09/04/2017

Fátima: Centenário - Poemas

MÃE ADMIRÁVEL


Ó Filha, Irmã e Mãe da humanidade,
do Sol divino augusto resplendor,
nada no tempo nem na eternidade
tua glória excede, iguala o teu primor!

No Céu, na terra, quem jamais não há-de
teus dons cantar, louvando O Criador,
- prodígio que arrebatas a Trindade
e os Anjos pões em êxtases de amor?!

Teu nome em gozo alaga o Paraíso,
a terra encanta e faz tremer o Inferno,
MÃE ADMIRÁVEL – poema do Universo!

Se a nós volverdes divinal sorriso,
raio de luz do teu olhar materno,
têm calma as ondas neste mar adverso…

Visconde de Montelo, Paráfrase da Ladainha Lauretana, 1956 [i]



[i] Cónego Manuel Nunes Formigão
1883 - Manuel Nunes Formigão nasce em Tomar, a 1 de Janeiro. 1908 - É ordenado presbítero a 4 de Abril em Roma. 1909 - É laureado em Teologia e Direito Canónico pela Universidade Gregoriana de Roma. 1909 - No Santuário de Lourdes, compromete-se a divulgar a devoção mariana em Portugal. 1917 - Nossa Senhora aceita o seu compromisso e ele entrega-se à causa de Fátima. 1917 / 1919 - Interroga, acompanha e apoia com carinho os Pastorinhos. - Jacinta deixa-lhe uma mensagem de Nossa senhora, ao morrer. 1921 - Escreve o livro: "Os Episódios Maravilhosos de Fátima". 1922 - Integra a comissão do processo canónico de investigação às aparições. 1922 - Colabora e põe de pé o periódico "Voz de Fátima". 1924 - A sua experiência de servita de Nossa Senhora em Lurdes, leva-o a implementar idêntica actividade em Fátima. 1928 - Escreve a obra mais importante: "As Grandes Maravilhas de Fátima". 1928 - Assiste à primeira profissão religiosa da Irmã Lúcia, em Tuy. Ela comunica-lhe a devoção dos primeiros sábados e pede-lhe que a divulgue. 1930 - Escreve "Fátima, o Paraíso na Terra". 1931 - Escreve "A Pérola de Portugal". 1936 - Escreve " Fé e Pátria". 1937 - Funda a revista "Stella". 1940 - Funda o jornal "Mensageiro de Bragança". 1943 - Funda o Almanaque de Nossa Senhora de Fátima. 1954 – Muda-se para Fátima a pedido do bispo de Leiria-Fátima 1956 - Escreve sonetos compilados na "Ladainha Lauretana". 1958 – Morre em Fátima. 06/01/1926 - Funda a congregação das Religiosas Reparadoras de Nossa Senhora das Dores de Fátima. 11/04/1949 – A congregação por ele fundada é reconhecida por direito diocesano. 22/08/1949 – Primeiras profissões canónicas das Religiosas. 16/11/2000 - A Conferência Episcopal Portuguesa concede a anuência por unanimidade, para a introdução da causa de beatificação e canonização deste apóstolo de Fátima. 15/09/2001 - Festa de Nossa Senhora das Dores, padroeira da congregação - É oficialmente aberto o processo de canonização do padre Formigão. 16/04/2005 – É oficialmente encerrado e lacrado o processso de canonização do padre Formigão.
Fátima, 28 Jan 2017 (Ecclesia) – Decorreu hoje a cerimónia de trasladação dos restos mortais do padre Manuel Nunes Formigão, conhecido como 'o apóstolo de Fátima, do cemitério local para um mausoléu construído na Casa de Nossa Senhora das Dores.
A celebração de trasladação deste sacerdote e servo de Deus começou com uma concentração, rua Francisco Marto, 203, com centenas de pessoas, seguida de saída para o cemitério da Freguesia de Fátima.
Na eucaristia inserida neste evento, na Basílica da Santíssima Trindade, do Santuário de Fátima, D. António Marto destacou uma figura que "se rendeu ao mistério e à revelação do amor de Deus, da beleza da sua santidade tal como brilhou aos pastorinhos de Fátima".
O bispo de Leiria-Fátima recordou ainda o padre Manuel Formigão como alguém que "captou de uma maneira admirável para o seu tempo, a dimensão reparadora da vivência da fé tão sublinhada na mensagem de Fátima".

Nota de AMA:
Este livro de Sonetos foi por sua expressa vontade, depois da sua morte, devidamente autografado, entregue a meu Pai. Guardo o exemplar como autêntica relíquia.

Fátima: Centenário - Oração diária


Senhora de Fátima:

Neste ano do Centenário da tua vinda ao nosso País, cheios de confiança vimos pedir-te que continues a olhar com maternal cuidado por todos os portugueses.
No íntimo dos nossos corações instala-se alguma apreensão e incerteza em relação a este nosso País.

Sabes bem que nos referimos às diferenças de opinião que se transformam em desavenças, desunião e afastamento; aos casais desfeitos com todas as graves consequências; à falta de fé e de prática da fé; ao excessivo apego a coisas passageiras deixando de lado o essencial; aos respeitos humanos que se traduzem em indiferença e falta de coragem para arrepiar caminho; às doenças graves que se arrastam e causam tanto sofrimento.
Faz com que todos, sem excepção, nos comportemos como autênticos filhos teus e com a sinceridade, o espírito de compreensão e a humildade necessárias para, com respeito de uns pelos outros, sermos, de facto, unidos na Fé, santos e exemplo para o mundo.

Que nenhum de nós se perca para a salvação eterna.

Como Paulo VI, aqui mesmo em 1967, te repetimos:

Monstra te esse Matrem”, Mostra que és Mãe.

Isto te pedimos, invocando, uma vez mais, ao teu Dulcíssimo Coração, a tua protecção e amparo.


AMA, Fevereiro, 2017

Hoy el reto del amor es que frenes el diálogo que te surja del juicio

FRENA EL VIENTO

Estos días está haciendo mucho viento. El viernes, sin ir más lejos, estábamos en la capilla rezando Tercia y se puso a silbar con una fuerza impresionante, ¡se saltaron hasta las luces! Pero no nos impidió terminar iluminando la lectura con una vela.

Llegó la noche, y desde la celda se oía el viento, parecía que íbamos a salir volando. Era tal su fuerza, que se oía cómo arrastraba cosas por la huerta. Por la mañana todo estaba hecho un desastre: ramas caídas, papeles...

Muchas veces, por dentro, con ciertas personas se desencadena viento huracanado. Las vemos hablar o, simplemente, actuar y, sin darnos cuenta, se desata ese viento llamado juicio que arrasa con esa persona dentro de nosotros. Nos surgen juicios que nos apagan la Luz para poder verla, para poder descubrirla tal y como es.

Hay momentos en que ese viento que arrasa con el otro lo compartimos con los demás, y dejamos a esa persona como quedó la huerta... con destrozos difíciles de restaurar.

El viento del juicio muchas veces se desencadena por heridas en un momento dado, por asociaciones con otra persona que te hizo daño, caracteres que despiertan tormentas dentro de ti...

Es verdad que no se puede evitar que el viento se desencadene, pues no depende de nosotros, pero sí que podemos encender una vela para poder seguir "leyendo" aquello que esa persona aporta a nuestra vida, o cerrar puertas y ventanas para que no pueda arrasar con ella dentro de ti, y así puedas transmitirle que en ti siempre habrá un refugio para que pueda ser ella misma.

Cristo en todo momento evitó el juicio en los discípulos, en muchos momentos les frenó en comentarios y pensamientos hacia los otros. Hay muchos ejemplos a lo largo del Evangelio. Cristo siempre alimentó el amor.

Es verdad que pensarás: "Sí, pero es que no puedo evitarlo, me surgen, y ato a esa persona dentro de mí."

Pídele al Señor que te regale unos ojos nuevos, que te hagan descubrir que esa persona ha sido amada por Él justo en eso que te chirría en ella. Ojos para descubrir que Cristo también la soñó a ella y, sobre todo, que sane tu corazón de todas esas heridas que despiertan en ti vientos que arrasan con tu corazón cuando la ves.

Hoy el reto del amor es que frenes el diálogo que te surja del juicio, tanto dentro de ti como con los demás. Te encontrarás con muchas situaciones a lo largo del día en el trabajo, con tus amigos o familia... que facilitarán el juicio o la crítica, frena a tiempo. Hoy apuesta por no destruir a nadie dentro de ti ni de los demás, apuesta por el amor.


VIVE DE CRISTO

Chama cada um à santidade

A oração não é prerrogativa de frades; é incumbência de cristãos, de homens e mulheres do mundo, que se sabem filhos de Deus. (Sulco, 451)

Sentimo-nos tocados, com o coração a bater com mais força, quando ouvimos com toda a atenção este brado de S. Paulo: esta é a vontade de Deus: a vossa santificação. Hoje, mais uma vez o repito a mim mesmo e também o recordo a cada um e à Humanidade inteira: esta é a vontade de Deus, que sejamos santos.

Para pacificar as almas com uma paz autêntica, para transformar a Terra, para procurar Deus Nosso Senhor no mundo e através das coisas do mundo, é indispensável a santidade pessoal. Nas minhas conversas com gente de tantos países e dos ambientes sociais mais diversos, perguntam-me com frequência: – Que diz aos casados? E aos que trabalhamos no campo? E às viúvas? E aos jovens?

Respondo sistematicamente que tenho uma só panela. E costumo fazer notar que Jesus Cristo Nosso Senhor pregou a Boa Nova para todos, sem qualquer distinção. Uma só panela e um único alimento: o meu alimento é fazer a vontade d'Aquele que me enviou e dar cumprimento à sua obra. Chama cada um à santidade, pede amor a cada um: jovens e velhos, solteiros e casados, sãos e doentes, cultos e ignorantes, trabalhem onde quer que trabalhem, estejam onde quer que estejam. Há um único modo de crescer na familiaridade e na confiança com Deus: a intimidade da oração, falar com Ele, manifestar-Lhe – de coração a coração – o nosso afecto.


Invocar-me-eis e Eu vos ouvirei. E invocamo-lo conversando, dirigindo-nos a Ele. Por isso temos de pôr em prática a exortação do Apóstolo: sine intermissione orate; rezai sempre, aconteça o que acontecer. Não apenas de coração, mas com todo o coração. (Amigos de Deus, nn. 294–295)

Evangelho comentário

Tempo da Quaresma

Domingo de Ramos – Paixão do Senhor

Evangelho: Mt 27, 11-54

Naquele tempo, Jesus foi levado à presença do governador Pilatos, que lhe perguntou: «Tu és o Rei dos judeus?». Jesus respondeu: «É como dizes». Mas, ao ser acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. Disse-Lhe então Pilatos: «Não ouves quantas acusações levantam contra Ti?». Mas Jesus não respondeu coisa alguma, a ponto de o governador ficar muito admirado. Ora, pela festa da Páscoa, o governador costumava soltar um preso, à escolha do povo. Nessa altura, havia um preso famoso, chamado Barrabás. E, quando eles se reuniram, disse-lhes Pilatos: «Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus, chamado Cristo?». Ele bem sabia que O tinham entregado por inveja. Enquanto estava sentado no tribunal, a mulher mandou-lhe dizer: «Não te prendas com a causa desse justo, pois hoje sofri muito em sonhos por causa d’Ele». Entretanto, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão a que pedisse Barrabás e fizesse morrer Jesus. O governador tomou a palavra e perguntou-lhes: «Qual dos dois quereis que vos solte?». Eles responderam: «Barrabás». Disse-lhes Pilatos: «E que hei-de fazer de Jesus, chamado Cristo?». Responderam todos: «Seja crucificado». Pilatos insistiu: «Que mal fez Ele?». Mas eles gritavam cada vez mais: «Seja crucificado». Pilatos, vendo que não conseguia nada e aumentava o tumulto, mandou vir água e lavou as mãos na presença da multidão, dizendo: «Estou inocente do sangue deste homem. Isso é lá convosco». E todo o povo respondeu: «O seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos». Soltou-lhes então Barrabás. E, depois de ter mandado açoitar Jesus, entregou-lh’O para ser crucificado. Então os soldados do governador levaram Jesus para o pretório e reuniram à volta d’Ele toda a coorte. Tiraram-Lhe a roupa e envolveram-n’O num manto vermelho. Teceram uma coroa de espinhos e puseram-Lha na cabeça e colocaram uma cana na sua mão direita. Ajoelhando diante d’Ele, escarneciam-n’O, dizendo: «Salve, Rei dos judeus!». Depois, cuspiam-Lhe no rosto e, pegando na cana, batiam-Lhe com ela na cabeça. Depois de O terem escarnecido, tiraram-Lhe o manto, vestiram-Lhe as suas roupas e levaram-n’O para ser crucificado. Ao saírem, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, e requisitaram-no para levar a cruz de Jesus. Chegados a um lugar chamado Gólgota, que quer dizer lugar do Calvário, deram-Lhe a beber vinho misturado com fel. Mas Jesus, depois de o provar, não quis beber. Depois de O terem crucificado, repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, e ficaram ali sentados a guardá-l’O. Por cima da sua cabeça puseram um letreiro, indicando a causa da sua condenação: «Este é Jesus, o Rei dos judeus». Foram crucificados com Ele dois salteadores, um à direita e outro à esquerda. Os que passavam insultavam-n’O e abanavam a cabeça, dizendo: «Tu que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-Te a Ti mesmo; se és Filho de Deus, desce da cruz». Os príncipes dos sacerdotes, juntamente com os escribas e os anciãos, também troçavam d’Ele, dizendo: «Salvou os outros e não pode salvar-Se a Si mesmo! Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz e acreditaremos n’Ele. Confiou em Deus: Ele que O livre agora, se O ama, porque disse: ‘Eu sou Filho de Deus’». Até os salteadores crucificados com Ele O insultavam. Desde o meio-dia até às três horas da tarde, as trevas envolveram toda a terra. E, pelas três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte:        «Eli, Eli, lemá sabactáni?», que quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?». Alguns dos presentes, ouvindo isto, disseram: «Está a chamar por Elias». Um deles correu a tomar uma esponja, embebeu-a em vinagre, pô-la na ponta duma cana e deu-Lhe a beber. Mas os outros disseram: «Deixa lá. Vejamos se Elias vem salvá-l’O». E Jesus, clamando outra vez com voz forte, expirou. Então, o véu do templo rasgou-se em duas partes, de alto a baixo; a terra tremeu e as rochas fenderam-se. Abriram-se os túmulos e muitos dos corpos de santos que tinham morrido ressuscitaram; e, saindo do sepulcro, depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos. Entretanto, o centurião e os que com ele guardavam Jesus, ao verem o tremor de terra e o que estava a acontecer, ficaram aterrados e disseram: «Este era verdadeiramente Filho de Deus».

Comentário:

A Liturgia escolhe para o Domingo de Ramos a leitura da Paixão do Senhor.

Pode parecer estranha esta escolha, num dia em que o principal acontecimento na vida terrena de Cristo é a Sua entrada triunfal em Jerusalém.

Mas, de facto, ela tem importância porque, de certo modo, vem como prelúdio do acontecimento maior da História da Salvação: a Paixão e Morte do Senhor.

A Escritura cumpre-se em todos os seus passos e Jesus Cristo aceita esse triunfo momentâneo como prelúdio do Triunfo Final: a Sua Ressurreição.

(ama, comentário sobre Mt 27, 11-54, 2014.03.03)


Leitura espiritual

A Cidade Deus
A CIDADE DE DEUS

Vol. 2


LIVRO X

CAPÍTULO II

Ao conhecimento de Deus nenhum homem chega senão pelo Mediador entre Deus e os homens __ o homem Jesus Cristo.

É grandioso, mas muito raro, que alguém se eleve, por um esforço da mente, acima de todas as criaturas corporais e incopóreas, depois deter observado e reconhecido a mutalibilidade, para atingir a imutável substância de Deus e aprender d’Ele mesmo que toda a criatura d’Ele distinta só a Ele tem por autor. De facto, Deus não fala ao homem por uma criatura corpórea — como se ferem os ouvidos do corpo fazendo vibrar o ar entre aquele que fala e aquele que ouve;

também se não serve dessas imagens espirituais que tomam a forma e a semelhança dos corpos — como se produz nos sonhos e tudo o que se lhes assemelha (nestes casos Ele fala por assim dizer aos ouvidos do corpo como se falasse por intermédio de um corpo, através do espaço corpóreo; realmente, muito se assemelham aos corpos estas vistas imaginárias);

mas fala pela própria verdade se alguém está apto a ouvir pelo espírito e não pelo corpo. Fala deste modo à parte mais excelente do homem, superior a todos os elementos que constituem o homem e à qual só Deus é superior.

Compreende muito bem o homem ou, se não chega a compreendê-lo, pelo menos crê que foi feito à semelhança de Deus. Certamente que está mais perto de Deus, do seu superior pela parte    superior de si mesmo, feita para dominar as partes inferiores que tem de comum com os animais. Mas como a própria parte mental, sede natural da razão e da inteligência, está muito debilitada pelos vícios inveterados que a obscurecem, necessitava, antes de tudo, de ser purificada pela fé para aderir à luz imutável e dela gozar, ou mesmo para lhe suportar o esplendor, até que, renovada e curada dia a dia, se tom e capaz duma tão grande felicidade.

E para caminhar mais confiadamente nessa fé para a verdade — a própria verdade, Deus Filho de Deus, assumindo o homem sem anular a Deus, fundou e estabeleceu essa mesma fé para que o homem tivesse um caminho para o Deus do homem por intermédio do homem-Deus. Este é que é, realmente, o Mediador entre Deus e os homens — o homem Jesus Cristo: é Mediador por ser homem e como tal é caminho. Porque, se entre o que caminha e o lugar para onde se caminha há no meio um caminho, há esperança de lá chegar; se, porém, falta ou se desconhece por onde se deve seguir, que interessa que se saiba para onde se deve seguir? Só há, portanto, um caminho que exclui todo o erro: que o próprio Deus e o homem sejam o mesmo — Deus para onde se vai, homem por onde se vai.


CAPÍTULO III

Autoridade da Escritura canónica, obra do Espírito Santo.

Deus falou, primeiro, por intermédio dos profetas, depois, directamente, Ele próprio, e finalmente, na medida em que o julgou suficiente, pelos Apóstolos. Instituiu também a Escritura chamada canónica e investida da mais alta autoridade. Nela acreditamos a respeito de tudo o que convém não ignorar e que somos incapazes de conhecer por nós próprios. É certo que podemos saber — e disso somos nós próprios testemunhas — o que está ao alcance dos nossos sentidos, interiores ou mesmo exteriores, (daí que chamemos presente (praesentia) ao que se apresenta aos nosos sentidos (prae sensibus), como dizemos que está diante (prae) dos nossos olhos um objecto que aos olhos se apresenta). Todavia, para as coisas que não estão ao alcance dos sentidos, porque as não podemos conhecer pelo nosso próprio testemunho, procuram os outras testemunhas e depositamos nelas fé quando julgamos que essas coisas não estão ou não estiveram afastadas dos seus sentidos. Da mesma forma, portanto, que a respeito das coisas visíveis que não vemos, depositamos fé naqueles que as viram, como acreditamos nas outras coisas que dependem de cada um dos respectivos sentidos do corpo, — assim deve ser a respeito das coisas que são percebidas pela alma e pelo espírito (porque se pode muito bem falar de um sentido do espírito, donde vem o termo sententia (sentença — pensamento). Quer dizer: para as coisas invisíveis que escapam ao nosso sentido interior, devemos fiar-nos naqueles que as captaram tais quais elas se encontram na luz incorpórea ou naqueles que as contemplam na sua permanência (manentia — existência actual).


CAPÍTULO IV

Criação do Mundo: ela não é intemporal nem foi estabelecida segundo um plano novo de Deus, com o se Deus tivesse querido depois o que antes não quisera.

De todos os seres visíveis o maior é o Mundo; de todos os invisíveis o maior é Deus. Mas que o Mundo existe — vemo-lo nós; que Deus existe — cremo-lo. De que Deus fez o M undo não temos mais segura garantia para o crer do que o próprio Deus. Onde o ouvimos? Em parte alguma melhor, com certeza, do que nas Santas Escrituras onde um seu profeta disse:

No princípio fez Deus o Céu e a Terra
[i].

Então este profeta estava lá quando Deus criou o Céu e a Terra? Não. Mas esteve lá a Sabedoria de Deus pela qual se fizeram todas as coisas, que se transmite também às almas santas, faz delas os amigos e profetas de Deus, e, no seu íntimo, silenciosamente, lhes conta as suas obras.

Também lhes falam os anjos de Deus que vêem sempre a face do Pai e anunciam a sua vontade a quem é preciso. Era um deles o profeta que disse e escreveu:

No princípio fez Deus o Céu e a Terra.

é tal a autoridade que tem, como testemunho, para que creditemos em Deus, que, pelo mesmo Espírito de Deus (que por revelação lhe deu a conhecer estas coisas) predisse com tanta antecedência a nossa fé.

E porque é que ao Deus eterno aprouve criar, então, o Céu e a Terra que antes não tinha criado? Se os que isto perguntam pretendem que o Mundo é eterno, sem princí­pio e, portanto, parece que não foi feito por Deus, estão muito afastados da verdade e deliram atingidos da enfermidade mortal de impiedade. Porque, além das vozes proféticas, o próprio Mundo pelas suas mudanças e revoluções tão bem ordenadas, com o pelo esplendor de todas as coisas visíveis, proclama silenciosamente, a bem dizer, não só que foi feito, mas também que não pôde ser feito senão por Deus inefável e invisivelmente grande, inefável e invisivelmente belo

Outros há que confessam que o Mundo foi feito por Deus; todavia, não admitem que ele tenha tido começo no tempo, mas sim começo na sua criação: de um a maneira difícil de compreender, foi feito desde sempre. Julgam estes que, com tal maneira de dizer, defendem Deus de certa temeridade fortuita, não se vá crer que lhe veio de repente ao espírito a ideia, jamais antes concebida, de fazer o Mundo, e que foi determinado por um a vontade nova — Ele até então absolutamente imutável. Não vejo com o, em outras questões, poderão sustentar esta opinião, sobretudo acerca da alma. Se pretendem que ela é coeterna com Deus, torna-se-lhes impossível explicar donde lhe adveio um a infelicidade nova, nunca antes por ela experimentada na eternidade. Se disserem que ela sofreu sempre alternativas de infelicidade e de felicidade, terão, então, de afirmar esta alternativa também para sempre — mas, então, seguir-se-ia o absurdo de, nos momentos em que se diz feliz, mesmo neles não poder sê-lo, se prevê a sua infelicidade e torpeza futura. E se não prevê, mas crê que será sempre feliz, e essa falsa crença a tom a nesse caso feliz — nada se pode afirmar de mais insensato.

E, se se pensar que sempre, no decurso dos séculos infinitos, ela suportou alternativas de infelicidade e de felicidade, mas que agora, finalmente libertada, não voltará a cair na infelicidade, fica-se, pelo menos, obrigado a admitir que ela nunca foi verdadeiramente feliz mas vai apenas começar a sê-lo de um a felicidade nova que não engana. Confessar-se-á, então, que qualquer coisa de novo lhe aconteceu, qualquer coisa de grande e de magnífico que ela jamais antes conhecera durante a sua eternidade. Se negarem que D eus, por um desígnio eterno, foi a causa desta novidade, terão também que negar que Ele é o autor da felicidade — o que é um a abominável impiedade. Se disserem que o próprio Deus, por um novo desígnio decidiu que a alma será doravante feliz para sempre — com o é que o mostrarão então alheio à mutabilidade que nem mesmo eles querem admitir? Mas, se se confessar que a alma foi criada no tempo e que em nenhum momento do  futuro ela perecerá, à maneira de um número que tem começo, mas não tem fim, de maneira que, depois de ter experimentado um a vez a infelicidade e desta se ter libertado, ela não voltará a conhecê-la, ninguém duvidará de que isso acontecerá sem prejuízo para a imutabilidade dos desígnios de Deus. Creia-se, pois, também que o Mundo pôde ser feito no tempo sem que, ao fazê-lo, Deus tenha mudado o seu desígnio e a sua vontade eterna.

(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)





[i] Gen., I, 1.

Tratado da vida de Cristo 155

Questão 52: Da descida de Cristo aos infernos

Art. 7 — Se as crianças mortas no pecado original foram livradas pela descida de Cristo.

O sétimo discute-se assim. — Parece que as crianças mortas no pecado original foram livradas pela descida de Cristo.

1. — Pois, não estavam encerradas no inferno por causa do pecado original, como o estavam os santos Patriarcas. Ora, os santos Patriarcas foram livrados do inferno por Cristo, como se disse. Logo e semelhantemente, também as crianças foram livradas do inferno por Cristo.

2. Demais. — O Apóstolo diz: Se pelo pecado de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, que é Jesus Cristo, abundou sobre muitos. Ora, por causa do pecado dos nossos Primeiros Pais, as crianças, mortas só no estado do pecado original são retidas no inferno. Logo, com maior razão, pela graça de Cristo, são dele livradas.

3. Demais. — Assim como o baptismo obra em virtude da Paixão de Cristo, assim também a sua descida aos internos, como do sobredito resulta. Ora, as crianças são livradas pelo baptismo do pecado original e do inferno. Logo e semelhantemente, foram livradas pela descida de Cristo aos infernos.

Mas, em contrário, o Apóstolo diz: Deus propôs a Cristo para ser vítima de propiciação pela fé no seu sangue. Ora, as crianças mortas só no estado do pecado original de nenhum modo foram participantes da fé de Cristo. Logo, não receberam o fruto da propiciação de Cristo, de modo que por ele ficassem livres do inferno.

Como se disse, a descida de Cristo aos internos só teve o efeito de libertar aqueles que estavam unidos pela fé e pela caridade à sua Paixão, em virtude da qual essa descida do inferno era liberatória. Ora, as crianças mortas no estado de pecado original de nenhum modo estavam unidas à Paixão de Cristo pela fé e pelo amor; nem podiam ter fé própria, porque não tinham o uso do livre arbítrio; nem foram purificadas do pecado original pela fé dos pais nem por nenhum sacramento da fé. Donde, a descida de Cristo aos infernos não libertou essas crianças do inferno. — E além disso, os santos Patriarcas foram libertados do inferno por terem sido admitidos à glória da visão divina; à qual ninguém pode chegar senão pela graça, segundo o Apóstolo — A graça de Deus é a vida eterna. Ora, como as crianças mortas em estado de pecado original não tinham a graça, não foram libertadas do inferno.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Os santos Patriarcas, embora ainda estivessem adstritos ao reato do pecado original, por causa de sua natureza humana, contudo foram libertados pela fé de Cristo de toda mácula de pecado. E por isso eram capazes daquela libertação que Cristo trouxe, descendo aos infernos. Mas o mesmo não podemos dizer das crianças, como do sobredito resulta.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Quando o Apóstolo diz — A graça de Deus abundou sobre muitos, a palavra muitos não deve ser tomada em sentido comparativo, como se fossem em maior número os salvos pela graça de Cristo do que os condenados pelo pecado de Adão. Mas em sentido absoluto, como se dissesse que a graça de Cristo só abundou sobre muitos, assim como o pecado único de Adão contaminou a muitos. Mas, o pecado de Adão contaminou só aqueles que descenderam dele carnalmente por via de geração; assim também a graça de Cristo só a receberam aqueles que se tornaram membros seus; pela regeneração espiritual. O que não convém às crianças mortas em pecado original.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O baptismo é aplicado aos homens nesta vida, quando podemos passar da culpa para a graça. Ora, pela descida aos infernos, Cristo visitou as almas saídas desta vida, quando já não eram capazes da referida mudança. Por isso, as crianças pelo baptismo são libertadas do pecado original e do inferno; mas não pela descida de Cristo aos infernos.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



Epístolas de São Paulo – 40

2ª Epístola de São Paulo aos Coríntios

I. DEFESA DO APÓSTOLO (1,12-7,16)

Capítulo 5

1Sabemos, com efeito, que, quando a nossa morada terrestre, a nossa tenda, for destruída, temos uma habitação no Céu, obra de Deus, uma casa eterna, não construída por mãos humanas. 2E por isso, gememos nesta tenda, ansiando por revestir-nos daquela habitação celeste, 3contanto que nos encontremos vestidos e não nus. 4Pois, enquanto estamos na tenda gememos oprimidos, porque não queremos ser despidos mas revestidos, a fim de que o que é mortal seja absorvido pela vida. 5E quem nos preparou para isso mesmo foi Deus, que nos deu o penhor do Espírito. 6Portanto, estamos sempre confiantes e conscientes de que, permanecendo neste corpo, vivemos exilados, longe do Senhor, 7pois caminhamos pela fé e não pela visão... 8Cheios dessa confiança, preferimos exilar-nos do corpo, para irmos morar junto do Senhor. 9Por isso também, quer permaneçamos na nossa morada, quer a deixemos, esforçamo-nos por lhe agradar. 10Com efeito, todos havemos de comparecer perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba conforme aquilo que fez de bem ou de mal, enquanto estava no corpo.

O ministério da reconciliação

11Compenetrados, pois, do temor do Senhor, procuramos persuadir os homens e viver plenamente transparentes diante de Deus. Mas espero ter-me também manifestado plenamente às vossas consciências. 12Não vamos recomendar-nos, de novo, a vós, mas queremos dar-vos a oportunidade de vos gloriardes por causa de nós, a fim de que saibais como responder aos que se gloriam das aparências e não do que está no coração. 13Porque, se entramos em exaltação, é por Deus; se somos sensatos, é por vós. 14Sim, o amor de Cristo nos absorve completamente, ao pensar que um só morreu por todos e, portanto, todos morreram. 15Ele morreu por todos, a fim de que, os que vivem, não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. 16Por conseguinte, de agora em diante, não conhecemos ninguém à maneira humana. Ainda que tenhamos conhecido a Cristo desse modo, agora já não o conhecemos assim. 17Por isso, se alguém está em Cristo, é uma nova criação. O que era antigo passou; eis que surgiram coisas novas. 18Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação. 19Pois foi Deus quem reconciliou o mundo consigo, em Cristo, não imputando aos homens os seus pecados, e pondo em nós a palavra da reconciliação. 20É em nome de Cristo, portanto, que exercemos as funções de embaixadores e é Deus quem, por nosso intermédio, vos exorta. Em nome de Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus. 21Aquele que não havia conhecido o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nos tornássemos, nele, justiça de Deus.

Doutrina – 264

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ

SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ

CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

43. O que implica crer em um só Deus?

Crer em Deus, o Único, implica: conhecer a sua grandeza e majestade; viver em acção de graças; confiar sempre n’Ele, até nas adversidades; reconhecer a unidade e a verdadeira dignidade de todos os homens, criados à imagem de Deus; usar rectamente as coisas por Ele criadas.



Pequena agenda do cristão

DOMINGO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me:
Cultivar a Fé

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?