07/03/2019

Pederastia y clero

  • Para abordar con tino esta cuestión basta con leer cierto pasaje del Evangelio de San Mateo. Jesús se pronuncia contra el repudio de la mujer que admitía la ley mosaica «por la dureza de vuestro corazón» y los discípulos llegan a la conclusión de que no compensa casarse. Entonces Jesús, con tácita ironía, se refiere a tres tipos de eunucos (o sea, de hombres que no deben casarse): «Hay eunucos -afirma- que salieron así del vientre de su madre; a otros los hicieron los hombres; y hay quienes se hacen eunucos ellos mismos por el reino de los cielos. El que pueda entender, que entienda».


Cristo establece claramente que, entre estos tres tipos de «eunucos» o personas no aptas para el matrimonio, los únicos que pueden ser dignos sacerdotes son los últimos. ¿Y cuáles son los otros dos? Están, por un lado, los eunucos «que salieron así del vientre su madre». Por supuesto, Jesús no se refiere tan sólo a hombres privados de órganos genitales, ni siquiera tan sólo a los impotentes, sino también a los hombres asexuados o con inclinaciones sexuales torcidas. Todos ellos, no siendo aptos para el matrimonio, tampoco lo son para el sacerdocio. Y la Iglesia, que siempre mostró amor a estos hombres, sin embargo nunca los admitió a las órdenes sacras… salvo cuando la mundanidad delicuescente se infiltró en el corazón de la Iglesia. Así ocurrió, por ejemplo, en el Renacimiento; y así ha ocurrido también durante las últimas décadas.
La segunda categoría de «eunucos» que Cristo descarta para el sacerdocio son los que «hicieron los hombres». Por supuesto, no se refiere sólo a hombres castrados en el sentido literal de la palabra, sino también a hombres en los que se ha reprimido exageradamente su instinto sexual. Y es que la castidad, como enseña Santo Tomás, o es un paso del camino o se convierte tarde o temprano en un vicio. La castidad, cuando es mera continencia obligatoria, deforma el carácter y perturba la sensibilidad; y acaba engendrando monstruos. Castellani se refería a los curas que practican esta castidad falsa y perversa con los epítetos más feroces: «Cautelosos como gatos, fríos como culebras, reservados como crustáceos»… y a veces también depredadores y rapaces.
Jesús establece que sólo pueden ser sacerdotes quienes se hacen eunucos por el reino de los cielos. O sea, los hombres que ordenan su castidad a la contemplación; los hombres que saben que la castidad no es un fin, sino que es el camino que los eleva y -como afirma Santo Tomás en su Suma contra gentiles- los hermana con los ángeles. Sólo esta castidad dirigida a la contemplación es virtud verdadera; y para dirigirla a esa perfección el sacerdote debe esforzarse mucho en la oración. Tengo la completa certeza de que ciertos activismos desnortados a los que algunos sacerdotes se han entregado en las últimas décadas han contribuido a extender el mal que ahora nos muestra su horror. Hace unos días, el diario El País publicaba el testimonio de una víctima de las aproximaciones torpes de un religioso. Y la víctima terminaba así su testimonio: «Hacía muchas actividades, no paraba, pero nunca le vi rezar».
Yo he tenido la suerte de conocer a muchos buenos (y a veces excelentes) curas que se hicieron eunucos por el reino de los cielos. Me han salvado en muchas ocasiones, me han derramado consuelo y paz espirituales, han traído mucha luz a mi pobre vida pecadora. En ellos eh contemplado muchas veces a Cristo: en su alegría, en su sufrimiento y abnegación, en su ardor apostólico, en su bonhomía y mansedumbre, también en su santa ira. Y todos ellos son varones cabales, muy viriles y rezadores; que es, al fin y a la postre, lo que hace falta para ser buen cura.

El Reto del Amor









por El Reto del amor

Quaresma 2019– ideias prácticas e básicas

Quaresma

Neste período que começou na Quarta-Feira de Cinzas e termina na Quarta-Feira da Semana Santa, somos convidados a fazer o confronto especial entre as nossas vidas e a mensagem cristã expressa nos Evangelhos. Este confronto deve levar-nos a aprofun-dar a compreensão da Palavra de Deus e a intensificar a prática dos princípios essenciais da fé.
É um tempo de transformação, em que nos devemos exercitar espiritualmente para podermos melhorar. É um tempo de alegria, em que devemos estar atentos às oportunidades de mais amar.

Oração – para aprofundar e melhorar a minha relação com Deus. Trata-se de dar mais tempo e tempo de qualidade ao meu relacionamento com o Pai.
Esmola – para melhor amar e melhorar a minha relação com os outros. Estar atento aos que me rodeiam (Família, amigos, colegas de trabalho) e também aos que estão mais longe, mas que têm algum tipo de necessidades.
Jejum – para adquirir maior liberdade interior. Procurar as minhas dependências, aquelas que me limitam, afastam os outros, e tentar combatê-las.

Alguns exemplos destas três práticas:

Oração
(como, quanto tempo, de que maneira)
Esmola
(ir ao encontro do outro de forma positiva)
Jejum
(libertar de manias, preconceitos, vícios)
Meditação
Ajudar financeiramente pessoas vítimas da actual crise
Abster-se de beber ou comer o que nos dá maior prazer.
Exame de consciência
Dar atenção a alguém
Televisão
Eucaristia
Ajudar instituições de cariz social
Determinado tipo de conversas
Reconciliação
Agradecer
Show off
Rezar o terço
Dizer coisas positivas
Comentar ou fazer juízos de valor sobre o próximo
Rezar pelos outros
Um sorriso
Evitar compras desnecessárias
Fazer silêncio no meu dia
Visitar um doente, um idoso.
Computador

E, no fim do dia, pensar em algo que fiz bem e em algo que poderia ter feito melhor.


(Síntese elaborada com base na Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2017)

Formação humana e cristã – 130

2.1.2

O trabalho

Eu trabalho continuamente como o Meu Pai trabalha sem descanso!

Com estas palavras, Jesus Cristo eleva o trabalho - qualquer que seja - à máxima dignidade e o trabalhador comparável a Ele próprio.

‘Não tenho nada que fazer'; 'estou desempregado'; ´já atingi a refor­ma'.

Ouvem-se muito estas afirmações como justificação para não fazer nada, não trabalhar.

O que tem a ver o trabalho com a situação que se vive?

Absolutamente nada porque o trabalho não tem que ser apenas o exercício de uma actividade, profissional ou não, é antes, um estado de alma, de ânimo interior que nos deve levar a afastar-nos do ócio.

Tantas "razões" que se aduzem para não fazer absolutamente nada, ir deixando andar a vida e... depois... logo se vê!

Mas... depois... quando?

Este é o verdadeiro cerne da questão: quando?

Falando claro, não é sério deixar de fazer o que tem de ser feito para uma outra altura qualquer e isto muito simplesmente porque não sabemos, não podemos sequer supor que esse "mais tarde", virá a surgir ou não.


O que depende de nós, da nossa vontade é o momento presente em que a nossa actuação é decisiva para cumprir o que devemos.
Jesus Cristo nunca disse para fazer-mos o que seja num momento qualquer bem ao contrário insistiu sempre que nos apressássemos a actuar sem demora porque o tempo urge e não sabemos nem o dia nem a hora em que nos chamará.


Qualquer trabalho, já o dissemos, é digno, mas se não for executado com o melhor do nosso esforço em inteira liberdade de opção, não será digno de oferta a Deus que é o que nos interessa.

Ao aceitar o nosso trabalho o Senhor transforma-o em "créditos" a nosso favor muito convenientes na hora de prestarmos contas.

Pergunto-me a mim próprio:
Bom!

Mas, o meu trabalho qual é, que deve ser?

Tenho a certeza que o meu trabalho actual é o apostolado.

A ele dedico o melhor do meu esforço das minhas capacidades.

“Nunc Coepi” é o meu trabalho de apostolado que "atinge" centenas (milhares) de pessoas em quase todo o mundo.

Faço-o, tenho de o fazer, com todo o rigor não descurando detalhes nem transigindo com "pressas", não me envaidecendo ou procurando protagonismo, o talento que Deus me deu é para pôr ao Seu serviço e não para minha satisfação pessoal.

Para mim é uma preocupação constante e penso que assim deve conti­nuar.

(cont)     
AMA, reflexões

Evangelho e comentário




TEMPO DE CINZAS



Evangelho: Lc 9, 22-25

22 acrescentou: «O Filho do Homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos-sacerdotes e pelos doutores da Lei, tem de ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar.» 23 Depois, dirigindo-se a todos, disse: «Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me. 24 Pois, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá-la. 25 Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, perdendo-se ou condenando-se a si mesmo?

Comentário:

Parece um “plano” catastrófico este discurso do Senhor.
Tem de ser rejeitado e morto e, só depois, há-de ressuscitar em plena glória para, assim completar a Sua obra da salvação da humanidade.

Quanto aos que O querem acompanhar, nada mais natural que se disponham a segui-Lo em tudo nesta vida para poderem, enfim, segui-Lo também na Vida eterna.

Disse “plano catastrófico” mas, de facto, é um plano de Amor supremo, completo, total:

O Senhor Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade oferece a Sua vida pela salvação de todos nós, a minha também e mesmo daqueles que não O aceitam ou seguem.

(AMA, comentário sobre Lc 9, 22-25, 11.12.2018)


E, com esse convívio, gerar-se-á o Amor


O único meio de conhecer Jesus: privar com Ele! N'Ele encontrarás sempre um Pai, um Amigo, um Conselheiro e um Colaborador para todas as actividades honestas da tua vida quotidiana... E, com esse convívio, gerar-se-á o Amor. (Sulco, 662)

Se procuras meditar, o Senhor não te negará a sua assistência. Fé e obras de fé! Obras, porque o Senhor – tu já reparaste nisso desde o princípio e eu já to fiz notar a seu tempo – cada dia é mais exigente. Isto já é contemplação e união; e assim há-de ser a vida de muitos cristãos, avançando cada um pela sua própria via espiritual – são infinitas – no meio dos afazeres deste mundo, mesmo sem se darem conta disso.

Uma oração e uma conduta que não nos afastam das nossas actividades correntes, que nos conduzem a Nosso Senhor no meio dos nossos nobres empenhos terrenos. Ao elevar a Deus todas essas ocupações, a criatura diviniza o mundo. Tenho falado tantas vezes do mito do rei Midas que convertia em ouro tudo aquilo em que tocava! Podemos converter em ouro de méritos sobrenaturais tudo o que tocamos, apesar dos nossos erros pessoais.

Assim actua o Nosso Deus. Quando aquele filho regressa, depois de ter gasto o seu dinheiro, vivendo mal, depois – sobretudo – de se ter esquecido do pai, o pai diz: depressa, trazei aqui o vestido mais rico e vesti-lho e colocai-lhe um anel no dedo; calçai-lhe as sandálias. Tomai um vitelo gordo, matai-o e comamos e celebremos um banquete. O Nosso Pai, Deus, quando recorremos a Ele com arrependimento, tira riqueza da nossa miséria e força da nossa debilidade. Que preparará para nós, se não O abandonarmos, se O procurarmos todos os dias, se Lhe dirigirmos palavras carinhosas confirmadas pelas nossas acções, se Lhe pedirmos tudo, confiados na Sua omnipotência e na Sua misericórdia? (Amigos de Deus, nn. 308–309)

Pequena agenda do cristão

Quinta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Participar na Santa Missa.


Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


Lembrar-me:
Comunhões espirituais.


Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?






OS SETE DOMINGOS DE SÃO JOSÉ

Resultado de imagem para são joséDEVOÇÃO A S. JOSÉ

OS SETE DOMINGOS


ou 7 Dores e Alegrias de S. José





VI - A sexta dor e alegria de S. José

A sua dor quando receava regressar à sua terra; a sua alegria ao ser avisado pelo anjo para regressar a Nazaré.

"E foi morar numa cidade chamada Nazaré, para se cumprir o que fora anunciado pelos profetas: Será chamado Nazareno."[i]

“José amou Jesus como um pai ama o seu filho, tratou-o dando-Lhe tudo o que de melhor tinha. José, cuidando daquele Menino como lhe tinha sido ordenado, fez de Jesus um artesão: transmitiu-Lhe o seu ofício... Jesus trabalhou na oficina de José e junto de José."[ii]



[i] Mt 2,23
[ii] Ibid., n. 55

Leitura espiritual



EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL

AMORIS LÆTITIA

DO SANTO PADRE FRANCISCO

AOS BISPOS AOS PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS

ÀS PESSOAS CONSAGRADAS AOS ESPOSOS CRISTÃOS E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS SOBRE O AMOR NA FAMÍLIA 

CAPÍTULO II
A REALIDADE E OS DESAFIOS DAS FAMÍLIAS.

A situação actual da família

37. Durante muito tempo pensámos que, com a simples insistência em questões doutrinais, bioéticas e morais, sem motivar a abertura à graça, já apoiávamos suficientemente as famílias, conso­lidávamos o vínculo dos esposos e enchíamos de sentido as suas vidas compartilhadas. Temos dificuldade em apresentar o matrimónio mais como um caminho dinâmico de crescimento e realização do que como um fardo a carregar a vida inteira. Também nos custa deixar espaço à consciência dos fiéis, que muitas vezes respondem o melhor que podem ao Evangelho no meio dos seus limites e são capazes de realizar o seu próprio discernimento perante situações onde se rompem todos os esquemas. Somos chamados a formar as consciências, não a pretender substituí-las.

38. Devemos dar graças pela maioria das pessoas valorizar as relações familiares que querem permanecer no tempo e garantem o respeito pelo outro. Por isso, aprecia-se que a Igreja ofereça espaços de apoio e aconselhamento sobre questões relacionadas com o crescimento do amor, a superação dos conflitos e a educação dos filhos. Muitos estimam a força da graça que experimentam na Reconciliação sacramental e na Eucaristia, que lhes permite enfrentar os desafios do matrimónio e da família. Nalguns países, especialmente em várias partes da África, o secularismo não conseguiu enfraquecer alguns valores tradicionais e, em cada matrimónio, gera-se uma forte união entre duas famílias alargadas, onde se conserva ainda um sistema bem definido de gestão de conflitos e dificuldades. No mundo actual, aprecia-se também o testemunho dos cônjuges que não se limitam a perdurar no tempo, mas continuam a sustentar um projecto comum e conservam o afecto. Isto abre a porta a uma pastoral positiva, acolhedora, que torna possível um aprofundamento gradual das exigências do Evangelho. No entanto, muitas vezes agimos na defensiva e gastámos as energias pastorais multiplicando os ataques ao mundo decadente, com pouca capacidade de propor e indicar caminhos de felicidade. Muitos não sentem a mensagem da Igreja sobre o matrimónio e a família como um reflexo claro da pregação e das atitudes de Jesus, o qual, ao mesmo tempo que propunha um ideal exigente, não perdia jamais a proximidade compassiva às pessoas frágeis como a samaritana ou a mulher adúltera.

39. Isto não significa deixar de advertir a decadência cultural que não promove o amor e a doação. As consultações que antecederam os dois últimos Sínodos trouxeram à luz vários sintomas da «cultura do provisório». Refiro-me, por exemplo, à rapidez com que as pessoas passam duma relação afectiva para outra. Crêem que o amor, como acontece nas redes sociais, se possa conectar ou desconectar ao gosto do consumidor e inclusive bloquear rapidamente. Penso também no medo que desperta a perspectiva dum compromisso permanente, na obsessão pelo tempo livre, nas relações que medem custos e benefícios e mantêm-se apenas se forem um meio para re­mediar a solidão, ter protecção ou receber algum serviço. Transpõe-se para as relações afectivas o que acontece com os objectos e o meio ambiente: tudo é descartável, cada um usa e joga fora, gasta e rompe, aproveita e espreme enquanto serve; depois… adeus. O narcisismo torna as pessoas incapazes de olhar para além de si mesmas, dos seus desejos e necessidades. Mas quem usa os outros, mais cedo ou mais tarde acaba por ser usado, manipulado e abandonado com a mesma lógica. Faz impressão ver que as rupturas ocorrem, frequentemente, entre adultos já de meia-idade que buscam uma espécie de «autonomia» e rejeitam o ideal de envelhecer juntos cuidando-se e apoiando-se.

40. «Correndo o risco de simplificar, poderemos dizer que vivemos numa cultura que impele os jovens a não formarem uma família, porque privam-nos de possibilidades para o futuro. Mas esta mesma cultura apresenta a outros tantas opções que também eles são dissuadidos de formar uma família».[i] Nalguns países, muitos jovens «são frequentemente levados a adiar o matrimónio por problemas de tipo económico, laboral ou de estudo. Às vezes também por outros motivos, tais como a influência das ideologias que desvalorizam o matrimónio e a família, a experiência do fracasso de outros casais a que eles não se querem expor, o medo de algo que consideram demasiado grande e sagrado, as oportunidades sociais e os benefícios económicos derivados da convivência, uma concepção puramente emotiva e romântica do amor, o medo de perder a liberdade e a autonomia, a rejeição de tudo o que possa ser concebido como institucional e burocrático»[ii]. Precisamos de encontrar as palavras, as motivações e os testemunhos que nos ajudem a tocar as cordas mais íntimas dos jovens, onde são mais capazes de generosidade, de compromisso, de amor e até mesmo de heroísmo, para convidá-los a aceitar, com entusiasmo e coragem, o desafio de matrimónio.

41. Os Padres sinodais aludiram a certas «tendências culturais que parecem impor uma afectividade sem qualquer limitação, (…) uma afectividade narcisista, instável e mutável que não ajuda os sujeitos a atingir uma maior maturidade». Preocupa a «difusão da pornografia e da comercialização do corpo, favorecida, entre outras coisas, por um uso distorcido da internet» e pela «situação das pessoas que são obrigadas a praticar a prostituição. Neste contexto, por vezes os casais sentem-se inseguros, indecisos, cus­tando-lhes encontrar as formas para crescer. Muitos são aqueles que tendem a ficar nos estádios primários da vida emocional e sexual. A crise do casal destabiliza a família e pode chegar, através das separações e dos divórcios, a ter sérias consequências para os adultos, os filhos e a sociedade, enfraquecendo o indivíduo e os laços sociais»[iii]. As crises conjugais são «enfrentadas muitas vezes de modo apressado e sem a coragem da paciência, da averiguação, do perdão recíproco, da reconciliação e até do sacrifício. Deste modo os falimentos dão origem a novas relações, novos casais, novas uniões e novos casamentos, criando situações familiares complexas e problemáticas para a opção cristã»[iv].

42. «A própria queda demográfica, causada por uma mentalidade anti natalista e promovida pelas políticas mundiais de saúde reprodutiva, não só determina uma situação em que a sucessão das gerações deixa de estar garantida, mas corre-se o risco de levar, com o tempo, a um empobrecimento económico e a uma perda de esperança no futuro. O avanço das biotecnologias também teve um forte impacto sobre a natalidade»[v]. Podem juntar-se outros factores, como «a industrialização, a revolução sexual, o temor da superpopulação, os problemas económicos (...). A sociedade de consumo também pode dissuadir as pessoas de ter filhos, só para manter a sua liberdade e estilo de vida»[vi]. É verdade que a consciência recta dos esposos, quando foram muito generosos na transmissão da vida, pode orientá-los para a decisão de limitar o número dos filhos por razões suficientemente sérias; e também «por amor desta dignidade da consciência, a Igreja rejeita com todas as suas forças as intervenções coercitivas do Estado a favor da contracepção, da esterilização e até mesmo do aborto»[vii]. Estas medidas são inaceitáveis mesmo em áreas com alta taxa de natalidade, mas é notável que os políticos as incentivem também nalguns países que sofrem o drama duma taxa de natalidade muito baixa. Como assinalaram os bispos da Coreia, isto é «agir de forma contraditória e negligenciando o próprio dever»[viii].

43. O enfraquecimento da fé e da prática religiosa, nalgumas sociedades, afecta as famílias, deixando-as ainda mais sós com as suas dificuldades. Os Padres disseram que «uma das maiores pobrezas da cultura actual é a solidão, fruto da ausência de Deus na vida das pessoas e da fragilidade das relações. Há também uma sensação geral de impotência face à realidade socio­económica que, muitas vezes, acaba por esmagar as famílias. (...) Frequentemente as famílias sentem-se abandonadas pelo desinteresse e a pouca atenção das instituições. As consequências negativas sob o ponto de vista da organização social são evidentes: da crise demográfica às dificuldades educativas, da fadiga em acolher a vida nascente ao sentir a presença dos idosos como um peso, até à difusão dum mal-estar afectivo que às vezes chega à violência. O Estado tem a responsabilidade de criar as condições legislativas e laborais para garantir o futuro dos jovens e ajudá-los a realizar o seu projecto de formar uma família»[ix].

44. A falta duma habitação digna ou adequada leva muitas vezes a adiar a formalização duma relação. É preciso lembrar que «a família tem direito a uma habitação condigna, apropriada para a vida familiar e proporcional ao número dos seus membros, num ambiente fisicamente sadio que proporcione os serviços básicos para a vida da família e da comunidade».[x] Uma família e uma casa são duas realidades que se reclamam mutuamente. Este exemplo mostra que devemos insistir nos direitos da família, e não apenas nos direitos individuais. A família é um bem de que a sociedade não pode prescindir, mas precisa de ser protegida[xi]. A defesa destes direitos é «um apelo profético a favor da instituição familiar, que deve ser respeitada e defendida contra toda a agressão»[xii], sobretudo no contexto actual em que habitualmente ocupa pouco espaço nos projectos políticos. As famílias têm, entre outros direitos, o de «poder contar com uma adequada política familiar por parte das autoridades públicas no campo jurídico, económico, social e fiscal» [xiii]. Às vezes as angústias das famílias tornam-se dramáticas, quando têm de enfrentar a doença de um ente querido sem acesso a serviços de saúde adequados, ou quando se prolonga o tempo sem ter conseguido um emprego decente. «As coerções económicas excluem o acesso das famílias à educação, à vida cultural e à vida social activa. O actual sistema económico produz várias formas de exclusão social. As famílias sofrem de modo particular com os problemas relativos ao trabalho. As possibilidades para os jovens são poucas e a oferta de trabalho é muito selectiva e precária. As jornadas de trabalho são longas e, muitas vezes, agravadas pelo tempo gasto na deslocação. Isto não ajuda os esposos a encontrar-se entre si e com os filhos, para alimentar diaria­mente as suas relações»[xiv].

(cont)

(revisão da versão portuguesa por AMA)



[i] Francisco, Discurso ao Congresso dos Estados Unidos da América (24 de Setembro de 2015): L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 01/X/2015), 9.
[ii] Relatio Finalis 2015, 29.
[iii] Relatio Synodi 2014, 10.
[iv] III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, Mensagem (18 de Outubro de 2014): L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 23/X/2014), 7.
[v] Relatio Synodi 2014, 10.
[vi] Relatio Finalis 2015, 7.
[vii] Ibid., 63.
[viii] 21 Conferência dos Bispos católicos da Coreia, Towards a culture of life! (15 de Março de 2007).
[ix] Relatio Synodi 2014, 6.
[x] Pont. Conselho para a Família, Carta dos direitos da família (22 de Outubro de 1983), 11.
[xi] Cf. Relatio Finalis 2015, 11-12.
[xii] Pont. Conselho para a Família, Carta dos direitos da família (22 de Outubro de 1983), introdução.
[xiii] Ibid., 9.
[xiv] Relatio Finalis 2015, 14.