Tempo comum XXI Semana
Evangelho:
Mt 23, 23-26
23 «Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que pagais o dízimo da
hortelã e do endro e do cominho, e descuidais as coisas mais importantes da
Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! São estas coisas que era preciso
praticar, sem omitir as outras. 24 Condutores cegos, que filtrais um
mosquito e engolis um camelo! 25 «Ai de vós, escribas e fariseus
hipócritas, que limpais o que está por fora do copo e do prato, e por dentro
estais cheios de rapina e de imundície! 26 Fariseu cego, purifica
primeiro o que está dentro do copo e do prato, para que também o que está fora
fique limpo.
Comentário:
Jesus
Cristo não deixa de denunciar a duplicidade e a hipocrisia como defeitos a ter
muito em conta sobretudo quando se trata de seguir os conselhos ou orientações
de outrem.
A
escolha da direcção espiritual, sobretudo, tem de obedecer a um cuidado e
critério rigorosos. Há absoluta necessidade de nos informarmos a respeito da
pessoa, da credibilidade que oferece e das garantias de possuir sã doutrina.
De
facto, não devemos esquecer que há 'lobos com pele de cordeiro', e a prudência
e a contenção são inimigas da ingenuidade ou da precipitação
(AMA, Comentário sobre Mt 23, 23-26, 2012.08.28)
Leitura espiritual
CRISTO QUE
PASSA
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A fé, o amor e a
esperança de José
A justiça não consiste
na mera submissão a uma regra; a rectidão deve nascer de dentro, deve ser
profunda, vital, porque o justo vive da fé.
Viver da fé: estas
palavras que foram, mais tarde, tema frequente de meditação para o apóstolo S.
Paulo, vêem-se realizadas superabundantemente em S. José.
O seu cumprimento da
vontade de Deus não é rotineiro nem formalista, mas espontâneo e profundo.
A lei que todo o judeu
praticante vivia não foi para ele um simples código nem uma fria recompilação
de preceitos, mas expressão da vontade de Deus vivo.
Por isso, soube
reconhecer a voz do Senhor quando esta se lhe manifestou inesperada e
surpreendente.
A história do Santo
Patriarca foi uma vida simples, mas não uma vida fácil.
Depois de momentos
angustiosos, sabe que o Filho de Maria foi concebido por obra do Espírito
Santo.
E esse Menino, Filho de
Deus, descendente de David segundo a carne, nasce numa gruta.
Os anjos celebram o seu
nascimento e personalidades de terras longínquas vêm adorá-Lo, mas o rei da
Judeia deseja a sua morte e é necessário fugir.
O Filho de Deus é um
menino aparentemente indefeso que terá de viver no Egipto.
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S. Mateus, ao narrar
estas cenas no seu Evangelho, põe constantemente em destaque a fidelidade de
José, que cumpre sem vacilações os mandatos de Deus, embora por vezes o sentido
desses mandatos lhe possa parecer obscuro ou se lhe oculte a sua conexão com o
resto dos planos divinos.
Em muitas ocasiões os
Padres da Igreja e os autores espirituais fazem ressaltar a firmeza da fé de
José.
Referindo-se às palavras
do Anjo que lhe ordena que fuja de Herodes e se refugie no Egipto, Crisóstomo
comenta: Ao ouvir isto, S. José não se escandalizou nem disse: isto parece um
enigma.
Ainda há pouco Tu me
davas a conhecer que Ele salvaria o seu povo e agora não é sequer capaz de
salvar-se a si próprio e somos nós que temos necessidade de fugir, de
empreender uma viagem e fazer uma grande deslocação; isto é contrário à tua
promessa.
José não discorre deste
modo, porque é um varão fiel.
Também não pergunta pela
data de regresso, apesar do Anjo a ter deixado indeterminada, posto que lhe
tinha dito: fica lá - no Egipto - até que eu te avise.
Nem por isso levanta
dificuldades, mas obedece e crê e suporta todas as provas alegremente.
A fé de José não vacila,
a sua obediência é sempre estrita e rápida. Para compreender melhor esta lição
que aqui nos dá o Santo Patriarca, é bom que consideremos que a sua fé é activa
e que a sua obediência não se parece com a obediência de quem se deixa arrastar
pelos acontecimentos.
Porque a fé cristã é o
que há de mais oposto ao conformismo ou à falta de actividade e de energia
interiores.
José abandonou-se sem
reservas nas mãos de Deus, mas nunca deixou de reflectir sobre os
acontecimentos, e assim recebeu do Senhor a inteligência das obras de Deus, que
é a verdadeira sabedoria.
Deste modo, aprendeu a
pouco e pouco que os planos sobrenaturais têm uma coerência divina, que às
vezes está em contradição com os planos humanos.
Nas diversas
circunstâncias da sua vida, o Patriarca não renuncia a pensar, nem se alheia da
sua responsabilidade.
Pelo contrário: põe toda
a sua experiência humana ao serviço da fé. Quando volta do Egipto, ouvindo que
Arquelau reinava na Judeia em vez de seu pai Herodes, temeu ir para lá.
Aprendeu a mover-se
dentro dos planos divinos e, como confirmação de que Deus quer o que ele
pressentia, recebe a indicação de se retirar para a Galileia.
Assim foi a fé de S.
José: plena, confiante, íntegra, manifestando-se numa entrega real à vontade de
Deus, numa obediência inteligente. E, com a Fé, a Caridade, o Amor.
A sua fé funde-se com o
amor: com o amor de Deus, que estava a cumprir as promessas feitas a Abraão, a
Jacob, a Moisés; com o carinho de esposo para com Maria e com o carinho de pai
para com Jesus. Fé e amor da esperança da grande missão que Deus, servindo-se
também dele - um carpinteiro da Galileia - estava a começar no mundo: a
redenção dos homens.
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Fé, amor, esperança:
estes são os eixos em torno dos quais gira a vida de S. José e toda a vida
cristã.
A entrega de S. José
aparece-nos tecida pelo entrecruzamento de um Amor fiel, de uma Fé amorosa e de
uma Esperança confiante.
A sua festa é, por isso,
uma boa altura para renovarmos a entrega à vocação de cristãos, concedida pelo
Senhor a cada um de nós.
Quando se deseja
sinceramente viver da Fé, do Amor e da Esperança, a renovação da entrega não
consiste em retomar uma coisa que tinha entrado em desuso.
Quando há Fé, Amor e
Esperança, renovar-se - apesar dos nossos erros pessoais, das quedas, das
debilidades - é manter-se nas mãos de Deus: confirmar um caminho de fidelidade.
Renovar a entrega é
renovar, repito, a fidelidade àquilo que o Senhor quer de nós: amar com obras.
0 amor tem
necessariamente as suas manifestações características. Às vezes fala-se do amor
como se fosse uma procura de satisfação pessoal ou um mero recurso para
completarmos egoisticamente a nossa personalidade.
E não é assim; amor
verdadeiro é sair de si mesmo, entregar-se.
O amor traz consigo a
alegria, mas é uma alegria que tem as suas raízes em forma de cruz.
Enquanto estivermos na
terra e não tivermos chegado à plenitude da vida futura, não pode haver amor
verdadeiro sem a experiência do sacrifício, da dor.
Uma dor de que se gosta,
amável, fonte de íntimo gozo, mas dor real, porque significa vencer o nosso
egoísmo e tomar o amor como regra de todas e cada uma das nossas acções.
44
As obras do Amor são
sempre grandes, ainda que se trate, aparentemente, de coisas pequenas.
Deus aproximou-se dos
homens, pobres criaturas, e disse-nos que nos ama: Deliciae mea esse cum filiis hominum, a minha delícia é estar entre
os filhos dos homens.
O Senhor mostra-nos que
tudo tem importância: as acções que, com olhos humanos, consideramos grandes;
aquelas outras que, pelo contrário, qualificamos de pouca categoria...
Nada se perde.
Nenhum homem é
desprezado por Deus.
Todos, seguindo cada um
a sua vocação - no seu lar, na sua profissão ou no seu ofício, no cumprimento
das obrigações que correspondem ao seu estado, nos seus deveres de cidadão, no
exercício dos seus direitos - todos estão chamados a participar no Reino dos
Céus.
É isto o que nos ensina
a vida de José, simples, normal e vulgar, feita de anos de trabalho sempre
igual, de dias humanamente monótonos, que se sucedem uns aos outros.
Muitas vezes o tenho
pensado ao meditar sobre a figura de S. José, e esta é uma das razões que faz
com que sinta por ele uma devoção especial.
Quando no seu discurso
de encerramento da primeira sessão do Concílio Vaticano II, no passado dia 8 de
Dezembro, o Santo Padre João XXIII anunciou que no cânon da Missa se
mencionaria o nome de S. José, uma altíssima personalidade eclesiástica
telefonou-me imediatamente para me dizer: Rallegramenti!
Felicidades!
Ao ouvir a notícia
pensei logo em si, na alegria que lhe tinha dado. E assim era, porque na
assembleia conciliar, que representa a Igreja inteira reunida no Espírito
Santo, se proclamava o valor divino da vida de S. José, o valor de uma vida
simples de trabalho face a Deus e em total cumprimento da vontade divina.
45
Santificar o trabalho,
santificar-se no trabalho, santificar com o trabalho
Descrevendo o espírito
da associação a que dediquei a minha vida, o Opus Dei, tenho dito que se apoia,
como em seu gonzo, no trabalho ordinário, no trabalho profissional exercido no
meio do mundo.
A vocação divina dá-nos
uma missão, convida-nos a participar na tarefa única da Igreja, para sermos
assim testemunho de Cristo perante os nossos iguais, os homens, e para levarmos
todas as coisas a Deus.
A vocação acende uma luz
que nos faz reconhecer o sentido da nossa existência.
É convencermo-nos, com o
resplendor da fé, do porquê da nossa realidade terrena.
Toda a nossa vida, a
presente, a passada e a que há-de vir, cobra um novo relevo, uma profundidade
de que antes não suspeitávamos. Todos os factos e acontecimentos passam a
ocupar o seu posto: entendemos aonde nos quer levar o Senhor e sentimo-nos
entusiasmados e envolvidos por esse encargo que se nos confia.
Deus tira-nos das trevas
da nossa ignorância, do nosso caminho incerto entre os acontecimentos da
história e chama-nos com voz forte, como um dia o fez com Pedro e André: Venite post me, et faciam vos fieri
piscatores hominum. - Segui-me e eu vos farei pescadores de homens -
qualquer que seja o lugar que ocupemos no mundo.
Quem vive da fé pode
encontrar a dificuldade e a luta, a dor e até a amargura, mas nunca o desânimo
nem a angústia, porque sabe que a sua vida serve, sabe para que veio a esta
terra.
Ego sum lux mundi - exclamou Cristo - qui
sequitur me non ambulate in tenebris, sed habebit lumen vitae.
Eu sou a luz do mundo;
aquele que me segue não caminha às escuras, mas possuirá a luz da vida.
Para merecer essa luz de
Deus é preciso amar, ter a humildade de reconhecer a necessidade de sermos
salvos e dizer com Pedro: Senhor a quem
iremos? Tu tens palavras de vida eterna. E nós acreditamos e sabemos, que Tu és
Cristo, Filho de Deus.
Se realmente procedermos
assim, se deixarmos entrar no nosso coração o chamamento de Deus, também
poderemos repetir com verdade que não caminhamos nas trevas, pois, por cima das
nossas misérias e dos nossos defeitos pessoais, brilha a luz de Deus, como o
Sol brilha por cima da tempestade.
46
A fé e a vocação de
cristãos afectam toda a nossa existência e não só uma parte dela.
As relações com Deus são
necessariamente relações de entrega e assumem um sentido de totalidade.
A atitude de um homem de
fé é olhar para a vida, em todas as suas dimensões, com uma perspectiva nova: a
que nos é dada por Deus.
Vós, que hoje celebrais
comigo esta festa de S. José, sois todos homens dedicados ao trabalho em
diversas profissões humanas, formais diversos lares, pertenceis a diferentes
nações, raças e línguas. Adquiristes formação em centros de ensino, em oficinas
ou escritórios, tendes exercido durante anos a vossa profissão, estabelecestes
relações profissionais e pessoais com os vossos companheiros, participastes na
solução dos problemas colectivos das vossas empresas e da sociedade.
Pois bem: recordo-vos,
mais uma vez, que nada disso é alheio aos planos divinos.
A vossa vocação humana é
uma parte, e parte importante, da vossa vocação divina.
Esta é a razão pela qual
vos haveis de santificar, contribuindo ao mesmo tempo para a santificação dos
outros, vossos iguais, precisamente santificando o vosso trabalho e o vosso
ambiente: a profissão ou ofício que enche os vossos dias, que dá fisionomia
peculiar à vossa personalidade humana, que é a vossa maneira de estar no mundo:
o vosso lar, a vossa família; e a nação em que nascestes e que amais.
(cont)