Tempo Comum
Semana V
Cinzas
Evangelho:
Mt 6, 1-6. 16-2-18
1 «Guardai-vos de fazer as
boas obras diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles. De contrário
não tereis direito à recompensa do vosso Pai que está nos céus.2
«Quando, pois, dás esmola, não faças tocar a trombeta diante de ti, como fazem
os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em
verdade vos digo que já receberam a sua recompensa.3 Mas, quando dás
esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita,4 para
que a tua esmola fique em segredo, e teu Pai, que vê o que fazes em segredo, te
pagará.5 «Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam
de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, a fim de serem vistos
pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa.6
16 «Quando jejuais, não vos
mostreis tristes como os hipócritas que desfiguram o rosto para mostrar aos
homens que jejuam. Na verdade vos digo que já receberam a sua recompensa.17
Mas tu, quando jejuares, unge a tua cabeça e lava o teu rosto,18 a
fim de que não pareça aos homens que jejuas, mas sim a teu Pai, que está
presente no oculto, e teu Pai, que vê no oculto, te dará a recompensa.
Comentário:
A Liturgia escolheu este trecho
de São Mateus para Quarta-Feira de Cinzas deste ano de 2016 e, a meu ver, com
uma intenção bem clara:
Dar aos cristãos uma “medida” de
procedimento durante a Quaresma que hoje começa.
Na verdade tudo se pode resumir
a “Rectidão de Intenção”.
(ama,
comentário sobre Mt 6, 16-18; 16-18, 2015.02.18)
Leitura espiritual
Teologia da Sacrosanctum Concilium
4
– A liturgia, momento da história da salvação
Depois
de ter apresentado no Artigo 5 a história da salvação que culmina na morte e
ressurreição de Jesus, assim como o nascimento da Igreja e com ela da liturgia,
a “Sacrosanctum Concilium” passa a
tratar, no artigo 6, da liturgia como celebração desta história, particularmente
da obra salvífica de Jesus Cristo, na liturgia.
Lemos
no início deste artigo:
“Assim
como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também ele enviou os apóstolos, cheios
do Espírito Santo, não só para pregarem o evangelho (…) mas ainda para levarem
a efeito o que anunciavam: a obra da salvação através do sacrifício e dos
sacramentos, sobre os quais gira toda a vida litúrgica”.
A
afirmação principal deste texto é retomada no início do artigo 7 de
constituição:
“Para
levar a efeito obra tão importante Cristo está sempre presente em sua Igreja,
sobretudo na ações litúrgicas”.
Assim
se coloca para nós a questão: Se Jesus nos salvou, o que a liturgia acrescenta
a esta obra? O que significa que ela deve ser levada a efeito?
Não
se trata de completar ou continuar a obra de Cristo, como se ela não tivesse
sido perfeita. Deus fez através de Jesus tudo para a nossa salvação. Mas ele
nos quer salvar como seres livres.
Livremente
colocamo-nos contra Deus pelo pecado, livremente devemos também aceitar a
salvação que Deus operou para nós.
Precisamente
assim a salvação pode ter efeito, se nós nos voltamos para Deus, se ouvimos sua
palavra e a pomos em prática e se acolhemos o presente de uma nova vida, de uma
nova história, do Reino que Jesus veio anunciar. Esta acolhida e aceitação
acontecem por uma vida em obediência a Deus, mas de modo especialmente consciente
e intenso na liturgia.
É
como também a constituição sobre a liturgia diz:
“Para
levar a efeito obra tão importante (a obra da salvação) Cristo está sempre
presente em sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas” [i].
Portanto,
dizendo “sim” a Deus, sua vontade e sua obra, e sobretudo celebrando na
liturgia este nosso sim vivido, é que se leva a efeito a salvação. Assim a
liturgia cristã, ela mesma um fato histórico, se torna momento privilegiado da
história da salvação.
Seria
bem compreensível que alguém pergunte:
Como
é que na liturgia pode acontecer salvação?
Acabamos
de ver que a liturgia não é uma acção meramente humana. Cristo está presente na
celebração litúrgica como agente principal. Devemos igualmente lembrar que toda
ação litúrgica acontece, como nos diz o Vaticano II, na força do Espírito Santo
[ii].
Mas
é bom recorrer ainda ao conceito de memória, se queremos entender a eficácia
salvífica da liturgia. Memória litúrgica não é um simples lembrar.
Lembramos,
sim, a páscoa histórica de Cristo e do seu povo, mas a lembramos na presença de
Cristo e na força do Espírito Santo.
Lembrando a pessoa e a obra de Cristo abrimo-nos
para Ele. Como ele diz no livro do Apocalipse, ele está à porta e bate. Se abrimos
a porta, ele entra para cear connosco [iii].
Isso
quer dizer que ele entra em comunhão íntima connosco, e esta comunhão de vida
entre Deus e nós é salvação.
Ninguém
pode duvidar que tal liturgia seja um culto agradável a Deus, suposto que
celebramos ritualmente aquilo que vivemos.
Não
é apenas um fazer externo, mas a expressão de uma atitude interna e da nossa
vida do dia-a-dia.
O
que assim vale de cada um de nós, vale das nossas famílias, das nossas
comunidades eclesiais, vale da Igreja e de certo modo de toda a humanidade e de
sua história.
Todas
as pessoas de boa vontade que vivem o amor e a solidariedade, que lutam pela
justiça e a paz, estão fazendo a vontade de Deus.
Embora
muitos não tenham consciência de sua vida pascal em união com Jesus Cristo e
não a celebrem na liturgia cristã ou talvez de maneira alguma, também neles é
levada a efeito a obra salvífica de Cristo.
Toda
a história da humanidade é história da salvação, porque nela se leva a efeito a
obra redentora de Cristo até o fim dos tempos.
A
liturgia é um momento privilegiado desta história.
Sendo
assim, não poderíamos dispensar toda a liturgia e apenas viver um culto
espiritual?
Não,
porque desde Caim e Abel a humanidade, de modo particular – para não falar em
outras religiões – o povo da antiga aliança, celebrava sua vida e história.
Assim
fez também Jesus, e ele nos mandou fazer o mesmo em sua memória.
Celebrar
é uma dimensão essencial e indispensável de uma vida verdadeira e plenamente
humana.
Na
festa, celebrando a vida, vivemos mesmo.
Por
isso, não há nada mais humano do que celebrar na liturgia a verdadeira vida de
cada um de nós e de toda a humanidade que Jesus nos mereceu por sua morte e
ressurreição.
(cont)
p. gregório
lutz cssp
(Revisão da versão
portuguesa por ama)