Tempo comum XXIII Semana
Evangelho:
Lc 6, 20-26
20 Levantando os olhos para
os Seus discípulos, dizia: «Bem-aventurados vós os pobres, porque vosso é o
reino de Deus. 21 Bem-aventurados os que agora tendes fome, porque
sereis saciados. Bem-aventurados os que agora chorais, porque haveis de rir. 22
Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos repelirem, vos
carregarem de injúrias e rejeitarem o vosso nome como infame, por causa do
Filho do Homem. 23 Alegrai-vos nesse dia e exultai, porque será
grande a vossa recompensa no céu. Era assim que os pais deles tratavam os
profetas. 24 «Mas, ai de vós, os ricos, porque tendes já a vossa
consolação. 25 Ai de vós os que estais saciados, porque vireis a ter
fome. Ai de vós os que agora rides, porque gemereis e chorareis. 26
Ai de vós, quando todos os homens vos louvarem, porque assim faziam aos falsos
profetas os pais deles.
Comentário:
Poder-se-á
dizer que, este discurso de Jesus – conhecido por ‘Sermão da Montanha’ está
carregado de dramatismo e conflitualidade.
Estabelece
como que uma espécie de confronto entre duas categorias de pessoas ou, talvez,
classes sociais e, de facto, assim se pode admitir porque desde os princípios
da história humana, assim tem acontecido.
Portanto,
Jesus Cristo não faz mais que pôr a nu essas mesmas diferenças, barreiras ou
vãos que separam os homens.
Ao
fazê-lo diz claramente aos que sofrem que encontraram lenitivo junto dele, no
Seu Reino; aos que ignoram estes, ou põem a sua vida ao serviço do bem-estar e
da posse de bens, que, tal, de nada serve, é passageiro e dificulta a
felicidade eterna.
(ama, sobre Lc 6, 20-26, Cascais, 2013.09.11)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
DECLARAÇÃO
PERSONA HUMANA
SOBRE ALGUNS PONTOS DE ÉTICA SEXUAL
11.
Como ficou dito anteriormente, a presente Declaração propõe-se chamar a atenção
dos fiéis, nas circunstâncias actuais, para certos erros e modos de proceder de
que eles devem guardar-se. A virtude da castidade, porém, não se limita a
evitar as faltas indicadas; ela tem ainda exigências positivas e mais elevadas.
É uma virtude que marca toda a personalidade no seu comportamento, tanto interior
como exterior.
A
castidade há-de distinguir as pessoas segundo os diferentes estados de vida:
umas, na virgindade ou no celibato consagrado, maneira eminente de se dedicar
mais facilmente só a Deus, com um coração não dividido; [27] outras, da maneira
que a lei moral determina para elas, conforme forem casados ou celibatários.
Entretanto,
em todo e qualquer estado de vida a castidade não se reduz a uma atitude
exterior; ela deve tornar puro o coração do homem, segundo aquelas palavras de
Cristo: «Ouvistes o que foi dito: "Não cometerás adultério". Eu,
porém, digo-vos: — todo aquele que olhar uma mulher com mau desejo, já cometeu
adultério com ela em seu coração». [28]
A
castidade está incluída naquela «continência» que São Paulo menciona entre os
dons do Espírito Santo, ao mesmo tempo que condena a luxúria como um vício
particularmente indigno para o cristão e que exclui do Reino de Deus. [29]
«Esta é a vontade de Deus: que vos santifiqueis, que vos abstenhais da
fornicação, que saiba cada um possuir o próprio corpo em santidade e em honra,
sem se deixar levar por paixões desregradas, como fazem os gentios, que não
conhecem a Deus; que ninguém nesta matéria use de fraude ou de violência para
com o próprio irmão. Deus, de facto, não nos chamou a viver na impureza, mas na
santidade. Quem despreza estes preceitos, portanto, não despreza um homem, mas
aquele Deus que também difunde o seu Espírito Santo em vós». [30] «A fornicação
e qualquer outra impureza ou baixa cobiça não sejam sequer mencionadas entre
vós, como é próprio dos santos. Porque, sabei-o bem, nenhum fornicador, ou
impudico, ou avarento, que equivale a um idólatra, será herdeiro no reino de
Cristo e de Deus. Que ninguém vos iluda com vãs palavras: por causa desses
vícios abate-se a ira de Deus sobre os desobedientes. Não queirais, pois,
acomunar-vos a eles. Em tempos, éreis trevas, mas, agora, sois luz no Senhor.
Procedei, pois, como filhos da luz». [31]
O
Apóstolo precisa, além disso, a razão propriamente cristã para praticar a
castidade, quando condena o pecado de fornicação, não somente na medida em que
esta acção prejudica o próximo ou a ordem social, mas também porque o
fornicador ofende a Cristo que o resgatou com o seu sangue e do qual é membro,
e o Espírito Santo de quem ele é templo: «Não sabeis que os vossos corpos são
membros de Cristo?... Qualquer outro pecado que o homem cometer é exterior ao
seu corpo; mas o fornicador é contra o seu próprio corpo que peca. Ou não
sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, que vos
foi dado por Deus, e que vós não sois senhores de vós mesmos? Na verdade,
fostes comprados a elevado preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo».
[32]
Quanto
mais os fiéis compreenderem a valor da castidade e a função necessária da
mesma, nas suas vidas de homens e de mulheres, tanto melhor eles captarão, por
uma espécie de instinto espiritual, as exigências e os conselhos e melhor
saberão aceitar e cumprir, dóceis ao ensino da Igreja, aquilo que a consciência
recta lhes ditar nos casos concretos.
12.
O Apóstolo São Paulo descreve com termos bem vigorosos o doloroso conflito que
existe no interior do homem escravo do pecado, entre a «lei da sua razão» e
«uma outra lei nos seus membros» que o retém cativo. [33] Entretanto o homem
pode alcançar ser liberto do «seu corpo de morte» pela graça de Jesus Cristo.
[34]
Desta
graça gozam os homens que ela própria justificou, aqueles mesmos que a lei do
Espírito de vida em Cristo Jesus libertou da lei do pecado e da morte. [35] É
por isso que o Apóstolo os incita: «Não deixeis, pois, que o pecado reine no
vosso corpo mortal, de modo que obedeçais às suas concupiscências». [36]
Esta
libertação, se bem que dê a aptidão para servir numa vida nova, não suprime a
concupiscência proveniente do pecado original, nem as incitações para o mal de
um mundo que «está todo sob o jugo do Maligno». [37] Assim, o Apóstolo estimula
os fiéis a superar as tentações apoiados na força de Deus, [38] e a resistir às
«ciladas do Demónio» [39] pela fé e pela oração vigilante [40] e por uma austeridade
de vida que submeta o corpo ao serviço do Espírito. [41]
Viver
a vida cristã seguindo na esteira de Cristo exige que cada um «renuncie a si
mesmo e tome a sua cruz todos os dias», [42] sustido pela esperança da
recompensa: «Porque ... se morrermos com Ele, também com Ele viveremos; se
perseverarmos, reinaremos com Ele». [43]
Na
linha destes convites instantes, os fiéis, também hoje, e mesmo mais do que
nunca, devem empregar os meios que a Igreja sempre recomendou para levar uma
vida casta: a disciplina dos sentidos e da mente, a vigilância e a prudência
para evitar as ocasiões de quedas, a guarda do pudor, a moderação nas
diversões, as ocupações sãs, o recurso frequente à oração e aos sacramentos da
Penitência e da Eucaristia.
Os
jovens, sobretudo, devem ter o cuidado de fomentar a sua devoção à Imaculada
Mãe de Deus e propor-se como modelo a vida dos Santos e daqueles outros fiéis
cristãos, particularmente dos jovens, que se distinguiram na prática da virtude
da castidade.
Importa,
em particular, que todos tenham um conceito elevado da virtude da castidade, da
sua beleza e da sua força de irradiação. É uma virtude que enobrece o ser
humano e que capacita para um amor verdadeiro, desinteressado, generoso e
respeitoso para com os outros.
13.
Incumbe aos Bispos ensinar aos fiéis a doutrina moral que diz respeito à
sexualidade, sejam quais forem as dificuldades que o cumprimento deste dever
encontre nas ideias e nos costumes difundidos em nossos dias.
Esta
doutrina tradicional terá de ser aprofundada, expressa de maneira apta para
esclarecer as consciências perante as novas situações criadas e enriquecida com
discernimento por aquilo que pode ser dito de verdadeiro e de útil sobre o
sentido e o valor de sexualidade humana. No entanto, os princípios e as normas
de vida moral reafirmados na presente Declaração devem ser fielmente mantidos e
ensinados. Importará, especialmente, procurar fazer com que os fiéis
compreendam que a Igreja os mantém, não como inveteradas e invioláveis «tabus»,
nem em virtude de preconceitos maniqueus, conforme se ouve repetir muitas
vezes, mas sim porque ela sabe com certeza que eles correspondem à ordem divina
da criação e ao espírito de Cristo e, por conseguinte, também à dignidade
humana.
Faz
parte da missão dos Bispos, igualmente, velar por que nas Faculdades de
Teologia e nos Seminários seja exposta uma doutrina sã, à luz da fé e sob a
direcção do Magistério da Igreja. Eles devem cuidar, ainda, de que os
confessores esclareçam as consciências e de que o ensino catequístico seja
ministrado em perfeita fidelidade à doutrina católica.
Aos
Bispos, aos sacerdotes e aos seus colaboradores compete pôr de sobreaviso os
fiéis contra as opiniões erróneas frequentemente propostas em livros, em
revistas e em conferências públicas.
Os
pais em primeiro lugar, como também os educadores da juventude, hão-de
esforçar-se por conduzir os seus filhos e os seus educandos à maturidade
psicológica, afectiva e moral, em conformidade com a sua idade, por meio de uma
educação integral. Para isso dar-lhes-ão uma informação prudente e adaptada à
sua idade e procurarão assiduamente formar-lhes a vontade para os costumes
cristãos, não só com conselhos, mas sobretudo com o exemplo da sua própria vida
e mediante a ajuda de Deus que lhes alcançará a oração. E hão-de ter também o
cuidado de os proteger de numerosos perigos de que os jovens não chegam a
suspeitar.
Os
artistas, os escritores e todos aqueles que dispõem dos meios de comunicação
social devem exercitar a sua profissão de acordo com a sua fé cristã,
conscientes da enorme influência que podem exercer. Hão-de ter sempre presente
que «todos devem respeitar a primazia absoluta da ordem moral objectiva» [44] e
que não se pode dar a preferência sobre ela a nenhum pretenso objectivo
estético, a vantagens materiais ou ao êxito.
Quer
se trate de criações artísticas ou literárias, quer se trate de espectáculos ou
de informações, cada um no seu campo próprio deve dar mostras de tacto, de
discrição, de moderação e de um justo sentido dos valores. Deste modo, longe de
favorecer mais ainda a licença dos costumes, hão-de contribuir para a refrear e
mesmo para sanear o clima moral da sociedade.
Todos
os fiéis leigos, por seu turno, em virtude do seu direito e do seu dever de
apostolado, tomarão a peito trabalhar no mesmo sentido.
Finalmente,
convém recordar a todos que o II Concílio do Vaticano «declara que as crianças
e os adolescentes têm direito a ser estimulados a apreciar rectamente os
valores morais e a prestar-lhes a sua adesão pessoal, bem como a conhecer e a
amar a Deus mais perfeitamente. Por isso, pede encarecidamente a todos os que
governam os povos, ou que estão à frente da educação, que providenciem a fim de
que a juventude nunca se veja privada deste sagrado direito». [45]
Em
Audiência concedida ao abaixo assinado Prefeito da Sagrada Congregação para a
Doutrina da Fé, a 7 de Novembro de 1975, o Sumo- Pontífice, por divina providência
Papa Paulo VI, aprovou esta Declaração « sobre alguns pontos de ética sexual »
confirmou-a e ordenou que a mesma fosse publicada.
Dado
em Roma, na sede da Sagrada Congregação para a Doutrina de Fé, no dia 29 de
Dezembro do ano de 1975.
Franjo
Cardeal Seper
Prefeito
+
Jerónimo Hamer
Arcebispo
titular de Lorium
Secretário
_____________________________
Notas:
[27]
Cfr. 1 Cor. 7, 7. 34; Conc. Ecum. de Trento, Sess. XXIV, can. 10: DS 1810; II
Conc. Ecum. do Vaticano, Const. dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium, nn.
42, 43-44: AAS 51 (1965), pp. 47-51; Synodus Episcoporum, De Sacerdotio
ministeriali, pars II, 4: AAS 63 (1971), pp. 915-916.
[28]
Mt. 5, 28.
[29]
Cfr. Gál. 5, 19-23; 1 Cor. 6, 9-11.
[30]
1 Tess. 4, 3-8; cfr. Col. 3, 5-7; 1 Tim. 1, 10.
[31]
Ef. 5, 3-8; cfr. 4, 18-19.
[32]
1 Cor. 6, 15. 18-19.
[33]
Cfr. Rom. 7, 23.
[34]
Cfr. Rom. 7, 24-25.
[35]
Cfr. Rom. 8, 2.
[36]
Rom. 6, 12.
[37]
1 Jo. 5, 19.
[38]
Cfr. 1 Cor. 10, 13.
[39]
Ef. 6, 11.
[40]
Cfr. Ef. 6, 16. 18.
[41]
Cfr. 1 Cor. 9, 27.
[42]
Lc. 9, 23.
[43]
2 Tim. 2, 11-12.
[44]
II Conc. Ecum. do Vaticano, Decr. sobre os Meios de Comunicação Social, Inter
Mirifica, n. 6: AAS 56 (1964), p. 174.
[45]
II Conc. Ecum. do Vaticano, Decl. sobre a Educação Cristã, Gravissimum
Educationis, n. 1: AAS 58 (1966), p. 730.