06/02/2011

Breve História da Humanidade 5

Observando
Continuação

Havia uma pessoa de fora que também era um amigo: um misterioso benfeitor que existira antes e construíra os bosques e as colinas para a chegada deles, e acendera o sol nascente para o surgimento deles como um servo acende o fogo da cozinha. Ora, essa ideia de uma mente que dá sentido ao universo recebeu confirmações cada vez maiores das mentes humanas, por meio de meditações e experiências muito mais subtis e investigadoras que qualquer argumento sobre o plano externo do mundo. Mas o que aqui me interessa é manter a história nos seus termos mais simples e até mais concretos: basta dizer aqui que a maioria dos homens, inclusive os mais sábios, chegou à conclusão de que o mundo tem esse propósito final e, portanto, essa causa primeira. Mas a maioria dos homens nalgum sentido separou-se dos homens mais sábios quando se passou ao tratamento dessa ideia. Passaram a existir duas maneiras de tratar delas, que entre si constituíram a maior parte da história do mundo.

(G. K. Chesterton,  O Homem Eterno, Ed. Mundo Cristão, 1ª ed. colig. e adap. por ama)
Cont/

Diálogos apostólicos

Diálogos



Vê lá bem, meu caro o que andas a fazer - melhor - o que não tens feito e devias.

Olha que quem recebe tem de dar e, quem recebe muito - como tu tens recebido - tem de dar muito mais.



(ama, 2011.02.06)

Pensamentos inspirados

À procura de Deus





Aos pés da Cruz, também Maria teve


um "parto" com dor, muita dor, para


nos "dar à luz" como filhos.

jma, 2011 

À VOLTA DO VOTO

Observando

A Igreja, a abstenção e o voto útil

Nas eleições presidenciais a abstenção ultrapassou os cinquenta por cento. Há quem entenda que o generalizado abstencionismo é um voto de protesto da maioria dos eleitores. Sobre esta questão, quisemos ouvir o Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada.
1. Nas vésperas das eleições presidenciais, assinou dois artigos de opinião que foram entendidos como uma tentativa de influenciar o voto dos cristãos.
P.GPA – Foram então muito mal entendidos, porque tive o cuidado, precisamente para não dar azo a esse tipo de leituras, de não referir nenhuma candidatura, nenhum nome de nenhum candidato, nem nenhum partido ou força política. Também não abordei questões de política partidária, nem emiti qualquer juízo sobre matéria opinável.
2. Mas a alusão ao voto inútil e ao voto em consciência não era, de algum modo, um convite a não votar na candidatura presidencial vencedora?
P. GPA – Era, sobretudo, uma chamada de atenção contra o relativismo a que necessariamente se apela quando se recorre ao argumento do voto útil, e um apelo para a necessidade de votar em consciência. Confesso que me repugna a impunidade política dominante e uma atitude indulgente dos eleitores significa uma certa cumplicidade com essas incoerências.
3. Mas isso não implica um juízo moral dos candidatos?
 P. GPA – Enquanto pessoas, é óbvio que ninguém os deve julgar, mas os seus actos políticos podem e devem ser objecto de apreciação moral. Se um candidato defraudar sistematicamente as legítimas expectativas dos seus eleitores e esse facto não tiver quaisquer consequências, é caso para dizer que, em política, o crime compensa. É esta perversa lógica que me pareceu importante denunciar.
4. Mas é evidente que os artigos desfavoreciam a candidatura presidencial que veio a ganhar as eleições, embora com um resultado muito inferior ao total das abstenções.
P.GPA – Pelo contrário, porque em vez de considerar em pé de igualdade todas as candidaturas, afirmei sempre que, se algumas não seriam de modo nenhum admissíveis para um cristão coerente, outras, como a que veio a ganhar, poderiam ser uma opção lícita, em virtude do princípio do mal menor, para quem se revê na Doutrina Social da Igreja.
5. Então, como explica algum mal-estar suscitado por esses seus artigos de opinião?
P. GPA – Não creio que haja motivo para essa admiração se tivermos presente que a pregação de Jesus Cristo também causava escândalo, sobretudo entre os fariseus e os pusilânimes. Hoje, seria preciso acrescentar também os inimigos da liberdade e da Igreja.
6. Como assim?!
P. GPA – O voto dos cristãos é sempre apetecível, nomeadamente num país cuja matriz cultural é essencialmente cristã. Por isso, há sempre quem queira apropriar-se desse voto, recorrendo ao argumento do «voto útil»: os cristãos devem votar e devem votar bem, isto é, votar na candidatura menos má.
7. Mas, não é correcto este argumento?
P. GPA – Claro que não! Ninguém, mesmo sendo católico, é dono do voto dos cristãos, nem a Igreja pode ficar refém de nenhuma força ou partido político. Que os fiéis possam votar na candidatura menos má não quer dizer que estejam obrigados a votar nela, porque também é moralmente legítimo o voto em outras candidaturas, desde que compatíveis com a fé cristã, bem como a abstenção, o voto em branco ou o voto nulo.
8. De todos os modos, uma tal atitude parece, em termos políticos, pouco razoável e pouco ou nada construtiva.
P. GPA – Talvez, mas em termos morais, que são os únicos que me interessam, é importante defender a liberdade da Igreja e a dos fiéis nestas matérias. Acho curioso que os mesmos políticos que apelaram energicamente à participação no sufrágio e censuraram, com azedume, a abstenção, foram também os que impediram essa mesma participação, quando excluíram a possibilidade de um referendo sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo, que dezenas de milhares de eleitores tinham pedido.
9. Mas, não lhe parece que se trata de uma questão eminentemente política?
P. GPA – Antes de o ser, é ética e pastoral. Depois de publicados os artigos que referiu, muitos fiéis confidenciaram-me que tinham ficado muito aliviados nas suas consciências, porque erradamente pensavam que estavam obrigados a votar e a votar útil, apesar disso lhes parecer uma violência e uma falsidade, na medida em que não se identificavam minimamente com nenhuma candidatura. É missão dos pastores esclarecer as almas dos fiéis sobre estas questões e defender a sua liberdade de consciência.
10. De todos os modos, não teria sido mais conveniente que esse esclarecimento não tivesse ocorrido em plena campanha eleitoral?
P. GPA – Desculpe-me a ingenuidade, mas pensava que a campanha eleitoral servia precisamente para abordar estes assuntos. É recorrente essa tentativa de amordaçar a Igreja, com a desculpa de que se não deve intrometer em política. Nas vésperas do referendo do aborto, também não faltou quem quisesse silenciar a Igreja, mas os pastores devem pregar a vida nas vésperas dos referendos, nos dias dos referendos e nos dias seguintes aos referendos, porque a nossa agenda é o Evangelho e não o calendário político ou eleitoral. 


Gonçalo Portocarrero

Evangelho e comentário do dia

Tempo comum - V Semana


Evangelho: Mt 5,13-16

13 «Vós sois o sal da terra. Porém, se o sal perder a sua força, com que será ele salgado? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e ser calcado pelos homens. 14 Vós sois a luz do mundo. Não pode esconder-se uma cidade situada sobre um monte; 15 nem se acende uma candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas no candelabro, a fim de que dê luz a todos os que estão em casa. 16 Assim brilhe a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.

Meditação: por AMA

Salgado pelas contradições dentro de mim próprio. Digo-me pronto a aceitar a Vontade de Deus em tudo, mas, na verdade, ao dizer isto, não estou - secretamente - à espera que Ela esteja de acordo com a minha própria vontade?

Acho isto natural, sou humano e pouca coisa.

Tenho, então que pedir outras coisas?

Não!

Tenho de continuar, sem desfalecimento, a pedir, como sei, aquilo que julgo precisar. O Senhor concederá como e quando entender o que for melhor.

Esta atitude é o sal que preciso na minha vida; este sal é o que me convém para, temperado pelas dificuldades, possa falar de confiança e esperança aos outros, sobretudo àqueles que não têm a graça que me foi concedida de acreditar firmemente que Deus sabe mais e nunca Se deixa vencer em generosidade.

Ámen.

(ama, meditação sobre Mt 5, 13-16, 2010.06.08)

Ao Amor dos amores

Duc in altum



Sacrário do Altar o ninho dos teus mais ternos e disponíveis amores.
Amor me pedes, meu Deus, e amor me dás; o Teu amor é amor do céu, e o meu, amor mistura de terra e céu; o teu é infinito e puríssimo; o meu, imperfeito e limitado. Seja eu, meu Jesus, desde hoje, tudo para Ti, como Tu és tudo para mim. Que Te ame sempre, como Te amaram os Apóstolos; e os meus lábios beijem os Teus benditos pés, como os beijou a Madalena convertida. Vê e escuta os extravios do meu coração arrependido, como escutaste Zaqueu e a Samaritana. Deixa-me reclinar a minha cabeça no Teu peito sagrado como o Teu discípulo amado São João. Desejo viver contigo, porque és vida e amor.
Só pelos Teus amores, Jesus, meu bem-amado, pus em Ti a minha vida, a minha glória e futuro. E já que para o mundo sou uma flor murcha, não tenho outro anseio que, amando-te, morrer.

(Oração de Santa Teresa de Lisieux)

Vida interior


Tema para breve reflexão




Mais duro é para o soldado aguentar muito tempo debaixo das balas numa trincheira húmida e fria do que tomar parte num ataque com todo o ardor do seu temperamento.

(R. Garrigou Lagrange, Las três edades de la vida interior, vol. II, Palabra, Madrid, 1982, pg. 650 trad ama)

Doutrina

«RERUM NOVARUM»

Protecção do trabalho dos operários, das mulheres e das crianças

26. Enfim, o que um homem válido e na força da idade pode fazer, não será equitativo exigi-lo duma mulher ou duma criança. Especialmente a infância — e isto deve ser estritamente observado — não deve entrar na oficina senão quando a sua idade tenha suficientemente desenvolvido nela as forças físicas, intelectuais e morais: de contrário, como uma planta ainda tenra, ver-se-á murchar com um trabalho demasiado precoce, e dar-se-á cabo da sua educação. Trabalhos há também quê se não adaptam tanto à mulher, a qual a natureza destina de preferência aos arranjos domésticos, que, por outro lado, salvaguardam admiravelmente a honestidade do sexo, e correspondem melhor, pela sua natureza, ao que pede a boa educação dos filhos e a prosperidade da família. Em geral, a duração do descanso deve medir-se pelo dispêndio das forças que ele deve restituir. O direito ao descanso de cada dia assim como à cessação do trabalho no dia do Senhor, deve ser a condição expressa ou tácita de todo o contrato feito entre patrões e operários. Onde esta condição não entrar, o contrato não será justo, pois ninguém pode exigir ou prometer a violação dos deveres do homem para com Deus e para consigo mesmo.

2011.02.06

Four Truths that All Can Know

Observando
First, the four truths about man from the philosophical wisdom that all can know, regardless of religious beliefs or lack of them. The first and perhaps foundational truth of all is the metaphysical truth about humility. Reality is such that man must be humble before it. Man should be like a child before anything--truth or meaning or value or design or mystery or intelligence--that transcends him, even if this is not God, and even if this is such a mystery that it can never be known. Even some so-called humanists can sense that man is not the supreme reality, and that we are taller when we bow. Even atheists who refuse to adore can be wise enough to have awe and wonder.
Imagine a teenager or young adult who has been raised in a religious environment but who has never personally internalized it, never experienced the basic humility and awe and wonder that is the psychological basis for all religion. This is quite common, for familiarity can breed contempt, and that's true especially of religion, if it doesn't take deeper root. Such a person often experiences religious awe and humility for the first time only after he has repudiated religion and become an atheist or an agnostic. He learns, for instance, about the incredible mysteries of the cosmos. Or he is shattered and shuddered by a haunting piece of music, or by a beautiful woman's face. He has his first religious experience as an atheist. Sometimes that is a necessary beginning for his deeper return to God. God planned it. The prodigal son has to leave home in order to appreciate home.
The second truth is the epistemological truth about honesty and open-mindedness. This flows from the first point, the metaphysical point about humility before reality. We do not know everything. Even if there is no God, we are not God. Our beliefs about anything, therefore, should be revisable in light of future facts, future light, future knowledge. Socrates' lesson number one is to know that we do not really know most of what we think we really know. In other words, there are two kinds of people in the world, fools who think they're wise, and the wise who know they that they're fools. The moral equivalent is Jesus' lesson number two: there are two kinds of people in the world, sinners who think they're saints and saints who know that they're sinners. Without lesson one, we might think that we know it all already, and we won't bother very much with lesson two. Or else we'll limit lesson two to corollaries that we can deduce from our own lesson one, which is not Socratic humility and open-mindedness, but only whatever prejudices we have and refuse to examine.
This point about open-mindedness can threaten a believer's faith whenever that faith is fragile and shakeable. But I think only a faith that has been shaken and has endured can be a faith that is unshakeable. And open-mindedness more often changes unbelievers to believers than it changes believers to unbelievers. It changes atheists to agnostics, and makes them open to future revisions, including religious ones.
I think if everyone in the world, believers and unbelievers alike, became much more open-minded seekers of truth, everyone would eventually become a believer. For we have been assured by the very highest authority that all seekers find, eventually. But those who do not seek do not find. Finding does not just happen by accident, anymore than eating does. As mouths need to be opened to be fed, so do minds. Minds cannot be force-fed; there is no intravenous wisdom. As the Koran says, there can be no compulsion in matters of religion.
A corollary of this epistemological point could be called the truth about truth. That truth is an absolute, even if there is no God, no absolute being. And even if there is no other absolute moral law except the law of absolute honesty before truth, man is made for truth. Without this there can be no integrity, no human wholeness. The rest of the things in the universe do not need to have that kind of integrity. Stones have integrity and hold together by merely physical forces, by the integrity of electromagnetism. Plants and animals hold together by their organic unity, by the living, active co-operation of all their organic parts to the single end of growth and health; by the integrity of their DNA. But man becomes one, becomes himself, attains integrity, only by the free fundamental choice to stand in the light of truth, by a fundamental honesty and will to truth, which is the foundation for all communication that is not manipulation. In that word communication we find the word common and the word unity. Man lives in community only by communication, a communication in truth, a common respect for truth.
By the way, in light of this point, I honestly believe that the single most destructive, dehumanizing and dangerous philosophy in the entire history of the world, the only philosophy I cannot see the slightest glimmer of value in, is deconstructionism, which is the denial of truth, and the reduction of all communication to power. Even the Nazis had a sense of truth. Some of them actually believed their strange ideology, unlike the post-war communists. That's why the Nazis had to be defeated by war, while communism simply imploded by itself. And the Nazis even had some sense of honor, even how horribly perverted. But deconstructionism has none of this. Deconstructionism is nothing more than a very sophisticated and scholarly sneer. Deconstructionism's hero is Nietzsche, a Nietzsche I think they make in their own image. And Nietzsche was the first philosopher to explicitly call into question the will to truth. He wrote, "Here is the most dangerous question: Why truth. Why not, rather, untruth?" This is not a mere mistake; this is deliberate. This is demonic. The Nazis may be have been mass murderers, but the deconstructionists are mass sneerers. Murderers may do more harm to their victims, but I think sneerers do more harm to their own souls. The heart of a murderer is nearer to repentance than the heart of a sneerer. A murderer enters the stadium and plays the game of good and evil, though he plays on the evil side. A sneerer refuses even to enter the stadium or play the game. He just stands outside and sneers at both sides.
Third comes the anthropological truth about the intrinsic value of every man. Man is not junk, not trivial. Not absurd, not waste matter. Every thing and every enterprise in human life, including medical enterprises, must serve man, rather than man serving things or enterprises. We eat to live, not live to eat. Even atheists can believe Kant's categorical imperative: Never merely use anyone as a means; always respect everyone as an end. And this can be the basis for a worldwide humanism that is genuine and profound, even though not explicitly religious.
Fourth is the ethical truth about love. Love – the love that is not a mere passing emotion, but a resolved choice of the will, the will to the good of the other, good will, altruism – this kind of love is the highest value in human life. Because only love makes man fully human. Love is not only good ethics; it is good anthropology and good metaphysics, too. It is the way to become more human and more real, as well as more good. A lover augments not only his doing, but his being. Even though love sometimes entails sacrifice, that always pays, deep down in the long run. On your deathbed, you will not regret loving too much. And you will always regret loving too little. He who loses his life for love finds it, even in this life. Even if there is no next life, no resurrection, and no God.

PETER KREEFT in CERC, 2011.02.03