28/06/2016

O homem forte sofre, mas resiste

A fachada é de energia e fortaleza. Mas, quanta frouxidão e falta de vontade por dentro! Fomenta a determinação de não transformar as tuas virtudes em disfarce, mas em hábitos que definam o teu carácter. (Sulco, 777)

O caminho do cristão, o de qualquer homem, não é fácil. Certo é que em determinadas épocas parece que tudo se cumpre segundo as nossas previsões; mas isto habitualmente dura pouco. Viver é defrontar dificuldades, sentir no coração alegrias e pesares; e é nesta forja que o homem pode adquirir a fortaleza, a paciência, a magnanimidade e a serenidade.


É forte quem persevera no cumprimento do que entende dever fazer, segundo a sua consciência; quem não mede o valor de uma tarefa exclusivamente pelos benefícios que recebe, mas pelo serviço que presta aos outros. O homem forte às vezes sofre, mas resiste; talvez chore, mas traga as lágrimas. Quando a contradição aumenta, não se curva. (Amigos de Deus, 77)

Reflexão no Ano Jubilar da Misericórdia – 5


[i] 

Próximos do próximo

Não vou revelar o meu nome, direi apenas que sou um dos servos que constatou a tristíssima cena daquele nosso compatriota apertando o pescoço a um outro que lhe devia uma quantia que, depois vim a saber, somava cerca de cem denários.

Não revelo o meu nome porque, confesso, tenho receio daquele sujeito, homem de “maus fígados” que toda a gente sabe é um usurário que “explora” as necessidades dos outros revelando-se um intransigente sem dó nem piedade, exigindo por qualquer meio a devolução do emprestado aos que tiveram a desdita de lhe caírem nas “garras”.

Mas, todos sabíamos que esse dinheiro que emprestava a elevados juros vinha directamente das mãos do nosso Senhor e Rei que nunca recusava nada a quem a ele recorria.

Espantava-nos como podia continuar a emprestar-lhe enormes quantias que – todos o sabíamos – atingiam um valor absurdamente grande, sem exigir que prestasse contas como seria de esperar.

Mas, finalmente chegou o dia em que o nosso Senhor e Rei se inteirou da situação e resolveu chamá-lo à sua presença.

Estávamos todos naturalmente suspensos do que se iria passar e ficamos cá fora no átrio do palácio à espera do desfecho.

Para nosso espanto, o homem sai do palácio com um sorriso rasgado no rosto como que animado de grande contentamento para, logo depois, completamente alterado o semblante e a atitude, proceder como a princípio relatei.

Que se teria passado?

Logo tudo se esclareceu porque imediatamente surgiu no cimo da escadaria o escrivão do Rei levantando os braços ao céu e mostrando toda uma surpresa e descontentamento que não pudemos ignorar.

Então contou-nos o que se passara:

Em resumo disse que depois de o Rei lhe ter exigido que pagasse quanto lhe devia e tendo obtido como resposta que não o podia fazer, que lhe desse um pouco mais de tempo… prometendo pagar logo que possível, o nosso excelente Rei que o ameaçara com a prisão e a venda de todos os seus bens incluindo a mulher e os filhos, encheu-se de compaixão e simplesmente mandou-o embora perdoando-lhe toda a enorme dívida.

Ficámos, naturalmente, espantados com a atitude do nosso Senhor que, embora conhecendo a sua bondade para com os seus súbditos, perdoava assim – sem mais nem menos – uma quantia exorbitante.

Evidentemente que o Rei pode fazer com o seu dinheiro o que muito bem entender e só nos competia dar graças por tão excelente Senhor.

Mas sabíamos que sendo extremamente generoso era, também, absolutamente justo e que, seguramente, e deveria ficara saber que o servo a quem perdoara tão grande dívida acabava de praticar um acto exactamente oposto para com um colega e, por isso mesmo, fomos – todos - à sua presença contar o que se passara.

Note-se que não fomos apresentar uma “queixa” mas tão só procedemos como achávamos que era de absolutamente correcto fazer.

Caberia ao nosso Rei e Senhor julgar conforme o seu superior critério.

(ama, reflexões no Ano Jubilar da Misericórdia – 6)




[i] Mt 18, 21-35

21 Então, aproximando-se d'Ele Pedro, disse: «Senhor, até quantas vezes poderá pecar meu irmão contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?». 22 Jesus respondeu-lhe: «Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23 «Por isso, o Reino dos Céus é comparável a um rei que quis fazer as contas com os seus servos. 24 Tendo começado a fazer as contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos. 25 Como não tivesse com que pagar, o seu senhor mandou que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo o que tinha, e se saldasse a dívida. 26 Porém, o servo, lançando-se-lhe aos pés, suplicou-lhe: “Tem paciência comigo, eu te pagarei tudo”. 27 E o senhor, compadecido daquele servo, deixou-o ir livre e perdoou-lhe a dívida. 28 «Mas este servo, tendo saído, encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários e, lançando-lhe a mão, sufocava-o dizendo: “Paga o que me deves”. 29 O companheiro, lançando-se-lhe aos pés, suplicou-lhe: “Tem paciência comigo, eu te pagarei”. 30 Porém ele recusou e foi mandá-lo meter na prisão, até pagar a dívida. 31 «Os outros servos seus companheiros, vendo isto, ficaram muito contristados e foram referir ao seu senhor tudo o que tinha acontecido. 32 Então o senhor chamou-o e disse-lhe: “Servo mau, eu perdoei-te a dívida toda, porque me suplicaste. 33 Não devias tu também compadecer-te do teu companheiro, como eu me compadeci de ti?”. 34 E o seu senhor, irado, entregou-o aos guardas, até que pagasse toda a dívida. 35 «Assim também vos fará Meu Pai celestial, se cada um não perdoar do íntimo do seu coração ao seu irmão»

Nota: Este trecho do Evangelho escrito por São Mateus também poderia ser o Evangelho “oficial” do Ano Jubilar da Misericórdia.

De facto, a parábola proferida por Jesus Cristo, põe-nos perante um autêntico quadro ou, melhor, perante um filme que se desenrola aos nossos olhos prendendo-nos a atenção e excitando os nossos sentidos.

São Josemaria recomendou: aconselho-te a que, na tua oração, intervenhas nas passagens do Evangelho, como um personagem mais. [i]

É isso mesmo que me proponho fazer.

Sob o Título: “Próximos do próximo (sugerido por um bom amigo) vou tentar personificar alguns dos personagens da parábola e, também, introduzir-me nela como observador directo.


Evangelho e comentário


Tempo Comum

Evangelho: Mt 8, 23-27

23 Subindo para uma barca, seguiram-n'O os Seus discípulos. 24 E eis que se levantou no mar uma grande tempestade, de modo que as ondas alagavam a barca; Ele, entretanto, dormia. 25 Aproximaram-se d'Ele os discípulos, e acordaram-n'O, dizendo: «Senhor, salva-nos, que perecemos!». 26 Jesus, porém, disse-lhes: «Porque temeis, homens de pouca fé?». Então, levantando-Se, ordenou imperiosamente aos ventos e ao mar, e seguiu-se uma grande bonança. 27 Eles admiraram-se, dizendo: «Quem é Este, a quem até os ventos e o mar obedecem?».

Comentário:

É enternecedora esta figura de Jesus adormecido numa barca sacudida pelos ventos fortes da tempestade sobretudo porque revela a Sua humanidade real, verdadeira.

Vencido pelo cansaço do trabalho apostólico intenso adormece tranquilamente.

Os cristãos podem estar tranquilos com o sono de Jesus porque desperta facilmente quando O chamamos e, também, porque temos a certeza absoluta que a Sua Barca – a Igreja – nunca perecerá por mais fortes que sejam os ventos ou violentas as condas.


(AMA, comentário sobre Mt 8, 23-27, 2015.06.30)








Leitura espiritual

Leitura EspiritualAmar a Igreja 


São Josemaria Escrivá


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Gens Sancta, povo santo, composto por criaturas com misérias.
Esta aparente contradição marca um aspecto do mistério da Igreja.
A Igreja, que é divina, é também humana, porque está formada por homens e os homens têm defeitos: omnes homines terra et Cinis, todos somos pó e cinza.

Nosso Senhor Jesus Cristo, que funda a Santa Igreja, espera que os membros deste povo se empenhem continuamente em adquirir a santidade.
Nem todos respondem com lealdade à sua chamada.
Por isso, na Esposa de Cristo pode encontrar-se, ao mesmo tempo, a maravilha do caminho de salvação e as misérias daqueles que o percorrem.
O Divino Redentor dispôs que a comunidade por Ele fundada, fosse uma sociedade perfeita no seu género e dotada de todos os elementos jurídicos e sociais, para perpetuar neste mundo a obra da Redenção...
Se na Igreja se descobre alguma coisa que manifeste a debilidade da nossa condição humana, não deve atribuir-se à sua constituição jurídica, mas antes à deplorável inclinação dos indivíduos para o mal; inclinação que o seu Divino Fundador permite mesmo nos mais altos membros do Corpo Místico, para que seja provada a virtude das ovelhas e dos pastores, e para que em todos aumentem os méritos da fé cristã.

Essa é a realidade da Igreja, agora e aqui.
Por isso, é compatível a santidade da Esposa de Cristo com a existência de pessoas com defeitos no seu seio.
Cristo não excluiu os pecadores da sociedade por Ele fundada.
Se, portanto, alguns membros se encontram achacados com doenças espirituais, nem por isso deve diminuir o nosso amor à Igreja.
Pelo contrário, há-de até aumentar a nossa compaixão pelos seus membros.

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Demonstraria pouca maturidade aquele que, na presença de defeitos e misérias que encontrasse em alguma pessoa pertencente à Igreja - por mais alto que estivesse colocada em virtude da sua função -, sentisse diminuir a sua fé na Igreja e em Cristo.
A Igreja não é governada por Pedro, João ou Paulo; é governada pelo Espírito Santo e o Senhor prometeu que permanecerá a seu lado todos os dias, até à consumação dos séculos.

Escutai o que diz São Tomás, que tanto se debruçou sobre este ponto, a respeito da recepção dos Sacramentos, que são causa e sinal da graça santificante: o que se abeira dos Sacramentos, recebe-os certamente do ministro da Igreja, não enquanto é tal pessoa, mas enquanto ministro da Igreja.
Por isso, enquanto a Igreja lhe permitir exercer o seu ministério, o que receber das suas mãos o Sacramento, não participa do pecado do ministro indigno, mas comunica com a Igreja, que o tem por ministro.
Quando o Senhor permitir que a fraqueza humana apareça, a nossa reacção há-de ser a mesma que teríamos se víssemos a nossa mãe doente ou tratada com frieza.
Amá-la mais, ter para com ela mais manifestações externas e internas de carinho.

Se amamos a Igreja, nunca aparecerá em nós o interesse mórbido de pôr à mostra, como culpa da Mãe, as misérias de alguns dos seus filhos.
A Igreja, Esposa de Cristo, não tem por que entoar nenhum mea culpa.
Nós sim: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa!
Este é o verdadeiro meaculpismo, o pessoal, e não o que ataca a Igreja, apontando e exagerando os defeitos humanos, que, na Mãe Santa, são uma consequência da acção n'Ela exercida pelos homens. Acção que, aliás, só vai até onde os homens podem, porque nunca chegarão a destruir - nem sequer a tocar - aquilo a que chamávamos a santidade original e constitutiva da Igreja.

Por isso, Deus Nosso Senhor comparou, com toda a propriedade, a Igreja à eira onde se amontoa a palha e o trigo, de que sairá o pão para a mesa e para o altar; comparou-a também a uma rede varredeira ex omni genere piscium congreganti, capaz de apanhar peixes bons e maus que depois serão separados.

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O mistério da santidade da Igreja - essa luz original, que pode ficar oculta pela sombra das baixezas humanas - exclui todo e qualquer pensamento de suspeita ou de dúvida sobre a beleza da nossa Mãe. Nem se pode tolerar, sem protesto, que outros a insultem.
Não procuremos na Igreja os lados vulneráveis para a crítica, como alguns que não demonstram ter fé nem ter amor.
Não posso conceber como é possível ter um carinho verdadeiro pela nossa mãe e falar dela com frieza.

A nossa Mãe é Santa, porque nasceu pura e continuará sem mácula por toda a eternidade.

Se, por vezes, não soubermos descobrir o seu rosto formoso, limpemos nós os olhos; se notamos que a sua voz não nos agrada, tiremos dos nossos ouvidos a dureza que nos impede de ouvir, no seu tom, os assobios do Pastor amoroso.
A nossa Mãe é Santa, com a santidade de Cristo, à qual está unida no corpo - que somos todos nós - e no espírito, que é o Espírito Santo, assente também no coração de cada um de nós, se nos conservamos na graça de Deus.

Santa, Santa, Santa! ousamos cantar à Igreja, evocando o hino em honra da Santíssima Trindade.
Tu és Santa, Igreja, minha Mãe, porque foste fundada pelo Filho de Deus, Santo; és Santa, porque assim o dispôs o Pai, fonte de toda a santidade; és Santa, porque te assiste o Espírito Santo que mora na alma dos fiéis, a fim de reunir os filhos do Pai, que hão-de habitar na Igreja do Céu, a Jerusalém eterna.

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A Igreja é católica

Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade.
Porque há um só Deus, e há um só mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo Homem, o qual se deu a si mesmo em resgate de todos e para testemunho no tempo oportuno.
Jesus Cristo institui uma única Igreja, a sua Igreja; por isso, a Esposa de Cristo é Una e Católica: universal, para todos os homens.

Desde há séculos que a Igreja está estendida por todo o mundo, contando com pessoas de todas as raças e condições sociais.
Mas a catolicidade da Igreja não depende da extensão geográfica, mesmo que isto seja um sinal visível e um motivo de credibilidade.
A Igreja era Católica já no Pentecostes; nasce Católica no Coração chagado de Jesus, como um fogo que o Espírito Santo inflama.

No século II, os cristãos definiam como Católica a Igreja, para a distinguir das seitas que, utilizando o nome de Cristo, traíam nalgum ponto a sua doutrina.
Chamamos-lhe Católica, escreve São Cirilo, quer porque se encontra difundida por todo o orbe da Terra, dum confim ao outro, quer porque ensina de modo universal e sem defeito todos os dogmas que os homens devem conhecer, do visível e do invisível, do celestial e do terreno.
Também porque submete ao recto culto todo o tipo de homens, governantes e cidadãos, doutos e ignorantes.
E, finalmente, porque cura e sana todo o género de pecados, da alma, ou do corpo, possuindo além disso - seja qual for o nome com que se designe - todas as formas de virtude, em factos, em palavras e em toda a espécie de dons espirituais.

A catolicidade da Igreja não depende de que os não católicos a aclamem ou tenham consideração por Ela.
Nem se relaciona com o facto de que, em assuntos não espirituais, as opiniões de algumas pessoas, dotadas de autoridade na Igreja, sejam consideradas - e às vezes instrumentalizadas - por meios de opinião pública de correntes afins ao seu pensamento.
Acontecerá frequentemente que a parte de verdade que se defende em qualquer ideologia humana, encontre no ensino perene da Igreja algum eco ou algum fundamento; isto é, em certa medida, um sinal da divindade da Revelação que esse Magistério guarda.
Mas a Esposa de Cristo é Católica mesmo quando for deliberadamente ignorada por muitos, e inclusivamente ultrajada e perseguida, como acontece hoje por desgraça em tantos sítios.

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A Igreja não é um partido político, nem uma ideologia social, nem uma organização mundial de concórdia ou de progresso material, mesmo reconhecendo a nobreza dessas e doutras actividades.
A Igreja realizou sempre e continua a realizar um imenso trabalho em benefício dos necessitados, dos que sofrem e de todos aqueles que, de alguma maneira, padecem as consequências do único e verdadeiro mal, que é o pecado.
E a todos - aos que são de qualquer forma indigentes e aos que julgam gozar da plenitude dos bens da terra - a Igreja vem confirmar uma única coisa essencial, definitiva: que o nosso destino é eterno e sobrenatural; que só em Jesus Cristo nos salvamos para sempre; e que só n'Ele alcançamos, já nesta vida, de algum modo, a paz e a felicidade verdadeiras.

Pedi agora comigo a Deus Nosso Senhor que nós, os católicos, nunca nos esqueçamos destas verdades e que nos decidamos a pô-las em prática.
A Igreja Católica não precisa do "visto bom" dos homens, porque é obra de Deus.

Católicos nos mostraremos pelos frutos de santidade que dermos, visto que a santidade não admite fronteiras nem é património de nenhum particularismo humano.
Católicos nos mostraremos se rezarmos, se continuamente procurarmos dirigir-nos a Deus, se nos esforçarmos, sempre e em tudo, por ser justos - no mais amplo alcance do termo justiça, não raramente utilizado nestes tempos com um matiz materialista e erróneo -, se amarmos e defendermos a liberdade pessoal dos outros homens.

Lembro-vos também outro sinal claro da catolicidade da Igreja: a fiei conservação e administração dos Sacramentos como foram instituídos por Jesus Cristo, sem tergiversações humanas nem más tentativas de os condicionar psicológica ou sociologicamente. Pois ninguém pode determinar o que está sob a potestade de outrem, a não ser aquilo que está em seu poder.
E como a santificação do homem está sob a potestade de Deus santificante, não compete ao homem estabelecer, segundo o seu critério, quais as coisas que o hão-de santificar, mas isto há-de ser determinado por instituição divina.
Essas tentativas de tirar a universalidade à essência dos Sacramentos, poderiam ter talvez uma justificação se se tratasse apenas de sinais, de símbolos, que actuassem por leis naturais de compreensão e entendimento.
Mas, os Sacramentos da Nova Lei são ao mesmo tempo causas e sinais.
Por isso comummente se ensina que causam o que significam. Daí que conservem perfeitamente a razão de Sacramento, enquanto se ordenam a algo sagrado, não só como sinal, mas também como causas.

(cont)

Tratado da vida de Cristo 113

Questão 47: Da causa eficiente da paixão de Cristo

Art. 6 — Se o pecado dos que crucificaram a Cristo foi o gravíssimo dos pecados.

O sexto discute-se assim — Parece que o pecado dos que crucificaram a Cristo não foi o gravíssimo dos pecados.

1. — Pois, não é o gravíssimo dos pecados o que tem perdão. Ora, o próprio Senhor perdoou o pecado dos que os crucificaram, quando disse: Pai perdoai-lhes porque não sabem o que fazem. Logo, o pecado deles não foi o gravíssimo.

2. Demais. — O Senhor disse a Pilatos: O que me entregou a ti tem maior pecado. Ora, foi Pilatos mesmo que entregou Cristo para ser crucificados pelos seus ministros. Logo, parece ter sido maior pecado o de Judas traidor, que o dos crucificadores de Cristo.

3. Demais. — Segundo o Filósofo, ninguém sofre injustiça voluntariamente; e como ainda diz no mesmo lugar, se ninguém sofre injustiça, ninguém a comete. Logo, ninguém comete injustiça contra quem a sofre voluntariamente. Ora, Cristo sofreu voluntariamente, como se estabeleceu. Logo, os que o crucificaram nenhuma injustiça cometeram contra ele. E assim o pecado deles não foi o gravíssimo.

Mas, em contrário, o Evangelho — Acabai vós, pois, de encher a medida de vossos pais - diz Crisóstomo: Na verdade, excederam a medida dos pais. Pois, aqueles mataram homens, ao passo que estes crucificaram a Deus.

Como dissemos, os magistrados dos judeus conheceram a Cristo; se em alguma ignorância incorreram, essa foi a afectada, que não podaria escusá-las. Por isso foi gravíssimo o pecado deles, quer genericamente considerado, quer pela malícia da vontade. — Quanto aos Judeus do povo, esses pecaram gravissimamente quanto ao género do pecado; mas a ignorância do que faziam de certo modo diminuía-lhes o pecado. Por isso, o Evangelho — Não sabem o que fazem — diz Beda: Roga por aqueles que não sabiam o que faziam, tendo, é verdade, zelo pelas causas de Deus, mas não fundado em ciência. — Muito mais escusável, porém foi o pecado dos gentios, pelas mãos de quem Cristo foi crucificado, pois não tinham a ciência da lei.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Essa desculpa do Senhor não se refere aos príncipes dos judeus, mas à gente do povo, como dissemos.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Judas entregou a Cristo, não a Pilatos, mas ao príncipe dos sacerdotes, que o entregaram a Pilatos, segundo o Evangelho: A tua nação e os pontífices são os que te entregaram nas minhas mãos. O pecado de todos esses, porém foi maior que o de Pilatos, que por temor de César matou a Cristo; e também que o pecado dos soldados, que obedecendo ao mandado do governador, o crucificaram, não por avareza, como Judas, nem por inveja e ódio, como os príncipes dos sacerdotes.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Cristo quis certamente a sua Paixão, como também a quis Deus; mas não quis a acção iníqua dos judeus. Por isso, os imoladores de Cristo não ficam desculpados da injustiça. E, contudo, quem assassina um homem comete uma injustiça, não só contra ele, mas também contra Deus e a república, como o ensina o Filósofo. Por isso David condenou à morte aquele que não temeu estender a mão para matar ao ungido do Senhor, não obstante as suas súplicas, conforme lemos na Escritura.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Bento XVI – Pensamentos espirituais 97

Um sentido para o sofrimento

É certo que devemos fazer tudo o que pudermos para aliviar o sofrimento e impedir a injustiça resultante do sofrimento dos inocentes.

No entanto, também devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que os homens possam descobrir o sentido do sofrimento e assim consigam aceitá-lo e uni-lo ao sofrimento de Cristo.

Deste modo, o sofrimento funde-se com o amor redentor e transforma-se numa força contra os males do mundo.

Discurso à Cúria Romana, (22.Dez.05)


 (in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)

Jesus Cristo e a Igreja – 121

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos

IV. O CELIBATO NA DISCIPLINA DAS IGREJAS ORIENTAIS

São Jerónimo

A segunda testemunha é já conhecida. São Jerónimo foi ordenado sacerdote na Ásia Menor por volta do ano 379 e ao longo de seis anos conheceu a doutrina e a disciplina oriental, bem como eclesiásticos e comunidades monásticas. Após ter vivido três anos em Roma, ele retornou, através do Egito, à Palestina, onde permaneceu até a sua morte, por volta do ano 420. Esteve sempre em contato estreito e ativo com a vida de toda a Igreja, graças às suas relações com muitos homens importantes do Ocidente e Oriente, e também graças ao seu vasto conhecimento de várias línguas.
Seu testemunho explícito sobre a continência do clero já foram ilustrados na terceira parte. Recordemos agora novamente sua obra Adversus Vigilantium, que, contrariamente àquele sacerdote da Gália meridional que desprezava o celibato, invocou a prática das Igrejas do Oriente, do Egito e da Sé Apostólica, nas que, segundo afirma, só aceitam clérigos virgens, continentes, e, se são casados, que tenham renunciado ao uso de casamento. Com isto conhecemos um testemunho sobre a posição oficial também da Igreja, sobre a continência dos ministros sagrados.

No que diz respeito à legislação dos Sínodos orientais, deve-se salientar que os Concílios regionais anteriores a Nicéia, ou seja, os de Ancira e Neo-Cesaréia e o post-niceno de Gangra, falam efetivamente de ministros casados, mas não nos dão informações confiáveis sobre a licitude de uma vida não continente após a Ordenação, que vai mais além de uma situação excepcional.

Também nos sínodos particulares das diversas Igrejas cismáticas do Oriente, que foram estabelecidas depois das controvérsias cristológicas, nas quais – como no Ocidente – houve um claro afastamento da prática da disciplina celibatária, encontramos assim um testemunho por sua atitude oficial contrária à ortodoxia.

(Revisão da versão portuguesa por ama)

Antigo testamento / Êxodo 23

Êxodo 23

Leis de justiça e misericórdia

1 "Ninguém faça declarações falsas nem seja cúmplice do ímpio, sendo testemunha mal-intencionada.

2 "Não acompanhe a maioria para fazer o mal. Ao testemunhar num processo, não perverta a justiça para apoiar a maioria, nem para favorecer o pobre num processo.

3 "Se encontrar perdido o boi ou o jumento que pertence ao seu inimigo, leve-o de volta a ele.

4 Se vir o jumento de alguém que o odeia caído sob o peso da sua carga, não o abandone, procure ajudá-lo.

5 "Não perverta o direito dos pobres nos seus processos.

6 Não se envolva em falsas acsações nem condene à morte o inocente e o justo, porque não absolverei o culpado.

7 "Não aceite suborno, pois o suborno cega até os que têm discernimento e prejudica a causa do justo.

8 "Não oprima o estrangeiro. Vós sabeis o que é ser estrangeiro, pois foram estrangeiros no Egipto.

Leis sobre o sábado

9 "Plantem e colham em sua terra durante seis anos, mas no sétimo deixem-na descansar sem cultivá-la. Assim os pobres do povo poderão comer o que crescer por si, e o que restar ficará para os animais do campo. Façam o mesmo com as suas vinhas e com os seus olivais.

10 "Em seis dias façam os seus trabalhos, mas no sétimo não trabalhem, para que o seu boi e o seu jumento possam descansar, e o seu escravo e o estrangeiro renovem as forças.

11 "Tenham o cuidado de fazer tudo o que vos ordenei. Não invoquem o nome de outros deuses; não se ouçam tais nomes dos seus lábios.

As três festas anuais

12 "Três vezes por ano vocês me celebrarão festa.

13 "Celebrem a festa dos pães sem fermento; durante sete dias comam pão sem fermento, como vos ordenei. Façam isso na época determinada do mês de abibe, pois nesse mês vós saístes do Egipto.
"Ninguém se apresentará a mim de mãos vazias.

14 "Celebrem a festa da colheita dos primeiros frutos do seu trabalho de semeadura.
"Celebrem a festa do encerramento da colheita quando, no final do ano, armazenarem as colheitas.

15 "Três vezes por ano todos os homens devem comparecer diante do Senhor, o Soberano.

16 "Não ofereçam o sangue de um sacrifício feito em minha honra com pão fermentado.
"A gordura das ofertas das minhas festas não deverá ser guardada até à manhã seguinte.

17 "Tragam ao santuário do Senhor, o seu Deus, o melhor dos primeiros frutos das suas colheitas.
"Não cozinhem o cabrito no leite da própria mãe.

O anjo de Deus

18 "Eis que envio um anjo à vossa frente para protegê-los por todo o caminho e fazê-los chegar ao lugar que preparei.

19 Prestem atenção e ouçam o que ele diz. Não se rebelem contra ele, pois não perdoará as suas transgressões, pois nele está o meu nome.

20 Se ouvirem atentamente o que ele disser e fizerem tudo o que lhes ordeno, serei inimigo dos seus inimigos, e adversário dos seus adversários.

21 O meu anjo irá à vossa frente e os fará chegar à terra dos amorreus, dos hititas, dos ferezeus, dos cananeus, dos heveus e dos jebuseus, e eu os exterminarei.

22 Não se curvem diante dos deuses deles, nem lhes prestem culto, nem sigam as suas práticas. Destruam-nos totalmente e quebrem as suas colunas sagradas.

23 Prestem culto ao Senhor, o vosso Deus, e ele os abençoará, dando-vos alimento e água. Tirarei a doença do vosso meio.

24 Na sua terra nenhuma grávida perderá o filho nem haverá mulher estéril. Farei completar-se o tempo de duração da vossa vida.

25 "Mandarei adiante de vós o meu terror, que porá em confusão todas as nações que encontrarem. Farei que todos os seus inimigos virem as costas e fujam.

26 Causarei pânico entre os heveus, os cananeus e os hititas para expulsá-los de diante de vós.

27 Não os expulsarei num só ano, pois a terra se tornaria desolada e os animais selvagens se multiplicariam, ameaçando-vos.

28 Eu os expulsarei aos poucos, até que vós sejais numerosos o suficiente para tomarem posse da terra.

29 "Estabelecerei as suas fronteiras desde o mar Vermelho até o mar dos filisteus, e desde o deserto até o Eufrates. Entregarei nas vossas mãos os povos que vivem na terra, os quais expulsarão de diante de vós.

30 Não façam aliança com eles nem com os seus deuses.

31 Não deixem que esses povos morem na vossa terra, senão eles os levarão a pecar contra mim, porque prestar culto aos deuses deles será uma armadilha para vós".


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?





Doutrina – 188

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
CAPÍTULO SEGUNDO

CREIO EM JESUS CRISTO, O FILHO UNIGÉNITO DE DEUS
«E EM JESUS CRISTO, SEU ÚNICO FILHO, NOSSO SENHOR»
«JESUS CRISTO FOI CONCEBIDO PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO, E NASCEU DA VIRGEM MARIA»

92. Cristo tinha um verdadeiro corpo humano?

Cristo assumiu um verdadeiro corpo humano, através do qual Deus invisível se tornou visível. Por esta razão, Cristo pode ser representado e venerado nas santas imagens.