JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR
Iniciação à Cristologia
SEGUNDA PARTE
A OBRA REDENTORA DE JESUS CRISTO
Capítulo IX
OS MISTÉRIOS DA VIDA TERRENA DE CRISTO E O SEU
VALOR REDENTOR
3. Mistérios da vida oculta de Jesus em Nazaré
c) A pregação de Jesus
A
actividade de Jesus durante a sua vida pública centra-se na pregação do Reino
de Deus (cf. Mt 4,23; 9,35). «Depois de João ter sido preso, veio Jesus á
Galileia pregando a Boa Nova de Deus, e dizendo: O tempo cumpriu-se e o Reino
de Deus está perto; convertei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc 1,14-15). Este
reino consiste em que os homens sejam tornados partícipes da vida e terna e
feliz de Deus.
A sua
pregação é exequível, simples e clara, e simultaneamente exigente. Jesus
ensina com amor a verdade às almas; por isso, o seu ensinamento é muito
concreto e realista em todo o momento. E está cheio de comparações e exemplos
simples e bem conhecidos dos ouvintes que contribuem para tornar claros os seus
ensinamentos (cf. Os exemplos da sementeira, as ervas más, as fainas da pesca,
a confecção do pão, as festas de bodas, etc.).
Explica frequentemente «o mistério do reino
dos céus» por meio de parábolas (cf.
Mt 13,10-13); comparações prolongadas que constituem um traço dos seus
ensinamentos. Por meio delas convida para o banquete do reino (cf. Mt 22,1-14),
mas também exige que acolhamos as suas palavras com fé e nos decidamos
seriamente a segui-las para alcançar o Reino, ainda que haja que dar tudo (cf.
Mt 13,44-45).
d) Os milagres de Jesus
Jesus acompanha a sua doutrina com
milagres, que a Escritura chama também «sinais» porque são feitos admiráveis e
sobre-humanos que fazem referência a outra realidade divina.
Os
milagres são sinais do Messias anunciado. «Ao libertar alguns homens dos males
terrenos da fome (cf. Jo 6,5-15), da injustiça, (cf. Lc 19,8), da doença e da
morte (cf. Mt 11,5) Jesus realizou uns sinais
messiânicos; não obstante, não veio para abolir todos os males daqui de
baixo (cf. Lc 12,13.14; Jo 18,36), mas libertar os homens da escravidão mais
grave, a do pecado (cf. Jo 8,34,36), que é o obstáculo na sua vocação de filhos
de Deus e causa de todas as suas servidões humanas»[i].
Os
milagres são sinais da sua missão e da sua divindade. Os milagres de Jesus
testemunham, que o Pai o enviou (cf. Jo 5,26; 10,25), e convidam a acreditar em
Jesus (cf. Jo 10,38): são sinais da sua missão divina e da autenticidade da sua
doutrina. E ainda mais, testemunham que Ele é o Filho de Deus (cf. Jo 10,31-38)
porque os realiza com o seu próprio poder (cf. Lc 6,19), poder divino comum com
Deus Pai (cf. Jo 14,10-11).
Os
milagres são começo e sinal da libertação definitiva. Os milagres, de modo
especial a expulsão dos demónios, constituem a derrota do reino de Satanás: «Se
pelo Espírito de Deus eu expulso os demónios, é que chegou a vós o reino de
Deus» (Mt 12,28). Os milagres antecipam a grande vitória de Jesus sobre «o
príncipe deste mundo» (Jo 12,31) que será definitivamente estabelecida com a
cruz[ii].
e) A convocação dos discípulos
Os
discípulos são o gérmen e o começo do Reino. Cristo inaugurou o Reino
reunindo os homens em seu torno: «O gérmen e o começo do reino são o ‘pequeno
rebanho’ (Lc 12,32), que Jesus veio convocar em seu torno e dos quais Ele mesmo
é pastor»[iii]. Desde o
princípio da sua vida pública Jesus chama a alguns para que o sigam: estes são
seus discípulos. Assim sucede com Pedro e André, Tiago e João (cf. Lc 9,57-62),
com José Barsabás e com Matias (cf. Act 1,21-26), e com muitos outros. E entre
os discípulos encontramos homens e mulheres, como as que o seguiam desde a
Galileia e o serviam. (cf. Lc 8,1-3).
Os
discípulos serão também os instrumentos da extensão do Reino: eles têm que
ser o sal da terra e a luz do mundo (cf. Mt 5,13-16). Por isso Jesus foi
gradualmente fazendo-os partícipes da sua missão (cf. Lc 10,1).
Os
doze apóstolos. O Senhor foi organizando gradualmente a sua comunidade de
modo que quando Ele voltasse para o Pai esta pudesse ser instrumento da
salvação do mundo. A eleição dos doze apóstolos dentre os seus discípulos é o
ponto principal desta estruturação: a eles vai confiando progressivamente
algumas tarefas de responsabilidade e outorga-lhes alguns poderes especiais; e
eles serão seus enviados («apóstolos»)
para implantar o seu Reino em todo o mundo.
No
colégio dos doze, Pedro ocupa o
primeiro lugar (cf. Mc 3,16; 1 Cor 15,5), e a ele Jesus confia uma missão
única: a de confirmar os seus irmãos na fé (cf. Lc 22,32) e a de pastorear em
seu nome toda a grei (cf. Jo 21,16-17).
***
São João diz no final do seu Evangelho:
«Há, além do mais, muitas outras coisas que Jesus fez, e que se se escrevessem
uma por uma, penso que nem ainda o mundo poderia conter os livros que se teriam
que escrever» (Jo 21,25). Com muita maior razão podemos aplicar essas palavras
ao presente livro e especialmente este capítulo sobre os mistérios da vida
terrena de Jesus. Temos de conhecer bem e de meditar todas as acções do Senhor
– também as que não mencionámos – pois todas são redentoras, nos revelam Deus e
nos dão exemplo para viver como filhos de Deus.
Agora devemos passar a estudar o mistério
pascal, da Morte e Ressurreição do Senhor, no qual se consuma a obra da
redenção.
(cont)
Vicente
Ferrer Barriendos
(Tradução do castelhano por ama)