pessoa se exprime e partilha as suas alegrias, as suas esperanças, as preocupações com os seus entes queridos e muitas coisas que enchem o coração. Só depois desta conversa é que se pode apresentar-lhe a Palavra, seja pela leitura de algum versículo ou de modo narrativo, mas sempre recordando o anúncio fundamental: o amor pessoal de Deus que Se fez homem, entregou-Se a Si mesmo por nós e, vivo, oferece a sua salvação e a sua amizade. É o anúncio que se partilha com uma atitude humilde e testemunhal de quem sempre sabe aprender, com a consciência de que esta mensagem é tão rica e profunda que sempre nos ultrapassa. Umas vezes exprime-se de maneira mais directa, outras através dum testemunho pessoal, uma história, um gesto, ou outra forma que o próprio Espírito Santo possa suscitar numa circunstância concreta. Se parecer prudente e houver condições, é bom que este encontro fraterno e missionário conclua com uma breve oração que se relacione com as preocupações que a pessoa manifestou. Assim ela sentirá mais claramente que foi ouvida e interpretada, que a sua situação foi posta nas mãos de Deus, e reconhecerá que a Palavra de Deus fala realmente à sua própria vida.

129. Contudo não se deve pensar que o anúncio evangélico tenha de ser transmitido sempre com determinadas fórmulas pré-estabelecidas ou com palavras concretas que exprimam um conteúdo absolutamente invariável. Transmite-se com formas tão diversas que seria impossível descrevê-las ou catalogá-las, e cujo sujeito colectivo é o povo de Deus com seus gestos e sinais inumeráveis. Por conseguinte, se o Evangelho se encarnou numa cultura, já não se comunica apenas através do anúncio de pessoa a pessoa. Isto deve fazer- -nos pensar que, nos países onde o cristianismo é minoria, para além de animar cada baptizado a anunciar o Evangelho, as Igrejas particulares hão-de promover activamente formas, pelo menos incipientes, de inculturação. Enfim, o que se deve procurar é que a pregação do Evangelho, expressa com categorias próprias da cultura onde é anunciado, provoque uma nova síntese com essa cultura. Embora estes processos sejam sempre lentos, às vezes o medo paralisa-nos demasiado. Se deixamos que as dúvidas e os medos sufoquem toda a ousadia, é possível que, em vez de sermos criativos, nos deixemos simplesmente ficar cómodos sem provocar qualquer avanço e, neste caso, não seremos participantes dos processos históricos com a nossa cooperação, mas simplesmente espectadores duma estagnação estéril da Igreja.

Carismas ao serviço da comunhão evangelizadora

130. O Espírito Santo enriquece toda a Igreja evangelizadora também com diferentes carismas. São dons para renovar e edificar a Igreja.[xix] Não se trata de um património fechado, entregue a um grupo para que o guarde; mas são presentes do Espírito integrados no corpo eclesial, atraídos para o centro que é Cristo, donde são canalizados num impulso evangelizador. Um sinal claro da autenticidade dum carisma é a sua eclesialidade, a sua capacidade de se integrar harmoniosamente na vida do povo santo de Deus para o bem de todos. Uma verdadeira novidade suscitada pelo Espírito não precisa de fazer sombra sobre outras espiritualidades e dons para se afirmar a si mesma. Quanto mais um carisma dirigir o seu olhar para o coração do Evangelho, tanto mais eclesial será o seu exercício. É na comunhão, mesmo que seja fadigosa, que um carisma se revela autêntica e misteriosamente fecundo. Se vive este desafio, a Igreja pode ser um modelo para a paz no mundo.

131. As diferenças entre as pessoas e as comunidades por vezes são incómodas, mas o Espírito Santo, que suscita esta diversidade, de tudo pode tirar algo de bom e transformá-lo em dinamismo evangelizador que actua por atracção. A diversidade deve ser sempre conciliada com a ajuda do Espírito Santo; só Ele pode suscitar a diversidade, a pluralidade, a multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade. Ao invés, quando somos nós que pretendemos a diversidade e nos fechamos em nossos particularismos, em nossos exclusivismos, provocamos a divisão; e, por outro lado, quando somos nós que queremos construir a unidade com os nossos planos humanos, acabamos por impor a uniformidade, a homologação. Isto não ajuda a missão da Igreja.

Cultura, pensamento e educação

132. O anúncio às culturas implica também um anúncio às culturas profissionais, científicas e académicas. É o encontro entre a fé, a razão e as ciências, que visa desenvolver um novo discurso sobre a credibilidade, uma apologética original[xx] que ajude a criar as predisposições para que o Evangelho seja escutado por todos. Quando algumas categorias da razão e das ciências são acolhidas no anúncio da mensagem, tais categorias tornam-se instrumentos de evangelização; é a água transformada em vinho. É aquilo que, uma vez assumido, não só é redimido, mas torna-se instrumento do Espírito para iluminar e renovar o mundo.

133. Uma vez que não basta a preocupação do evangelizador por chegar a cada pessoa, mas o Evangelho também se anuncia às culturas no seu conjunto, a teologia – e não só a teologia pastoral – em diálogo com outras ciências e experiências humanas tem grande importância para pensar como fazer chegar a proposta do Evangelho à variedade dos contextos culturais e dos destinatários.[xxi] A Igreja, comprometida na evangelização, aprecia e encoraja o carisma dos teólogos e o seu esforço na investigação teológica, que promove o diálogo com o mundo da cultura e da ciência. Faço apelo aos teólogos para que cumpram este serviço como parte da missão salvífica da Igreja. Mas, para isso, é necessário que tenham a peito a finalidade evangelizadora da Igreja e da própria teologia, e não se contentem com uma teologia de gabinete.

134. As universidades são um âmbito privilegiado para pensar e desenvolver este compromisso de evangelização de modo interdisciplinar e inclusivo. As escolas católicas, que sempre procuram conjugar a tarefa educacional com o anúncio explícito do Evangelho, constituem uma contribuição muito válida para a evangelização da cultura, mesmo em países e cidades onde uma situação adversa nos incentiva a usar a nossa criatividade para se encontrar os caminhos adequados.[xxii]

(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)

Notas:



[i] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 12.
[ii] cf. Mt 28, 19
[iii] Jo 1, 41
[iv] Jo 4, 39
[v] Act 9, 20
[vi] Fl 3, 12-13
[vii] João Paulo II, Carta enc. Fides et ratio (14 de Setembro de 1998), 71: AAS 91 (1999), 60.
[viii] III Conferência Geral do Episcopado Latino- -americano e do Caribe, Documento de Puebla (23 de Março de 1979), 450; cf. V Conferência Geral do Episcopado Latino- -americano e do Caribe, Documento de Aparecida (29 de Junho de 2007), 264.
[ix] Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Asia (6 de Novembro de 1999), 21: AAS 92 (2000), 482-484
[x] N.º 48: AAS 68 (1976), 38.
[xi] 101 Ibid., 48: o. c., 38.
[xii] Discurso na Sessão inaugural da V Conferência geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe (13 de Maio de 2007), 1: AAS 99 (2007), 446-447
[xiii] V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, Documento de Aparecida (29 de Junho de 2007), 262.
[xiv] Ibid., 263.
[xv] Cf. São Tomás de Aquino, Summa theologiae II-II, q. 2, a. 2.
[xvi] V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, Documento de Aparecida (29 de Junho de 2007), 264.
[xvii] Ibid., 264
[xviii] cf. Rm 5, 5
[xix] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 12.106
[xx] Cf. Propositio 17.107
[xxi] Cf. Propositio 30.
[xxii] Cf. Propositio 27.