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Leitura Espiritual
Temas actuais do cristianismo |
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pergunta:
Monsenhor,
gostaríamos que nos dissesse quais são, no seu entender, os fins essenciais da
Universidade e como deve situar-se o ensino da religião dentro dos estudos
universitários.
resposta:
A
Universidade - como sabeis, porque o viveis ou o desejais viver - deve prestar
uma contribuição de primeira importância para o progresso humano.
Como
os problemas que se apresentam na vida dos povos são múltiplos e complexos -
espirituais, culturais, sociais, económicos, etc. - a formação que a
Universidade deve proporcionar há-de abranger todos esses aspectos.
O
desejo de TRABALHAR pelo bem comum não basta; o caminho para que este desejo se
torne realidade é preparar homens e mulheres capazes de adquirirem uma boa
preparação e capazes de darem aos outros o fruto dessa plenitude que
adquiriram.
A
religião é a maior rebelião do homem que não quer viver como um animal, que não
se conforma, que não sossega, se não conhece e priva com o Criador; o estudo da
religião é portanto uma necessidade fundamental.
Um
homem que careça de formação religiosa não está completamente formado.
Por
isso a religião deve estar presente na Universidade e deve ensinar-se a nível
superior, científico, de boa teologia.
Uma
Universidade da qual a religião esteja ausente é uma Universidade incompleta,
porque ignora uma dimensão fundamental da pessoa humana, que não exclui - antes
exige - as outras dimensões.
Por
outro lado, ninguém pode violar a liberdade das consciências: o ensino da
religião deve ser livre, ainda que o cristão saiba que, se quer ser coerente
com a sua fé, tem obrigação grave de se formar bem nesse terreno, de possuir,
portanto, uma cultura religiosa, isto é, de adquirir doutrina, para poder viver
dela e para poder dar testemunho de Cristo com o exemplo e com a palavra.
74
pergunta:
No
período da história que vivemos há uma preocupação singular pela democratização
do ensino, pela sua acessibilidade a todas as classes sociais e não se pode conceber
a instituição universitária sem uma projecção ou função social.
Em
que sentido entende esta democratização e de que modo pode a Universidade
cumprir a sua função social?
resposta:
É
necessário que a Universidade incuta nos estudantes uma mentalidade de serviço:
serviço à sociedade, promovendo o bem comum através do TRABALHO profissional e
da actuação pública.
Os
universitários devem ser responsáveis, sentir uma sã inquietação pelos
problemas dos outros e um espírito generoso que os leve a enfrentar estes
problemas e a procurar encontrar-lhes a melhor solução.
É
missão da Universidade dar tudo isto aos estudantes.
Todos
aqueles que reunirem condições devem ter acesso aos estudos superiores, sejam
quais forem a sua origem social, os seus meios económicos, a sua raça ou
religião.
Enquanto
existirem barreiras desta natureza, a democratização do ensino será apenas uma
frase oca.
Em
resumo: a Universidade deve estar aberta a todos e, por outro lado, deve formar
os estudantes para que o seu futuro trabalho profissional venha a estar ao
serviço de todos.
75
pergunta:
Muitos
estudantes desejam adoptar uma atitude activa ante o panorama que observam em
todo o mundo e sentem-se solidários de tantas pessoas que sofrem física e
moralmente ou que vivem na indigência.
Que
ideias sociais proporia o senhor a esta juventude intelectual de hoje?
resposta:
O
ideal é, sobretudo, a realidade de um trabalho bem feito, a adequada preparação
científica durante os anos da Universidade.
A
partir desta base, há milhares de lugares no mundo que precisam de braços, que
esperam por um trabalho pessoal, duro e sacrificado. A Universidade não deve
formar homens que consumam egoisticamente as vantagens alcançadas com os seus
estudos; deve prepará-los para uma tarefa de generosa ajuda ao próximo, de
fraternidade cristã.
Muitas
vezes esta solidariedade esgota-se em manifestações orais ou escritas, quando
não em algazarras estéreis ou prejudiciais.
A
solidariedade, meço-a eu por obras de serviço: conheço milhares de casos de
estudantes, de muitos países, que renunciaram ao seu pequeno mundo privado,
dando-se aos outros mediante um trabalho profissional que procuram fazer com
perfeição humana, em obras de ensino, de assistência, sociais, etc., com
espírito sempre jovem e cheio de alegria.
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pergunta:
Perante
a actualidade sócio-política do nosso e dos restantes países, perante a guerra,
a injustiça ou a opressão, que responsabilidade atribui à Universidade como
corporação, aos professores e aos alunos?
Pode
a Universidade, seja como for, admitir dentro do seu âmbito o desenvolvimento
de actividades políticas por parte de estudantes e professores?
resposta:
Antes
de mais nada quero dizer que nesta conversa estou exprimindo uma opinião, a
minha, a de uma pessoa que desde os dezasseis anos - agora tenho sessenta e
cinco - não perdeu o contacto com a Universidade.
Exponho
o meu modo pessoal de ver esta questão, não o modo de ver do Opus Dei, que em
todas as coisas temporais e discutíveis não quer nem pode ter opção nenhuma -
cada sócio da Obra tem e exprime livremente o seu próprio parecer pessoal, pelo
qual é também pessoalmente responsável - já que o fim do Opus Dei é
exclusivamente espiritual.
Voltando
à sua pergunta, parece-me que seria preciso, em primeiro lugar, chegar a um
acordo sobre o que significa política.
Se
por política se entende interessar-se e trabalhar em favor da paz, da justiça
social, da liberdade de todos - então, todos na Universidade, e a Universidade
como corporação, têm obrigação de sentir esses ideais e de fomentar a
preocupação de resolver os grandes problemas da vida humana.
Se,
em vez disso, se entende por política a solução concreta de um determinado
problema, a par de outras soluções possíveis e legítimas, em confronto com os
que sustentam o contrário, penso que não é a Universidade a instância que tem
de pronunciar-se a esse respeito.
A
Universidade é o lugar onde as pessoas se preparam para dar soluções a esses
problemas; é a casa comum, lugar de estudo e de amizade; lugar onde devem conviver
em paz pessoas de diversas tendências que, em cada momento, sejam expressão do
legítimo pluralismo que existe na sociedade.
77
pergunta:
Se
o condicionalismo político de determinado país chegasse a tal situação que um
universitário - professor ou aluno - considerasse preferível, em consciência,
politizar a Universidade, por carecer de meios lícitos para evitar o mal geral
da nação, poderia, no uso da sua liberdade, fazê-lo?
resposta:
Se
num país não existisse a mínima liberdade política talvez se produzisse uma
desnaturalização tal da Universidade, que, deixando de ser a casa comum, se
viesse a converter em campo de batalha de facções opostas.
Penso,
não obstante, que seria preferível dedicar esses anos a uma preparação séria, a
formar uma mentalidade social, para que aqueles que mais tarde houvessem de
mandar - os que agora estudam - não caíssem nessa aversão à liberdade pessoal
que é verdadeiramente patológica.
Se
a Universidade se converte no lugar onde se debatem e se decidem problemas
políticos concretos, é fácil que se perca a serenidade académica e que os
estudantes se formem num espírito de partidarismo; e assim, a Universidade e o
país arrastarão sempre esse mal crónico que é o totalitarismo, seja qual for o
seu sinal.
Quero,
no entanto, esclarecer, ao afirmar que a Universidade não é lugar para a
política, que não excluo, antes desejo, um estatuto político normal para todos
os cidadãos.
E
se bem que a minha opinião sobre este ponto seja muito concreta, não quero
acrescentar mais nada, porque a minha missão não é política, mas sacerdotal.
Tenho
direito a dizer o que disse, porque me considero universitário e tudo aquilo
que se refere à Universidade me apaixona.
Não
faço, nem quero, nem posso fazer política.
Mas
a minha mentalidade de jurista e de teólogo - e a minha fé cristã também -
levam-me a estar sempre ao lado da legítima liberdade de todos os homens.
Ninguém
pode pretender, em questões temporais, impor dogmas que não existem.
Ante
um problema concreto, qualquer que ele seja, a solução deve ser estudá-lo bem
e, depois, actuar em consciência, com liberdade e com responsabilidade também
pessoal.
Entrevista
realizada por Andrés Garrigó, publicada em "Gaceta Universitaria"
(Madrid, 5 de Outubro de 1967).
(Cont)