RESUMOS DA FÉ CRISTÃ
TEMA 2. A revelação
3.
A Revelação como história da salvação culminada em Cristo
Como diálogo entre Deus e os
homens, através do qual Ele os convida a participar na sua vida pessoal, a
Revelação manifesta-se, desde o início, com um carácter de “aliança” que dá
origem a uma “história da salvação”.
«Decidindo abrir o caminho
da salvação sobrenatural, manifestou-se a Si mesmo, desde o princípio, aos
nossos primeiros pais.
Depois da sua queda, com a
promessa de redenção, deu-lhes a esperança da salvação, e cuidou continuamente
do género humano, para dar a vida eterna a todos aqueles que, perseverando na
prática das boas obras, procuram a salvação.
No devido tempo chamou
Abraão, para fazer dele pai dum grande povo, povo que, depois dos patriarcas,
ele instruiu, por meio de Moisés e dos profetas, para que o reconhecessem como
único Deus vivo e verdadeiro, pai providente e juiz justo, e para que
esperassem o Salvador prometido; assim preparou Deus através dos tempos o
caminho ao Evangelho» [i].
Iniciada já com a criação
dos nossos primeiros pais e a elevação à vida da graça, que lhes permitia
participar da intimidade divina e depois prefigurada no pacto cósmico com Noé,
a aliança de Deus com o homem revela-se de modo explícito com Abraão e depois,
de maneira particular, com Moisés, a quem Deus entrega as Tábuas da Aliança.
Quer a numerosa descendência
prometida a Abraão, na qual seriam abençoadas todas as nações da terra, quer a
lei entregue a Moisés, com os sacrifícios e o sacerdócio que acompanham o culto
divino, são preparações e figura da nova e eterna aliança selada em Jesus
Cristo, Filho de Deus, realizada e revelada na Sua Encarnação e no Seu
sacrifício pascal.
A aliança em Cristo redime
do pecado dos primeiros pais, que quebraram com a sua desobediência a primeira
oferta de aliança por parte de Deus criador.
A história da salvação
manifesta-se como uma grandiosa pedagogia divina que aponta para Cristo.
Os profetas, cuja função era
recordar a aliança e as suas exigências morais, falam especialmente d’Ele, o
Messias prometido.
Eles anunciam a economia de
uma nova aliança, espiritual e eterna, escrita nos corações; será Cristo quem a
revelará com as Bem-aventuranças e os ensinamentos do Evangelho, promulgando o
mandamento da caridade, realização e cumprimento de toda a Lei.
Jesus Cristo é, simultaneamente,
mediador e plenitude da Revelação; Ele é o Revelador, a Revelação e o conteúdo
da mesma, enquanto Verbo de Deus feito carne:
«Deus, tendo falado outrora
muitas vezes e de muitos modos aos nossos pais pelos profetas, nestes dias que
são os últimos, falou-nos por meio de Seu Filho, a Quem constituiu herdeiro de
tudo, por Quem criou o mundo» [ii].
Deus, no Seu Verbo, disse
tudo e de modo concludente:
«A economia cristã,
portanto, como aliança nova e definitiva, nunca cessará e não há que esperar já
nenhuma revelação pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus
Cristo» [iii], [iv].
De modo particular, a
realização e plenitude da Revelação divina manifestam-se no mistério pascal de
Jesus Cristo, ou seja, na Sua paixão, morte e ressurreição, como Palavra
definitiva na qual Deus manifestou a totalidade do Seu amor de condescendência
e renovou o mundo.
Somente em Jesus Cristo,
Deus revela o homem a si próprio e fá-lo compreender o grau da sua dignidade e
altíssima vocação [v].
A fé enquanto virtude é a
resposta do homem à revelação divina, uma adesão pessoal a Deus em Cristo,
motivada pelas Suas palavras e pelas obras que Ele realiza.
A credibilidade da revelação
apoia-se sobretudo na credibilidade da pessoa de Jesus Cristo, em toda a Sua
vida.
A Sua posição de mediador,
plenitude e fundamento da credibilidade da Revelação, diferenciam a pessoa de
Jesus Cristo de qualquer outro fundador de uma religião que não solicita dos
seus seguidores que tenham fé nele, nem pretende ser a plenitude e realização
do que Deus quer revelar, mas que somente se propõe como mediador para fazer
com que os homens conheçam tal revelação.
4.
A transmissão da Revelação divina
A Revelação divina está
contida nas Sagradas Escrituras e na Tradição, que constituem um único depósito
onde se guarda a palavra de Deus [vi].
São interdependentes entre
si:
a Tradição transmite e
interpreta a Escritura e esta, por sua vez, verifica e confirma quanto se vive
na Tradição [vii], [viii].
A Tradição, fundada na
pregação apostólica, testemunha e transmite de modo vivo e dinâmico quanto a
Escritura recolheu através de um texto fixado.
«Esta Tradição apostólica
progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo.
Com efeito, progride a
percepção tanto das coisas como das palavras transmitidas, quer mercê da
contemplação e estudo dos crentes, que as meditam no seu coração, quer mercê da
íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer mercê da
pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da
verdade» [ix].
Os ensinamentos do
Magistério da Igreja e dos Padres da Igreja, a oração da Liturgia, o sentir
comum dos fiéis que vivem em graça de Deus, e também realidades quotidianas
como a educação na fé transmitida pelos pais aos filhos ou o apostolado
cristão, contribuem para a transmissão da Revelação divina.
De facto, o que foi recebido
pelos apóstolos e transmitido aos seus sucessores, os Bispos, compreende «tudo
o necessário para que o Povo de Deus viva santamente e aumente a sua fé e desta
forma a Igreja, na sua doutrina, na sua vida e no seu culto perpetue e
transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que crê» [x].
A grande Tradição apostólica
deve distinguir-se das diversas tradições, teológicas, litúrgicas,
disciplinares, etc. cujo valor pode ser limitado e, inclusive, provisório, [xi].
A realidade conjunta da
Revelação divina, como verdade e como vida, implica que o objecto da
transmissão não seja somente um ensinamento, mas também um estilo de vida:
doutrina e exemplo são inseparáveis.
O que se transmite é,
efectivamente, uma experiência viva, a do encontro com Cristo ressuscitado e o
que este evento significou e continua a significar para a vida de cada um.
Por este motivo, ao falar da
transmissão da Revelação, a Igreja fala de fides
et mores, fé e costumes, doutrina e conduta.
José Manuel Martín (Ed),
Gabinete de informação do Opus Dei, 2016
[i]
Concílio
Vaticano II, Const. Dei Verbum, 3.
[iii]
Concílio
Vaticano II, Const. Dei Verbum, 4.
[iv]
cf. Catecismo,
65-66
[v]
Cf. Concílio
Vaticano II, Const. Gaudium et Spes, 22.
[vi]
«Permiti-me esta
insistência maçadora, as verdades de fé e de moral não se determinam por
maioria de votos: compõem o depósito – depositum fidei – entregue por Cristo a
todos os fiéis e confiado, na sua exposição e ensino autorizado, ao Magistério
da Igreja», São Josemaria, Homilia “O fim sobrenatural da Igreja”, em Amar a
Igreja, 15.
[vii]
Cf. Concílio
Vaticano II , Const. Dei Verbum, 9.
[ix]
Concílio
Vaticano II, Const. Dei Verbum, 8.
[x]
Ibidem. Cf.
Concílio de Trento, Decr. Sacrosancta, 8-IV-1546, DS 1501.