14/12/2014

Adoro-te, amo-te, aumenta-me a fé

Quando o receberes, diz-lhe: – Senhor, espero em Ti; adoro-te, amo-te, aumenta-me a fé. Sê o apoio da minha debilidade, Tu, que ficaste na Eucaristia, inerme, para remediar a fraqueza das criaturas. (Forja, 832)

Assistindo à Santa Missa, aprenderemos a falar, a privar com cada uma das Pessoas divinas: com o Pai, que gera o Filho, que é gerado pelo Pai; e com o Espírito Santo, que procede dos dois. Habituando-nos a privar intimamente com qualquer uma das três Pessoas, privaremos com um único Deus. E se falarmos com as três, com a Trindade, privaremos também com um só Deus, único e verdadeiro. Amai a Santa Missa, meus filhos, amai a Santa Missa! E que cada um de vós comungue com ardor, mesmo que se sinta gelado, mesmo que não haja correspondência por parte da emotividade. Comungai com fé, com esperança e com caridade inflamada.

Não ama Cristo quem não ama a Santa Missa e quem não se esforça no sentido de a viver com serenidade e sossego, com devoção e com carinho. 0 amor transforma aqueles que estão apaixonados em pessoas de sensibilidade fina e delicada. Leva-os a descobrir, para que se não esqueçam de os pôr em prática, pormenores que são por vezes mínimos, mas que trazem a marca de um coração apaixonado. É assim que devemos assistir à Santa Missa. Por este motivo, sempre pensei que aqueles que querem ouvir uma missa rápida e atabalhoada demonstram com essa atitude, já de si pouco elegante, que não conseguiram aperceber-se do significado do Sacrifício do altar.


O amor a Cristo, que se oferece por nós, anima-nos a saber encontrar, uma vez terminada a Santa Missa, alguns minutos de acção de graças pessoal e íntima, que prolonguem no silêncio do coração essa outra acção de graças que é a Eucaristia. (Cristo que passa, nn. 91–92)

Temas para meditar - 304


Força da oração


Oxalá que, dando-nos conta da nossa cegueira, sentados junto ao caminho das Escrituras e ouvindo Jesus que passa, O façamos deter-Se junto de nós com a força da nossa oração.


(orígenesHomílias sobre S. Mateus, 12, 20)

Ev. Coment. L. esp. (Amigos de Deus)

Advento III Semana

São João da Cruz – Doutor da Igreja


Evangelho: Jo 1 6-8 19-28

6 Apareceu um homem enviado por Deus que se chamava João. 7 Veio como testemunha para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. 8 Não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
19 Eis o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas a perguntar-lhe: «Quem és tu?». 20 Ele confessou a verdade, não a negou; e confessou: «Eu não sou o Cristo». 21 Eles perguntaram-lhe: «Quem és, pois? És tu Elias?». Ele respondeu: «Não sou». «És tu o profeta?». Respondeu: «Não». 22 Disseram-lhe então: «Quem és, pois, para que possamos dar resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?». 23 Disse-lhes então: «”Eu sou a voz do que clama no deserto. Endireitai o caminho do Senhor”, como disse o profeta Isaías». 24 Ora os que tinham sido enviados eram fariseus. 25 Interrogaram-no, dizendo: «Como baptizas, pois, se não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?». 26 João respondeu-lhes: «Eu baptizo em água, mas no meio de vós está Quem vós não conheceis. 27 Esse é O que há-de vir depois de mim, e eu não sou digno de desatar-Lhe as correias das sandálias». 28 Estas coisas passaram-se em Betânia, além Jordão, onde João estava a baptizar.

Comentário:

Infere-se deste trecho de São João que a acção de João Baptista tinha atingido tal notoriedade e importância que os chefes do povo sentiram a necessidade de se inteirarem sobre ele.
Muito provavelmente, também, sentiam que, de alguma forma, um número crescente de judeus se lhes “escapava das mãos” para seguir o Profeta.
Como mais tarde se verá em relação ao próprio Messias, não acreditam nos sinais que muito bem conhecem pelas Escrituras e, em lugar de aprofundarem a verdade dos factos tão evidentes preferem manobrar dilatoriamente, levantando dúvidas e questões que não têm outro objectivo que desacreditar o Percursor.

(ama, comentário sobre Jo 1, 6-8, 19-28, 2014.11.19)


Leitura espiritual



São Josemaria Escrivá

Amigos de Deus 64 a 72
  
64          
Fazer do trabalho oração

Costumo dizer com frequência que, nestes momentos de conversa com Jesus, que nos vê e nos ouve do sacrário, não podemos cair numa oração impessoal. E observo também que, para meditar de modo a que se inicie imediatamente um diálogo com o Senhor, não é preciso pronunciar palavras. Precisamos, sim, de sair do anonimato e de nos pôr na sua presença tal como somos, sem nos escondermos na multidão que enche a igreja, nem nos diluirmos num palavreado oco, que não brota do coração mas de um costume desprovido de conteúdo.

Posto isto, acrescento agora que também o teu trabalho deve ser oração pessoal e há-de converter-se numa grande conversa com o Nosso Pai do Céu. Se procuras a santificação na tua actividade profissional e através dela, terás necessariamente de te esforçar para que ela se converta numa oração sem anonimato. E nem sequer estes teus afãs podem cair na obscuridade anódina de uma tarefa rotineira, impessoal, porque nesse mesmo instante teria morrido o aliciante divino que anima o teu trabalho quotidiano.

Vêm-me neste momento à memória as minhas viagens às frentes de batalha durante a Guerra Civil Espanhola. Sem contar com qualquer meio humano, acudia aonde houvesse alguém que necessitasse do meu trabalho de sacerdote. Naquelas circunstâncias tão peculiares, talvez propícias a que muitos justificassem os seus abandonos e os seus descuidos, não me limitava a sugerir um conselho simplesmente ascético. Movia-me então a mesma preocupação que sinto agora e que estou a procurar que o Senhor desperte em cada um de vós. Interessava-me pelo bem das suas almas e também pela sua alegria aqui na terra. Por isso, animava-os a aproveitarem o tempo com tarefas úteis, evitando que a guerra se tornasse numa espécie de parêntesis na sua vida. Pedia-lhes que não se desleixassem e fizessem o possível por não converter a trincheira e a guarita numa espécie de sala de espera das estações de caminhos de ferro da época, onde a gente matava o tempo à espera daqueles comboios que parecia que nunca mais chegariam...

Sugeria-lhes concretamente que se ocupassem com alguma actividade proveitosa, compatível com o seu serviço de soldados, como, por exemplo, estudar ou aprender línguas, aconselhando-os também a que nunca deixassem de ser homens de Deus e procurassem que toda a sua conduta fosse operatio Dei, trabalho de Deus. E ficava comovido ao comprovar que esses rapazes, em situações nada fáceis, correspondiam tão maravilhosamente, que se notava a solidez da sua têmpera interior.

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Lembro-me também da temporada da minha estadia em Burgos, durante essa mesma época. Aí apareciam tantos e tantos para passar alguns dias comigo nos períodos de licença, além daqueles que estavam destacados nos quartéis da zona. Como casa, compartilhava com alguns filhos meus o mesmo quarto de um hotel muito fraco. Apesar de carecermos até do mais imprescindível, organizávamo-nos de modo a que não faltasse o necessário aos que vinham para descansar e recompor as forças. E eram centenas!

Tinha o costume de sair a passear pela margem do Arlanzón, enquanto conversava com eles, ouvia as suas confidências e procurava orientá-los com o conselho oportuno que os confirmasse ou lhes abrisse horizontes novos de vida interior. E, sempre com a ajuda de Deus, animava-os, estimulava-os e abrasava-os na sua conduta de cristãos. Às vezes as nossas caminhadas chegavam ao mosteiro de Las Huelgas. E noutras ocasiões íamos até à Catedral.

Gostava de subir a uma torre para que vissem de perto a pedra trabalhada das cumieiras, um autêntico rendilhado de pedra, fruto de um trabalho paciente e custoso. Nessas conversas fazia-lhes notar que aquela maravilha não se via de baixo. E para concretizar o que lhes tinha explicado com repetida frequência, comentava: isto é o trabalho de Deus, a obra de Deus: acabar a tarefa pessoal com perfeição, com beleza, com o primor destas delicadas rendas de pedra. Compreendiam, perante essa realidade que entrava pelos olhos, que tudo isso era oração, um formoso diálogo com o Senhor. Aqueles que tinham gasto as suas energias nessa tarefa sabiam perfeitamente que das ruas da cidade ninguém veria e apreciaria o resultado do seu esforço: era só para Deus. Compreendes agora como a vocação profissional pode aproximar do Senhor? Faz tu o mesmo que aqueles canteiros e o teu trabalho será também operatio Dei, um trabalho humano com entranhas e perfis divinos.

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Convencidos de que Deus se encontra em toda a parte, nós cultivamos os campos louvando ao Senhor, sulcamos os mares e trabalhamos em todas as outras nossas profissões, cantando as suas misericórdias . Desta maneira estamos unidos a Deus a todo o momento. Mesmo quando vos encontrardes isolados, fora do vosso ambiente habitual - como aqueles rapazes na trincheira - vivereis metidos no Senhor, através desse trabalho pessoal e esforçado, contínuo, que soubestes converter em oração, porque o haveis começado e concluído na presença de Deus Pai, de Deus Filho e de Deus Espírito Santo.

Não esqueçais, contudo, que estais também na presença dos homens e que estes esperam de vós - de ti! - um testemunho cristão. Por isso, na ocupação profissional, temos de actuar de tal maneira, do ponto de vista humano, que não fiquemos envergonhados nem façamos corar quem nos conhece e nos ama. Se vos conduzirdes de acordo com este espírito que procuro ensinar-vos, além de não desiludirdes aqueles que confiam em vós, não ficareis com a cara ruborizada e nem sequer vos acontecerá como àquele homem da parábola que se propôs edificar uma torre: depois de lançar os alicerces, não podendo concluí-la, começaram todos os que a viram a zombar dele, dizendo: "Este começou a construir e não pôde chegar ao fim".

Garanto-vos que, se não perderdes a visão sobrenatural, poreis o coroamento na vossa tarefa, acabareis a vossa catedral, até colocar a última pedra.

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Possumus!. Podemos vencer também esta batalha com a ajuda do Senhor. Convencei-vos de que não se torna difícil converter o trabalho num diálogo de oração. Basta oferecê-lo a Deus e meter mãos à obra, pois Ele já nos está a ouvir e a alentar. Assim, nós, no meio do trabalho quotidiano, conquistamos o modo de ser das almas contemplativas, porque nos invade a certeza de que Deus nos olha, sempre que nos pede uma nova e pequena vitória: um pequeno sacrifício, um sorriso à pessoa importuna, começar pela tarefa menos agradável e mais urgente, ter cuidado com os pormenores de ordem, ser perseverante no dever quando era tão fácil abandoná-lo, não deixar para amanhã o que temos de terminar hoje... E tudo isto para dar gosto ao Nosso Pai Deus! Entretanto, talvez sobre a tua mesa ou num lugar discreto que não chame a atenção, para te servir de despertador do espírito contemplativo, pões o crucifixo, que já se tornou para a tua alma e para a tua mente o manual onde aprendes as lições de serviço.

Se te decidires - sem fazer coisas esquisitas, sem abandonar o mundo, no meio das tuas ocupações habituais - a entrar por estes caminhos de contemplação, sentir-te-ás imediatamente amigo do Mestre e com o encargo divino de abrir os caminhos divinos da terra a toda a humanidade. Sim, com esse teu trabalho contribuirás para que se estenda o reinado de Cristo em todos os continentes e seguir-se-ão, uma atrás da outra, as horas de trabalho oferecidas pelas longínquas nações que nascem para a fé, pelos povos do leste barbaramente impedidos de professar com liberdade as suas crenças, pelos países de antiga tradição cristã onde parece que se obscureceu a luz do Evangelho e as almas se debatem nas sombras da ignorância... Que valor adquire então essa hora de trabalho, esse continuar com o mesmo empenho durante um pouco mais de tempo, alguns minutos mais, até rematar a tarefa. Convertes assim, de um modo prático e simples, a contemplação em apostolado, como necessidade imperiosa do coração, que pulsa em uníssono com o dulcíssimo e misericordioso Coração de Jesus, Nosso Senhor.

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Fazer tudo por Amor

E como é que vou conseguir - parece que me perguntas - actuar sempre com esse espírito, que me leve a concluir com perfeição o meu trabalho profissional? A resposta não é minha. Vem de S. Paulo: Trabalhai varonilmente, sede fortes. Que tudo, entre vós, se realize na caridade. Fazei tudo por Amor e livremente. Nunca actueis por medo ou por rotina: servi ao Nosso Pai Deus.

Gosto muito de repetir - porque tenho experimentado bem a sua mensagem - aqueles versos pouco artísticos, mas muito gráficos:

Minha vida é toda amor;
Se em amor sou entendido,
Foi pela força da dor,
Pois ninguém ama melhor
Que quem muito haja sofrido.

Ocupa-te dos teus deveres profissionais por Amor. Faz tudo por Amor - insisto - e comprovarás as maravilhas que produz o teu trabalho, precisamente porque amas, embora tenhas de saborear a amargura da incompreensão, da injustiça, da ingratidão e até do próprio fracasso humano. Frutos saborosos, sementes de eternidade!

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Acontece, porém, que algumas pessoas - são boas, bondosas - afirmam por palavras que aspiram a difundir o formoso ideal da nossa fé, mas se contentam na prática com uma conduta profissional superficial e descuidada, própria de cabeças-no-ar. Se nos encontrarmos com alguns destes cristãos de fachada, temos de ajudá-los com carinho e com clareza e recorrer, quando for necessário, a esse remédio evangélico da correcção fraterna: Irmãos, se porventura alguém for surpreendido nalguma falta, vós, os espirituais, corrigi-o com espírito de mansidão; e tu, acautela-te a ti mesmo, não venhas também a cair na tentação. Levai os fardos uns dos outros e desse modo cumprireis a lei de Cristo. E se para além da sua profissão de católicos se acrescentam outros motivos - mais idade, experiência ou responsabilidade - nessa altura, por maioria de razão temos de falar, temos que procurar que reajam, a fim de conseguirem maior influência na sua vida de trabalho, orientando-os como um bom pai, como um mestre, sem humilhar.

Sensibiliza bastante meditar calmamente o comportamento de S. Paulo: De facto, vós sabeis como deveis comportar-vos para nos imitardes, porquanto não fomos, entre vós, preguiçosos, nem foi a expensas alheias que comemos o pão, de quem quer que fosse, mas trabalhámos noite e dia, entre fadigas e privações, para não sermos pesados a nenhum de vós... Daí a razão por que, justamente quando nos encontrávamos entre vós, vos intimávamos que se alguém não quer trabalhar, abstenha-se também de comer.

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Temos de dar exemplo, por amor a Deus, por amor às almas e para corresponder à nossa vocação de cristãos. Para que não escandalizeis, nem levanteis a mínima sombra de suspeita de que os filhos de Deus são negligentes ou não servem, para que não sejais causa de desedificação..., haveis de vos esforçar por oferecer com a vossa conduta a medida justa, a boa vontade de um homem responsável. Tanto o camponês, que ara a terra enquanto vai levantando continuamente o seu coração a Deus, como o carpinteiro, o ferreiro, o empregado de escritório, o intelectual, em suma, todos os cristãos, têm de ser modelo para os seus colegas. No entanto, devem sê-lo sem orgulho, porque temos na nossa alma a clara convicção de só conseguirmos alcançar a vitória desde que contemos com Ele. Nós, sozinhos, não podemos sequer levantar uma palhinha do chão . Por isso, cada pessoa, na sua tarefa e no lugar que ocupa na sociedade, há-de sentir a obrigação de fazer um trabalho de Deus, que em toda a parte semeie a alegria e a paz do Senhor. O perfeito cristão leva sempre consigo a serenidade e a alegria. Serenidade, porque se sente na presença de Deus; alegria, porque se vê rodeado dos seus dons. Um cristão assim é de verdade um personagem real, um sacerdote santo de Deus.

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Para alcançarmos esta meta temos de nos conduzir movidos pelo Amor e nunca como aquele que suporta o peso de um castigo ou de uma maldição: Tudo o que fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças, por meio d'Ele, a Deus Pai. Desta forma terminaremos a nossa tarefa com perfeição, enchendo o tempo todo, porque seremos instrumentos apaixonados por Deus, que compreendem toda a responsabilidade e toda a confiança que o Senhor deposita sobre os seus ombros, apesar da debilidade pessoal. Em todas e cada uma das tuas actividades, porque contas com a fortaleza de Deus, hás-de comportar-te como quem se movimenta exclusivamente por Amor.

Mas não fechemos os olhos à realidade, conformando-nos com uma visão ingénua e superficial, que nos conduza à ideia de que nos espera um caminho fácil e que para percorrê-lo bastam alguns propósitos sinceros e desejos ardentes de servir a Deus. Não duvideis: ao longo dos anos, apresentar-se-ão - talvez mais depressa do que pensamos - situações particularmente custosas, que vão exigir de cada um muito espírito de sacrifício e um maior esquecimento de si mesmo. Fomenta então a virtude da esperança e, com audácia, faz teu o grito do Apóstolo: Eu estimo, efectivamente, que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção alguma com a glória que há-de revelar-se em nós. Medita com segurança e com paz: como será o amor infinito derramado sobre esta pobre criatura?! Chegou a hora de, no meio das tuas ocupações habituais, exercitares a fé, despertares a esperança, avivares o amor. Quer dizer: de activar as três virtudes teologais que nos impelem a desterrar imediatamente, sem dissimulações, sem rebuço, sem rodeios, os equívocos da nossa vida profissional e da nossa vida interior.

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Portanto, meus caríssimos irmãos, - de novo a voz de S. Paulo - permanecei firmes e inabaláveis, sempre generosos em trabalhar para o Senhor, sabendo que o vosso trabalho não fica sem recompensa de Deus. Vêdes? É todo um conjunto de virtudes que pomos em jogo ao desempenhar a nossa profissão, com o propósito de a santificar: a fortaleza, para perseverarmos no nosso trabalho, apesar das naturais dificuldades, sem nos deixarmos vencer pelo abatimento; a temperança, para nos gastarmos sem reservas e para superarmos a comodidade e o egoísmo; a justiça, para cumprirmos os nossos deveres com Deus, com a sociedade, com a família, com os colegas; a prudência, para sabermos o que convém fazer em cada caso e lançarmo-nos à obra sem demora... E tudo, insisto, por Amor, com o sentido vivo e imediato da responsabilidade do fruto do nosso trabalho e do seu alcance apostólico.

Obras são amores e não boas razões, diz o refrão popular e penso que é desnecessário acrescentar-lhe mais alguma coisa.

Senhor, concede-nos a tua graça. Abre-nos a porta da oficina de Nazaré, com o fim de aprendermos a contemplar-Te a Ti, com a tua Mãe Santa Maria e com o Santo Patriarca José - a quem tanto amo e venero - todos três dedicados a uma vida de trabalho santo. Sensibilizar-se-ão os nossos pobres corações, procurar-Te-emos e encontrar-Te-emos no trabalho diário, que Tu desejas que convertamos em obra de Deus, em obra de Amor.

(cont)






Tratado do verbo encarnado 59

Questão 7: Da graça de Cristo como um homem particular

Art. 13 — Se a graça habitual em Cristo era uma consequência da união.

O décimo terceiro discute-se assim. — Parece que a graça habitual em Cristo não era uma consequência da união.

1. — Pois, uma coisa não pode ser a consequência de si mesma. Ora, essa graça habitual parece ser a mesma que a da união. Pois, diz Agostinho: Pela mesma graça pela qual, desde que recebeu a fé, o homem se torna Cristão, por essa mesma aquele homem desde o princípio foi Cristo. E dessas coisas, a primeira pertence à graça habitual, a segunda, à da união. Logo, parece que a graça habitual não resulta da união.

2. Demais. — A disposição precede a perfeição temporalmente, ou pelo menos, intelectualmente. Ora, parece que a graça habitual é uma como que disposição da natureza humana para a união pessoal. Logo, parece que longe de a graça habitual resultar da união, ela a precede.

3. Demais. — O comum é anterior ao próprio. Ora, a graça habitual é comum a Cristo e a todos os homens, ao contrário, a graça da união é própria de Cristo. Logo, segundo o intelecto, a graça habitual é anterior à união. E portanto, não resulta dela.

Mas, em contrario, a Escritura: Eis aqui o meu servo, eu o ampararei. E a seguir acrescenta: Sobre ele derramei o meu espírito — o que pertence ao dom da graça habitual. Donde resulta, que a assunção da natureza humana em a unidade de pessoa precede a graça habitual em Cristo.

A união da natureza humana com a pessoa divina, da qual dissemos acima ser a própria graça da união, precede a graça habitual, em Cristo, não na ordem do tempo, mas na da natureza e do intelecto. E isto por três razões.

Primeiro, quanto à ordem dos princípios de ambas. Assim, o princípio da união é a Pessoa do Filho, assumente da natureza humana, por isso se diz que foi enviada ao mundo, por ter assumido a natureza humana. Quanto ao princípio da graça habitual, dada com a caridade, ela é o Espírito Santo, do qual se diz que é enviado por habitar na alma pela caridade. Ora, a missão do Filho, na ordem da natureza, é anterior à do Espírito Santo, assim como, na ordem da natureza, o Espírito Santo procede do Filho e, da sabedoria, o amor. Donde, também a união pessoal pela qual concebemos a missão do Filho, é anterior, na ordem da natureza, à graça habitual, pela qual se concebe a missão do Espírito Santo.

Em segundo lugar, a razão dessa ordem se deduz da relação da graça com a sua causa. Pois, a graça é causada no homem pela presença da divindade, assim como a luz, no ar, pela presença do sol. Donde o dizer a Escritura: Entrava a glória do Deus de Israel pela banda do oriente e a terra estava resplandecente pela presença da sua majestade. Ora, a presença de Deus em Cristo é concebida segundo a união da natureza humana com a Pessoa divina. Donde, a graça habitual de Cristo é entendida como consequente a essa união, como o esplendor, ao sol.

A terceira razão dessa ordem pode ser deduzida do dom da graça, a qual se ordena a fazer proceder bem. Ora, os actos são dos supostos e dos indivíduos. Donde, a acção, e por consequência, a graça, que para ela ordena, pressupõe a natureza humana antes da união, como do sobredito resulta. Logo, a graça da união, segundo o intelecto, precede à graça habitual.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Agostinho, no lugar citado, chama graça gratuita à vontade de Deus, que confere benefícios gratuitamente. E por isso, diz que por essa mesma graça pela qual foi feito o homem Cristo, todos os homens se tornam Cristãos. Porque ambas essas coisas se realizam pela vontade gratuita de Deus, sem dependência de méritos.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Assim como a disposição, na ordem da geração, precede à perfeição dispositivamente, assim ela também é consequente naturalmente à perfeição que já foi atingida. Tal o calor que, tendo sido uma disposição à forma do fogo, é um efeito profluente da forma do fogo já preexistente. Ora, a natureza humana em Cristo esteve unida à Pessoa do Verbo, desde o princípio, sem sucessão. Donde, a graça habitual não se entende como precedente à união, mas como consequente a ela, como uma propriedade natural. Donde o dizer Agostinho: A graça é de certo modo natural ao homem Cristo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O comum é anterior ao próprio, quando ambos são do mesmo género, mas, quando de géneros diversos, nada impede que seja o próprio anterior ao comum. Ora, a graça da união não pertence ao mesmo género que a graça habitual, mas é superior a todos os géneros como o é a Pessoa divina. Donde, nada impede seja esse próprio, anterior ao comum, pois não se relaciona com este por adição, mas é, antes, o princípio e a origem do que é comum.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Pequena agenda do cristão




DOMINGO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:
Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me:
Cultivar a Fé.

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?