21/05/2016

Os demónios do apostolado 14

Carecer de fortaleza ou vigor

Este demónio debilita o apóstolo em algo que é fundamental para exercer um apostolado de envergadura, abnegado e constante, apesar de toda sorte de contradições: a fortaleza.

Este debilitamento e carência adquire formas contrárias às que caracterizam a fortaleza apostólica. Afecta, em primeiro lugar, o vigor físico, que não pode ser o mais relativo no apostolado. Não se pode, por exemplo, menosprezar a saúde das pessoas. Afecta, também, os hábitos alimentares: a gente pode tornar-se exigente em qualidade e quantidade; no horário; apega-se a certos hábitos; chegando à incapacidade de dar um sentido evangélico ao comer pouco ou nada, caso o serviço pastoral o requeira. O mesmo ocorre com o sono e o descanso, que muitas vezes o serviço pede sacrificar. Converte-se numa dificuldade habitual viajar em meios populares, a pé, em transporte colectivo. Procura-se sistematicamente o meio mais rápido e cómodo, com a desculpa da eficácia apostólica, sem discernimento, uma vez que, em muitos casos, a desculpa pode ser válida. Também o cuidado excessivo da saúde e a adopção de todas as formas de prevenção às quais recorrem os mais privilegiados, pode tornar mais aguda esta fase de austeridade e fortaleza. Poder-se-ia aduzir outros exemplos.

A tentação afecta igualmente a fortaleza psicológica, tanto mais necessária que a física para o verdadeiro apostolado. Neste campo, é preciso educar-se num alto grau de resistência psicológica, o que não exclui ser emocionalmente vulnerável como todo ser humano normal. A fortaleza consiste em assimilar os golpes psicológicos, sem desanimar e, muito menos, desestruturar-se. Esta deve ser a atitude diante das críticas injustas ou parciais, diante das calúnias, das acusações… E, logicamente, diante das perseguições e das diversas formas de sofrimento, que podem chegar ao martírio, por causa do Reino. A aspiração de muitos apóstolos à última bem-aventurança – “bem-aventurados os perseguidos por minha causa e a justiça do Reino” -, não se improvisa, e é vã se não for preparada e se não estiver acompanhada pela aceitação das provações e crises psicológicas, com fortaleza evangélica.

A tentação pode ser mais grave se a provação da fortaleza provém do interior da Igreja. Um dos piores sofrimentos do apóstolo é o da “contradição dos bons”, da sua comunidade, dos seus irmãos e companheiros de trabalho, de autoridades da Igreja. Em certos momentos do apostolado, em muitas ocasiões em que se trata de experimentar ou inovar dentro daquilo que é legítimo, o apóstolo precisa aceitar, com coração sadio e atitude evangélica, ser minoria ou simplesmente estar sozinho. Por isso, necessitará fortaleza diante das tensões e conflitos existentes no interior da Igreja, diante das incompreensões, das suspeitas, da falta de confiança e de colaboração.

A fortaleza apostólica purifica, amadurece e prepara para o futuro. O demónio da inércia e da fragilidade mantém o apóstolo na adolescência, numa certa mediocridade rotineira, dificultando-lhe exercer o melhor serviço da Igreja, agora e no futuro.

Fonte: presbíteros

(revisão da versão portuguesa por ama)

Este texto é um extracto do livro do teólogo chileno segundo galilea, Tentación y Discernimiento, Narcea, Madrid 1991, p. 29-67

Antigo testamento / Êxodo 10

Êxodo 10

A praga dos gafanhotos

1 O Senhor disse a Moisés: "Vai ao faraó, pois tornei obstinado o coração dele e o dos seus conselheiros, a fim de realizar estes meus prodígios entre eles, para que possas contar aos teus filhos e netos como zombei dos egípcios e como realizei os meus milagres entre eles. Assim saberão que eu sou o Senhor".

2 Dirigiram-se, pois, Moisés e Arão ao faraó e disseram-lhe: "Assim diz o Senhor, o Deus dos hebreus: 'Até quando te recusarás a humilhares-te perante mim? Deixa ir o meu povo, para que me preste culto.

3 Se não quiseres deixá-lo ir, farei vir gafanhotos sobre o teu território amanhã.

4 Eles cobrirão a face da terra até não se poder enxergar o solo. Devorarão o pouco que ainda lhes restou da tempestade de granizo e todas as árvores que estiverem brotando nos campos.

5 Encherão os teus palácios e as casas de todos os teus conselheiros e de todos os egípcios: algo que os vossos pais e os vossos antepassados jamais viram, desde o dia em que se fixaram nesta terra até o dia de hoje' ". A seguir Moisés virou as costas e saiu da presença do faraó.

6 Os conselheiros do faraó disseram-lhe: "Até quando este homem será uma ameaça para nós? Deixa os homens irem prestar culto ao Senhor, o Deus deles. Não percebes que o Egipto está arruinado?"

7 Então Moisés e Arão foram trazidos de volta à presença do faraó, que lhes disse: "Vão e prestem culto ao Senhor, o vosso Deus. Mas, digam-me, quem irá?"

8 Moisés respondeu: "Temos que levar todos: os jovens e os velhos, os nossos filhos e as nossas filhas, as nossas ovelhas e os nossos bois, porque vamos celebrar uma festa ao Senhor".

9 Disse-lhes o faraó: "Irão mesmo precisar do Senhor quando eu vos deixar ir com as mulheres e crianças! É claro que estais com más intenções.

10 De forma alguma! Só os homens podem ir prestar culto ao Senhor, como vocês têm pedido". E Moisés e Arão foram expulsos da presença do faraó.

11 Mas o Senhor disse a Moisés: "Estende a mão sobre o Egipto para que os gafanhotos venham sobre a terra e devorem toda a vegetação, tudo o que foi deixado pelo granizo".

12 Moisés estendeu a vara sobre o Egipto, e o Senhor fez soprar sobre a terra um vento oriental durante todo aquele dia e toda aquela noite. Pela manhã, o vento tinha trazido os gafanhotos, os quais invadiram todo o Egipto e desceram em grande número sobre toda a sua extensão. Nunca antes houve tantos gafanhotos, nem jamais haverá.

13 Eles cobriram toda a face da terra de tal forma que ela escureceu. Devoraram tudo o que o granizo tinha deixado: toda a vegetação e todos os frutos das árvores. Não restou nada verde nas árvores nem nas plantas do campo, em toda a terra do Egipto.

14 O faraó mandou chamar Moisés e Arão imediatamente e disse-lhes: "Pequei contra o Senhor, o vosso Deus, e contra vós!

15 Agora perdoem ainda esta vez o meu pecado e orem ao Senhor, o vosso Deus, para que leve esta praga mortal para longe de mim".

16 Moisés saiu da presença do faraó e orou ao Senhor.

17 E o Senhor fez soprar com muito mais força o vento ocidental, e este envolveu os gafanhotos e lançou-os no mar Vermelho. Não restou um gafanhoto sequer em toda a extensão do Egipto.

18 Mas o Senhor endureceu o coração do faraó, e ele não deixou que os israelitas saíssem.

A praga das trevas

19 O Senhor disse a Moisés: "Estende a mão para o céu, e trevas cobrirão o Egipto, trevas tais que poderão ser apalpadas".

20 Moisés estendeu a mão para o céu, e por três dias houve densas trevas em todo o Egipto.

21 Ninguém pôde ver ninguém, nem sair do seu lugar durante três dias. Todavia, todos os israelitas tinham luz nos locais em que habitavam.

22 Então o faraó mandou chamar Moisés e disse: "Vão e prestem culto ao Senhor. Deixem somente as ovelhas e os bois; as mulheres e as crianças podem ir".

23 Mas Moisés contestou: "Tu mesmo nos darás os animais para os nossos sacrifícios e holocaustos que ofereceremos ao Senhor.

24 Além disso, os nossos rebanhos também irão connosco; nem um casco de animal será deixado. Temos que escolher alguns deles para prestar culto ao Senhor, o nosso Deus, e, enquanto não chegarmos ao local, não saberemos quais animais sacrificaremos".

25 Mas o Senhor endureceu o coração do faraó, e ele se recusou a deixá-los ir.

26 Disse o faraó a Moisés: "Sai da minha presença! Trata de não aparecer nunca mais diante de mim! No dia em que vir a minha face, morrerás".

27 Respondeu Moisés: "Será como disseste; nunca mais verei a tua face".


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Maio - Intercessão


A ti, Mãe, recorro nesta hora de preocupação.

Como em Caná, intervieste em favor dos noivos que, sem terem pedido, obtiveram por teu intermédio uma graça inesperada, diz-lhe, também agora: 

O António não tem!

E como é uma graça que por tua maternal intercessão, solicito, tenho a certeza que a obterei. [1]

ama, 1988




[1] Obtive esta graça passados mais ou menos 40 dias

Evangelho, comentário, L. espiritual


Tempo ComumPáscoa

Evangelho: Mc 10, 13-16

13 Apresentavam-Lhe umas criancinhas para que as tocasse mas os discípulos repreendiam os que as apresentavam. 14 Vendo isto, Jesus ficou muito desgostoso e disse-lhes: «Deixai vir a Mim as crianças, não as estorveis, porque dos que são como elas é o reino de Deus. 15 Em verdade vos digo: quem não receber o reino de Deus como uma criança, não entrará nele». 16 Depois, abraçou-as e, impondo-lhes as mãos, as abençoava.

Comentário:

Rodeado de pessoas que O perseguem pelas Suas palavras e obras, por querer bem e apregoar o Reino de Deus como a última felicidade do homem, Jesus Cristo sente-se muito bem entre as crianças, espelho da inocência que falta aos outros.

É Natural!

Ele próprio é o “Grande Inocente” que se entrega em holocausto sublime por toda a humanidade ferida pelo pecado.


(ama, comentário sobre Mc 10, 13-16, 2014.03.01)


Leitura espiritual



INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO

INTRODUÇÃO

“CREIO – AMÉM”

CAPÍTULO SEGUNDO


PRIMEIRA PARTE

DEUS

«Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do céu e da terra"

CAPÍTULO SEGUNDO

A Fé em Deus na Bíblia

3. Iahvé, Deus dos patriarcas e de Jesus Cristo

Mas, com todas essas considerações só encaramos metade da questão, pois que, em todo caso, Moisés fora autorizado a dizer: "EU SOU mandou-me a vós" [1]. Dispõe de uma resposta, mesmo que seja um enigma. E não se pode, não se deve decifrá-la um pouco mais? A exegese moderna em geral vê nesta palavra a expressão de uma proximidade auxiliadora. Deus não se identifica ali – como na filosofia – pela sua natureza, como é em si, mas revela-se como um Deus para Israel, um Deus para o homem. "Eu sou" é o mesmo que "eu estou aí!", "estou aí para vós"; acentua-se a presença de Deus em função do bem de Israel; seu ser (sua natureza) não é explicado como um ser em si, mas como um ser-para. Aliás, Eissfeldt considera possível não só a versão "ele ajuda", mas também "ele chama para a vida, ele é criador", e até "ele é", e "o existente". O exegeta francês Edmond Jacob acha que o nome "EI" exprime a vida como força, "Iahvé" como duração e presença. Se Deus se chama aqui "eu sou", explicar-se-ia como aquele que "é", como o ser em contraposição ao devir, como o permanente e existente em oposição ao transitório. "Toda a carne é como erva, e toda glória, como flor do campo... A erva seca, a flor fenece, mas a palavra do nosso Deus permanece perene" [2].

Atendendo-se a este texto, torna-se visível um nexo que, até agora, tinha sido pouco ponderado. Para o Deutero-Isaías era uma das ideias básicas da sua mensagem: a caducidade das coisas deste mundo; os homens, por poderosos que aparentem ser, no fim são como as flores que desabrocham um dia e são colhidas e secam no dia seguinte, enquanto, no centro desse gigantesco espetáculo de caducidade, o Deus de Israel "é", não "devém". Ele "é" em todo o devir e perecer. Certamente, este "é" de Deus, a pairar estável por cima da mutabilidade do devir não se acentua sem nexo. Ele é muito mais que, simultaneamente se aprova, se firma; ele está ali para nós e, através do seu "estar", dá-nos firmeza no meio da nossa insegurança. O Deus que "é", simultaneamente é um Deus que está connosco; não é um mero Deus em si, mas o nosso Deus, o Deus dos nossos pais.

E tornamos à pergunta feita no início das considerações sobre a narrativa da sarça: que relação existe entre o Deus da fé bíblica e a ideia platónica de Deus? O Deus que se identifica e que tem um nome, o Deus que auxilia e está presente, seria algo radicalmente diverso do esse subsistens, o ser simplesmente, encantoado no ermo silencioso do pensamento filosófico, ou...? Creio ser necessário olhar ainda um pouco mais de perto para a ideia bíblica de Deus e para a opinião dos filósofos, para tirar a limpo esta questão e compreender o sentido do falar cristão sobre Deus. Primeiramente quanto à Bíblia, é importante não isolar a cena da sarça-ardente. Acabamos de ver que ela deve ser compreendida a partir do ambiente de um mundo saturado de deuses, no qual, relacionando e diferenciando, ela torna visível a fé de Israel e, simultaneamente, impulsiona o seu desenvolvimento, aceitando como elemento racional a ideia do ser, tão rica de cambiantes. O processo interpretativo com o qual deparamos na nossa narrativa não terminou ali, mas foi retomado sempre de novo e desenvolvido no correr da luta bíblica em torno de Deus. Ezequiel e, sobretudo, o Deutero-Isaías bem mereceriam o cognome de teólogos do nome de Iahvé, pois a partir dele desdobraram a sua pregação profética de modo acentuado. O Deutero-Isaías, como se sabe, fala no fim do exílio babilónico, no momento em que Israel começa a encarar o futuro com esperança renovada. O poder babilónico, aparentemente invencível, que tinha escravizado os israelitas, está despedaçado; Israel, tido como morto, ressurge da ruína. Assim para o profeta torna-se ideia central opor o Deus que "é" aos deuses que passam. "Eu, Iahvé, sou o primeiro e estou também entre os últimos" [3]. O último livro do Novo Testamento, o Apocalipse, repetirá o mesmo pensamento visando dificuldades parecidas: diante de todas as potências ele já está, e continua estando atrás e depois delas [4]. Mas, tomemos a Isaías: "Eu sou o primeiro, e depois deste e fora de mim não há Deus" [5]. "Sou eu, eu sou o primeiro, e também serei o último" [6]. O profeta cunhou aí uma fórmula nova na qual se retoma o fio condutor da história da sarça e só a enriquece de acentos novos. A fórmula foi objectivamente reproduzida de modo certo no texto grego: "eu o sou" [7]. Neste simples "eu o sou" coloca-se o Deus de Israel frente aos deuses, e identifica-se como aquele que é, em oposição àqueles que foram destruídos e passaram. O enigmático e tão conciso "eu o sou" torna-se o eixo da pregação do profeta, em que se manifesta a sua luta contra as divindades, contra o desespero de Israel, a sua mensagem de esperança e de certeza. Em oposição ao mesquinho panteão babilónico e aos seus destronados ídolos, ergue-se o poder de Iahvé, simples e sem retoques, na expressão "eu o sou" a acentuar a sua total superioridade acima de todos os poderes divinos e não divinos deste mundo. O nome de Iahvé, cujo sentido assim se torna presente, avança um passo a mais no rumo da ideia daquele que "é" no meio de toda a caducidade das coisas e aparências, às quais não cabe nenhuma duração.

Demos um último passo que nos leve ao Novo Testamento. A linha que coloca, sempre em crescendo, a ideia de Deus sob a luz do conceito do ser, interpretando a Deus com o simples "eu sou", torna a surgir no Evangelho de S. João, ou seja, no derradeiro intérprete bíblico; João traça a síntese da fé em Jesus, fé que, para os cristãos, representa ao mesmo tempo o último passo da auto-interpretação do movimento bíblico. O pensamento de João entrosa-se exactamente com a literatura dos livros sapienciais e o Deutero-Isaías; e somente com este fundo literário é que pode ser compreendido. João eleva o "eu o sou" de Isaías à ideia central da sua fé em Deus, mas fá-lo colocando-o como núcleo da sua cristologia: processo decisivo tanto para a ideia de Deus, como para a imagem de Cristo. A fórmula que, pela primeira vez, se destaca no episódio da sarça; que, no fim do exílio, se transforma em expressão da esperança e da certeza face às divindades em derrocada; e que representa a presença permanente de Iahvé acima de todas estas potências, essa fórmula encontra-se agora no centro da fé em Deus, através do testemunho prestado em Jesus de Nazaré.

A importância desse processo torna-se de uma clareza cristalina, se atendermos ao facto de João ter retomado o núcleo da narração da sarça, como nenhum autor antes dele, a saber, a ideia do nome de Deus. O pensamento de um Deus que se nomeia, que se torna invocável mediante um nome avança até o cerne do seu testemunho prestado pelo "eu o sou". João traça um paralelo entre Cristo e Moisés também neste sentido, descrevendo Cristo como o personagem no qual a história da sarça alcança o seu sentido pleno. Todo o capítulo 17 – a chamada "oração sacerdotal" e, provavelmente, o próprio núcleo do Evangelho em geral – gira em torno da ideia "Jesus, o revelador do nome de Deus", apresentando-se assim como o correlativo da narração da sarça. O tema do nome divino volta, qual ritornello, nos versículos 6, 11, 12, 26. Destaquemos apenas os dois principais: "Manifestei o teu nome aos homens que me deste, separando-os do mundo" [8]. "Eu dei-lhes a conhecer o teu nome e dar-lho-ei a conhecer ainda, para que o amor com que me amaste esteja neles e eu esteja neles" [9]. Cristo surge aqui como sendo a mesma sarça-ardente, da qual brota o nome de Deus para os homens. Mas, na perspectiva do quarto Evangelho, Jesus aplica a si o "eu o sou" de Ex 3 e de Is 43; torna-se claro ser ele próprio o nome, isto é, a invocabilidade de Deus. A ideia do nome entra agora numa fase nova e decisiva. Aqui "nome" não é mais somente uma palavra, mas uma pessoa: o próprio Cristo. A cristologia, e correspondentemente a fé em Cristo, em conjunto, é elevada a uma única interpretação do nome de Deus e do que ele significa. Com isto alcançamos um ponto onde, qual cúpula, se impõe uma questão que interessa o complexo inteiro tratado sobre o nome de Cristo.

4. A ideia do nome

Após estas considerações todas, urge, finalmente, fazer uma pergunta muito geral: que quer dizer, afinal, um nome? E que sentido há em falar no nome de Deus? Não penso em fazer uma análise detalhada desta questão, deslocada neste lugar, mas apenas indicar em poucos traços o que me parece essencial. Primeiramente podemos dizer que existe uma diferença fundamental entre a intenção visada por uma ideia e a intenção incluída em um nome. A ideia quer reconhecer a natureza da coisa como tal, tal como existe. O nome, pelo contrário, não procura a natureza da coisa, tal como existe, independente de mim, mas a ele lhe interessa tornar a coisa nominável, invocável, criar um nexo para com ela. Certamente também o nome deve atingir a própria coisa, mas com a finalidade de colocá-la em relação comigo e, torná-la, assim, acessível. Exemplifiquemos: saber que alguém se enquadra no conceito "homem" ainda não é suficiente para criar uma relação para com ele. Somente o nome o torna nominável; através do nome o outro penetra na estrutura da minha humanidade e pode ser chamado. Portanto o nome cria o entrosamento, a correlação com a estrutura social das relações. Quem é considerado como mero número é rejeitado da estrutura da comunidade. Ora, o nome cria a relação para com os outros. Confere a um ser a invocabilidade que completa a coexistência com o ser nomeado.

Mas é aqui também que se encontra o ponto de encaixe a partir do qual deveria tornar-se claro o que acontece quando João apresenta o Senhor Jesus Cristo como o verdadeiro e vivo nome de Deus. Nele se realiza o que nenhuma palavra estaria em condições de realizar. Nele alcançou a sua meta o sentido do diálogo sobre o nome de Deus e chegou à sua concretização o que sempre havia sido pretendido e intencionado com a ideia do nome. Em Cristo – é o que o Evangelho deseja exprimir com esta ideia – Deus de facto tornou-se o invocável. Com Cristo Deus entrou para sempre na coexistência connosco: o nome não é mais uma simples palavra a que nos apegamos; é carne da nossa carne e osso dos nossos ossos. Deus é um dos nossos. E assim se concretiza realmente o que vinha sendo intencionado com a ideia do nome desde o episódio da sarça, a saber, na pessoa daquele que, como Deus, é homem e, como homem, é Deus. Deus tornou-se um de nós, portanto um portador de nome e uma presença ao nosso lado em coexistência.

(cont)

joseph ratzinger, Tübingen, verão de 1967.

(Revisão da versão portuguesa por ama)








[1] Ex 3,14
[2] Ex 3,14
[3] Is 41,4
[4] Ap 1,4; 1,17; 2,8; 22,13
[5] 44,6
[6] 48,12
[7] γώ εμι
[8] 6
[9] 26

Doutrina – 150

 CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

54. Como é que Deus criou o universo?

Deus criou o universo livremente, com sabedoria e amor. O mundo não é o produto duma necessidade, dum destino cego ou do acaso. Deus criou «do nada» [1] um mundo ordenado e bom, que Ele transcende infinitamente. Deus conserva no ser a sua criação e sustenta-a, dando-lhe a capacidade de agir, e conduzindo-a à sua realização, por meio do seu Filho e do Espírito Santo.


[1] ex nihilo: 2Mac 7,28

Pequena agenda do cristão


SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?



Tratado da vida de Cristo 104

Questão 46: Da Paixão de Cristo

Art. 8 — Se a alma de Cristo, durante o tempo da sua paixão, fruía totalmente o gozo da bem-aventurança.

O oitavo discute-se assim. — Parece que a alma de Cristo, durante o tempo da sua paixão, não fruía totalmente o gozo da bem-aventurança.

1. — Pois, é impossível sofrer e gozar simultaneamente, por a dor e o prazer serem contrários. Ora, a alma de Cristo sofria totalmente a dor no tempo da paixão, como se estabeleceu. Logo, não podia fruir na sua totalidade.

2. Demais. — O Filósofo diz que a tristeza, sendo veemente, não só impede o prazer contrário, mas qualquer prazer; e inversamente. Ora, a dor da paixão de Cristo foi a dor máxima, como se demonstrou; e semelhantemente, o deleite do gozo é o máximo, como se estabeleceu na Segunda Parte. Logo, não era possível a alma de Cristo na sua totalidade, simultaneamente sofrer e gozar.

3. Demais. — O gozo da bem-aventurança funda-se no conhecimento e no amor divinos, como está claro em Agostinho. Ora, nem todas as potências da alma são capazes de conhecer e amar a Deus. Logo, Cristo não gozava com toda a sua alma.

Mas, em contrário, diz Damasceno, que a divindade de Cristo permitia à carne agir e sofrer como lhe era próprio. Logo, pela mesma razão, sendo próprio à alma de Cristo, enquanto bem-aventurada, gozar a sua paixão não lhe impedia o gozo.

Como dissemos antes, a alma na sua totalidade, podemos entendê-la, tanto na sua essência como em todas as suas potências. — Se, pois, a considerarmos na sua essência então toda a alma de Cristo gozava, enquanto o sujeito da sua parte superior, a que cabe gozar da divindade. De modo que, assim como a paixão, em razão da essência, se atribui à parte superior da alma, assim também e ao inverso, o gozo, em razão da parte superior da alma, há-de atribuir-se à essência. — Se, porém considerarmos toda a alma, em razão de todas as suas potências, então não era a alma na sua totalidade a que fruía. Nem directamente porque a fruição não pode ser acto de nenhuma parte da alma. Nem pela redundância da glória, pois enquanto Cristo era viandante, não havia nenhuma redundância de glória da parte superior para a inferior, nem da alma para o corpo. Mas porque, do inverso também a parte superior da alma não ficava impedida na sua acção própria pela parte inferior, resulta que a parte superior da alma de Cristo fruía perfeitamente, durante a sua paixão.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O gáudio da fruição não contraria a dor da paixão directamente porque um e outra não recaem sobre o mesmo objecto. Pois, nada impede os contrários existirem num mesmo sujeito, mas não sob o mesmo aspecto. E assim, o gáudio da fruição pode pertencer à parte superior da razão, pelo seu acto próprio: e a dor da paixão, pelo seu sujeito. Ora, à essência da alma concerne a dor da paixão, quanto ao corpo, de que ela é a forma e o gáudio da fruição, quanto à potência, de que depende.

RESPOSTA À SEGUNDA. — As palavras citadas do Filósofo são verdadeiras em razão da redundância, naturalmente resultante de uma potência da alma para outra. Mas isso não se deu com Cristo, como dissemos.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A objecção colhe no concernente à totalidade da alma, quanto às suas potências.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



Auxílio dos cristãos

"Auxilium christianorum!", Auxílio dos cristãos!, reza com plena segurança a ladainha loretana. Já experimentaste repetir essa jaculatória nos teus transes difíceis? Se o fizeres com fé, com ternura de filha ou de filho, verificarás a eficácia da intercessão da tua Mãe Santa Maria, que te levará à vitória. (Sulco, 180)

É a hora de recorreres à tua Mãe bendita do Céu, para que te acolha nos seus braços e te consiga do seu Filho um olhar de misericórdia. E procura depois fazer propósitos concretos: corta de uma vez, ainda que custe, esse pormenor que estorva e que é bem conhecido de Deus e de ti. A soberba, a sensualidade, a falta de sentido sobrenatural aliar-se-ão para te sussurrarem: isso? Mas se se trata de uma circunstância tonta, insignificante! Tu responde, sem dialogar mais com a tentação: entregar-me-ei também nessa exigência divina! E não te faltará razão: o amor demonstra-se especialmente em coisas pequenas. Normalmente, os sacrifícios que o Senhor nos pede, os mais árduos, são minúsculos, mas tão contínuos e valiosos como o bater do coração.


Quantas mães conheceste como protagonistas de um acto heróico, extraordinário? Poucas, muito poucas. E contudo, mães heróicas, verdadeiramente heróicas, que não aparecem como figuras de nada espectacular, que nunca serão notícia – como se diz – tu e eu conhecemos muitas: vivem sacrificando-se a toda a hora, renunciando com alegria aos seus gostos e passatempos pessoais, ao seu tempo, às suas possibilidades de afirmação ou de êxito, para encher de felicidade os dias dos seus filhos. (Amigos de Deus, 134)