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Leitura Espiritual
Amigos de Deus |
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Alguns,
quando ouvem falar de castidade, sorriem.
É
um sorriso - um esgar - sem alegria, morto, de mentes retorcidas. A grande
maioria, repetem, não acredita nisso!
Eu
costumava dizer aos rapazes que me acompanhavam pelos hospitais e bairros da
periferia de Madrid, há muitos anos atrás: pensai que há um reino mineral;
outro, mais perfeito, o reino vegetal, no qual, à mera existência se acrescenta
a vida; e, depois outro, o reino animal, formado quase sempre por seres com
sensibilidade e movimento.
Explicava-lhes também, de um modo pouco
académico mas expressivo, que deveríamos instituir outro reino: o hominal, o
reino dos humanos.
Na
verdade, as criaturas racionais possuem uma inteligência admirável, reflexo da
Sabedoria divina, que lhes permite raciocinar por sua conta e exercer essa
liberdade maravilhosa, com que podem aceitar ou recusar uma coisa ou outra por
seu arbítrio.
Pois neste reino dos homens - comentava-lhes
eu, com a experiência do meu trabalho sacerdotal tão intenso - para uma pessoa
normal, o tema do sexo ocupa um quarto ou quinto lugar.
Primeiro,
estão as aspirações da vida espiritual, aquela que cada um tiver; a seguir, as
questões que interessam ao homem e à mulher corrente: o pai, a mãe, o seu lar;
depois a profissão e, muito além, em quarto ou quinto lugar aparece o impulso
sexual.
Por isso, sempre que conheci pessoas que
convertiam este assunto no tema central da sua conversa e dos seus interesses,
pensei que eram anormais, uns pobres desgraçados, talvez doentes.
E
acrescentava, provocando com isto um momento de riso e de piada entre os
rapazes, que esses infelizes me faziam tanto dó como um rapaz com a cabeça
grande, enorme, de um metro de perímetro!
São
gente infeliz e, da nossa parte, além das orações, nasce uma fraterna
compaixão, porque desejamos que se curem de tão triste doença.
O
que não são é nem mais homens nem mais mulheres que aqueles que como nós, não
estão obcecados pelo sexo.
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A
castidade é possível
Todos nós temos paixões e todos enfrentamos,
em qualquer idade, as mesmas dificuldades.
Temos,
por isso, de lutar.
Lembrai-vos
do que escrevia S. Paulo: datus est mihi
stimulus carnis meæ, angelus Satanæ, qui me colaphizet, rebela-se o
estímulo da carne, que é como um anjo de Satanás, que me esbofeteia para que eu
não seja soberbo.
Não se pode viver uma vida limpa sem
assistência divina.
Deus
quer que sejamos humildes e peçamos o seu auxílio.
Deves
pedir com confiança a Nossa Senhora, agora mesmo, na solidão acompanhada do teu
coração, silenciosamente:
Minha
Mãe, este meu pobre coração rebela-se tolamente... se tu não me proteges...
E
amparar-te-á para que o guardes puro e percorras o caminho a que Deus te
chamou.
Filhos: humildade, humildade!
Aprendamos
a ser humildes.
Para
guardar o Amor é preciso prudência, é preciso vigiar com cuidado e não se
deixar dominar pelo medo.
Entre
os clássicos de espiritualidade, muitos comparam o demónio a um cão raivoso,
preso a uma corrente: se não nos aproximarmos, não morde, ainda que ladre
continuamente.
Se
fomentardes a humildade nas vossas almas, de certeza que evitareis as
tentações, reagireis com a valentia de fugir e socorrer-vos-eis diariamente do
auxílio do Céu para avançar com garbo por este caminho de apaixonados.
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Reparai que aquele que está apodrecido pela
concupiscência da carne não consegue andar espiritualmente e é incapaz de
qualquer obra boa.
É
um aleijado que permanece estirado no chão como um trapo.
Nunca
vistes os doentes com paralisias progressivas, que não conseguem ter força nem
pôr-se de pé?
Às
vezes nem sequer mexem a cabeça!
Pois
isso acontece, na vida sobrenatural, aos que não são humildes e aos que se
entregaram cobardemente à luxúria.
Não
vêem, não ouvem, nem percebem nada.
Estão
paralíticos e parecem loucos.
Cada
um de nós deve invocar o Senhor e a Mãe de Deus e pedir-lhes a humildade e a
decisão de aproveitar piedosamente o divino remédio da confissão.
Não
permitais que se instale na vossa alma um foco de podridão, ainda que seja
muito pequeno.
Falai!
Quando
a água corre, é límpida; quando estagna, forma um charco, enche-se de porcaria
repugnante e em vez de água potável passa a ser um caldo de bichos.
Que a castidade é possível e constitui uma
fonte de alegria, sabei-lo tão bem como eu, muito embora tenhais consciência de
que exige, de quando em quando, alguma luta.
Ouçamos
de novo S. Paulo: Comprazo-me na lei de
Deus, segundo o homem interior, mas, ao mesmo tempo, encontro nos meus membros
outra lei, a qual resiste à lei do meu espírito e me subjuga à lei do pecado,
que está nos membros do meu corpo. Oh, que homem tão infeliz eu sou! Quem me
livrará deste corpo de morte?
Grita
mais ainda, se precisas, mas não exageremos: sufficit tibi gratia mea, basta-te a minha graça, responde-nos o
Senhor.
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Tive oportunidade de observar, em algumas
ocasiões, como reluziam os olhos de um desportista, perante os obstáculos que
tinha de saltar.
Que
vitória!
Observai
como domina as dificuldades!
Assim
nos contempla Deus, que ama a nossa luta: seremos sempre vencedores, porque
nunca nos nega a omnipotência da sua graça.
E
não importa então que haja luta, porque Ele não nos abandona.
A castidade é combate e não renúncia, já que
respondemos com uma afirmação gozosa, com uma entrega livre e alegre.
Não
deves limitar-te a fugir da queda ou da ocasião, nem o teu comportamento deve
reduzir-se, de maneira alguma, a uma negação fria e matemática.
Já
te convenceste de que a castidade é uma virtude e, como tal, deve
desenvolver-se e aperfeiçoar-se?
Não
basta ser continente, cada um segundo o seu estado.
Insisto:
temos de viver castamente, com virtude heróica.
Este
comportamento é um acto positivo, com o qual aceitamos de boa vontade o pedido
de Deus: Præbe, fili mi, cor tuum mihi et
oculi tui vias meas custodiant, entrega-me, meu filho, o teu coração e
espraia os teus olhos pelos meus campos de paz.
Pergunto-te eu, agora: como encaras tu esta
batalha?
Bem
sabes que a luta já está vencida, se a mantivermos desde o princípio. Afasta-te
imediatamente do perigo, mal percebas as primeiras chispas de paixão, e até
antes.
Fala,
além disso, com quem dirige a tua alma; se possível antes, porque abrindo o coração
de par em par não serás derrotado.
Um
acto repetido várias vezes cria um hábito, uma inclinação, uma facilidade.
É
preciso, pois, batalhar para alcançar o hábito da virtude, o hábito da
mortificação, para não recusar o Amor dos Amores.
Meditai no conselho de S. Paulo a Timóteo: Te ipsum castum custodi, conserva-te a
ti mesmo puro, para estarmos, também, sempre vigilantes, decididos a defender o
tesouro que Deus nos entregou.
Ao
longo da minha vida, quantas e quantas pessoas não ouvi queixarem-se: Ah! Se eu
tivesse cortado ao princípio!
E
diziam-no cheias de aflição e de vergonha.
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Com
o coração todo entregue
Devo recordar-vos que não encontrareis a
felicidade fora das vossas obrigações cristãs.
Se
as abandonardes, ficar-vos-á um enorme remorso e sereis uns pobres infelizes.
Então
até mesmo as coisas mais correntes, que são lícitas e trazem um bocadinho de
felicidade, se podem tornar amargas como fel, azedas como o vinagre,
repugnantes como o rosalgar.
Peçamos a Jesus, cada um de vós e eu também:
Senhor! Eu proponho-me lutar e sei que Tu não perdes batalhas.
E compreendo que, se alguma vez as perco, é
porque me afastei de Ti!
Leva-me
pela tua mão e não Te fies de mim!
Não
me soltes!
Pensareis: mas eu sou tão feliz, Padre!
Eu
amo Jesus Cristo e, ainda que seja de barro, desejo chegar à santidade com a
ajuda de Deus e da sua Mãe Santíssima!
Não
o duvido.
Apenas
te previno com estas exortações para o caso de se te apresentar alguma
dificuldade.
Tenho também de te repetir que a existência
do cristão - a tua e a minha - é de Amor.
Este
nosso coração nasceu para amar e, quando não se lhe dá um afecto puro, limpo e
nobre, vinga-se e enche-se de miséria.
O
verdadeiro amor de Deus, que pode traduzir-se por viver uma vida bem limpa,
está tão longe da sensualidade como da insensibilidade e tão longe de qualquer
sentimentalismo como da ausência de coração ou da sua dureza.
É uma pena não ter coração.
Os
que nunca aprenderam a amar com ternura são uns infelizes.
Nós,
os cristãos, estamos apaixonados pelo amor: o Senhor não nos quer secos,
insensíveis, como matéria inerte.
Quer-nos
impregnados do seu carinho!
Aquele
que, por Deus, renunciou a um amor humano, não é um solteirão, como aquela
pessoa triste, infeliz, que anda sempre de asa murcha, por ter desprezado a
generosidade de amar limpamente.
(cont)