Tempo comum XIV Semana
Evangelho:
Mt 10, 7-15
7 Ide, e anunciai que está
próximo o Reino dos Céus. 8 «Curai os enfermos, ressuscitai os
mortos, limpai os leprosos, lançai fora os demónios. Dai de graça o que de
graça recebestes. 9 Não leveis nos vossos cintos nem ouro, nem
prata, nem dinheiro, 10 nem alforge para o caminho, nem duas
túnicas, nem sandálias, nem bordão; porque o operário tem direito ao seu
alimento. 11 «Em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes,
informai-vos de quem há nela digno de vos receber, e ficai aí até que vos
retireis. 12 Ao entrardes na casa, saudai-a, dizendo: “A paz seja
nesta casa”. 13 Se aquela casa for digna, descerá sobre ela a vossa
paz; se não for digna, a vossa paz tornará para vós. 14 Se não vos
receberem nem ouvirem as vossas palavras, ao sair para fora daquela casa ou
cidade, sacudi o pó dos vossos pés. 15 Em verdade vos digo que será
menos punida no dia do juízo a terra de Sodoma e de Gomorra do que aquela
cidade.
Comentário:
O trabalhador merece o seu sustento, diz o
Senhor e, esta sentença deve levar-nos a pensar seriamente, se contribuímos, na
medida das nossas reais possibilidades para o sustento do clero.
Realmente esta é uma obrigação muito
específica dos cristãos que além de um dever de justiça é, também, uma
manifestação de carinho por aqueles que dedicam com total entrega, as suas
vidas ao serviço da a igreja que somos todos os baptizados.
(ama, comentário sobre Mt 10,
7-15, 2013.06.11)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Amigos de Deus
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Um
caminho normal
Tratamos de virtudes humanas.
E
talvez algum possa perguntar: mas comportar-se assim não significa isolar-se do
ambiente normal, não é uma coisa alheia ao mundo de todos os dias?
Não.
Não
está escrito em nenhum sítio que o cristão deve ser um personagem estranho ao
mundo.
Nosso
Senhor Jesus Cristo fez o elogio, com obras e com palavras, de outra virtude
humana que me é particularmente querida: a naturalidade, a simplicidade.
Lembremo-nos de como Nosso Senhor vem ao
mundo: como todos os homens.
Passa
a infância e a juventude numa aldeia da Palestina.
É
mais um entre os seus concidadãos.
Nos
anos da sua vida pública, repete-se continuamente o eco da sua existência
normal de Nazaré.
Fala
do trabalho, preocupa-se com o descanso dos seus discípulos, vai ao encontro de
todos e não recusa falar com ninguém; diz expressamente aos que o seguiam que
não impeçam as crianças de se aproximarem d'Ele.
Evocando
talvez os tempos da sua infância, apresenta a comparação dos meninos que
brincam na praça pública.
Não é tudo isto normal, natural, simples?
Não
pode viver-se na vida de todos os dias?
Acontece,
no entanto, que os homens costumam habituar-se ao que é chão e corrente e,
inconscientemente, procuram o que é aparatoso e artificial.
Tê-lo-ão
comprovado, tal como eu: elogia-se, por exemplo, o primor de umas rosas
frescas, recém-cortadas, de pétalas finas e perfumadas.
E
o comentário é: parecem artificiais!
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A naturalidade e a simplicidade são duas
maravilhosas virtudes humanas, que tornam o homem capaz de receber a mensagem
de Cristo.
Em
contrapartida, tudo o que é emaranhado e complicado, as voltas e mais-voltas em
torno de nós mesmos levantam um muro que impede com frequência de ouvir a voz
de Nosso Senhor.
Recordemos
as acusações que Cristo lança aos fariseus: meteram-se num mundo retorcido que
exige pagar dízimos da hortelã, do endro e do cominho, e abandonam as
obrigações essenciais da lei, a justiça e a fé; esmeram-se a coar tudo o que
bebem, para que não passe nem um mosquito, mas engolem um camelo.
Não!
Nem a nobre vida humana daquele que - sem
culpa - não conhece Jesus Cristo, nem a vida do cristão devem ser esquisitas e
estranhas.
Estas
virtudes humanas, que estamos hoje a considerar, levam todas à mesma conclusão.
É
verdadeiramente homem aquele que se empenha em ser veraz, leal, sincero, forte,
temperado, generoso, sereno, justo, laborioso, paciente.
Comportar-se
desta maneira pode ser difícil, mas nunca é estranho. Se alguns se admirassem,
seria por olharem com olhos turvos, nublados por uma secreta cobardia, por
falta de rijeza.
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Virtudes
humanas e virtudes sobrenaturais
Quando uma alma se esforça por cultivar as
virtudes humanas, o seu coração já está muito perto de Cristo.
E o cristão compreende que as virtudes
teologais - a fé, a esperança, a caridade - e todas as outras que a graça de
Deus traz consigo o animam a nunca descuidar essas boas qualidades, que compartilha
com tantos homens.
As
virtudes humanas - insisto - são o fundamento das sobrenaturais; e estas
proporcionam sempre um novo vigor para progredir com honradez no sentido do
bem.
Mas,
em qualquer caso, não é suficiente o desejo de possuir essas virtudes: é
preciso aprender a praticá-las.
Discite benefacere,
aprendei a fazer o bem.
Temos
de nos exercitar habitualmente nos actos correspondentes - actos de
sinceridade, de equanimidade, de serenidade, de paciência -, porque amores são
obras e não se pode amar a Deus só de palavra, mas com obras e de verdade.
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Se o cristão luta por adquirir estas
virtudes, a alma dispõe-se a receber com eficácia a graça do Espírito Santo: e
as qualidades humanas boas ficam reforçadas com as moções do Paráclito na alma.
A
Terceira Pessoa da Santíssima Trindade - doce hóspede da alma - oferece os seus
dons: dom de sabedoria, de entendimento, de conselho, de fortaleza, de ciência,
de piedade, de temor de Deus .
Sente-se então o gozo e a paz, a paz
gozosa, o júbilo interior com a virtude humana da alegria.
Quando
pensamos que tudo se afunda sob os nossos olhos, nada se afunda, porque Tu és,
Senhor, a minha fortaleza.
Se
Deus mora na nossa alma, tudo o resto, por mais importante que pareça, é
acidental, transitório; em contrapartida, nós, em Deus, somos o permanente.
O Espírito Santo, com o dom da piedade,
ajuda-nos a considerarmo-nos, com certeza, filhos de Deus.
E
se somos filhos de Deus, por que havemos de estar tristes?
A
tristeza é a escória do egoísmo.
Se
queremos viver para Nosso Senhor, não nos faltará a alegria, mesmo que
descubramos os nossos erros e as nossas misérias.
A
alegria entra na vida de oração de tal maneira que, a certa altura, não
poderemos deixar de cantar: porque amamos, e cantar é próprio de apaixonados.
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Se vivermos assim, realizaremos no mundo
uma obra de paz; saberemos tornar amável aos outros o serviço a Nosso Senhor,
porque Deus ama quem dá com alegria O cristão é uma pessoa igual às outras na
sociedade; mas do seu coração transbordará a alegria de quem se propõe cumprir,
com a ajuda constante da graça, a Vontade do Pai: e não se sente vítima, nem
inferiorizado, nem coagido.
Caminha
de cabeça erguida, porque é homem e é filho de Deus.
A nossa fé dá todo o seu relevo a estas
virtudes, que pessoa alguma deveria deixar de cultivar.
Ninguém
pode vencer o cristão em humanidade. Por isso, quem segue Cristo é capaz - não
por mérito próprio, mas pela graça de Nosso Senhor - de comunicar aos que o
rodeiam o que às vezes eles pressentem, embora não consigam compreender: que a
verdadeira felicidade, o verdadeiro serviço ao próximo passa pelo Coração do
Nosso Redentor; perfectus Deus,
perfectus, homo.
Recorramos a Maria, nossa Mãe, a criatura
mais excelsa que saiu das mãos de Deus.
Peçamos-lhe
que nos faça homens de bem e que essas virtudes humanas, engastadas na vida da
graça, se tornem a melhor ajuda para aqueles que trabalham connosco no mundo
pela paz e pela felicidade de todos.
(cont)