26/08/2018

Abri a alma! Asseguro-vos a felicidade


Quem oculta ao seu director uma tentação, tem um segredo a meias com o demónio: fez-se amigo do inimigo. (Sulco, 323)


Começai por contar o que não quereríeis que se soubesse. Abaixo o demónio mudo! De uma coisa de nada, dando-lhe voltas e mais voltas, faz-se uma grande bola como com a neve, e acaba-se por ficar fechado lá dentro. Porquê?... Abri a alma! Asseguro-vos a felicidade, que é fidelidade à vocação cristã, se fordes sinceros. A clareza e a simplicidade são disposições absolutamente indispensáveis. Abramos pois, de par em par a nossa alma, de modo que o sol de Deus possa entrar e com ele a caridade do Amor.

Para se afastar da sinceridade total nem sempre é preciso má intenção; às vezes, basta um erro de consciência. Há pessoas que formaram (isto é, deformaram) de tal modo a consciência que o seu mutismo, a sua falta de simplicidade lhes parece bom; até pensam que é bom calar. Acontece que às vezes até receberam uma boa preparação e conhecem as coisas de Deus e talvez, por isso, se convençam de que é conveniente calar. Enganam-se, porém, porque a sinceridade é sempre necessária e não cabem desculpas, ainda que pareçam boas. (Amigos de Deus, 189)

Temas para meditar e reflectir

Formação humana e cristã – 44  


Pensemos, por exemplo, no que nos diferencia dos outros, no bom e no mau, evidentemente.
Vemos um determinado defeito - ou, pelo menos assim julgamos - e devemos considerar se de facto não se trata de um reflexo nosso, quer dizer, não estamos como que a ver-nos ao espelho?
Mas não devemos ocupar-nos apenas dos defeitos, mas também das virtudes.
Talvez descubramos o que nos falta a nós.

Já o dissemos, o que importa é termos um conhecimento próprio correcto, com critério, justo tanto quanto possível.

A idiossincrasia de cada um e, na sua totalidade, irrepetível, mas em muitos aspectos pode ser comparável.

Somos cada um de nós um indivíduo, com um nome pelo qual somos conhecidos, não fazemos, portanto, parte de uma "massa" anónima que se move e age toda num mesmo sentido.

Daqui, que a nossa preocupação deva ser cumprir o melhor possível o papel que nos compete. O que temos de fazer só pode ser feito por nós, qualquer outro, se o fizer certamente não o fará da mesma forma embora, até, possa fazê-lo melhor.

O deverás importante é que no exame do fim do dia possamos concluir que fizemos o que devíamos ter feito da melhor forma que fomos capazes.
Isto tanto nas coisas importantes como nas de escasso relevo.

Por isso mesmo - e voltamos a referir - o exame pessoal é tão importante.

(AMA, reflexões)

Diálogos apostólicos

O FIM DO MUNDO

Pergunto:

1. Quando será o fim do mundo?

Respondo:

Não se sabe com certeza. Só se conhecem alguns sinais não muito claros que antecipam o final:
Pregar-se-á o Evangelho por todo o mundo. (Mas ignora-se até que ponto).
Haverá uma dura provação para a Igreja. (Sempre as houve, mas esta será especialmente grave).
Haverá caos na natureza.

Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá


CRISTO QUE PASSA

            
Começa o ano litúrgico e o intróito da Missa propõe-nos uma consideração intimamente relacionada com o princípio da nossa vida cristã: a vocação que recebemos.
Vias tuas, Domine, demonstra mihi et semitas tuas edoce me, mostra-me Senhor os teus caminhos e ensina-me as tuas veredas.
Pedimos ao Senhor que no guie, que nos deixe ver os seus passos, para que possamos aspirar à plenitude dos seus mandamentos que é a caridade.

Julgo que vós, tal como eu, ao pensar nas circunstâncias que acompanharam a vossa decisão de vos esforçardes por viver integralmente a fé, dareis muitas graças ao Senhor e tereis a convicção sincera - sem falsas humildades - de que não há mérito algum da vossa parte.
Geralmente, aprendemos a invocar Deus desde a infância, dos lábios de pais cristãos. Mais adiante, professores, companheiros e simples conhecidos ajudaram-nos de muitas maneiras a não perder de vista Jesus Cristo.

Um dia (não quero generalizar; abre o coração ao Senhor e conta-lhe tu a história) talvez um amigo, um cristão normal e corrente como tu, te tenha feito descobrir um panorama profundo e novo e ao mesmo tempo tão antigo como o Evangelho.
Sugeriu-te a possibilidade de te empenhares seriamente em seguir Cristo, em ser apóstolo de apóstolos.
Talvez tenhas perdido então a tranquilidade e não a terás recuperado, convertida em paz, até que, livremente, "porque muito bem te apeteceu" - que é a razão mais sobrenatural - respondeste a Deus que sim.
E veio a alegria, vigorosa, constante, que só desaparece quando te afastas d'Ele.

Não me agrada falar de escolhidos nem de privilegiados.
Mas é Cristo quem fala disso, quem escolhe. É a linguagem da escritura: elegit nos in ipso ante mundi constitutionem - diz S. Paulo - ut essemus sancti, escolheu-nos antes da criação do mundo para sermos santos.
Eu sei que isto não te enche de orgulho, nem contribui para que te consideres superior aos outros homens.
Essa escolha, raiz do teu chamamento, deve ser a base da tua humildade.
Costuma levantar-se porventura algum monumento aos pincéis dum grande pintor? Serviram para fazer obras-primas mas o mérito é do artista.
Nós - os cristãos - somos apenas instrumentos do Criador do mundo, do Redentor de todos os homens.

2
             
Os Apóstolos, homens correntes

A mim, anima-me muito considerar um precedente, narrado passo a passo, nas páginas do Evangelho: a vocação dos primeiros doze.
Vamos meditá-la devagar, pedindo a essas santas testemunhas do Senhor que saibamos seguir Cristo como eles o fizeram.

Aqueles primeiros doze apóstolos - a quem tenho grande devoção e carinho - eram, segundo os critérios humanos, bem pouca coisa.
Quanto à posição social, com excepção de Mateus - que com certeza ganhava bem a vida e deixou tudo quando Jesus lhe pediu - eram pescadores; viviam do dia-a-dia, trabalhando até de noite para poderem alcançar o seu sustento.

Mas a posição social é o de menos.
Não eram cultos, nem sequer muito inteligentes, pelo menos no que diz respeito às realidades sobrenaturais.
Até os exemplos e as comparações mais simples lhes eram incompreensíveis e pediam ao Mestre: Domine, edissere nobis parabolam, Senhor, explica-nos a parábola.
Quando Jesus, com uma imagem, alude ao fermento dos fariseus, supõem que os está a recriminar por não terem comprado pão.

Pobres, ignorantes.
E nem sequer eram simples, humildes.
Dentro das suas limitações, eram ambiciosos. Muitas vezes discutem sobre quem seria o maior, quando - segundo a sua mentalidade - Cristo instaurasse na terra o reino definitivo de Israel.
Discutem e excitam-se até naquela hora sublime em que Jesus está prestes a imolar-se pela humanidade, na intimidade do Cenáculo.

Fé?
Pouca.
O próprio Jesus Cristo o diz.
Viram ressuscitar mortos, curar todo o tipo de doenças, multiplicar o pão e os peixes, acalmar tempestades, expulsar demónios.
Pois S. Pedro, escolhido como cabeça, é o único que sabe responder com prontidão: Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo.
Mas é uma fé que ele interpreta à sua maneira; por isso atreve-se a enfrentar Jesus Cristo, a fim de que Ele não se entregue pela redenção dos homens.
E Jesus tem de responder-lhe: Retira-te de mim, Satanás; tu serves-me de escândalo, porque não tens a sabedoria das coisas de Deus mas das coisas dos homens.
Pedro raciocinava humanamente, comenta S. João Crisóstomo, e concluía que tudo aquilo (a Paixão e a Morte) era indigno de Cristo, reprovável.
Por isso Jesus repreende-o e diz-lhe: não, sofrer não é coisa indigna de Mim; tu pensas assim porque raciocinas com ideias carnais, humanas.

Em que sobressaem então aqueles homens de pouca fé?
Talvez no amor a Cristo?
Sem dúvida que O amavam, pelo menos de palavra.
Chegam até a deixar-se arrebatar pelo entusiasmo: Vamos nós também e morramos com Ele.
Mas à hora da verdade, todos hão-de fugir, excepto João, que O amava com obras e de verdade. Só este adolescente, o mais jovem dos Apóstolos, permanece junto da cruz.
Os outros não sentiam esse amor tão forte como a morte.

Eram estes os discípulos escolhidos pelo Senhor; assim os escolhe Cristo; assim se comportavam antes de que, cheios do Espírito Santo, se tornassem colunas da Igreja. São homens correntes, com defeitos, com debilidades, com palavras maiores do que as suas obras.
E, contudo, Jesus chama-os para fazer deles pescadores de homens, corredentores, administradores da graça de Deus.

            
Sucedeu connosco uma coisa semelhante.
Sem grande dificuldade, poderíamos encontrar na nossa família, entre os nossos amigos e companheiros - para não me referir já ao imenso panorama do mundo - tantas pessoas mais dignas do que nós de receber o chamamento de Cristo.
Mais simples, mais sábias, mais influentes, mais importantes, mais gratas, mais generosas...

Eu, ao pensar nisto, fico envergonhado.
Mas compreendo também que a nossa lógica humana não serve para explicar as realidades da graça.
Deus costuma procurar instrumentos fracos para que se manifeste com evidente clareza que a obra é sua.
O próprio S. Paulo evoca com estremecimento a sua vocação; e por último, depois de todos, foi também visto por mim, como por um aborto.
Porque eu sou o mínimo dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus.
Assim escreve Paulo de Tarso, homem de uma personalidade e de um vigor que a história não fez mais do que engrandecer.

Fomos chamados sem mérito algum da nossa parte, dizia-vos.
Realmente, na base da nossa vocação está o conhecimento da nossa miséria, a consciência de que as luzes que iluminam a alma - a fé - o amor com que amamos - a caridade - e o desejo que nos mantém - a esperança - são dons gratuitos de Deus.
Por isso, não crescer em humildade significa perder de vista o objectivo da escolha divina: ut essemus sancti, a santidade pessoal.

Agora, tomando como ponto de partida essa humildade, podemos compreender toda a maravilha da chamada divina.
A mão de Cristo colheu-nos num trigal: o semeador aperta na sua mão chagada o punhado de trigo; o sangue de Cristo banha a semente, empapa-a.
Depois, o Senhor lança ao ar esse trigo, para que, morrendo, seja vida e, afundando-se na terra, seja capaz de multiplicar-se em espigas de oiro.

4
             
É hora de despertar

A Epístola da Missa recorda-nos que temos de assumir esta responsabilidade de apóstolos com novo espírito, com ânimo, despertos.
Porque já é hora de nos levantarmos do sono. Porquanto agora está mais perto a nossa salvação do que quando abraçámos a fé.
A noite está quase passada e o dia aproxima-se.
Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz.
Dir-me-eis que isso não é fácil, e não vos faltará razão.
Os inimigos do homem, que são os inimigos da santidade, procuram impedir essa vida nova, que é revestirmo-nos com o espírito de Cristo.
Não conheço melhor enumeração dos obstáculos à fidelidade cristã do que a que nos dá S. João: concupiscentia carnis, concupiscentia oculorum et superbia vitae.
Tudo o que há no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba de vida.

(cont)


Pequena agenda do cristão

DOMINGO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me:
Cultivar a Fé

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?

Evangelho e comentário


 
Evangelho: Jo 6, 60-69

60 Depois de o ouvirem, muitos dos seus discípulos disseram: «Que palavras insuportáveis! Quem pode entender isto?» 61 Mas Jesus, sabendo no seu íntimo que os seus discípulos murmuravam a respeito disto, disse-lhes: «Isto escandaliza-vos? 62 E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes? 63 É o Espírito quem dá a vida; a carne não serve de nada: as palavras que vos disse são espírito e são vida. 64 Mas há alguns de vós que não crêem.» De facto, Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não criam e também quem era aquele que o havia de entregar. 65 E dizia: «Por isso é que Eu vos declarei que ninguém pode vir a mim, se isso não lhe for concedido pelo Pai.» 66 A partir daí, muitos dos seus discípulos voltaram para trás e já não andavam com Ele. 67 Então, Jesus disse aos Doze: «Também vós quereis ir embora?» 68Respondeu-lhe Simão Pedro: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna! 69 Por isso nós cremos e sabemos que Tu é que és o Santo de Deus.»

Comentário:

A declaração de São Pedro é a que todos os homens gostaríamos de fazer, deveríamos fazer!

Não há outro caminho para a salvação, não existe outro meio para atingir o Reino de Deus.

Esta é a verdade mais intrínseca da nossa fé.


(AMA, comentário sobre Jo 6, 60-69 2015.08.23)