18/06/2010

Evangelho: Mt 6, 24-34

24 «Ninguém pode servir a dois senhores: porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou há-de afeiçoar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.25 «Portanto vos digo: Não vos preocupeis, nem com a vossa vida, acerca do que haveis de comer, nem com o vosso corpo, acerca do que haveis de vestir. Porventura não vale mais a vida que o alimento, e o corpo mais que o vestido? 26 Olhai para as aves do céu que não semeiam, nem ceifam, nem fazem provisões nos celeiros, e, contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura não valeis vós muito mais do que elas? 27 Qual de vós, por mais que se afadigue, pode acrescentar um só côvado à duração da sua vida? 28 «E porque vos inquietais com o vestido? Considerai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam. 29 Digo-vos, todavia, que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. 30 Se, pois, Deus veste assim uma erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? 31 Não vos aflijais, pois, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? 32 Os gentios é que procuram com excessivo cuidado todas estas coisas. Vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. 33 Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo. 34 Não vos preocupeis, pois, pelo dia de amanhã; o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia bastam os seus trabalhos.

Comentário:

Parecem tão simples, estas recomendações do Senhor! Simples e definitivas, como se bastasse ter confiança em Deus e tudo se encontra resolvido nas nossas vidas, não se requerendo nada mais da nossa parte, nem trabalho, nem tentar resolver os problemas, enfrentar as dificuldades…
Não é, evidentemente, isto que o Senhor quer dizer. Noutra passagem do Evangelho, Jesus Cristo condena o homem que teve grande colheita e se considera, por isso, “a salvo” de quaisquer problemas ou preocupações.[i] E, em muitas outras ocasiões que os Evangelhos também relatam, explica o que se entende por riqueza e pobreza, a verdadeira “escala” de valores que devem presidir à vida humana.
Confiar em Deus, evidentemente, porque nada somos ou podemos em Ele e, também, porque sendo filhos, confiamos que o nosso Pai proverá às nossas necessidades. O problema está em saber compaginar as nossas necessidades e obrigações, os nossos desejos legítimos para a nossa própria vida e a dos que de nós dependem de alguma forma e essa confiança filial.
O Senhor não aceita atitudes resignadas ou derrotistas, não se compadece daquele que nada faz do que lhe compete fazer, do que não põe todo o seu empenho e saber em encontrar soluções para a vida corrente. Mais, o perigo, reside de facto, como Jesus afirma, na falta de critério nestes aspectos: Confiar em Deus sem nada fazer, ou tudo fazer sem ter em conta o nosso Pai do Céu.
No fim e ao cabo que temos de ter bem presente é um são critério de unidade de vida. Temos de trabalhar e, trabalhar o melhor que saibamos e possamos, mas com os olhos postos em Deus que, então, não deixará de abençoar os nossos esforços e compensará, com a Sua Misericórdia e Justiça infinitas, a nossa actuação. Ele tudo pode, nós, sem Ele, não podemos nada. 

(AMA, comentário – palestra sobre MT 6,24-34, Porto, Maio 2008)

Tema: Preocupações e virtudes

Ainda que a graça possa transformar por si mesma as pessoas, o normal é que requeira as virtudes humanas, pois, como poderia enraizar-se, por exemplo, a virtude cardeal da fortaleza num cristão que não se vencesse em pequenos hábitos de comodidade ou de preguiça, que estivesse excessivamente preocupado com o calor ou com o frio, que se deixasse levar habitualmente pelos estados de ânimo, que estivesse dependente de si mesmo e da sua comodidade? 

(Álvaro del Portillo, Escritos sobre el sacerdocio, Madrid, Epalsa, 4ª ed., nr. 28)


[i] Cf. Lc 12,13-21

Textos de Reflexão para 18 de Junho

Evangelho: Mt 6, 19-23

19 «Não acumuleis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça os consomem, e onde os ladrões arrombam as paredes e roubam. 20 Entesourai para vós tesouros no céu, onde nem a ferrugem nem a traça os consomem, e onde os ladrões não arrombam as paredes nem roubam. 21 Porque onde está o teu tesouro, aí está também o teu coração. 22 «O olho é a lâmpada do corpo. Se o teu olho for são, todo o teu corpo terá luz. 23 Mas, se teu olho for malicioso todo o teu corpo estará em trevas. Se, pois, a luz que há em ti é trevas, quão tenebrosas serão essas trevas!

Meditação:

Lembro-me dos olhos de minha Mãe, negros como azeviche, com um brilho muito peculiar que pareciam ler os meus. Lembro-me deles húmidos de lágrimas rebeldes quando passava a Custódia com o Santíssimo abençoando os doentes em Fátima nos quais, eu, jovem de seis ou sete anos, me incluía. Lembro-me dos olhos de minha Mãe e tenho muitas saudades deles.
Mas, Senhor, o que eu de facto queria era ter uns olhos como os de minha Mãe, puros, límpidos sem nenhum vestígio de maldade ou malícia.
Como que eu gostaria, Senhor, de ter os olhos de minha Mãe, que agora contemplam a Tua divina Face. (ama, meditação sobre Mt 6, 19-23, 2010.04.29)

Tema: Humildade: O verdadeiro tesouro

Encontro, algures na minha natureza, alguma coisa que me diz que não há nada no mundo que seja desprovido de sentido, e muito menos o sofrimento. Essa qualquer coisa, escondida no mais fundo de mim, como um tesouro num campo, é a humildade. É a última coisa que me resta, e a melhor (...). Ela veio-me de dentro de mim mesmo e sei que veio no bom momento. Não teria podido vir mais cedo nem mais tarde. Se alguém me tivesse falada dela, tê-la-ia rejeitado. Se ma tivessem oferecido, tê-la-ia rejeitado (...). É a única coisa que contém os elementos da vida, de uma vida nova (...). Entre todas as coisas ela é a mais estranha (...). É somente quando perdemos todas as coisas que sabemos que a possuímos
(Óscar Wilde, in "De Profundis")