Art.
7 — Se as crianças mortas no pecado original foram livradas pela descida de
Cristo.
O
sétimo discute-se assim. — Parece que as crianças mortas no pecado original
foram livradas pela descida de Cristo.
1. — Pois, não estavam encerradas no
inferno por causa do pecado original, como o estavam os santos Patriarcas. Ora,
os santos Patriarcas foram livrados do inferno por Cristo, como se disse. Logo
e semelhantemente, também as crianças foram livradas do inferno por Cristo.
2. Demais. — O Apóstolo diz: Se pelo pecado de um morreram muitos, muito
mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, que é Jesus Cristo,
abundou sobre muitos. Ora, por causa do pecado dos nossos Primeiros Pais,
as crianças, mortas só no estado do pecado original são retidas no inferno.
Logo, com maior razão, pela graça de Cristo, são dele livradas.
3. Demais. — Assim como o baptismo obra
em virtude da Paixão de Cristo, assim também a sua descida aos internos, como
do sobredito resulta. Ora, as crianças são livradas pelo baptismo do pecado
original e do inferno. Logo e semelhantemente, foram livradas pela descida de
Cristo aos infernos.
Mas, em contrário, o Apóstolo diz: Deus propôs a Cristo para ser vítima de
propiciação pela fé no seu sangue. Ora, as crianças mortas só no estado do
pecado original de nenhum modo foram participantes da fé de Cristo. Logo, não
receberam o fruto da propiciação de Cristo, de modo que por ele ficassem livres
do inferno.
Como se disse, a descida de
Cristo aos internos só teve o efeito de libertar aqueles que estavam unidos
pela fé e pela caridade à sua Paixão, em virtude da qual essa descida do
inferno era liberatória. Ora, as crianças mortas no estado de pecado original
de nenhum modo estavam unidas à Paixão de Cristo pela fé e pelo amor; nem
podiam ter fé própria, porque não tinham o uso do livre arbítrio; nem foram
purificadas do pecado original pela fé dos pais nem por nenhum sacramento da
fé. Donde, a descida de Cristo aos infernos não libertou essas crianças do
inferno. — E além disso, os santos Patriarcas foram libertados do inferno por
terem sido admitidos à glória da visão divina; à qual ninguém pode chegar senão
pela graça, segundo o Apóstolo — A graça
de Deus é a vida eterna. Ora, como as crianças mortas em estado de pecado
original não tinham a graça, não foram libertadas do inferno.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
Os santos Patriarcas, embora ainda estivessem adstritos ao reato do pecado
original, por causa de sua natureza humana, contudo foram libertados pela fé de
Cristo de toda mácula de pecado. E por isso eram capazes daquela libertação que
Cristo trouxe, descendo aos infernos. Mas o mesmo não podemos dizer das
crianças, como do sobredito resulta.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Quando o Apóstolo
diz — A graça de Deus abundou sobre
muitos, a palavra muitos não deve ser tomada em sentido comparativo, como
se fossem em maior número os salvos pela graça de Cristo do que os condenados
pelo pecado de Adão. Mas em sentido absoluto, como se dissesse que a graça de
Cristo só abundou sobre muitos, assim como o pecado único de Adão contaminou a
muitos. Mas, o pecado de Adão contaminou só aqueles que descenderam dele
carnalmente por via de geração; assim também a graça de Cristo só a receberam
aqueles que se tornaram membros seus; pela regeneração espiritual. O que não
convém às crianças mortas em pecado original.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O baptismo é
aplicado aos homens nesta vida, quando podemos passar da culpa para a graça.
Ora, pela descida aos infernos, Cristo visitou as almas saídas desta vida,
quando já não eram capazes da referida mudança. Por isso, as crianças pelo baptismo
são libertadas do pecado original e do inferno; mas não pela descida de Cristo
aos infernos.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
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