08/07/2014

Migalhas para o Caminho


«E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?»

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«E vós, quem dizeis que Eu sou?» Mt 16,13

A esta pergunta de Jesus, respondemos nós também: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.» Mt 16,16 ?

E, se respondemos assim, porque o fazemos nós?
Porque tal nos foi ensinado pelos nossos pais, na catequese, na Bíblia, nos livros que lemos, no conhecimento que procurámos, na inteligência que nos foi dada, na emoção do coração?

Se assim for, ainda bem, mas é pouco, muito pouco, pois precisaríamos de fazer tal afirmação «porque não foi a carne nem o sangue que no-lo revelou, mas o Pai que está no Céu.» Mt 16,17

Ou seja, essa resposta à pergunta, essa afirmação sobre Jesus Cristo, precisa de vir em primeiro lugar da fé, do acreditar, porque se assim for parte de uma relação pessoal com Deus, de um encontro pessoal com Cristo, de uma entrega ao Espírito Santo que nos revela essa Verdade.

Se assim for, então tudo aquilo que nos foi ensinado pelos nossos pais, na catequese, na Bíblia, nos livros que lemos, no conhecimento que procurámos, na inteligência que nos foi dada, na emoção do coração, se transforma numa vivência diária e coerente da fé, num viver por Cristo, com Cristo e em Cristo.

Então também Jesus Cristo responderá ao coração de cada um: «És feliz, Joaquim, Maria, João, Rita ... filhos de Deus!» Mt 16,17



Marinha Grande, 30 de Junho de 2014
Joaquim Mexia Alves
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Ensina-me a relacionar-me com o teu Filho!

Se não procuras a intimidade com Cristo na oração e no Pão, como podes dá-Lo a conhecer? (Caminho, 105)

Procura Deus no fundo do teu coração limpo, puro; no fundo da tua alma, quando lhe és fiel, e não percas nunca essa intimidade!


E se, alguma vez, não souberes como falar-lhe nem que dizer-lhe, ou não te atreveres a procurar Jesus dentro de ti, recorre a Maria, "tota pulchra", toda pura, maravilhosa, para lhe confiares: - Senhora, nossa Mãe, Nosso Senhor quis que fosses Tu, com as tuas mãos, quem cuidasse de Deus; ensina-me - ensina-nos a todos - a relacionar-nos com o teu Filho!! (Forja, 84)

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)





Propósito:
Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?



Diálogos apostólicos 24 08 Jul




Nota: Normalmente, estes “Diálogos apostólicos”, são publicados sob a forma de resumos e excertos de conversas semanais. Hoje, porém, dado o assunto, pareceu-me de interesse publicar quase na íntegra.



‘Parece-me que ficaste “sentido” com o que te disse na última conversa; talvez deva explicar-me melhor:

A luta interior é sempre desgastante quando o empenho é sério e perseverante.
Já me disseste que te apercebeste que não podes “abrandar” e, uma vez que começaste é para ti “ponto de honra” não desistir.

Muito bem! Mas atenção ao “ponto de honra”!’

‘Mas’ – perguntas – ‘faço mal?’

‘De modo nenhum! Não é disso que se trata mas de ter claro que ainda que lutes por ti – por assim dizer – convém que o faças, sobretudo e principalmente, para agradar a Deus que não deixará – se Lho pedires com confiança – de te ajudar. Olha: E coloca-te nas mãos da Santíssima Virgem para que te indique um caminho seguro.’


Temas para meditar - 169

Apostolado

Quando seguir Cristo é uma realidade, chega a necessidade de expandir-se, de fazer, de dar, de falar, de transmitir aos outros o tesouro que se tem, o fogo pessoal (...). O apostolado converte-se numa expansão contínua da alma, em exuberância de uma personalidade possuída por Cristo e animada pelo Seu Espírito; e sente-se a urgência de correr, de trabalhar, de tentar todo o possível para a difusão do Reino de Deus, para a salvação dos outros, de todos.


(PAULO VI, Homília, 1968.10.14)

Bento VXI – Pensamentos espirituais 6



 Junto a nós



(Cristo) está junto de cada um de nós, para sempre. Cada um de nós pode tratá-lo por tu; qualquer um pode chamá-lo. O Senhor está sempre ao alcance da nossa voz. Ainda que nos afastemos dele interiormente, que vivamos de costas voltadas para Ele, Ele está sempre à nossa espera e conserva-se perto de nós.




(BENTO XVI, Homilia em São João de Latrão, 2005.05.07)

Tratado da lei 47

Questão 100: Dos preceitos morais da lei antiga.

Art. 3 — Se todos os preceitos morais da lei antiga se reduzem aos dez preceitos do decálogo.

(Infra. A. 2; IIª-IIae, q. 122, a. 6, ad. 2; III Sent., dist. XXXVII, a. 3; De Malo, q. 14, a. 2, ad 14; Quodl. VII, q. 7, a. 1, ad 8).

O terceiro discute-se assim. — Parece que nem todos os preceitos morais da lei antiga se reduzem aos dez preceitos do decálogo.

1. — Pois, os primeiros e principais preceitos da lei são: Amarás o Senhor teu Deus e amarás o teu próximo, como está na Escritura (Mt 22, 37-39). Ora, estes dois preceitos não fazem parte dos do decálogo. Logo, nem todos os preceitos morais estão contidos nos do decálogo.

2. Demais. — Os preceitos morais não se reduzem aos cerimoniais, mas antes, inversamente. Ora, entre os preceitos do decálogo, um é cerimonial, a saber: Lembra-te de santificar o dia de sábado. Logo, os preceitos morais não se reduzem a todos os do decálogo.

3. Demais. — Os preceitos morais regulam todos os actos da virtude. Ora, os do decálogo abrangem só os actos de justiça, como claramente verá quem examinar cada um deles. Logo, os preceitos do decálogo não contêm todos os preceitos morais.

Mas, em contrário, diz a Escritura. — Bem-aventurados sois quando vos injuriarem — diz a Glosa, que Moisés, depois de ter proposto os dez preceitos, explicou-os por partes. Logo, todos os preceitos da lei fazem parte dos preceitos do decálogo.

Os preceitos do decálogo diferem dos outros preceitos da lei, por, como está dito, terem sido propostos pelo próprio Deus ao povo; ao passo que os outros Ele os propôs por meio de Moisés. Donde, pertencem aos preceitos do decálogo aqueles cujo conhecimento o homem tem, por si mesmo, de Deus. Ora, estes são os que, com pouca reflexão, podem ser logo conhecidos, como o auxílio dos primeiros princípios comuns; e os que também se tornam logo conhecidos pela fé divinamente infusa. Logo, entre os preceitos do decálogo não se contam dois géneros de preceitos. Os primeiros e comuns, como — a ninguém se deve fazer mal, e outros semelhantes — que não precisam de nenhuma transmissão, mas, quase evidentes, estão escritos na razão natural. Nem os que a perquirição diligente dos prudentes considera como pertencentes à razão; pois esses, Deus, os transmitiu ao povo, mediante o ensinamento dos prudentes. Ora, ambos estes géneros de preceitos estão contidos nos do decálogo, mas diversamente. Os primeiros e comuns estão contidos neles como os princípios, nas conclusões próximas; e os conhecidos por meio dos prudentes, inversamente, como as conclusões, nos princípios.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Os dois preceitos referidos são preceitos primeiros e comuns da lei da natureza, quase evidentes à razão humana, pela natureza ou pela fé. Donde, todos os preceitos do decálogo se referem a esses dois, como conclusões, aos princípios comuns.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O preceito sobre a observância do Sábado é, de certo modo, moral; pois preceitua que o homem, em algum tempo, se entregue às coisas de Deus, conforme a Escritura (Sl 45, 11): Cessai e vede que eu sou o Deus. E assim se contam entre os preceitos do decálogo. Não porém quanto à determinação do tempo; porque, por aí, é cerimonial.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A noção de dívida é, nas outras virtudes, mais lata que na justiça. E assim, os preceitos referentes aos actos das outras virtudes não são conhecidos do povo como os preceitos sobre os actos de justiça. E por isso os actos de justiça caem especialmente sob a alçada dos preceitos do decálogo, que são os primeiros elementos da lei.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evangelho, comentário e Leit. Espirit. (Decl. Dominus Iesus)

Tempo comum XIV Semana

Evangelho: Mt 9, 32-38


32 Logo que estes se retiraram, apresentaram-Lhe um mudo possesso do demónio. 33 Expulso o demónio, falou o mudo, e admiraram-se as multidões, dizendo: «Nunca se viu coisa assim em Israel». 34 Os fariseus, porém, diziam: «É pelo príncipe dos demónios que Ele expulsa os demónios». 35 Jesus ia percorrendo todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino, e curando toda a doença e toda a enfermidade. 36 Vendo aquelas multidões, compadeceu-Se delas, porque estavam fatigadas e abatidas, como ovelhas sem pastor. 37 Então disse a Seus discípulos: «A messe é verdadeiramente grande, mas os operários são poucos. 38 Rogai pois ao Senhor da messe, que mande operários para a Sua messe».

Comentário:

A possessão diabólica era, naqueles tempos, frequente e assumia muitas vezes manifestações bem visíveis e condicionantes das pessoas.
Era o ‘poder das trevas’ que só vai acabar com a Morte do Senhor na Cruz.
Neste momento, o demónio é derrotado definitivamente e perde o seu poder discricionário que, até então, exercia sobre o mundo.
Ao homem, pela Graça da Ressurreição, Deus oferece novos meios, ‘armas’, para esta luta que tem de travar e que é constante porque o maligno não se ‘conforma’ com os foros perdidos e tenta por todos os meios arrastar o homem para o seu lado.
É a sua forma de combater Aquele que mais odeia: o Deus Criador e Senhor de todas as coisas.

(ama, comentário sobre Mt 9, 36-38, 2013.07.09)

Leitura espiritual


Documentos do Magistério

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ

DECLARAÇÃO
"DOMINUS IESUS"
SOBRE A UNICIDADE E A UNIVERSALIDADE SALVÍFICA DE JESUS CRISTO E DA IGREJA

…/4

V. A IGREJA, REINO DE DEUS E REINO DE CRISTO

18. A missão da Igreja é a «de anunciar o Reino de Cristo e de Deus e de instaurá-lo entre todos os povos; desse Reino ela é na terra o germe e o início».68 Por um lado, a Igreja é «sacramento, isto é, sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade do género humano»;69 ela é, portanto, sinal e instrumento do Reino: chamada a anunciá-lo e a instaurá-lo. Por outro, a Igreja é o «povo reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo»;70 ela é portanto «o Reino de Cristo já presente em mistério»,71 constituindo assim o seu germe e início. O Reino de Deus tem, de facto, uma dimensão escatológica: é uma realidade presente no tempo, mas a sua plena realização dar-se-á apenas quando a história terminar ou se consumar.72

Dos textos bíblicos e dos testemunhos patrísticos, bem como dos documentos do Magistério da Igreja, não se tiram significados unívocos para as expressões Reino dos Céus, Reino de Deus e Reino de Cristo, nem para a relação das mesmas com a Igreja, sendo esta um mistério que não se pode encerrar totalmente num conceito humano. Podem existir, portanto, diversas explicações teológicas dessas expressões, mas nenhuma dessas possíveis explicações pode negar ou esvaziar de maneira nenhuma a conexão íntima entre Cristo, o Reino e a Igreja. Pois, «o Reino de Deus, que conhecemos pela Revelação não pode ser separado de Cristo nem da Igreja... Se separarmos o Reino, de Jesus, ficaremos sem o Reino de Deus, por Ele pregado, acabando por se distorcer quer o sentido do Reino, que corre o risco de se transformar numa meta puramente humana ou ideológica, quer a identidade de Cristo, que deixa de aparecer como o Senhor, a quem tudo se deve submeter (cf. 1 Cor 15,27). De igual modo, não podemos separar o Reino, da Igreja. Com certeza que esta não é fim em si própria, uma vez que se ordena ao Reino de Deus, do qual é princípio, sinal e instrumento. Mesmo sendo distinta de Cristo e do Reino, a Igreja todavia está unida indissoluvelmente a ambos».73

19. Afirmar a relação inseparável entre Igreja e Reino não significa porém esquecer que o Reino de Deus — mesmo considerado na sua fase histórica — não se identifica com a Igreja na sua realidade visível e social. Não se deve, de facto, excluir «a obra de Cristo e do Espírito fora dos confins visíveis da Igreja».74 Daí que se deva também considerar que « o Reino diz respeito a todos: às pessoas, à sociedade, ao mundo inteiro. Trabalhar pelo Reino significa reconhecer e favorecer o dinamismo divino, que está presente na história humana e a transforma. Construir o Reino quer dizer trabalhar para a libertação do mal, sob todas as suas formas. Em resumo, o Reino de Deus é a manifestação e a actuação do seu desígnio de salvação, em toda a sua plenitude».75

Ao considerar as relações entre Reino de Deus, Reino de Cristo e Igreja hão-de evitar-se sempre as acentuações unilaterais, como são as «concepções que propositadamente colocam o acento no Reino, auto-denominando-se de “reino-cêntricas”, pretendendo com isso fazer ressaltar a imagem de uma Igreja que não pensa em si, mas dedica-se totalmente a testemunhar e servir o Reino. É uma “Igreja para os outros” — dizem — como Cristo é o “homem para os outros” [...]. Ao lado de aspectos positivos, essas concepções revelam frequentemente outros negativos. Antes demais, silenciam o que se refere a Cristo: o Reino, de que falam, baseia-se num “teo-centrismo”, porque — como dizem — Cristo não pode ser entendido por quem não possui a fé n'Ele, enquanto povos, culturas e religiões se podem encontrar na mesma e única realidade divina, qualquer que seja o seu nome. Pela mesma razão, privilegiam o mistério da criação, que se reflecte na variedade de culturas e crenças, mas omitem o mistério da redenção. Mais ainda, o Reino, tal como o entendem eles, acaba por marginalizar ou desvalorizar a Igreja, como reacção a um suposto «eclesiocentrismo» do passado, por considerarem a Igreja apenas um sinal, aliás passível de ambiguidade».76 Tais teses são contrárias à fé católica, por negarem a unicidade da relação de Cristo e da Igreja com o Reino de Deus.

VI. A IGREJA E AS RELIGIÕES NO QUE CONCERNE A SALVAÇÃO

20. De quanto acima se recordou, resultam ainda alguns pontos necessários para o percurso que a reflexão teológica deve seguir no aprofundamento da relação da Igreja e das religiões com a salvação.

Antes de mais, deve crer-se firmemente que a « Igreja, peregrina na terra, é necessária para a salvação. Só Cristo é mediador e caminho de salvação; ora, Ele torna-se-nos presente no seu Corpo que é a Igreja; e, ao inculcar por palavras explícitas a necessidade da fé e do Baptismo (cf. Mc 16,16; Jo 3,5), corroborou ao mesmo tempo a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo Baptismo tal como por uma porta».77 Esta doutrina não se contrapõe à vontade salvífica universal de Deus (cf. 1 Tim 2,4); daí «a necessidade de manter unidas estas duas verdades: a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens, e a necessidade da Igreja para essa salvação».78

A Igreja é «sacramento universal de salvação»,79 porque, sempre unida de modo misterioso e subordinada a Jesus Cristo Salvador, sua Cabeça, tem no plano de Deus uma relação imprescindível com a salvação de cada homem.80 Para aqueles que não são formal e visivelmente membros da Igreja, «a salvação de Cristo torna-se acessível em virtude de uma graça que, embora dotada de uma misteriosa relação com a Igreja, todavia não os introduz formalmente nela, mas ilumina convenientemente a sua situação interior e ambiental. Esta graça provém de Cristo, é fruto do seu sacrifício e é comunicada pelo Espírito Santo».81 Tem uma relação com a Igreja, que por sua vez «tem a sua origem na missão do Filho e na missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai».82

21. Quanto ao modo como a graça salvífica de Deus, dada sempre através de Cristo no Espírito e em relação misteriosa com a Igreja, atinge os não cristãos, o Concílio Vaticano II limitou-se a afirmar que Deus a dá «por caminhos só por Ele conhecidos».83 A teologia esforça-se por aprofundar a questão. Há que encorajar esse esforço teológico, que sem dúvida serve para aumentar a compreensão dos desígnios salvíficos de Deus e dos caminhos que os realizam. Todavia, de quanto acima foi dito sobre a mediação de Jesus Cristo e sobre a «relação única e singular» 84 que a Igreja tem com o Reino de Deus entre os homens — que é substancialmente o Reino de Cristo Salvador universal —, seria obviamente contrário à fé católica considerar a Igreja como um caminho de salvação ao lado dos constituídos pelas outras religiões, como se estes fossem complementares à Igreja, ou até substancialmente equivalentes à mesma, embora convergindo com ela para o Reino escatológico de Deus.

Não há dúvida que as diversas tradições religiosas contêm e oferecem elementos de religiosidade, que procedem de Deus,85 e que fazem parte de «quanto o Espírito opera no coração dos homens e na história dos povos, nas culturas e religiões».86 Com efeito, algumas orações e ritos das outras religiões podem assumir um papel de preparação ao Evangelho, enquanto ocasiões ou pedagogias que estimulam os corações dos homens a se abrirem à acção de Deus.87 Não se lhes pode porém atribuir a origem divina nem a eficácia salvífica ex opere operato, própria dos sacramentos cristãos.88 Por outro lado, não se pode ignorar que certos ritos, enquanto dependentes da superstição ou de outros erros (cf. 1 Cor 10,20-21), são mais propriamente um obstáculo à salvação.89

22. Com a vinda de Jesus Cristo Salvador, Deus quis que a Igreja por Ele fundada fosse o instrumento de salvação para toda a humanidade (cf. Act 17,30-31).90 Esta verdade de fé nada tira ao facto de a Igreja nutrir pelas religiões do mundo um sincero respeito, mas, ao mesmo tempo, exclui de forma radical a mentalidade indiferentista «imbuída de um relativismo religioso que leva a pensar que “tanto vale uma religião como outra”».91 Se é verdade que os adeptos das outras religiões podem receber a graça divina, também é verdade que objectivamente se encontram numa situação gravemente deficitária, se comparada com a daqueles que na Igreja têm a plenitude dos meios de salvação.92 Há que lembrar, todavia, «a todos os filhos da Igreja que a grandeza da sua condição não é para atribuir aos próprios méritos, mas a uma graça especial de Cristo; se não corresponderem a essa graça, por pensamentos, palavras e obras, em vez de se salvarem, incorrerão num juízo mais severo».93 Compreende-se, portanto, que, em obediência ao mandato do Senhor (cf. Mt 28,19-20) e como exigência do amor para com todos os homens, a Igreja «anuncia e tem o dever de anunciar constantemente a Cristo, que é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6), no qual os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou todas as coisas consigo».94

A missão ad gentes, também no diálogo inter-religioso, «mantém hoje, como sempre, a sua validade e necessidade».95 Com efeito, «Deus “quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tim 2,4): quer a salvação de todos através do conhecimento da verdade. A salvação encontra-se na verdade. Os que obedecem à moção do Espírito de verdade já se encontram no caminho da salvação; mas a Igreja, a quem foi confiada essa verdade, deve ir ao encontro do seu desejo e oferecer-lha. Precisamente porque acredita no plano universal de salvação, a Igreja deve ser missionária».96 O diálogo, portanto, embora faça parte da missão evangelizadora, é apenas uma das acções da Igreja na sua missão ad gentes.97 A paridade, que é um pressuposto do diálogo, refere-se à igual dignidade pessoal das partes, não aos conteúdos doutrinais e muito menos a Jesus Cristo — que é o próprio Deus feito Homem — em relação com os fundadores das outras religiões. A Igreja, com efeito, movida pela caridade e pelo respeito da liberdade,98 deve empenhar-se, antes de mais, em anunciar a todos os homens a verdade, definitivamente revelada pelo Senhor, e em proclamar a necessidade da conversão a Jesus Cristo e da adesão à Igreja através do Baptismo e dos outros sacramentos, para participar de modo pleno na comunhão com Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Aliás, a certeza da vontade salvífica universal de Deus não diminui, antes aumenta, o dever e a urgência do anúncio da salvação e da conversão ao Senhor Jesus Cristo.

CONCLUSÃO

23. A presente Declaração, ao relembrar e esclarecer algumas verdades de fé, quis seguir o exemplo do Apóstolo Paulo aos fiéis de Corinto: «Pois eu transmiti-vos em primeiro lugar o mesmo que havia recebido» (1 Cor 15,3). Perante certas propostas problemáticas ou mesmo erróneas, a reflexão teológica é chamada a reconfirmar a fé da Igreja e a dar razão da sua esperança de forma convincente e eficaz.

Os Padres do Concílio Vaticano II, debruçando-se sobre o tema da verdadeira religião, afirmaram: «Acreditamos que esta única verdadeira religião se verifica na Igreja Católica e Apostólica, à qual o Senhor Jesus confiou a missão de a difundir a todos os homens, dizendo aos Apóstolos: “Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações, baptizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinai-lhes a cumprir tudo quanto vos mandei” (Mt 28,19-20). Por sua vez, todos os homens estão obrigados a procurar a verdade, sobretudo no que se refere a Deus e à sua Igreja, e a abraçá-la e pô-la em prática, uma vez conhecida».99

A revelação de Cristo continuará a ser na história «a verdadeira estrela de orientação» 100 para toda a humanidade: «A Verdade, que é Cristo, impõe-se como autoridade universal». 101 O mistério cristão, com efeito, supera qualquer barreira de tempo e de espaço e realiza a unidade da família humana: «Dos mais diversos lugares e tradições, todos são chamados, em Cristo, a participar na unidade da família dos filhos de Deus [...]. Jesus abate os muros de divisão e realiza a unificação, de um modo original e supremo, por meio da participação no seu mistério. Esta unidade é tão profunda que a Igreja pode dizer com São Paulo: “Já não sois estrangeiros nem hóspedes, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Ef 2,19)». 102

O Sumo Pontífice João Paulo II, na Audiência concedida, a 16 de Junho de 2000, ao abaixo-assinado Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, com ciência certa e com a sua autoridade apostólica ratificou e confirmou esta Declaração, decidida em Sessão Plenária, e mandou que fosse publicada.

Dado em Roma, sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 6 de Agosto 2000, Festa da Transfiguração do Senhor.

Joseph Card. Ratzinger
Prefeito

Tarcisio Bertone, S.D.B.
Arcebispo emérito de Vercelli
Secretário     

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Notas:
(68) Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 5.
(69) Ibid., n. 1.
(70) Ibid., n. 4. Cf. S. Cipriano, De Dominica oratione 23: CCL 3A, 105.
(71) Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 3.
(72) Cf. ibid., n. 9. Cf ainda a oração dirigida a Deus, que se lê na Didaché 9, 4: SC 248, 176: «A tua Igreja se reúna, dos confins da terra, no teu Reino», e ibid., 10, 5: SC 248, 180: «Lembra-te, Senhor, da tua Igreja...e, santificada, congrega-a dos quatro ventos no teu Reino, que para ela preparaste».
(73) João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 18; cf. Exort. apost. Ecclesia in Asia, n. 17: in « L'Osservatore Romano », 7-11-1999. O Reino é de tal modo inseparável de Cristo que, em certo sentido, identifica-se com Ele (cf. Orígenes, In Mt. Hom., 14,7: PG 13, 1197; Tertuliano, Adversus Marcionem, IV, 33,8: CCL 1, 634).
(74) João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 18.
(75) Ibid., n. 15.
(76) Ibid., n. 17.
(77) Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 14. Cf. Decr. Ad gentes, n. 7; Decr. Unitatis redintegratio, n. 3.
(78) João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 9. Cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 846-847.
(79) Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 48.
(80) Cf. S. Cipriano, De catholicae ecclesiae unitate, 6: CCL 3, 253-254; S. Ireneu, Adversus Haereses, III, 24, 1: SC 211, 472-474.
(81) João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 10.
(82) Conc. Vaticano II, Decr. Ad gentes, n. 2. É no sentido aqui explicado que se deve interpretar a conhecida fórmula extra Ecclesiam nullus omnino salvatur (cf. Conc. Lateranense IV, Cap. 1. De fide catholica: DS 802). Cf. ainda Carta do Santo Ofício ao Arcebispo de Boston: Denz., n. 3866-3872.
(83) Conc. Vaticano II, Decr. Ad gentes, n. 7.
(84) João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 18.
(85) São as sementes do Verbo divino (semina Verbi), que a Igreja reconhece com alegria e respeito (cf. Conc. Vaticano II, Decr. Ad gentes, n. 11; Decl. Nostra aetate, n. 2).
(86) João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 29.
(87) Cf. ibid.; Catecismo da Igreja Católica, n. 843.
(88) Cf. Conc. de Trento, Decr. De sacramentis, can. 8, de sacramentis in genere: Denz., n. 1608.
(89) Cf. João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 55.
(90) Cf. Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 17; João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 11.
(91) João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 36.
(92) Cf. Pio XII, Carta Enc. Mystici corporis, Denz., n. 3821.
(93) Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 14.
(94) Conc. Vaticano II, Decl. Nostra aetate, n. 2.
(95) Conc. Vaticano II, Decr. Ad gentes, n. 7.
(96) Catecismo da Igreja Católica, n. 851; cf. ainda nn. 849-856.
(97) Cf. João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 55; Exort. apost. Ecclesia in Asia, n. 31.
(98) Cf. Conc. Vaticano II, Decl. Dignitatis humanae, n. 1.
(99) Ibid.
(100) Cf. João Paulo II, Carta Enc. Fides et ratio, n. 15.
(101) Ibid., n. 92.
(102) Ibid., n. 70.