12/06/2014

Pequena agenda do cristão

Quinta-Feira






(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Participar na Santa Missa.


Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


Lembrar-me:
Comunhões espirituais.


Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?



Temas para meditar 143



Humildade e Fé


A fé não é própria dos soberbos, mas dos humildes.




(Stº agostinho - cit em Catena Áurea vol. VI pg. 292)

Reflectindo - 24

      Reflectindo

Mergulho

A cor da água era indecifrável: tão depressa verde brilhante como um azul profundo, misterioso.
Eu movia-me como que voando, mal agitando os braços, mas com uma direcção estranhamente fixa: para baixo... sempre para baixo.
Admirava-me muito de não ver o fundo de coisa nenhuma e, também, não ver nada nadando ao meu lado: nem peixes, cetáceos...ou qualquer outro animal marinho.
E, não tinha muitas dúvidas, eu estava em pleno mar... num mergulho profundo, decidido, fantástico! E, no entanto, parecia-me estar só, absolutamente só naquela imensidão de que não adivinhava nem o princípio nem o fim.
Sentia-me bastante à vontade, não tinha medo ou receio, - o que não deixava de ser estranho: o mar infundiu-me sempre enormíssimo respeito - não tinha noção de dimensões: altura, largura, espessura... nada!
Como poderia ser? Como respirava? Como...?
Não tenho respostas para dar a estas - e outras numerosíssimas - perguntas.
Ocorre-me apenas, que neste sonho, vislumbrei a imensidão de Deus!
E... desejei repetir o "mergulho".

(ama, reflexões, 2004)


Tratado da lei 21

Questão 95: Da Lei humana

Art. 3 — Se Isidoro expõe convenientemente a qualidade da lei positiva.

O terceiro discute-se assim. — Parece que Isidoro expõe inconvenientemente as qualidades da lei positiva, dizendo: A lei há-de ser honesta, justa, possível, natural, conforme aos costumes pátrios, conveniente ao lugar e ao tempo, necessária, útil e também clara, de modo a não iludir pela obscuridade; escrita, não para a utilidade privada, mas para a utilidade comum dos cidadãos.

1. — Pois, antes, atribuía à qualidade de lei três condições, dizendo: Lei será tudo o que estiver de acordo com a razão; que, ao menos, concorde com a religião, convenha à disciplina, aproveite à salvação. Portanto, é superfluamente que, depois, multiplica as condições da lei.

2. Demais. — A justiça faz parte da honestidade, como diz Túlio. Logo, depois de ter dito — honesta, superfluamente acrescenta — justa.

3. Demais. — A lei escrita, segundo Isidoro, divide-se do costume, por oposição. Logo, não devia dizer, na definição da lei — conforme ao costume pátrio.

4. Demais. — Necessário tem dupla acepção. Numa é o que, sendo-o absolutamente, não pode sofrer mudança; e esta necessidade, não dependendo do juízo humano, não pertence à lei humana. Mas, noutra acepção, pode ser necessário o que tende para um fim, e tal necessidade é o mesmo que utilidade. Logo, é supérfluo dizer — necessária e útil.

Mas, em contrário, é a autoridade do próprio Isidoro.

A forma de um ser, que tende para um fim, há-de necessariamente ser determinada por proporção com esse fim. Assim, a forma de uma serra há-de ser tal que sirva para cortar, como está claro em Aristóteles. Assim também, tudo o que é recto e medido há de necessariamente ter a forma proporcionada à sua regra e medida. Ora, uma e outra coisa se encontram na lei humana; pois, ordena-se a um fim; e é uma regra ou medida, regulada ou medida por uma medida superior. E esta é dupla a saber, a lei divina e a lei da natureza, como do sobredito resulta (a. 2; q. 93, a. 3). Ora, o fim da lei humana é a utilidade dos homens, como também o diz o jurisconsulto. Por isso Isidoro discriminou, em primeiro lugar, três condições da lei: ser concorde com a religião, enquanto proporcionada à lei divina; conveniente a disciplina, enquanto proporcionada à lei da natureza; aproveitar à salvação enquanto proporcionada à utilidade humana.

E a estas três se reduzem todas as outras condições, referidas em seguida. Assim, a denominação de honesta se refere a ser concorde com a religião; o que acrescenta — justa, possível, natural, conforme aos costumes pátrios, conveniente ao lugar e ao tempo, tudo se reduz a ser conveniente à disciplina. Pois, a disciplina humana se refere, primeiro, à ordem da razão, que está incluída na palavra — justa. Segundo, à faculdade do agente. Pois, a disciplina deve convir a cada um, segundo a sua possibilidade, observada a possibilidade da natureza. Assim, não se pode impor às crianças o mesmo que se impõe aos homens perfeitos. E ela ser deve conforme aos costumes humanos, pois, o homem não pode, só, viver em sociedade, sem conformar os seus costumes com os dos outros. Terceiro quanto às circunstâncias devidas, Isidoro diz — conveniente ao lugar e ao tempo. E o que acrescenta — necessária, útil, etc. — se refere ao que importa à salvação. De modo que a necessidade se refere à remoção dos males; a utilidade, à consecução dos bens; a clareza acautela contra danos que poderiam provir da própria lei. E, ordenando-se a lei para o bem comum, como já dissemos (q. 90, a. 2), esta mesma condição está exposta na última parte da enumeração.

Donde se deduzem claras as RESPOSTAS ÀS OBJECÇÕES.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evangelho diário, comentário e leitura espiritual (A Paciência 2)


Tempo comum X Semana

Evangelho: Mt 5, 20-26

20 Porque Eu vos digo que, se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus. 21 «Ouvistes que foi dito aos antigos: “Não matarás”, e quem matar será submetido ao juízo do tribunal. 22 Porém, Eu digo-vos que todo aquele que se irar contra o seu irmão, será submetido ao juízo do tribunal. E quem chamar cretino a seu irmão será condenado pelo sinédrio. E quem lhe chamar louco será condenado ao fogo da Geena. 23 Portanto, se estás para fazer a tua oferta diante do altar, e te lembrares ali que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24 deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem fazer a tua oferta. 25 Concilia-te sem demora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para que não suceda que esse adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao guarda, e sejas metido na prisão. 26 Em verdade te digo: Não sairás de lá antes de ter pago o último centavo.

Comentário:

Algumas expressões deste trecho de São Mateus são evidentemente para interpretar ao sabor da época em que Jesus as proferiu. As palavras “louco”, “cretino”, “imbecil” tinham um significado gravíssimo que, hoje, efetivamente já não têm,

O que interessa reter, portanto, é a definição das prioridades: oferecer algo a Deus e, depois, reconciliar-se com quem estamos de mal, ou o contrário?

Jesus Cristo não deixa nenhuma margem de equívoco: Deus não aceitará nada quando há algo pendente com outros.

É, no fim e a cabo, o que se sintetiza no Pai-Nosso: “perdoa as nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos ofendeu”; sendo que, como é óbvio, o inverso também é verdadeiro ou seja: “perdoa as nossas ofensas porque já fomos perdoados a quem ofendemos”.

(ama, comentário sobre Mt 5, 20-26, 2014.03.14)


Leitura espiritual



Temas


A PACIÊNCIA
…/2

ESTOJOS DESAJUSTADOS

Mas, uma vez que não vivemos no País das Maravilhas, como Alice, e sim na Terra dos Homens de que falava Saint-Exupéry, forçoso é que reconheçamos que a toda a hora o estojo do mundo falha, machuca, não abre, não fecha e se desajusta ou se desengonça. E então a impaciência começa a brotar, a crescer, e a dar os seus, digamos, “frutos” (os já referidos lamentos, tristezas, reclamações e quejandos).

As formas de desajuste e inadaptação ao estojo da realidade, isto é, as impaciências do dia-a-dia, são tão ricas em número como as espécies de insetos num livro de entomologia. Bastaria observar com um pouquinho de atenção retalhos de um único dia na vida de qualquer família normal para podermos elaborar um volumoso dicionário de impaciências. Lembremos algumas das mais corriqueiras, a título de exemplo e só para mencionar o que Nelson Rodrigues chamaria o “óbvio ululante”.

Papai acorda mais cedo e vai preparar o café (ofício cada dia mais masculino). Primeira “fechada”, naquela hora de olhar estremunhado e nervos mal temperados: da torneira não sai um pingo d'água, porque é dia de corte devido à estiagem; e o pior é que o jornal tinha avisado, e já é a quarta vez que se esquece disso num mês. Segunda “fechada”: a menina, após a explosão de um estrondoso rádio-despertador e mais três séries de violentas batidas da mãe na porta do quarto, continua a dormir, e o pobre progenitor de emprego ameaçado, que já está atrasado para o serviço, vai ter que deixá-la antes, a ela e ao Rodrigo, na escola. Ó estojo mal ajustado! O dia já começa, como diria Guimarães Rosa, com “o mundo à revelia”!

Mas o que começa, continua. Quando o aflito pai ia ligar para o escritório, avisando que uma emergência o impediria de participar da primeira reunião, o imprescindível telefone, tão necessário, está ocupado. Por quem? Pela filha mais velha, é lógico, que já leva vinte minutos na sua primeira conversa do dia com o namorado. “Sempre é assim!”, desabafa o pobre pai acuado.

Mas a bronca não elimina quinze minutos mais, mínimo regulamentar para completar o horário do matutino namoro. O estojo continua sem funcionar.

E quando por fim o homem, esfalfado antes de ter começado a trabalhar, consegue sair à rua com o velho carro usado, adquirido a preço camarada de um colega, os olhos batem instantaneamente no guarda-lamas afundado..., e a última que pegou no carro foi a mulher. – “Mais uma vez, outra vez!”, exclama o nosso protagonista, praticando sem o saber um ato teologicamente perfeito de impaciência.

Será, porventura, preciso acrescentar que, ao conseguir entrar na avenida, com um barulhinho no motor que deixa o coração em sobressalto, o trânsito está parado? O engarrafamento é monumental, fora do comum – que é comum mesmo –, devido a uma carreta que se incrustou de frente no canteiro central e está atravessada na pista. – “Mais essa! E depois dizem que não existe a lei de Murphy!”

Se quiséssemos continuar pintando esse quadro escuro de contrariedades cotidianas, não poderia faltar uma referência aos comentários mordazes dos colegas de escritório, porque o time dele “mais uma vez” perdeu, nem faltaria a queixa contra o infernal barulho da rua que tanto dificulta trabalhar; e assim, após inúmeros aborrecimentos, veríamos o nosso homem chegar a casa num tal estado de ânimo que qualquer pergunta da mulher lhe pareceria uma ofensa.

Poderíamos, sim, pintar este quadro, mas – ainda que tivesse um fundo realista – seria completamente falso. A verdade é que, salvo em raros dias que são exceção, a vida não se compõe de uma sequência ininterrupta de contrariedades. Graças a Deus, há também muitas satisfações e muitas alegrias e, normalmente, para quem não estiver cego, o mais justo é terminar o dia fazendo uma enorme lista de bênçãos recebidas de Deus, de males e perigos evitados, de proteções “descaradas” dos Anjos da Guarda, além de muitos detalhes simpáticos do próximo, de modo que o coração sinta a necessidade de elevar uma emocionada ação de graças. Se fôssemos sinceros, veríamos que o elenco das bênçãos – tão belas como habituais – é normalmente bem superior ao das contradições.

À PROCURA DO CRIMINOSO

Isto, porém, não elimina o facto de que as contrariedades existem, e é delas que, como de um gerador elétrico, surge a corrente contínua ou alternada da impaciência.

Se nos perguntassem de chofre: – “Por que você fica impaciente?”, logo apontaríamos o culpado: – “Tal contrariedade mais ou menos frequente, mais ou menos constante”. O culpado, o “criminoso”, o agente provocador, é sempre a contrariedade que acomete, azucrina e faz sofrer.

Caso pensemos assim – com esta simplificação tão cândida –, será bom que observemos um fenômeno: nem todo o mundo fica impaciente diante das mesmas coisas. Há, portanto, “algo” dentro de nós que nos faz receber “determinadas” contrariedades – muitas ou poucas – de um modo negativo e que desemboca na impaciência, ao passo que outras não. O que é esse “algo”? Se conseguirmos enxergá-lo, teremos aberto um bom caminho para diagnosticar a etiologia da impaciência e para ver os remédios que conduzem à mais saudável paciência.

Pensemos, além disso, que – tal como acontece com a preguiça –, afora os casos raros de infecção generalizada (como a “preguiça integral” e a “impaciência permanente”), o defeito da impaciência costuma ser “especializado”. Cada um de nós tem as “suas” impaciências particulares, mexe-se dentro do campo da sua especialização. Pode ser que pertençamos, por exemplo, à turma daqueles “especialistas” que não têm paciência para escutar o próximo, sobretudo o mais próximo (marido, mulher, filhos). Sempre me recordarei de um bispo velhinho, a quem – por razões de trabalho – visitava com certa frequência. Como muitos anciãos, gostava de recordar coisas passadas, e eu – por respeito e inibição, pois era muito jovem – ficava a ouvi-lo, de modo que praticamente nunca abria a boca: limitava-me a deixá-lo falar. Passado algum tempo, soube com espanto que ele comentara a um colega que eu “tinha uma conversa muito agradável”! Senti vergonha, porque não tinha consciência de estar sendo paciente, e aprendi uma lição.

Para mencionar outro exemplo: não pertenceremos por acaso à turma especializada dos que
jamais admitem interrupções? Estão “na deles” e dali não saem. Por mais que um filho, ou a esposa ou qualquer outra pessoa precise da sua atenção, da sua palavra ou da sua ajuda, o “homem intrinsecamente-ocupado-em-suas-coisas-muito-importantes” vai limitar-se a “responder”, impaciente, com um olhar de poucos amigos, unido a um ronco gutural ininteligível, mas perfeitamente interpretável.

E, ainda, não pertenceremos talvez àquele outro rol de pós-graduados, conhecido como “a turma dos impacientes mascarados”, que já apareciam acima divorciando-se? – “Sou muito paciente, dizem esses mascarados. Não brigo nunca!” Mas sempre, sistematicamente, fogem, lisos como uma cobra d'água, de enfrentar questões difíceis e aborrecidas (uma conversa a fundo com o filho, muito necessária), de aceitar compromissos (fazer oração diariamente, ler um livro de formação cristã) ou de assumir responsabilidades (colaborar habitualmente num trabalho assistencial). A razão disso não está nem na falta de tempo nem na falta de habilidade, mas no facto puro e simples de que “não querem saber”, “não querem ter trabalho”, ou seja, não querem sofrer.

E eis neste caso a impaciência em estado quimicamente puro, em forma de uma completa falta de generosidade para aceitar com fé, esperança e amor “o que contraria”, aquilo de que “não gostamos”, isto é, o sacrifício e o sofrimento que Deus nos pede para acolher.

OBTER E EDIFICAR

A MÃO E A CONTRAMÃO

– Isso me pegou na contramão! – diz o impaciente contrariado.

Tem razão. Aquilo foi-lhe de encontro e o abalroou, chocando-se com os seus desejos, com a sua tranquilidade ou com o seu bem-estar.

Mas, ao escutarmos essa sua queixa, seria lógico que lhe perguntássemos:
– E... qual é a sua mão?

Em matéria de paciência, talvez seja esta a pergunta fundamental, a que melhor nos pode conduzir àquele “algo” que mencionamos acima e que é a verdadeira causa das nossas impaciências.

Todos temos mão e contramão na vida. A mão é o objectivo para o qual se orientam principalmente os nossos desejos, as nossas lutas, as nossas ambições, as nossas esperanças de realização e de felicidade. Essa orientação fundamental é a autêntica directriz do nosso coração, das nossas reflexões, dos nossos devaneios e dos nossos empenhos.

Constatamos esta realidade em nós e nos outros. E, ao mesmo tempo, verificamos que essa orientação fundamental varia de um homem para outro. Mais ainda, que a mão dessa direcção de vida tem sentidos contrários, conforme as pessoas. Um professor universitário, entusiasmado com as suas pesquisas, não pode viver sem os seus livros e o seu estudo, chegando a sacrificar indevidamente a esse ideal científico até a saúde e a família. Pelo contrário, um estudante vadio não consegue viver nem conviver com os livros e o estudo. O contraste é ainda mais marcante se entramos a fundo nas questões em que se enraízam o sentido e o valor da vida. Para um santo, um mundo sem Deus seria uma noite horrenda, a quintessência do inferno. Para um agnóstico, Deus é perfeitamente dispensável, e todas as coisas estão niveladas pela mesma indiferença.

Se procurarmos meditar na vida, e conseguirmos lucidez suficiente para pensá-la em profundidade, perceberemos que todas as atitudes básicas, todas as orientações “de fundo”, todas as “mãos”, se reduzem, em último termo, a duas, que podem ser enunciadas em duas palavras: obter e edificar.

“DÁ-ME A PARTE QUE ME CORRESPONDE”

É comum perguntar a uma criança: – “O que você quer ser quando crescer?” A resposta pode ir desde “engenheiro igual ao papai” até “bombeiro” ou “jogador da Seleção brasileira”.

Menos comum é perguntar: – “O que você quer fazer quando for grande?” Possivelmente, a resposta será: “Estudar, namorar, casar”... Mas outras crianças ficarão desnorteadas perante uma pergunta dessas. Elas sabem bem qual é a imagem ideal de si mesmas em seus “sonhos”, mas custa-lhes considerar a vida como tarefa.

Ora, o que é totalmente incomum é perguntar: – “O que você quer dar, o que você gostaria de dar quando for grande?” E, no entanto, esta é a única pergunta que deveria fazer realmente sentido para um ser humano.

A atitude de muitos perante a vida é radicalmente egoísta. O mundo é “para mim”, a vida é “para mim”. Mesmo os amores são vistos como um meio de obter o benefício da realização pessoal. É por isso que muitos pensam em marido ou mulher só enquanto “gostarmos”, ou seja, enquanto o egoísmo receber vantagens dessa união. É só começarem, porém, os sacrifícios, que haverá despedida e partirão para outra. E os filhos? Às vezes, nem sequer se pensa neles, e se espera tanto para tê-los que – com perdão do leitor – a decisão de deixar descendência acaba por ser tomada depois da menopausa.

O egoísta, aquele que só quer usufruir da vida, que quer “realizar-se” colocando o seu “eu” como meta e centro do mundo, esse só sabe repetir as palavras que Cristo põe na boca do filho pródigo: “Pai, dá-me a parte que me toca” (cf. Lc 15, 12).
(cont.)