Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
08/07/2014
«E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?»
.
.
A
esta pergunta de Jesus, respondemos nós também: «Tu és o Messias, o Filho de
Deus vivo.» Mt 16,16 ?
E,
se respondemos assim, porque o fazemos nós?
Porque
tal nos foi ensinado pelos nossos pais, na catequese, na Bíblia, nos livros que
lemos, no conhecimento que procurámos, na inteligência que nos foi dada, na
emoção do coração?
Se
assim for, ainda bem, mas é pouco, muito pouco, pois precisaríamos de fazer tal
afirmação «porque não foi a carne nem o sangue que no-lo revelou, mas o Pai que
está no Céu.» Mt 16,17
Ou
seja, essa resposta à pergunta, essa afirmação sobre Jesus Cristo, precisa de
vir em primeiro lugar da fé, do acreditar, porque se assim for parte de uma
relação pessoal com Deus, de um encontro pessoal com Cristo, de uma entrega ao
Espírito Santo que nos revela essa Verdade.
Se
assim for, então tudo aquilo que nos foi ensinado pelos nossos pais, na
catequese, na Bíblia, nos livros que lemos, no conhecimento que procurámos, na
inteligência que nos foi dada, na emoção do coração, se transforma numa
vivência diária e coerente da fé, num viver por Cristo, com Cristo e em Cristo.
Então
também Jesus Cristo responderá ao coração de cada um: «És feliz, Joaquim,
Maria, João, Rita ... filhos de Deus!» Mt
16,17
Marinha
Grande, 30 de Junho de 2014
Joaquim Mexia Alves
.
.
«Mãe, ensina-me a ser nada, para que Cristo seja tudo em mim».
Oração que um dia o Espírito Santo quis colocar no meu coração e me esforço para que seja verdade na minha vida.
Ensina-me a relacionar-me com o teu Filho!
Se
não procuras a intimidade com Cristo na oração e no Pão, como podes dá-Lo a
conhecer? (Caminho, 105)
Procura
Deus no fundo do teu coração limpo, puro; no fundo da tua alma, quando lhe és
fiel, e não percas nunca essa intimidade!
E
se, alguma vez, não souberes como falar-lhe nem que dizer-lhe, ou não te
atreveres a procurar Jesus dentro de ti, recorre a Maria, "tota
pulchra", toda pura, maravilhosa, para lhe confiares: - Senhora, nossa
Mãe, Nosso Senhor quis que fosses Tu, com as tuas mãos, quem cuidasse de Deus;
ensina-me - ensina-nos a todos - a relacionar-nos com o teu Filho!! (Forja,
84)
Pequena agenda do cristão
TeRÇa-Feira
(Coisas muito simples, curtas, objectivas)
Propósito:
Aplicação no trabalho.
Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.
Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.
Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.
Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?
Diálogos apostólicos 24 08 Jul
‘Parece-me que ficaste “sentido” com o que te disse na
última conversa; talvez deva explicar-me melhor:
A luta interior é sempre desgastante quando o empenho é
sério e perseverante.
Já me disseste que te apercebeste que não podes
“abrandar” e, uma vez que começaste é para ti “ponto de honra” não desistir.
Muito bem! Mas atenção ao “ponto de honra”!’
‘Mas’ – perguntas – ‘faço mal?’
‘De modo nenhum! Não é disso que se trata mas de ter
claro que ainda que lutes por ti – por assim dizer – convém que o faças,
sobretudo e principalmente, para agradar a Deus que não deixará – se Lho
pedires com confiança – de te ajudar. Olha: E coloca-te nas mãos da Santíssima
Virgem para que te indique um caminho seguro.’
Temas para meditar - 169
Apostolado
Quando seguir Cristo é uma realidade, chega a necessidade de expandir-se, de fazer, de dar, de falar, de transmitir aos outros o tesouro que se tem, o fogo pessoal (...). O apostolado converte-se numa expansão contínua da alma, em exuberância de uma personalidade possuída por Cristo e animada pelo Seu Espírito; e sente-se a urgência de correr, de trabalhar, de tentar todo o possível para a difusão do Reino de Deus, para a salvação dos outros, de todos.
Quando seguir Cristo é uma realidade, chega a necessidade de expandir-se, de fazer, de dar, de falar, de transmitir aos outros o tesouro que se tem, o fogo pessoal (...). O apostolado converte-se numa expansão contínua da alma, em exuberância de uma personalidade possuída por Cristo e animada pelo Seu Espírito; e sente-se a urgência de correr, de trabalhar, de tentar todo o possível para a difusão do Reino de Deus, para a salvação dos outros, de todos.
(PAULO VI, Homília, 1968.10.14)
Bento VXI – Pensamentos espirituais 6
(Cristo) está junto de
cada um de nós, para sempre. Cada um de nós pode tratá-lo por tu; qualquer um
pode chamá-lo. O Senhor está sempre ao alcance da nossa voz. Ainda que nos
afastemos dele interiormente, que vivamos de costas voltadas para Ele, Ele está
sempre à nossa espera e conserva-se perto de nós.
(BENTO XVI, Homilia em São
João de Latrão, 2005.05.07)
Tratado da lei 47
Art.
3 — Se todos os preceitos morais da lei antiga se reduzem aos dez preceitos do
decálogo.
(Infra.
A. 2; IIª-IIae, q. 122, a. 6, ad. 2; III Sent., dist. XXXVII, a. 3; De Malo, q.
14, a. 2, ad 14; Quodl. VII, q. 7, a. 1, ad 8).
O terceiro discute-se assim. — Parece
que nem todos os preceitos morais da lei antiga se reduzem aos dez preceitos do
decálogo.
1. — Pois, os primeiros e principais
preceitos da lei são: Amarás o Senhor teu Deus e amarás o teu próximo, como
está na Escritura (Mt 22, 37-39). Ora, estes dois preceitos não fazem parte dos
do decálogo. Logo, nem todos os preceitos morais estão contidos nos do decálogo.
2. Demais. — Os preceitos morais não
se reduzem aos cerimoniais, mas antes, inversamente. Ora, entre os preceitos do
decálogo, um é cerimonial, a saber: Lembra-te de santificar o dia de sábado.
Logo, os preceitos morais não se reduzem a todos os do decálogo.
3. Demais. — Os preceitos morais
regulam todos os actos da virtude. Ora, os do decálogo abrangem só os actos de
justiça, como claramente verá quem examinar cada um deles. Logo, os preceitos
do decálogo não contêm todos os preceitos morais.
Mas, em contrário, diz a Escritura. —
Bem-aventurados sois quando vos injuriarem — diz a Glosa, que Moisés, depois de
ter proposto os dez preceitos, explicou-os por partes. Logo, todos os preceitos
da lei fazem parte dos preceitos do decálogo.
Os preceitos do decálogo
diferem dos outros preceitos da lei, por, como está dito, terem sido propostos
pelo próprio Deus ao povo; ao passo que os outros Ele os propôs por meio de
Moisés. Donde, pertencem aos preceitos do decálogo aqueles cujo conhecimento o
homem tem, por si mesmo, de Deus. Ora, estes são os que, com pouca reflexão,
podem ser logo conhecidos, como o auxílio dos primeiros princípios comuns; e os
que também se tornam logo conhecidos pela fé divinamente infusa. Logo, entre os
preceitos do decálogo não se contam dois géneros de preceitos. Os primeiros e
comuns, como — a ninguém se deve fazer mal, e outros semelhantes — que não
precisam de nenhuma transmissão, mas, quase evidentes, estão escritos na razão
natural. Nem os que a perquirição diligente dos prudentes considera como pertencentes
à razão; pois esses, Deus, os transmitiu ao povo, mediante o ensinamento dos
prudentes. Ora, ambos estes géneros de preceitos estão contidos nos do
decálogo, mas diversamente. Os primeiros e comuns estão contidos neles como os
princípios, nas conclusões próximas; e os conhecidos por meio dos prudentes,
inversamente, como as conclusões, nos princípios.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Os dois preceitos referidos são preceitos primeiros e comuns da lei da
natureza, quase evidentes à razão humana, pela natureza ou pela fé. Donde,
todos os preceitos do decálogo se referem a esses dois, como conclusões, aos
princípios comuns.
RESPOSTA À SEGUNDA. — O preceito sobre
a observância do Sábado é, de certo modo, moral; pois preceitua que o homem, em
algum tempo, se entregue às coisas de Deus, conforme a Escritura (Sl 45, 11):
Cessai e vede que eu sou o Deus. E assim se contam entre os preceitos do
decálogo. Não porém quanto à determinação do tempo; porque, por aí, é
cerimonial.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A noção de
dívida é, nas outras virtudes, mais lata que na justiça. E assim, os preceitos
referentes aos actos das outras virtudes não são conhecidos do povo como os
preceitos sobre os actos de justiça. E por isso os actos de justiça caem especialmente
sob a alçada dos preceitos do decálogo, que são os primeiros elementos da lei.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
Evangelho, comentário e Leit. Espirit. (Decl. Dominus Iesus)
Evangelho:
Mt 9, 32-38
32 Logo que estes se retiraram, apresentaram-Lhe um mudo possesso do demónio. 33 Expulso o demónio, falou o mudo, e admiraram-se as multidões, dizendo: «Nunca se viu coisa assim em Israel». 34 Os fariseus, porém, diziam: «É pelo príncipe dos demónios que Ele expulsa os demónios». 35 Jesus ia percorrendo todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino, e curando toda a doença e toda a enfermidade. 36 Vendo aquelas multidões, compadeceu-Se delas, porque estavam fatigadas e abatidas, como ovelhas sem pastor. 37 Então disse a Seus discípulos: «A messe é verdadeiramente grande, mas os operários são poucos. 38 Rogai pois ao Senhor da messe, que mande operários para a Sua messe».
Comentário:
A possessão diabólica era, naqueles tempos,
frequente e assumia muitas vezes manifestações bem visíveis e condicionantes
das pessoas.
Era o ‘poder das trevas’ que só vai acabar com a
Morte do Senhor na Cruz.
Neste momento, o demónio é derrotado
definitivamente e perde o seu poder discricionário que, até então, exercia
sobre o mundo.
Ao homem, pela Graça da Ressurreição, Deus oferece
novos meios, ‘armas’, para esta luta que tem de travar e que é constante porque
o maligno não se ‘conforma’ com os foros perdidos e tenta por todos os meios
arrastar o homem para o seu lado.
É a sua forma de combater Aquele que mais odeia: o
Deus Criador e Senhor de todas as coisas.
(ama, comentário sobre Mt 9, 36-38, 2013.07.09)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
DECLARAÇÃO
"DOMINUS IESUS"
SOBRE A UNICIDADE E A UNIVERSALIDADE
SALVÍFICA DE JESUS CRISTO E DA IGREJA
…/4
V.
A IGREJA, REINO DE DEUS E REINO DE CRISTO
18. A missão da Igreja é a
«de anunciar o Reino de Cristo e de Deus e de instaurá-lo entre todos os povos;
desse Reino ela é na terra o germe e o início».68 Por um lado, a
Igreja é «sacramento, isto é, sinal e instrumento da íntima união com Deus e da
unidade do género humano»;69 ela é, portanto, sinal e instrumento do
Reino: chamada a anunciá-lo e a instaurá-lo. Por outro, a Igreja é o «povo
reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo»;70 ela é
portanto «o Reino de Cristo já presente em mistério»,71 constituindo
assim o seu germe e início. O Reino de Deus tem, de facto, uma dimensão escatológica:
é uma realidade presente no tempo, mas a sua plena realização dar-se-á apenas
quando a história terminar ou se consumar.72
Dos textos bíblicos e dos
testemunhos patrísticos, bem como dos documentos do Magistério da Igreja, não
se tiram significados unívocos para as expressões Reino dos Céus, Reino de Deus
e Reino de Cristo, nem para a relação das mesmas com a Igreja, sendo esta um
mistério que não se pode encerrar totalmente num conceito humano. Podem
existir, portanto, diversas explicações teológicas dessas expressões, mas
nenhuma dessas possíveis explicações pode negar ou esvaziar de maneira nenhuma
a conexão íntima entre Cristo, o Reino e a Igreja. Pois, «o Reino de Deus, que
conhecemos pela Revelação não pode ser separado de Cristo nem da Igreja... Se
separarmos o Reino, de Jesus, ficaremos sem o Reino de Deus, por Ele pregado,
acabando por se distorcer quer o sentido do Reino, que corre o risco de se
transformar numa meta puramente humana ou ideológica, quer a identidade de
Cristo, que deixa de aparecer como o Senhor, a quem tudo se deve submeter (cf.
1 Cor 15,27). De igual modo, não podemos separar o Reino, da Igreja. Com
certeza que esta não é fim em si própria, uma vez que se ordena ao Reino de
Deus, do qual é princípio, sinal e instrumento. Mesmo sendo distinta de Cristo
e do Reino, a Igreja todavia está unida indissoluvelmente a ambos».73
19. Afirmar a relação
inseparável entre Igreja e Reino não significa porém esquecer que o Reino de
Deus — mesmo considerado na sua fase histórica — não se identifica com a Igreja
na sua realidade visível e social. Não se deve, de facto, excluir «a obra de
Cristo e do Espírito fora dos confins visíveis da Igreja».74 Daí que
se deva também considerar que « o Reino diz respeito a todos: às pessoas, à sociedade,
ao mundo inteiro. Trabalhar pelo Reino significa reconhecer e favorecer o
dinamismo divino, que está presente na história humana e a transforma.
Construir o Reino quer dizer trabalhar para a libertação do mal, sob todas as
suas formas. Em resumo, o Reino de Deus é a manifestação e a actuação do seu
desígnio de salvação, em toda a sua plenitude».75
Ao considerar as relações
entre Reino de Deus, Reino de Cristo e Igreja hão-de evitar-se sempre as
acentuações unilaterais, como são as «concepções que propositadamente colocam o
acento no Reino, auto-denominando-se de “reino-cêntricas”, pretendendo com isso
fazer ressaltar a imagem de uma Igreja que não pensa em si, mas dedica-se
totalmente a testemunhar e servir o Reino. É uma “Igreja para os outros” — dizem
— como Cristo é o “homem para os outros” [...]. Ao lado de aspectos positivos,
essas concepções revelam frequentemente outros negativos. Antes demais,
silenciam o que se refere a Cristo: o Reino, de que falam, baseia-se num
“teo-centrismo”, porque — como dizem — Cristo não pode ser entendido por quem
não possui a fé n'Ele, enquanto povos, culturas e religiões se podem encontrar
na mesma e única realidade divina, qualquer que seja o seu nome. Pela mesma
razão, privilegiam o mistério da criação, que se reflecte na variedade de
culturas e crenças, mas omitem o mistério da redenção. Mais ainda, o Reino, tal
como o entendem eles, acaba por marginalizar ou desvalorizar a Igreja, como
reacção a um suposto «eclesiocentrismo» do passado, por considerarem a Igreja
apenas um sinal, aliás passível de ambiguidade».76 Tais teses são
contrárias à fé católica, por negarem a unicidade da relação de Cristo e da
Igreja com o Reino de Deus.
VI.
A IGREJA E AS RELIGIÕES NO QUE CONCERNE A SALVAÇÃO
20. De quanto acima se recordou,
resultam ainda alguns pontos necessários para o percurso que a reflexão
teológica deve seguir no aprofundamento da relação da Igreja e das religiões
com a salvação.
Antes de mais, deve
crer-se firmemente que a « Igreja, peregrina na terra, é necessária para a
salvação. Só Cristo é mediador e caminho de salvação; ora, Ele torna-se-nos
presente no seu Corpo que é a Igreja; e, ao inculcar por palavras explícitas a
necessidade da fé e do Baptismo (cf. Mc 16,16; Jo 3,5), corroborou ao mesmo
tempo a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo Baptismo tal como
por uma porta».77 Esta doutrina não se contrapõe à vontade salvífica
universal de Deus (cf. 1 Tim 2,4); daí «a necessidade de manter unidas estas
duas verdades: a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens,
e a necessidade da Igreja para essa salvação».78
A Igreja é «sacramento
universal de salvação»,79 porque, sempre unida de modo misterioso e
subordinada a Jesus Cristo Salvador, sua Cabeça, tem no plano de Deus uma relação
imprescindível com a salvação de cada homem.80 Para aqueles que não
são formal e visivelmente membros da Igreja, «a salvação de Cristo torna-se
acessível em virtude de uma graça que, embora dotada de uma misteriosa relação
com a Igreja, todavia não os introduz formalmente nela, mas ilumina
convenientemente a sua situação interior e ambiental. Esta graça provém de
Cristo, é fruto do seu sacrifício e é comunicada pelo Espírito Santo».81
Tem uma relação com a Igreja, que por sua vez «tem a sua origem na missão do
Filho e na missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai».82
21. Quanto ao modo como a
graça salvífica de Deus, dada sempre através de Cristo no Espírito e em relação
misteriosa com a Igreja, atinge os não cristãos, o Concílio Vaticano II
limitou-se a afirmar que Deus a dá «por caminhos só por Ele conhecidos».83
A teologia esforça-se por aprofundar a questão. Há que encorajar esse esforço
teológico, que sem dúvida serve para aumentar a compreensão dos desígnios
salvíficos de Deus e dos caminhos que os realizam. Todavia, de quanto acima foi
dito sobre a mediação de Jesus Cristo e sobre a «relação única e singular» 84
que a Igreja tem com o Reino de Deus entre os homens — que é substancialmente o
Reino de Cristo Salvador universal —, seria obviamente contrário à fé católica
considerar a Igreja como um caminho de salvação ao lado dos constituídos pelas
outras religiões, como se estes fossem complementares à Igreja, ou até
substancialmente equivalentes à mesma, embora convergindo com ela para o Reino
escatológico de Deus.
Não há dúvida que as
diversas tradições religiosas contêm e oferecem elementos de religiosidade, que
procedem de Deus,85 e que fazem parte de «quanto o Espírito opera no
coração dos homens e na história dos povos, nas culturas e religiões».86
Com efeito, algumas orações e ritos das outras religiões podem assumir um papel
de preparação ao Evangelho, enquanto ocasiões ou pedagogias que estimulam os
corações dos homens a se abrirem à acção de Deus.87 Não se lhes pode
porém atribuir a origem divina nem a eficácia salvífica ex opere operato,
própria dos sacramentos cristãos.88 Por outro lado, não se pode
ignorar que certos ritos, enquanto dependentes da superstição ou de outros
erros (cf. 1 Cor 10,20-21), são mais propriamente um obstáculo à salvação.89
22. Com a vinda de Jesus
Cristo Salvador, Deus quis que a Igreja por Ele fundada fosse o instrumento de
salvação para toda a humanidade (cf. Act 17,30-31).90 Esta verdade de fé nada
tira ao facto de a Igreja nutrir pelas religiões do mundo um sincero respeito,
mas, ao mesmo tempo, exclui de forma radical a mentalidade indiferentista
«imbuída de um relativismo religioso que leva a pensar que “tanto vale uma
religião como outra”».91 Se é verdade que os adeptos das outras
religiões podem receber a graça divina, também é verdade que objectivamente se
encontram numa situação gravemente deficitária, se comparada com a daqueles que
na Igreja têm a plenitude dos meios de salvação.92 Há que lembrar,
todavia, «a todos os filhos da Igreja que a grandeza da sua condição não é para
atribuir aos próprios méritos, mas a uma graça especial de Cristo; se não corresponderem
a essa graça, por pensamentos, palavras e obras, em vez de se salvarem,
incorrerão num juízo mais severo».93 Compreende-se, portanto, que,
em obediência ao mandato do Senhor (cf. Mt 28,19-20) e como exigência do amor
para com todos os homens, a Igreja «anuncia e tem o dever de anunciar
constantemente a Cristo, que é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6), no
qual os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus
reconciliou todas as coisas consigo».94
A missão ad gentes, também
no diálogo inter-religioso, «mantém hoje, como sempre, a sua validade e
necessidade».95 Com efeito, «Deus “quer que todos os homens se
salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tim 2,4): quer a salvação de
todos através do conhecimento da verdade. A salvação encontra-se na verdade. Os
que obedecem à moção do Espírito de verdade já se encontram no caminho da
salvação; mas a Igreja, a quem foi confiada essa verdade, deve ir ao encontro
do seu desejo e oferecer-lha. Precisamente porque acredita no plano universal
de salvação, a Igreja deve ser missionária».96 O diálogo, portanto,
embora faça parte da missão evangelizadora, é apenas uma das acções da Igreja
na sua missão ad gentes.97 A paridade, que é um pressuposto do
diálogo, refere-se à igual dignidade pessoal das partes, não aos conteúdos
doutrinais e muito menos a Jesus Cristo — que é o próprio Deus feito Homem — em
relação com os fundadores das outras religiões. A Igreja, com efeito, movida
pela caridade e pelo respeito da liberdade,98 deve empenhar-se,
antes de mais, em anunciar a todos os homens a verdade, definitivamente
revelada pelo Senhor, e em proclamar a necessidade da conversão a Jesus Cristo
e da adesão à Igreja através do Baptismo e dos outros sacramentos, para
participar de modo pleno na comunhão com Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Aliás, a certeza da vontade salvífica universal de Deus não diminui, antes
aumenta, o dever e a urgência do anúncio da salvação e da conversão ao Senhor
Jesus Cristo.
CONCLUSÃO
23. A presente Declaração,
ao relembrar e esclarecer algumas verdades de fé, quis seguir o exemplo do
Apóstolo Paulo aos fiéis de Corinto: «Pois eu transmiti-vos em primeiro lugar o
mesmo que havia recebido» (1 Cor 15,3). Perante certas propostas problemáticas
ou mesmo erróneas, a reflexão teológica é chamada a reconfirmar a fé da Igreja
e a dar razão da sua esperança de forma convincente e eficaz.
Os Padres do Concílio
Vaticano II, debruçando-se sobre o tema da verdadeira religião, afirmaram:
«Acreditamos que esta única verdadeira religião se verifica na Igreja Católica
e Apostólica, à qual o Senhor Jesus confiou a missão de a difundir a todos os
homens, dizendo aos Apóstolos: “Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações,
baptizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinai-lhes a
cumprir tudo quanto vos mandei” (Mt 28,19-20). Por sua vez, todos os homens
estão obrigados a procurar a verdade, sobretudo no que se refere a Deus e à sua
Igreja, e a abraçá-la e pô-la em prática, uma vez conhecida».99
A revelação de Cristo
continuará a ser na história «a verdadeira estrela de orientação» 100
para toda a humanidade: «A Verdade, que é Cristo, impõe-se como autoridade
universal». 101 O mistério cristão, com efeito, supera qualquer
barreira de tempo e de espaço e realiza a unidade da família humana: «Dos mais
diversos lugares e tradições, todos são chamados, em Cristo, a participar na
unidade da família dos filhos de Deus [...]. Jesus abate os muros de divisão e
realiza a unificação, de um modo original e supremo, por meio da participação
no seu mistério. Esta unidade é tão profunda que a Igreja pode dizer com São
Paulo: “Já não sois estrangeiros nem hóspedes, mas sois concidadãos dos santos
e membros da família de Deus” (Ef 2,19)». 102
O
Sumo Pontífice João Paulo II, na Audiência concedida, a 16 de Junho de 2000, ao
abaixo-assinado Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, com ciência
certa e com a sua autoridade apostólica ratificou e confirmou esta Declaração,
decidida em Sessão Plenária, e mandou que fosse publicada.
Dado
em Roma, sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 6 de Agosto 2000, Festa da
Transfiguração do Senhor.
Joseph
Card. Ratzinger
Prefeito
Tarcisio
Bertone, S.D.B.
Arcebispo
emérito de Vercelli
Secretário
________________________________________
Notas:
(68)
Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 5.
(69)
Ibid., n. 1.
(70)
Ibid., n. 4. Cf. S. Cipriano, De Dominica oratione 23: CCL 3A, 105.
(71)
Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 3.
(72)
Cf. ibid., n. 9. Cf ainda a oração dirigida a Deus, que se lê na Didaché 9, 4:
SC 248, 176: «A tua Igreja se reúna, dos confins da terra, no teu Reino», e
ibid., 10, 5: SC 248, 180: «Lembra-te, Senhor, da tua Igreja...e, santificada,
congrega-a dos quatro ventos no teu Reino, que para ela preparaste».
(73)
João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 18; cf. Exort. apost. Ecclesia
in Asia, n. 17: in « L'Osservatore Romano », 7-11-1999. O Reino é de tal modo
inseparável de Cristo que, em certo sentido, identifica-se com Ele (cf.
Orígenes, In Mt. Hom., 14,7: PG 13, 1197; Tertuliano, Adversus Marcionem, IV,
33,8: CCL 1, 634).
(74)
João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 18.
(75)
Ibid., n. 15.
(76)
Ibid., n. 17.
(77)
Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 14. Cf. Decr. Ad gentes, n.
7; Decr. Unitatis redintegratio, n. 3.
(78)
João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 9. Cf. Catecismo da Igreja
Católica, nn. 846-847.
(79)
Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 48.
(80)
Cf. S. Cipriano, De catholicae ecclesiae unitate, 6: CCL 3, 253-254; S. Ireneu,
Adversus Haereses, III, 24, 1: SC 211, 472-474.
(81)
João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 10.
(82)
Conc. Vaticano II, Decr. Ad gentes, n. 2. É no sentido aqui explicado que se
deve interpretar a conhecida fórmula extra Ecclesiam nullus omnino salvatur
(cf. Conc. Lateranense IV, Cap. 1. De fide catholica: DS 802). Cf. ainda Carta
do Santo Ofício ao Arcebispo de Boston: Denz., n. 3866-3872.
(83)
Conc. Vaticano II, Decr. Ad gentes, n. 7.
(84)
João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 18.
(85)
São as sementes do Verbo divino (semina Verbi), que a Igreja reconhece com
alegria e respeito (cf. Conc. Vaticano II, Decr. Ad gentes, n. 11; Decl. Nostra
aetate, n. 2).
(86)
João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 29.
(87)
Cf. ibid.; Catecismo da Igreja Católica, n. 843.
(88)
Cf. Conc. de Trento, Decr. De sacramentis, can. 8, de sacramentis in genere:
Denz., n. 1608.
(89)
Cf. João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 55.
(90)
Cf. Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 17; João Paulo II, Carta
Enc. Redemptoris missio, n. 11.
(91)
João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 36.
(92)
Cf. Pio XII, Carta Enc. Mystici corporis, Denz., n. 3821.
(93)
Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 14.
(94)
Conc. Vaticano II, Decl. Nostra aetate, n. 2.
(95)
Conc. Vaticano II, Decr. Ad gentes, n. 7.
(96)
Catecismo da Igreja Católica, n. 851; cf. ainda nn. 849-856.
(97)
Cf. João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 55; Exort. apost. Ecclesia
in Asia, n. 31.
(98)
Cf. Conc. Vaticano II, Decl. Dignitatis humanae, n. 1.
(99)
Ibid.
(100)
Cf. João Paulo II, Carta Enc. Fides et ratio, n. 15.
(101)
Ibid., n. 92.
(102)
Ibid., n. 70.
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